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— Eu vou acabar com você, sua vadia!

— Babaca! Eu tenho nojo de você! Nojo! — Eu berrei antes de sair pela porta.

Corri pela quadra, o mais rápido que pude, segurando a alça arrebentada do vestido. Passei pelas pessoas dançando, no meio de grupos, de casais, não via nada na minha frente. Saí tropeçando e derrubando tudo no meio do caminho. Eu me apoiei em uma das mesas grandes que tinha um imenso arranjo de flores e tirei as sandálias que estavam machucando meus pés.

Avistei do outro lado da quadra o grupo de garotos reunidos novamente. A expressão enfurecida do Sérgio, gesticulando com os amigos, era um sinal de que iriam me procurar para se vingarem. Um deles seguiu na direção da entrada da escola, a única saída do prédio, os outros dois, incluindo Sérgio, caminhavam no meio das pessoas na pista. Só me restava uma possibilidade de escapar deles, que era me esconder dentro da escola.

Joguei as sandálias embaixo de uma das mesas. Reparei numa falha na tela de proteção que separava a quadra do prédio do colégio. Passei por ela com cuidado e pulei a mureta que dava acesso ao edifício. Corri pelos corredores escuros, eu senti um arder, quando olhei era o meu suor escorrendo sobre o corte no meu braço. Eu estava assustada. Meus pelos todos arrepiados. Minha respiração acelerada. Minha cabeça perturbada com o que tinha acabado de acontecer no vestiário. Eu só pensava em me esconder e me proteger. Eu só imaginava que se eles me pegassem seria meu fim, eu não conseguiria escapar, não dos três juntos.

— Ufa! Graças a Deus! — Suspirei, encontrei um lugar para me esconder.

A porta da biblioteca estava aberta. Entrei. Bloqueei a passagem com a mesa da recepção, deu um trabalho para empurrar sozinha, era bem pesada. Fiquei escondida atrás da última estante de livros, sentada com os braços cruzados sobre os joelhos. Eu ainda era capaz ouvir a música vinda da quadra. O pó dos livros antigos me dava vontade de espirrar, eu segurava o nariz com as pontas dos dedos. Não deu para abafar todos os espirros e alguns saíram. Quando um ou outro escapava, eu espiava a porta, focada na maçaneta, com os meus olhos bem atentos.

Cheguei a ouvir vozes vindas do corredor, o que meu causou uma tremedeira. Eu estava muito apavorada. Não sabia se as vozes que eu escutava realmente eram as deles ou de algum casal esperto que quis ter um pouco mais de privacidade em alguma sala. Eu só pensava que se eles me encontrassem... Ah, se eles me encontrassem... Chapados e furiosos... Eu, eu... Não! Eles não podiam me achar, eles não iam me achar. Cruzei minhas mãos e comecei a rezar baixinho: Deus Pai, eu sei que tem muitos filhos para olhar e cuidar nesse mundo. Muitos em guerras. Muitos passando fome. Muitos lutando por suas vidas em hospitais. Mas neste momento, eu te peço que me proteja de todos aqueles que querem me fazer mal. Proteja-me Senhor! Amém!

Conforme o tempo passava, os sons iam diminuindo. Diminuíram até cessarem. Eu acabei cochilando toda torta entre a estante e os livros. O cansaço venceu o medo. Quando acordei não havia mais o barulho da música, nem das vozes, só os sons da manhã. Devia ser por volta das cinco. Ouvi o cantar dos pássaros no telhado, uma buzina de caminhão apitando na rua, o bater de um portão que não foi trancado, o latido dos cachorros da vizinhança.

A Menina do CasuloWhere stories live. Discover now