Miss Scarlett e a escrava bra...

By Span_sp

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A história se passa no Brasil Colonial do século XVIII e tem como personagem principal Scarllet que teve uma... More

Apresentação - Visão geral da história
Introdução
O casamento
O primeiro dia após o casamento
Os meses seguintes
O impedimento de Francisco
Os meses seguintes a morte do escravo
A humilhação a Scarlett se intensifica
Uma possível saída para Scarlett
A afronta e a resposta
Scarlett visita Josefa
Os anos seguintes
A morte
A imensa herança deixada pelo pai
A descoberta
Um novo encontro com Josefa
A execução do plano
O começo da mudança
O outro dia
O início da vingança
A conversa com Josias
O susto de Josias
Os dias seguintes
O fim do luto se aproxima
Um novo encontro com Justina
Scarlett visita Josefa no seu último dia de luto
O fim do luto e a apresentação da verdadeira Scarlett
O começo das punições
Os cuidados com Justina
O início dos trabalhos no novo regime
A história da intensa punição chega ao povoado
A intimação
Uma visita a sua melhor amiga
A audiência
O dia seguinte
O domingo
O castigo mais profundo
A recuperação
A greve
O outro dia
O psicológico
Forçando a comer
O sábado
O Domingo do acerto
O tratamento de Justina
A semana seguinte
A comunidade descobre o ocorrido
A visita de Josefa
A visita do padre
O restante do dia
A descoberta dos devedores
A terceira semana após o intenso castigo
A produtividade
A violência de Scarlett
As horas seguintes
A boa notícia aos escravos
O banquete
O restante daquele dia
A conversa com Justina
O restante daquele dia
A terça-feira
A quarta-feira
A quinta-feira
O sábado
O domingo
A visita a Josefa
O domingo
A Segunda-feira
O novo castigo
A quinta-feira
A sexta-feira
O sábado
O sábado anoite
O domingo
Os dias seguintes
A quarta-feira
A quinta-feira
Sexta-feira
O sábado
O domingo
O dia seguinte
O enterro de Justina
Os anos seguintes
Uma nova visita a Josefa
O domingo
A encomenda
A busca
A negociação
As origens daquela escrava
Scarlett recebe a carta e a responde
35 dias depois, Scarlett conhece a sua nova aquisição
O encontro com Maria
O segundo dia
O primeiro castigo presenciado por Pérola
A segunda semana naquela casa
A recuperação de Pérola
O domingo
A segunda-feira
A terça-feira
A tarde daquele dia
O restante daquela semana
O domingo
A semana seguinte
O retorno de Artur
A promessa
Alguns meses depois
Scarlett chama Artur para o primeiro encontro
O dia seguinte
O encontro com Tisa
A curiosidade de Pérola e a situação de Catarina
As novas tentativas de Scarlett
Uma nova conversa com Gertrudes
Um novo encontro de Catarina e Pérola
O dia seguinte
Os meses seguintes
A proposta
Uma Scarlett incontrolável
Os dias seguintes
Um novo castigo
Semanas depois
Uma nova conversa com Antônio
A fazenda sem Scarlett
Os dias seguintes
Os acontecimentos do passado
A quinta-feira
A sexta-feira
O retorno de Scarlett
A produtividade
O homem misterioso
A dúvida
A pressão para descobrir a verdade
A decisão de Maria
As horas após a punição de Maria
O plano de Scarlett
A verdadeira história do homem misterioso
O sentimento
O encontro de Pérola e Maria
Antônio Dias Filho prepara o plano de vingança
O domingo
Os preparativos finais para a vingança
A missa
Duas horas depois
O dia seguinte
O segundo dia após o ataque
A quarta-feira
A quinta-feira
A repercussão daquela ataque
As semanas seguintes
O aumento da desconfiança de Scarlett
As ocorrências após aqueles terríveis castigos
Uma conversa de Pérola com Gertrudes
Scarlett visita novamente Josefa
Uma nova conversa de Pérola com Gertrudes
As novas tentativas de Scarlett
A terceira revolta naquela fazenda
Scarlett retorna a fazenda
Os meses seguintes
Novos encontros com Pérola
A fúria de Scarlett
O castigo em Artur
O castigo de Pérola
Os dias seguintes
Um mês após aqueles castigos
A decisão
O passar dos anos
Os anos finais daquela viagem
A doença
O destino de Scarlett
Os meses seguintes
A mudança de ares
A princesa
Os meses seguintes
A vingança
A paixão de Tomaz
A desilusão e a redenção
A preparação para a fuga
A fuga
Os primeiros dias após aquela fuga
A segunda fase daquela busca
Uma Scarlett incontrolável
O final daquele ano
A virada do ano
O retorno
A força de Pérola
O destino de Scarlett e da princesa
A vingança
A tentativa de recuperação
Os preparativos
Os acontecimentos seguintes
O ataque
O restante daquele domingo
Os dias seguintes
A situação de Scarlett
A versão de Scarlett
A preocupação de Antônio Dias Filho
Os dias seguintes
O destino de Scarlett
A adaptação
A vida de Pérola e Artur

