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     A semana começou caótica para todos, inclusive para Alina. Haviam retornado para a cidade e cada um seguiu para sua casa,voltariam para seus afazeres e rotina de sempre. O mês de agosto parecia alertar todos,avisar de que grande conflitos estariam por surgir, causando um desgaste em todos.

     Dylan havia deixado a amiga no duplex, sequer entrou para conversarem como sempre faziam; apenas deixou um beijo na testa da garota e seguiu seu destino,esse que não era sua casa, tão pouco,a empresa: o empresário agiu por impulso e com seu ego ferido, então passara a noite com Ashley.

     E quando acordou,olhando para cada canto daquele quarto e reconhecendo onde estava, Dylan suspirou profundamente sentindo-se culpado,como se estivesse traindo alguém ao ir para cama com a mulher que dormia ao seu lado. Ele sabia que não deveria,tinha consciência de que era solteiro e a pessoa que ama está casada com seu amigo,apenas não era fácil lidar com a situação.

     Então,de forma ágil e cautelosa,se levantou daquela cama e caminhou para o banheiro,onde sempre ficava alguns pertences designados a seu uso pessoal, afinal, não era a primeira e parecia não ser a última vez que estaria ali. Deixando uma toalha no cabide e entrando no box,o homem ligou o registro e sentiu a água fria cair sobre seu corpo tenso e dolorido. Nem sempre era bom dormir com Ashley.

      A cada gota que lhe molhava, Dylan suspirava de olhos fechados, se recordando de todos os momentos em que passara ao lado de Alina,de como ela sempre agia descontraída ao seu lado e sobre sua presença. Talvez,amar alguém como ele a amava e na situação que estava,fosse a condenação para uma vida de lamúrias. Era o mesmo que se entregar a algo proibido.

      Ele se recordava de como ela estava linda; o vestido de noiva abraçando seu corpo,a maquiagem leve dando destaque a seus olhos que brilhavam em ansiedade e emoção,a pele leitosa reluzindo por ter passado o dia no SPA. Dylan se recordava daquela imagem todas as noites e todos os dias,como um castigo que julgava merecer,pois se não tivesse sido covarde, certamente não estaria se lamentando daquela forma.

       Aquela data sempre estaria registrada em seu corpo e coração, seria a lembrança de seu maior fracasso e derrota,um marco em sua vida que nem mesmo o tempo seria capaz de apagar. E Dylan aceitava o fardo, não negaria a necessidade daquilo, não clamaria por misericórdia e piedade; seria dono de suas consequências,assim como fora dono de seus atos passados.

      Ao perceber ter ficado tempo demais naquele banheiro,o rapaz terminou rapidamente seu banho e deixou o cômodo tendo a toalha enrolada em sua cintura. No guarda roupa de Ashley, também existia algumas peças suas, inclusive,alguns ternos que usava para trabalhar. Então não tardou a se aprontar devidamente enquanto sentia o olhar avaliativo de sua melhor amiga arder em suas costas.

      — Por que ela? Tantas mulheres,por que justamente com a Alina, Dylan? — sentando-se e ajeitando o edredom cobrindo suas pernas desnudas, Ashley inqueriu demostrando toda sua frustração.

     O empresário sabia que sua amiga odiava a mulher que ele amava, tinha consciência de que havia um conflito interno entre elas - e aquilo era de anos,desde que se conheceram. No entanto,apesar de muito ter tentado descobrir,ele nunca soube o motivo por tanta raiva e desprezo entre elas,o porque de sempre se desprezarem ao estarem em um mesmo ambiente.

     Ao ouvir aquele questionamento,soubera ter falado demais, permitiu que as bebidas ingeridas tomassem frente a seu racional e lhe fizesse desabafar como nunca havia feito. De tantos meses conversando com Ashley sobre determinado assunto, Dylan jamais tivera coragem de dizer o nome, nunca cogitava a ideia de confessar ser ela,ser Alina Rousseau. Então,naquele momento, segurando um frasco de perfume importado,o homem umedeceu seus lábios com a ponta de sua língua,e se virou para a mulher que lhe encarava feito um animal predador.

      — Isso não importa,ao menos, não mais, Ash! Alina me vê apenas como o amigo protetor,aquele que presa por seu bem estar e estará sempre ao seu lado para tudo. Realmente faz diferença tocar,ou não, nesse assunto? — Dylan estava chateado e magoado com tudo o que estava vivendo, mas não significava que demonstraria sua fraqueza.

      — Então, é por ela? Você está se mudando para Seattle por causa daquela garota? Pelos céus,Dylan! Não haja como o adolescente de anos atrás...— frustrada com o amigo, Ashley se levantou — não deixe que aquela " criança" estrague sua vida.

      Dylan não rebateu, não defendeu Alina e muito menos, repreendeu as palavras da amiga,apenas pegou seus pertences e se retirou daquele quarto. Domínik lhe esperava para uma conversa, uma reunião marcada por si próprio,afinal, precisava dar sua última palavra e garantir que estaria se afastando de tudo aquilo que parece lhe prejudicar. Estava prestes a abandonar a melhor amiga,a deixá-la se iludindo com o próprio casamento,quando na verdade, é notório não existir solução para algo que começou apenas por conflitos de interesses por parte de Dom. Mas não poderia fazer mais nada,eram escolhas dela.

       O empresário esperaria,daria tempo se Alina tivesse lhe pedido, contudo,a única coisa que fizera inconscientemente,fora desprezar e ridicularizar seus sentimentos, pois aquele beijo era sinônimo de pena,e Dylan não queria aquilo e jamais aceitaria. Então não,por mais que lhe doa e nunca supere, não pararia sua vida por uma mulher que não pode lhe amar, não consegui pensar na possibilidade de aceitar seus sentimentos e cuidados. Assim como se pode esconder os sentimentos, Dylan tinha a habilidade para os camuflar por trás de sorrisos falsos e desventuras.

      Cerca de quarenta minutos,foi o tempo decorrido necessário para que estacionasse seu carro em frente ao prédio e cedesse as chaves para o manobrista. Então,com aquele ar de empoderamento,sendo cobiçado e admirado por muitas das funcionárias daquela empresa,Dylan Fromming caminhou elegantemente até o elevador executivo e apertou o botão para a presidência. Seu destino seria a sala de reuniões,mesmo sendo somente ele e aquele que ainda chamava por amigo.

      Saiu do elevador,caminhou pelo corredor da recepção e deu dois toques na porta,quando teve a entrada liberada, suspirou silenciosamente. Apesar dos pesares e da decisão ter sido tomada com seguridade , Dylan ainda se encontrava exitando,como se algo tentasse lhe aprisionar naquela cidade: e ele sabia o que era,mas não daria voz, não se permitiria a ficar. Sua vida estava além das divisas daquela cidade,mesmo seu amor estando morando tão perto; esse amor que despreza o seu sem ter realmente a intenção,e como aquilo doía. Torcia para que Domínik enxergasse os sentimentos de Alina,pois a dor do desprezo era algo lastimante e sem fim, torturante a ponto de desistirmos de prosseguir.

Seus olhos| Conclusão Em Breve |♡Onde as histórias ganham vida. Descobre agora