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2017.

Quatro horas da manhã. O bar estava quase vazio, além de nós dois, ainda estavam por ali apenas mais cinco pessoas que conversam animadas num grupo sentado em duas mesas próximas ao balcão onde eram preparados os drinks. A pista vazia e o segundo andar já fora fechado. A música baixinha, vinda de pequenas caixas de som. Os garçons empilhavam mesas e cadeiras da parte externa do deck. Nós resolvemos ir embora. Théo fechou a conta, mesmo eu insistindo para rachar as despesas da noite, ele pagou sozinho. Théo ainda segurava a minha mão e eu não tive coragem, ou melhor, vontade de soltá-la. Levantamos da mesa, senti a sua mão pousar nas minhas costas, próxima ao meu pescoço.

Quando saímos do bar, senti outra vez o choque de realidade, o efeito da noite mágica teve seu fim, o baile da Cinderela acabara com as doze badaladas e ela voltou ser a mesma gata borralheira.

— Gostei daqui, vamos voltar mais vezes — disse ele, ao me abraçar enquanto o manobrista trazia o seu carro.

— Eu nunca tinha vindo aqui, gostei também — comentei pretendo meu cabelo. Fora do ambiente com ar condicionado o calor já era predominante. Dei algumas abanadas com a mão na nuca.

Ele segurou o meu rosto com as duas mãos, encarou-me com os olhos cheios de alegria e beijou a minha testa sorrindo. Depois com as costas da mão acariciou a minha bochecha de um jeito suave. Não costumava deixar ninguém encostar a mão em mim. Sentia um calafrio quando isso acontecia, era como se meu corpo se encolhesse amedrontado. Temendo ser agredido, ser ferido novamente por alguém. Independente de quem fosse à pessoa, estranha ou conhecida, ao sentir um toque sobre a minha pele era instintivo meu corpo projetar-se para trás e se retrair todo. Com Théo desde o inicio foi diferente. Nem mesmo quando ele era um mero desconhecido, o meu corpo repeliu o seu toque, pelo contrário, meus músculos se relaxavam. O meu corpo se acalmava querendo senti-lo ainda mais perto de mim. Ele me abraçava de uma maneira que eu gostava. Ele me tocava de um jeito delicado, com cuidado.

***

Até os 12 anos, eu tinha feito apenas duas cirurgias de caráter funcional, ou seja, para melhorar a minha saúde, amenizando assim as dificuldades respiratórias. No aspecto estético pouca mudança ocorrera, com relação a minha aparência. A minha cirurgia estética foi tardia.

Antes de encontrar uma médica que foi um anjo na minha vida, a doutora Sula. Passei pelas mãos de alguns cirurgiões que recusaram o meu caso. Um deles, inclusive, me marcou muito. Eu tinha entre 10 e 11 anos. Lembro estar sentada em cima da maca, ele com a mão no meu rosto, erguendo-o e descendo; virando de um lado para o outro. Ele disse:

— Mãe, se eu operá-la, eu terei que quebrar os ossos do rosto dela aqui e aqui. — Apontou com o dedo as regiões da minha face. — Mas não posso garantir que ela sobreviverá à cirurgia. É um processo muito invasivo.

Sim, o médico falou isso na minha frente. Gritei em silêncio, por dentro, de pavor. Só que eu estava disposta a passar por essa intervenção cirúrgica, a minha mãe ficou amedrontada e não quis de jeito nenhum autorizar. O meu desejo era fazer a operação no rosto a qualquer custo, e não era só por causa do bullying, a deformidade na minha face fazia com que muitos pensassem que eu tinha algum tipo de deficiência intelectual.

A Menina do CasuloWhere stories live. Discover now