A continuidade daquela investigação

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By Span_sp

Muito intrigado, o comandante pensava nas hipóteses possíveis que explicassem uma interrupção tão abrupta da queima daquela roupa íntima, algo que era muito incomum em caso de um incêndio. Ele conversou com um dos seus colegas militares e foram levantadas algumas hipóteses, todas elas bem distantes do que verdadeiramente aconteceu.

Ele analisou por dias aquela roupa, em muitos momentos, para saber se conseguia chegar a alguma conclusão, mas, nada vinha em sua mente com relação a possibilidade de um fogo queimar uma parte do corpo de uma pessoa e parar de forma abrupta em um determinado ponto e não avançar mais. O seu amigo militar, afirmou durante as conversas, que Scarlett pode ter se movimentado e abafado aquele fogo ao virar o seu corpo abruptamente para o outro lado. Mas, aquilo não era uma hipótese plausível para aquele comandante, pois, essa mudança de Scarlett, provavelmente, havia acontecido depois de algum tempo que aquela parte do seu corpo estava a queimar, haja vista que os seus pés foram completamente consumidos pelas chamas assim como suas pernas até a altura dos joelhos.

Era muito difícil achar uma hipótese que explicasse a parte da frente daquela roupa ter queimado apenas até um determinado ponto e a parte das costas ter sido queimada por quase toda a sua extremidade. Por saber que o pano era muito mais inflamável do que a pele de uma pessoa, ele em situação normal, teria que ter queimado de forma uniforme na parte da frente, conforme ocorreu na parte das costas daquela roupa. O jeito que aquela roupa se encontrava não fazia sentido na cabeça daquele comendante. Algo de muito diferente ocorreu naquele quarto no dia do incêndio.

Na percepção daquele comandante é como se tivesse havido uma barreira que impediu que aquele fogo continuasse a seguir sobre o corpo de Scarlett. Mas, ele não entendia como isso foi possível em um incêndio acidental e aquilo o intrigava ainda mais intensamente.

No dia 20 de abril de 1796, no décimo primeiro dia após aquela fuga, Artur, Pérola, Tisa, Maria e Albertina, estavam a descer pelas margens do Rio Jequitinhonha calmamente. Eles andavam felizes a conversar por aquela mata quando são surpreendidos por homens armados e se assustam intensamente.

Aqueles homens eram negros e Artur tinha medo de que eles fossem capturadores de escravos que estavam a caminhar por aquelas matas, pois, alguns homens do mato eram negros e realizavam os trabalhos de busca de escravos fugidos para entregá-los aos seus senhores.

Como o grupo de homens armados era grande, com quatro negros, foi impossível ele pegar a sua arma e tentar qualquer reação. Em cima daquela carroça as mulheres estavam com muito medo, com as mãos para cima. Se aqueles homens fossem mesmo capturadores de escravos, aquela fuga estava acabada. Eles poderiam ser levados de volta para as terras de Scarlett e nem imaginavam qual poderia ser os seus destinos caso isso viesse a acontecer.

