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2017.

Após o banho, passei pelo espelho sem me olhar, com certeza minha cara não estava das melhores. Eu me vesti rapidamente. Peguei uma maçã da fruteira em cima do balcão na cozinha. Dei uma mordida nela. Estava macia e doce. Era melhor uma maçã de almoço que um pacote de biscoitos recheados. Não é mesmo? Ela pelo menos era saudável. Terminei o meu almoço após algumas mordidas.

— Agora sim, estou pronta para trabalhar — falei ao pegar a minha bolsa de cima do sofá.

Estava prestes a sair, já com a mão na maçaneta, avistei o envelope pardo. Hesitei um pouco, mas o peguei de cima da mesa. Sabe a tal da curiosidade, então?

Caminhei de um lado para o outro da sala. Fui e voltei umas 10 vezes. Balancei o envelope na mão, mordi o lábio inferior tão forte que me cortei.

O que será que eles querem comigo, pensei.

Aflita passei a mão na testa que estava gelada.


2001.

Com 13 anos, eu ainda não tinha feito a minha última cirurgia e nem usava aparelho nos dentes. Ou seja, nariz achatado e dentes tortos. A minha aparência continuava sendo um chamariz para as brincadeirinhas nada inofensivas de alguns alunos. Certa vez, antes de ir para casa, fui ao banheiro da escola depois que a aula terminou. Eu queria jogar água no meu rosto para me refrescar. Havia um grupo de garotos e garotas próximos da porta. Eles estavam encostados no bebedouro. Não dei importância e entrei no banheiro que estava vazio. Fiz o que pretendia, lavei meu rosto. Puxei a maçaneta e a porta não abriu. Eu forcei algumas vezes tentando abri-la e não consegui. Ouvi algumas risadas do lado de fora. Percebi, então, que tinham me trancado ali dentro de propósito. Era mais uma gozação com a esquisita.

— SOCORRO! SOCORRO, ABRE AQUI!

Gritei desesperada. As risadas ficaram mais altas. Eu conseguia imaginar as suas expressões do outro lado. Suas caras de deboche e de satisfação. O prazer que sentiam em me humilhar. Comecei a bater na porta com as palmas das mãos, com muita força. Eu me senti um animal enjaulado ali naquele banheiro. Nessa hora, eu pensei que ter o poder de telecinese da Carrie não seria nada ruim. Se eu o tivesse arrancaria e arremessaria a porta em cima deles sem tocá-la. Eu estava com muita raiva.

— ABRE, POR FAVOR!

Eu continuei gritando enquanto batia na porta. Gritei e bati várias vezes. Muitas, muitas vezes. Do outro lado eu ouvia muitas risadas. Gargalhadas e mais gargalhadas. Eu batia ainda mais forte. Eu gritava o mais alto que podia. Neste processo, as minhas mãos ficaram bem vermelhas e inchadas.

A Menina do CasuloOnde histórias criam vida. Descubra agora