34

605 71 15
                                    

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.



A princípio, não achei que essa história com o Théo iria além de uma bela amizade entre dois solitários, que se esbarraram pela vida. Eu sei que tem muita gente que não bota fé em amizade entre homem e mulher, mas eu sempre imaginei ser possível sim. Sem contar que, segundo a astrologia, aquário e peixes formam uma das piores combinações astrais existentes. Eu sou a razão e ele é a emoção. Eu sigo a lógica e ele segue a intuição. Eu quero ser livre e ele quer se prender a alguém. Eu preciso ter um espaço só meu e ele precisa dividir o dele com alguém. Eu busco momentos a sós e ele busca estar junto o tempo todo. Eu tendo a ser fria, com dificuldades de externar as emoções, e ele tende a ser caloroso, expondo todos os seus sentimentos. Por essa linha de raciocínio, ele e eu não teríamos nada a ver. Ainda bem que a astrologia não é uma ciência exata. Pois, quando estávamos juntos ele me fazia sorrir. Quando estávamos juntos o mundo parecia parar para nós dois. O tempo parava para nós. Quando eu sentia medo, ele me encorajava a não desistir da gente. Quando eu pensava num cheiro bom me lembrava daquele perfume amadeirado que eu senti no Pomar. Quando eu perguntei a ele, numa das nossas conversas, qual o som mais bonito que ele já ouviu e tive como resposta que foi a minha gargalhada, o meu coração transbordou de alegria. Nos comunicávamos sem palavras; bastava um olhar ou um único gesto para decifrarmos um no outro a alegria ou a melancolia.

Bastava ele me olhar daquele jeito de menino sapeca, abrir aquele sorrisão no rosto, que eu esquecia que tudo a nossa volta dizia que não ia dar certo, que não combinávamos. Só que era justamente nessas diferenças que a gente se encaixava. O que me faltava eu encontrava nele. Game over o moço do sul venceu esse jogo, no qual eu tentava escapar das suas mãos e elas não me deixavam soltar. Não tinha como fugir. Por mais que eu negasse da boca para fora, não tinha mais como fugir desse sentimento que inundava o meu coração. Só que admitir o que sentia e levar adiante essa história, eram coisas completamente diferentes.

— Acorda Elisa! — Ouvi a voz da minha sócia.

— Hã? Quê?

Gabi e eu estávamos no meio de uma reunião para definir os critérios de avaliação para o novo colaborador, já que Renata iria nos deixar em breve. Eu estava viajando nos meus pensamentos.

— Novo atendente da confeitaria — ela falou chamando a minha atenção. — Os critérios para a entrevista: tem que ser comunicativo, atencioso, paciente...

— Ah, sim.

— Não está rolando. — Gabi fechou a agenda onde estavam as suas anotações. — Você está mais longe e perdida do que a Alice no País das Maravilhas.

Ela levantou e ficou em pé na minha frente, com os braços cruzados, escorada na mesa. Quando ela me encarava assim formando uma ruga no meio da testa, significava que estava desconfiada de alguma coisa. De certa forma ela tinha razão. Meu lance com o Théo já andara algumas casinhas e ela ainda não sabia de nada, além dele ter me ajudado naquela semana que ela se ausentou por causa do acidente da prima. Vez ou outra, eu comentei que ele era um cara legal e interessante, sem muitos detalhes.

A Menina do CasuloWhere stories live. Discover now