Pérola naquele instante já rezava intensamente. Tudo que ela pedia era para não retornar a aquelas terras onde já havia passado por tanto sofrimento. Então calmamente ela começa a descer daquela carroça, enquanto as espingardas estavam apontadas para cada pessoa daquele grupo.

Maria parecia que não iria conseguir nem respirar mais. Ela estava tão feliz com a liberdade que tinha acabado de conquistar e dependendo de quem eram aqueles negros, essa liberdade poderia novamente ser perdida. Tisa era puro desespero em seu semblante, enquanto descia aquela carroça.

Após todas elas descerem ficaram apenas Artur, que controlava aquele cavado e Albertina. Aquela senhora começou a descer calmamente, demonstrando um semblante triste naquele momento, por não saber quem eram aqueles homens. Então as quatro desceram e se afastaram um pouco daquela carroça, conforme foi ordenado por dois daqueles homens, ficando apenas Artur em cima dela com as rédeas do cavalo.

Artur pensava em pegar a sua arma, mas, em meio a aquela desvantagem numérica enorme, ele não teria nenhuma chance de tentar matar aqueles quatro homens, enquanto eles estavam com espingardas a mirar para ele. Ele teria que descer daquela carroça e se entregar. Entretanto, tinha em mente que preferia morrer do que voltar para as terras de sua dona. Se aqueles homens fossem mesmo capturadores, ele teria que tomar alguma iniciativa de ataque. Artur tinha em mente que depois dessa fuga que realizou, não voltaria para as terras de Scarlett para ser novamente maltratado por quem quer que fosse de maneira nenhuma, preferia morrer do que retornar.

Quando em meio a aquele silêncio e corpos a tremerem por parte dos rendidos e uma adrenalina enorme nos corpos daqueles que estavam a mirar as suas espingardas contra eles. Um dos homens negros daquele grupo diz:

- Quetinhos, quetinhos. Nós não queremos nenhum problema com vosmicês.

- Vosmicês são trabalhadores de algum fazendeiro? Questiona Albertina.

- Não senhora, nós somos de um quilombo aqui da região. Responde um outro negro que estava mais ao lado.

- Acalmem-se, somos todos irmãos. Afirma Albertina a abrir um sorriso, suspirando aliviada, quando descobriu que aqueles homens não eram capturadores de escravos.

- E esses brancos irmã, quem são? São seus donos? Questionou um daqueles negros.

- Não. Esse homem é o meu sobrinho. Ele também é escravo. Só que é um escravo branco e essa daqui é uma escrava branca também. Afirma Albertina.

- Está dizendo isso para salvar a vida desses dois, irmã? Se for isso nós não vamos perdoar essa traição? Afirma aquele negro em tom ameaçador.

- Eu posso provar para vosmicês que sou um escravo fugitivo. Afirma Artur.

- E como fará isso? Galego? Questiona um dos negros ao se aproximar dele e deixar a espingarda nas mãos de outro homem, quando pega a sua espada e aponta para ele em tom de desdem.

Então Artur levantou a sua camisa e aqueles negros viram a marca de ferro quente gravado em suas costas. Logo eles entenderam que ele dizia a verdade e que se tratava de um escravo branco. O ponto seguinte foi checar se Pérola também era uma escrava branca:

- E vosmicê. Não é uma sinhá de todos eles? Questionou um dos negros que os cercavam.

- Não senhor. Eu também sou escrava. Afirma Pérola com um semblante preocupado.

- E como provará isso. Nós queremos que prove, pois brancos nessas nossas terras não tem vez. Da mesma forma que nos matam nas fazendas, aqui fazemos o mesmo se não forem escravos. Afirma aquele senhor.

Então Pérola, ao ver que não teria alternativas, levanta a sua blusa, demonstrando vergonha em seu semblante, e vira as costas para aqueles homens, que veem que ela também possuía marcas de chicotadas e de ferro quente gravada em sua pele, duas marcas características de pessoas escravizadas. Então eles abrem o semblante, sorriem para aquele grupo e vão lhes cumprimentar de forma cordial, os abraçando e lhes dando as boas-vindas.

