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2017.


Faltava uma semana para a reunião de ex-alunos na Machado. Eu ainda estava em dúvida entre ir ou não. Desde o almoço na casa dos meus pais, Théo e eu ficamos ainda mais próximos. Ele participou até de uma ação de voluntariado organizada pelo João, na pediatria da Santa Casa. As flores e as abelhinhas continuavam dando vida às paredes brancas de lá. Eram as mesmas da época que eu frequentava ali. Théo e João formaram uma dupla de palhaços hilária. Nesse dia, eu fiquei com o maxilar doendo de tanto rir dos dois. As crianças deram boas gargalhadas e por uma tarde se esqueceram dos motivos que as levaram àquele lugar. A minha parte foi bem simples; distribuir balões, pompons, línguas de sogras e chapéus coloridos. Não tinha a mesma desenvoltura dos garotos. No final, Théo, João e os outros palhaços estavam exaustos, mas satisfeitos. Receberam sorrisos, abraços e agradecimentos das mães dos pequenos, que estavam internados ali. Fiquei ainda mais encantada pelo moço do sul. Não sabia definir qual o tipo de relação que tínhamos, sabia apenas que a companhia dele me fazia muito bem.

Dois meses antes de dezembro, ele não existia na minha vida. Nem eu na dele. E no mês do natal ele já era uma peça fundamental para que a minha vida fosse mais alegre e tivesse mais cores. Meus dias ficaram mais claros e leves depois que ele chegou. Ele me fazia sentir especial em todos os momentos que estávamos juntos. Estava apaixonada por ele. Só que tinha receio de que ir além da amizade pudesse destruir o laço que nós construímos e que já era tão bom.

Théo estava muito feliz, por ter conseguido fechar o contrato com o cliente rabugento. Depois de longas semanas, noites sem dormir e muito jogo de cintura, ele conseguiu a conta. Estava tão animado que me chamou para ir a um barzinho com ele. Não tive como recusar o convite. Não costumava sair à noite, justamente porque na vida noturna é que as pessoas reparam mais na nossa aparência, ainda mais no Detroit, um dos lugares mais badalados da cidade.

Abri a porta do guarda-roupa; calças jeans claras, escuras e sociais, estas últimas da época em que eu trabalhava no setor de RH de uma empresa de laticínios. De onde por sinal recebi um bom dinheiro no acordo de rescisão e junto com as minhas economias de anos, consegui me associar à Gabi na Doces Sonhos. Vasculhei cabide por cabide. Camisetas escuras com estampa. Camisetas escuras sem estampa. Regatas de tons escuros também. Macacões largos. Vestidos largos. Pijamas, pijamas, pijamas... Ainda me vestia como a adolescente que se escondia dentro das roupas largas. Foi a conclusão que cheguei.

— Não servem... — Fiz uma bola de roupas velhas e joguei na cama.

— Este também não... O que isto está fazendo aqui? — Encontrei um moletom de capuz preto. Se em Novo Ipê nem fazia frio porque raios eu tinha um troço gigante daquele?

— Não mesmo... — Juntei uma pilha de camisetas e arremessei em cima do edredom.

— Nossa! Esse menos ainda. — Peguei um vestido amarelo que nunca usei. Faria cosplay de quindim se o usasse.

A Menina do CasuloOnde histórias criam vida. Descubra agora