Capítulo 60

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Musica: Adele - Send My Love 

Minha história não é tão emocionante quanto a sua, mas é igualmente infeliz. Seria uma história "legal" se eu lhe contasse que meu pai era um bêbado e minha mãe morreu quando nasci, mas algo bem sombrio aconteceu para que eles morressem.

É estranho contar, porque parece um filme de terror, mas isso aconteceu e eu nunca esqueci. Eu morava com meus pais em Espírito Santo, eles tinham boa condição, então morávamos num bairro de classe média alta. Após o meu parto, por algum motivo que não me contaram, minha mãe ficou estéril.

Eu não sei o que era, mas eles não me tratavam com amor, eram frios e as vezes rudes, também eram ausentes. Era como se me culpassem por minha mãe não poder mais ter filhos.

Eu me sentia triste, mas o amor que me faltava em casa, eu recebia dos meus amigos. Minha mãe e meu pai eram tão ausentes que eu tinha total liberdade para ficar o dia inteiro com eles. Era um ponto positivo, no final de tudo.

Mas, justo no dia do meu adversário, eles ausentes como sempre chegaram em casa após ficarem o dia inteiro fora, e para minha surpresa vieram com um garoto. Fiquei confusa ao vê-lo, eu não o conhecia, nem era um amigo meu. Foi ai que eles me revelaram que adotaram aquele menino. Eu logo entendi que aquele garoto era o meu substituto, o filho que eles tanto queriam.

Lembro que ele era bem pálido, até mais que vocês. Seus cabelos castanhos escuros de tamanho médio tapavam seus olhos, que mais tarde descobri serem azuis. Ele permanecia de cabeça baixa, em silêncio, enquanto meus pais se puseram ao lado dele, com as mãos em seu ombro. A imagem da família perfeita, o garoto, meu pai e minha mãe, eu estava fora desse núcleo.

Eu não sabia o que era, mas havia algo estranho naquele menino, na verdade ele era estranho, o dia era estranho, meus pais estavam estranhos. Eles estavam com sorrisos postiços estampados no rosto, e logo em seguida anunciaram a notícia da adoção de um  forma assustadoramente alegre.

Me lembro de dar de ombros e ir pro meu quarto, até hoje não sei porque, mas aquilo não me afetou. Soa clichê , parece com você e seus pais, só que os meus simplesmente cagavam pra mim.

Os dias foram passando, o garoto recebeu o nome de Thiago. Ele tinha sete anos, eu na época tinha onze. Não ficamos próximos, na verdade mal trocávamos palavras. Meus pais pareciam felizes com o garoto, sempre estavam sorridentes, apesar de que quando me viam, esse sorriso se desfazia.

Foi um dia normal, meus pais estavam trabalhando, deixaram como sempre, uma babá tomando conta, eu até gostava dela, era era legal. Só que quando eu cheguei em casa depois da aula, vi que ela não estava na cozinha.

Eu achei estranho porque ela sempre estava preparando a comida nesse horário. Imaginei que ela estivesse faltado, então apenas subi para meu quarto.

Era um corredor, com duas portas na parede direita, era o quarto dos meus pais e o quarto de Thiago (antes quarto de hóspedes) e uma a esquerda, que era a minha. Ao final do corredor ficava a porta do banheiro, e foi nesse porta que vi algo que me deixou apavorada. Sangue escorria por debaixo dessa porta.

Foi aí que notei que a porta do quarto meu irmão entreaberta, e ele me espreitava a pela fresta. Meu corpo arrepiou todo de medo, aquele garoto parecia o próprio filho do demônio.

Eu não sabia o que fazer, temia ir até lá ver, poderia ser um assassino, alguém poderia estar passando mal, morrendo, sei lá. Mas devido aos acontecimentos estranhos, eu fiquei com medo, não quis ir checar, e com Thiago me olhando daquele jeito assustador, eu acabei me virando e indo em direção a escada. Foi quando ouvi alguém correr e quando eu me virei, Thiago me empurrou, me fazendo rolar escada abaixo. Eu apaguei.

Anjos do AnoitecerOnde as histórias ganham vida. Descobre agora