Ao verem que estavam cansados e com fome, eles gentilmente, caminharam até o local do quilombo, onde os demais quilombolas os receberam em meio a muita festa. Aqueles escravos logo que chegaram, informaram que aquelas duas pessoas de pele branca, eram também escravos, diminuindo um pouco a aversão das pessoas daquele quilombo e aguçando ainda mais a curiosidade de todos, pois, eles nunca haviam visto escravos brancos em suas vidas.

Aquele grupo foi levado então até o Rei daquele quilombo, que, normalmente, consultava a sua energia para entender se aqueles escravos iriam trazer benefícios ou malefícios para aquela comunidade no futuro. Naquele local, só ficavam as pessoas que aquele ritual autorizada ficar. O senhor passava uma fumaça sobre aquele grupo, em meio a aquele ritual e ao final dava o seu veredito. Ele autorizou que eles ficassem naquelas terras e um grupo de escravos que acompanhava aquela cerimônia começou a bater os tambores, sorrir e dançar em um ato de comemoração pela chegada de novos irmãos a aquela tribo.

Artur e aquelas quatro companhias estavam muito felizes por terem encontrado aquele belo lugar entre as matas fechadas, com pessoas tão especiais que os receberam de braços abertos. A felicidade imperava naquele local, onde a vida era simples, entretanto, eles tinham tudo o que necessitavam para se alimentar e a felicidade estava estampado no rosto de todos aqueles negros, pois, eles, naquele ponto, poderiam desfrutar da liberdade plena, inclusive, cultural e religiosa, já que podiam dançar, cantar e realizar os seus rituais religiosos originados da África.

Albertina e Tisa, já muito acostumadas com os rituais e as danças africanas, se sentiram em casa e logo entraram no meio daqueles grupos em festa, dançando alegremente. Maria, Pérola e Atur, que a maior parte de suas vidas, moraram na casa grande, ficaram um pouco mais acanhados a observar a movimentação e aquelas danças.

Naquela noite Artur se deitou com Pérola para dormir e eles estavam a comentar:

- Vosmicê já viu o quanto esse povo é feliz por viver aqui Artur? Questiona Pérola.

- Sim meu amor. Eles vivem em uma simplicidade muito grande, mas vivem sempre sorrindo, felizes, cantando e dançando. Eu gostei muito de ter conhecido esse quilombo é completamente diferente do que eu imaginava. Responde Artur.

- Eu também. Pensando bem, parece que aqui é o ponto da felicidade. Nem nas casas grandes com todo aquele luxo vemos pessoas tão felizes quanto eles demonstram aqui. Vosmicê vê como Scarlett era sem vida, amargurada e a minha antiga dona era da mesma forma. Não demonstrava felicidade em seu olhar. Não agradecia a vida que tinha. Não se sentia livre para desfrutar do lado bom da vida que é essa liberdade! Aqui as pessoas vivem diferente, vivem tudo isso que não vemos naquelas terras. Eles sorriem o tempo todo!

- Eu percebi exatamente isso. Eles diziam nas terras de Scarlett o tempo todo que os negros dos quilombos eram violentos, assaltantes, que escravizavam outros negros. Mas, aqui não acontece nada disso. Afirma Artur.

- Eu estou começando a pensar que eles diziam isso apenas para que jamais quiséssemos arriscar uma fuga para um quilombo por achar que era ruim meu amor. Mas, nada é melhor do que a liberdade e aqui eu estou a sentir uma liberdade plena. E o melhor ainda, com uma certa segurança de que estamos protegidos.

- Também sinto isso meu amor. Estou muito feliz por ter encontrado esse lugar e ver que a minha tia, Tisa e Maria, estão também felizes como nunca com a liberdade que tem aqui.

Então aqueles dois continuam a conversar por algum tempo e logo pegam no sono, tendo uma noite tranquila com sonhos muito bons.

No dia 26 de abril de 1796, aquele comandante de polícia vai novamente tentar conversar com Scarlett, para ver se conseguia alguma informação com aquela senhora:

- Senhora Scarlett, ainda não conseguiu se lembrar de nada do ocorrido naquela noite?

