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2017. 

— Cheirosinha... Barriguinha cheia... Agora é só dormir!

Esparramada na cama, de pijamão folgado e cabelo solto. Peguei o envelope que estava sobre o criado-mudo. Pensativa, olhei para ele, tentei me lembrar, entretanto não consegui me recordar do recado que deixei para mim naquela cápsula. Coloquei na balança a curiosidade em saber o que escrevi versus o medo de enfrentar meus traumas, meus fantasmas naquela escola. Quando me encontrar com aquelas pessoas que fizeram tanto mal para mim, o que sentirei? Ódio? Pavor? Ou pena? E quando estiver cara a cara com ele? Será que ele vai estar lá? Algo continua me dizendo que eu devo ir. Por que eu devo ir?

Eu sabia que o tempo passara e que deveria ter curado as coisas ruins que guardava enjauladas dentro de mim, do meu coração, mas as feridas que foram abertas em mim, ainda não tinham cicatrizado por completo. Por mais que eu quisesse, não conseguia apagar tudo aquilo que passei naquele lugar, principalmente aquela noite. Não me esquecera daquela noite. Maldita noite!

Ouvi o toque de mensagem do celular. Será que é Gabi? Será que a prima dela piorou? Estiquei o braço e peguei o aparelho de cima do baú da minha avó.

Boa noite! Amanhã às 6h no parque, me espera lá.

E não é que ele deu um sinal de vida. Respondi apenas com um: ok. Curto e frio. Apesar de termos combinado de correr só na outra semana. Acho que ele se esqueceu desse detalhe. Vai ser bom retornar a corrida.

Precisava dormir. Precisava de uma boa noite de sono. Não aguentaria virar mais uma madrugada acordada. Meus olhos pesaram.

Um corredor escuro, gélido e estreito. Meus cotovelos batiam nas paredes. Como entrei ali? Onde estava? Ouvi sussurros. Vozes tremidas, vozes distorcidas, vozes abafadas umas sobre as outras. Umas muito agudas e outras muito graves. Pareciam Poltergeist. Não compreendia o que as vozes falavam, às vezes riam, escutava algumas gargalhadas estridentes. Uma voz masculina disse o meu nome: Elisa... Elisa...

Olhei para baixo e não encontrei o chão. Meus pés descalços flutuavam sobre um fosso profundo, úmido, sujo e sombrio, como os dos castelos medievais. Ao fundo um barulho de água caindo, caindo, caindo devagar. Era aquele barulho. Corri rápido, mas não saí do lugar, me faltou o ar. A água barrenta ascendia pelas minhas pernas. Uma crise de asma. Asma? Mas eu não tinha mais asma.

Virei de costas. Encontrei uma porta atrás de mim, ela era familiar. Puxei a maçaneta. Não era possível. Não! Era eu? Ali agachada. Encolhida num canto de uma sala sombria, à minha volta havia cadeiras quebradas jogadas por todos os lados. Chorava sozinha. Com uma profunda tristeza nos meus olhos. Tremia de frio. Tremia de medo. Estava machucada. Estava apavorada. Estava escondida. O que estava acontecendo?

A Menina do CasuloWhere stories live. Discover now