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2017.

Após ficar uma semana pulando, numa perna só, de um lado para o outro do apartamento e da cozinha da confeitaria, por causa da bendita luxação no pé, acordei e consegui pisar com os dois pés no chão; sem sentir dor. Espiei as panturrilhas e tive a ligeira impressão que uma estava mais grossa que a outra. Meu tornozelo já não se parecia mais com uma bolota como uns dias antes. Identifiquei claramente tornozelo e pé, separados pela curvinha. Ah! Se eu pudesse, naquele exato instante sambaria como uma passista de escola de samba, saracoteando de um lado para o outro. Porém, eu não nasci com esse dom. Então, apenas fiz uma das minhas dancinhas ridículas com as mãos e os pés, daquelas que ninguém nunca me viu fazer e nunca verá.

Ainda não estava liberada para correr, mas acordei às 5 horas porque não mexi no despertador. Então ele tocou no mesmo horário de sempre, e mesmo com muito sono, dormir mais um pouco poderia ser um risco. O risco de eu hibernar e perder a hora do trabalho. Fiz café. Bem forte. Enchi a caneca no nível: compensar o happy hour de ontem. Não fui a nenhum barzinho com o pessoal da confeitaria. Estava era com uma ressaca de maratonar de seriado. Sim, isso existe. E ela é tão ruim quanto à do álcool. Assisti a segunda temporada de Stranger Things. Assim como na primeira temporada a Eleven não teve trégua, tadinha. Enquanto assoprava e bebia o café, dei uma olhada na sala. Reguei as samambaias da sacada. Bocejei bastante. Precisava de algo mais hard que me mantivesse acordada. Empurrei o sofá, tirei o pó do chão com a vassoura e o puxei de volta para o mesmo lugar. Quem mora em apartamento não tem muita opção na disposição dos móveis. Sempre sofá de frente para a TV e a mesa de jantar próxima a porta.

Depois de ajeitar a sala, fiquei com preguiça de me arrumar. Fiz uma trança cheia de pontas soltas, vesti a minha calça jeans favorita (pausa para: como eu amo calça jeans e estava morrendo de saudades de usar!), coloquei uma camiseta folgada num tom marinho e calcei meus Converse's marrons. Pronta para a labuta. Afinal, o avental e a touca me aguardavam na cozinha da Doces Sonhos. Chegando lá era só fazer um coque e estaria tudo resolvido. Pelo menos era o que eu pensava. Assim que entrei no carro, mal deu tempo de sentir o geladinho do ar-condicionado, ouvi o toque de mensagem do celular.

— Um toque só, não deve ser nada urgente. Depois eu vejo isso — Passei os olhos do celular para o conta-giros, antes de trocar a marcha do carro. — Deve ser aquelas promoções da empresa de telefonia.

No caminho, loguei no aplicativo de música e comecei a cantarolar: E até quem me vê lendo jornal na fila do pão, sabe que eu te encontrei, e ninguém dirá que é tarde demais... E Los Hermanos foi a minha companhia no trânsito, eles são uma paixão antiga, da adolescência. Ainda não acredito que a banda acabou. Tenho uma ponta de esperança de que algum dia eles voltem; velhinhos e barbudinhos. Por causa de um acidente fui obrigada a ficar parada no meio da rua. Quando cheguei à metade do álbum Ventura, o tráfego foi liberado.

A Menina do CasuloOnde histórias criam vida. Descubra agora