- Infelizmente não comandante. Eu até tenho forçado a minha memória, mas não lembro de nada. Só me lembro quando acordei nesse hospital.

- Tenho algumas dúvidas quanto a investigação que gostaria de compartilhar com a senhora, quem sabe a senhora não consegue lembrar alguma coisa para me ajudar.

- O que gostaria de saber comandante?

- Bem, eu tive acesso a roupa que a senhora vestia quando aquele incêndio ocorreu e vi que ela se queimou apenas até um determinado ponto na parte da frente, até abaixo dos seus joelhos. Pra cima desse ponto, misteriosamente, a sua roupa não queimou. Eu não consegui explicar o porque isso aconteceu. A senhora tem algum palpite?

Scarlett pensa por alguns segundos, tentando imaginar algo ou lembrar de alguma coisa, mas, não consegue recordar e responde:

- Não senhor. Não sei porque isso pode ter acontecido. Eu sei que queimei os meus pés completamente e também as minhas pernas até abaixo dos joelhos na parte da frente, mas não sei realmente o porque o fogo não subiu por todo o meu corpo. Posso dizer que, pelo menos, uma sorte eu tive nesse acontecimento todo. Afirmou Scarlett com um semblante triste.

- Foi mesmo sorte Scarlett, pois, se tivesse subido por todo o seu corpo, a chance seria muito grande que a senhora não tivesse resistido.

- Agora começo a pensar mesmo se foi sorte ou se foi falta dela. Ficar entrevada nessa cama, não sei se posso dizer que tem algo de sorte nisso comandante.

- A senhora é inteligente Scarlett. Vai conseguir se adaptar.

- Eu não me lembro mesmo de nada. Eu vou tentar pensar nisso nos próximos dias e se lembrar de alguma coisa eu te aviso. Mas, não posso te ajudar com nenhuma informação no momento.

- E quanto aos seus escravos Scarlett? Acha que eles podem ter causado esse incêndio de alguma forma?

- Não senhor. Eu acho que eles não teriam a mínima condição para isso. Artur, mesmo gostando muito de Pérola, sabendo tudo que eu fiz contra aquela escrava, acho que não teria coragem de tentar nada contra mim. E ela muito menos. Saiu completamente aterrorizada do último castigo que recebeu. Pensaria muitas vezes antes de atentar contra a minha vida. Ainda mais que matei a escrava Maria Tereza no tronco a chicoteando até a morte, deixando Pérola desesperada a chorar naquele chão. Acho que ela não teria coragem de atentar contra a minha vida. Afirma Scarlett tendo convicção do que estava a afirmar.

- Tem certeza senhora? Esses escravos costumam ficar corajosos quando se sentem atacados?

- Não. Eu acho que não senhor. Eles não fariam isso. Artur me pediu desculpas depois da fuga. Ele estava a querer se deitar comigo novamente. Estava com raiva de mim, porque descobriu... Scarlett para no momento em que iria dizer que matou o seu marido para aquele comandante de polícia.

Quando aquele comandante desconfiado pela parada abrupta daquela senhora em sua fala a questiona:

- Porque descobriu o que senhora?

- Porque descobriu que eu não queria mais ele. Afirma Scarlett tentando mudar os rumos daquela conversa, para não levantar suspeitas daquele comandante que ela matou Francisco. Afinal de contas, esse foi o verdadeiro fato que Artur havia descoberto e por esse motivo estava com raiva dela.

- Como assim senhora?

- Eu vou confessar para o senhor comandante. Eu e Artur tínhamos um caso. Eu sei que isso é totalmente proibido pelos dogmas religiosos, mas tínhamos. Afirma Scarlett demonstrando um semblante envergonhado.

- E quando isso terminou senhora?

- Assim que ele fugiu. O castiguei severamente quando ele retornou e não nos deitamos mais.

- Ele te pediu desculpas depois desse retorno? Afinal de contas um escravo não pode fugir de sua dona?

- Pediu sim senhor. Ele me pediu perdão pelo que fez. Queria se deitar comigo de novo.

- E não aconteceu mais nada entre vosmicês dois, por qual motivo?

