Capítulo 5 🍉

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É VOCÊ A DESTRUIDORA DE CORAÇÕES, NÉ?

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A bicicleta está na garagem quando saio de casa, já esperando encontrar o seu lugar vazio, e suspiro aliviada por evitar me estressar com Enrico hoje. Pelo menos hoje não vou chegar atrasada ou pingando suor por ter que correr até o trabalho.

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Vinte minutos depois, estou parada no meio de um protesto na avenida principal da cidade, aquela que eu preciso passar para poder chegar até a Loja. Mesmo se eu quiser cortar o caminho, a entrada para isso fica depois do tumulto de pessoas que se aglomeram no meio da passagem, congestionando o trânsito para ônibus, carros, motos e eu, numa bicicleta.

Policiais aparecem e começam a dispersar a multidão, mas quando isso acontece, já são dez horas da manhã e eu ainda estou na metade do caminho. Lá se foram meus planos de chegar na hora, queimados junto com os pneus do protesto.

Desço da bicicleta enquanto ainda há pessoas no meio do caminho e a empurro para sair do tumulto o mais rápido e de forma mais gentil que posso. É um desperdício de energia tentar sair de algo assim sem ter que usar da força para me desvencilhar de pessoas paradas no meio do caminho, e quando eu sou empurrada para trás por uma mulher desviando de uma moto, meu cotovelo acerta em cheio a costela de alguém.

— Meu Deus — digo, olhando para trás, mas minha voz se mistura a dezenas de outras mais potentes. — Desculpa — peço ao garoto que atingi. Ele leva a mão ao local onde meu cotovelo pontudo bateu, mas balança a cabeça e diz que está tudo bem. Não o olho diretamente no rosto por muito tempo, por vergonha e raiva. Não dele, mas da situação. Quando vejo uma brecha à minha frente, agilizo a perna para subir na bicicleta e saio pedalando, fugindo dali.

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— Eu sei, eu sei, eu sei — adianto, sem sequer olhar para cima enquanto atravesso o salão da loja e passo direto para o banheiro.

Vejo meu estado de relance no espelho e dou uns tapas na cabeça para abaixar os fios arrepiados do cabelo, e lavo o rosto para me livrar da sensação de poluição.

Alicia está parada no balcão, atendendo uma mãe com uma garotinha de cinco ou seis anos, e quando a cliente vai embora, ela se vira para mim.

— O que está acontecendo lá fora?

— Um protesto na Principal, como sempre. Peguei bem no meio da ação. Foi mal, Alicia.

Enquanto termino a frase e me disponho atrás do balcão, ouço barulhos vindo de fora, e de repente os pingos gordos de chuva atingem as janelas da loja. Chuva de verão.

Pelo menos isso eu não encontrei no meio do caminho.

Alicia bufa, saindo do depósito atrás de mim, acompanhada de fumaça devido à baixa temperatura, com um pote de refil para o sorvete de chocolate.

— Vou ter que sair daqui dez minutos — ela olha no relógio. — Já estava pensando que você ia me deixar na mão logo hoje!

Solto um suspiro longo e aprumo os ombros. Seguro as mãos de Alicia e ficamos frente a frente. Ela sorri para mim.

— Vai, pode ir. Tá tudo bem agora.

Alicia nem sequer finge que não está aliviada. Ela sai quase que correndo do estabelecimento, e eu consigo parar pela primeira vez no dia e respirar fundo. A doceria está praticamente vazia a essa hora da manhã e com as nuvens se aglomerando em cima da cidade lá fora. Eu até gosto quando o clima está assim. Sinto que tenho o lugar todo para mim.

Mas, é claro, meus sonhos tão pequenos são estraçalhados em menos de cinco minutos de paz.

Um garoto atravessa a porta assim que eu relaxo na cadeira atrás do balcão. Para quem entra, não é possível me ver. Levanto num rompante, o assustando.

Espero seu bando vir atrás, seguindo-o, mas ninguém aparece. Adolescentes sempre andam em grupos, então eu passo alguns segundos em espera, até perceber que ele está em missão solo mesmo.

E ensopado.

Um pouco irritado, talvez. Compreensível, eu acho.

— Entrou para esperar a chuva passar? — pergunto, simpática, não querendo piorar o humor dele.

O garoto me olha diretamente pela primeira vez.

— O quê? — Ele desvia totalmente a atenção das roupas, que estava checando quase sem acreditar que estão mesmo molhadas.

Sua expressão assustada é até adorável. Olhos redondos atentos, lábios franzidos. Os cabelos grudados na testa fazem ele parecer mais novo do que provavelmente é.

— A chuva — aponto para fora debilmente. Queria dizer "dã".

— Ah, não. Ahh... — ele tira os cabelos grudados da testa e os joga para trás. — Sou Eduardo, o sobrinho de Mama.

— Ah...! — É o que consigo dizer. As peças se juntam na minha cabeça.

Claro, hoje é o dia que começa o treinamento.

— Eu sou Ramona.

— Eu conheço você. — Ele aponta para mim, de cenho franzido, depois me lança um sorrisinho que só vai crescendo. — Ah, sim, eu lembro de você! — Eduardo se aproxima, deixando agora só o balcão de atendimento entre nós.

— Lembra? Mas você não chegou na cidade, tipo, ontem?

— Faz umas semanas. E você é a destruidora de corações, né?

— Quê?

— Quem recusou o pedido de namoro no meio da festa da escola... — ele fala, apontando o dedo indicador para mim, balançando-o para cima e para baixo lentamente. — Não é?

Ai, meu Deus. Como ele sabe disso? E por que eu me importo que essa seja a primeira impressão que ele tem de mim?

Quer dizer, poderia ser qualquer pessoa. Essa é uma péssima memória para grudar.

— E também é agressiva no meio de manifestações.

— Quê? — pergunto novamente, genuinamente confusa.

— Seu cotovelo pontudo na minha costela. — Ele leva a mão até onde eu, sem querer, bati hoje mais cedo. Eu só não sabia que tinha sido nele. — Ainda tá doendo.

— Ai, meu Deus — solto um grunhido sofrido.

Que ótimo, começamos com o pé direito. Ou melhor, o cotovelo direito.

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aaaaaaaa

oi, meus amores, como vocês estão?!!?!?1

finalmente chegou ele, o "novo funcionário"!!!! HAHAHHA 

O próximo capítulo sai hoje ainda, pra vocês conhecerem um pouquinho mais do Edu! <3 

espero que estejam gostando! 

Obrigada por ler até aqui. <3 

beijos, amo vcxs!

Peixe Fora D'águaWhere stories live. Discover now