- Ainda não havia o perdoado pela traição que ele me fez com aquela escrava branca.

- Ele tinha uma relação com ela e portanto a senhora achava que eles haviam a traído? O que planejava fazer com essa escrava?

- Primeiro eu tinha em mente que a mataria comandante. Mas, depois eu resolvi vendê-la. E já tinha até conseguido um comprador para ela.

- E o negócio foi concretizado?

- Sim. Mas, depois a minha casa pegou fogo e ela morreu. Eu iria passar ela para o comprador no máximo na segunda-feira.

- E porque não passou antes? Quando essa negociação foi concretizada? Questiona aquele comandante.

- Ela foi concretizada na sexta-feira anoite. Nesse dia chegamos a um acordo. No sábado fomos a casa do registrador para fechar e venda e ela estava fechada. Afirma Scarlett.

Aquele comandante logo se assusta. Scarlett estava a afirmar que Pérola não foi vendida porque o registrador não estava em casa. E o registrador não estava em casa porque havia sido sequestrado. Ele começa a levantar a hipótese com aquela informação de que aquele sequestro pode ter alguma relação com o caso de Scarlett, quando ele questiona:

- Por um acaso a senhora soube que aquele registrador foi sequestrado de sexta para sábado de madrugada?

- Não senhor. Afirma Scarlett com um semblante assustado.

- Pois foi. Ele foi sequestrado no sábado e liberado apenas na segunda. O que a senhora pensa disso? Acha que tem alguma relação com o caso de Pérola? Para quem estava vendendo essa escrava?

- Agora pra mim ficou tudo muito confuso senhor. Eu não sabia dessa parte da história. Se ele foi sequestrado isso pode ter sim alguma relação com o caso de Pérola. Eu não havia pensado nisso, mas aquele homem queria muito levar Pérola sem me passar o dinheiro. Será que ele estava a querer me roubar? Ele ficou muito furioso quando eu não aceitei a negociação, sem que ele me passasse os recursos da compra. Afirma Scarlett assustada com aquela hipótese.

- Acha que esse homem pode ter sequestrado aquele registrador, o roubado e poderia estar tentando roubar também Pérola da senhora? Questiona aquele comandante desconfiado.

- Eu não sei senhor. Tudo que sei é que preferi não arriscar. Eu nunca tinha visto aquele senhor e nem tinha escutado nada sobre ele. E aquele senhor insistiu muito em levar Pérola sem me passar o dinheiro. Desconfiada eu não aceitei isso e ele ficou muito furioso. A negociação só não foi concretizada por isso e porque no sábado a minha casa pegou fogo.

- Então a senhora acha mesmo que ela morreu?

- Todas as evidências apontam para isso. Afirma Scarlett meio confusa.

- Bem. O corpo de nenhum deles foi encontrado, nem vestijos deles. Enquanto não há corpo, não se pode provar a morte e esse é o problema que tenho para fechar esse caso no momento. Os meus homens estão a revirar aqueles entulhos do incêndio e a casa, amanhã eles finalizam a busca. E até hoje, depois de muitos dias a procurar, não encontraram nenhum indício de que eles estão lá.

- Agora eu é que estou curiosa senhor. Como não encontraram?

- Esse é o grande mistério Scarlett. Gildásio me contou uma história meio atravessada, de que os escravos costumam enterrar outros escravos e não dizer onde eles foram enterrados, isso já aconteceu mesmo na sua fazenda? Questiona aquele comandante curioso.

- Eu fiquei sabendo que uma escrava foi morta no tronco, foi enterrada e não quiseram nos contar onde a sepultaram para que não tivéssemos a possibilidade de violar o local.

- Então isso aconteceu mesmo? A senhora acha que isso pode ter se repetido?

- Se já aconteceu uma vez pode acontecer de novo. Todos gostavam muito de Artur, Pérola, Tisa e Maria. Eles tinham uma ótima relação com os demais escravos. Depois de uma morte tão trágica, eu acho que é plenamente possível que eles tenham sido enterrados pelos escravos quando foram encontrados naquela casa. Eu acho que isso pode sim ter acontecido senhor. Afirma Scarlett.

- Então o próximo passo é interrogar os escravos que fizeram a limpeza naquela casa. Eles devem saber mais informações.

- Eu acho que sim senhor.

- Muito obrigado Scarlett. Se lembrar de mais alguma coisa, por favor mande me chamar.

- Sim senhor. Mando imediatamente. Afirma Scarlett, quando vê aquele senhor sair.

Durante aqueles dias, depois de passados mais de uma semana no quilombo, aquele grupo que fugiu da fazenda de Scarlett estava cada vez mais ambientado a nova vida naquele espaço. Eles podiam pescar no Rio Jequitinhonha, realizavam caça pela mata, tinham cavalos e outros pertences.

Esses animais eram normalmente adquiridos a partir do roubo de pessoas que passavam pelas carreiras próximas a aquele quilombo. Sempre que viam pessoas a passar por aquela região, aqueles quilombolas capturavam os seus pertences para manter o quilombo abastecido de alimentos, animais para deslocamento, armas e munição. Era muito perigoso para os brancos andar por aquelas matas isoladas.

Aqueles quilombolas, mesmo se mostrando ameaçadores no momento da abordagem não tinham coragem de matar ninguém, a não ser que fossem atacados. A forma de agir deles era mesmo para roubar os pertences das pessoas que passavam por aqueles trajetos, visando a manutenção daquele espaço e recursos para a captura de outros negros escravizados de fazendas vizinhas. Eles costumavam ir até as fazendas e durante a madrugada libertar outros irmãos de cor, sempre que sabiam que na redondeza tinham irmãos interessados em fugir para o quilombo.

Naquele espaço havia aproximadamente 500 pessoas negras de todas as idades. Muitas crianças brincavam livremente por aquelas matas. Como a região era pouco explorada até aquele momento, eles raramente eram ameaçados por forças externas e sempre que isso ocorria, por ser um grupo pequeno de negros, eles tinham a possibilidade de se deslocar para outras matas vizinhas em fuga, até que as coisas se acalmassem. Aquele espaço estava dominado por aquele mesmo grupo havia mais de 30 anos, que foi quando aquele rei montou o quilombo, acompanhado de outros 30 negros que haviam fugido de 3 grandes fazendas próximas. Daquele tempo em diante, novos negros foram chegando em busca da liberdade e esse número foi crescendo, tornando o quilombo ainda mais protegido.

Sempre que encontravam pessoas pelos carreiros que carregavam negros com eles, esses eram libertados de seus donos e iam para o quilombo. Eles pegavam os homens brancos capturados, os levavam vendados para locais há algumas léguas de distância, para que não conseguissem identificar o local e avisar para as autoridades, e os soltavam.

No dia a dia do quilombo tudo ocorria de forma muito organizada, cada um tinha as suas atribuições. Como eles trabalhavam apenas para a subsistência, não tinham a necessidade de trabalhar por todo o tempo, já que os serviços eram divididos e compartilhados. Assim, eles conseguiam ter um bom tempo para descanso e para a realização de festas de acordo com a cultura local. Viver naquele lugar era muito bom para aqueles negros.

Os alimentos vinham da pesca e de alguns animais que eles criavam, entre eles, gado, cabras, ovelhas e outros. Eles também plantavam nos espaços em que ficavam para terem frutas e verduras. Além disso, construíam casas que acomodavam um grande número de moradores. Todos compartilhavam tudo naquela comunidade, onde a harmonia imperava e a felicidade era constante.

No sábado, aqueles militares encerraram a busca por aqueles corpos nos escombros da casa grande de Scarlett e informaram a aquele comandante que não havia nenhum indício daqueles escravos desaparecidos naquela casa e nos entulhos. O comandante foi então atrás de indícios das hipóteses levantadas por Gildásio e Scarlett, de que aqueles escravos podem ter sido enterrados por outros escravos, sem que os corpos fossem apresentados a polícia.

Ainda naquele dia, o comandante chamou Antônio para um interrogatório no período da tarde:

- Os corpos não foram encontrados Antônio e eu quero saber onde estão esses escravos? Questiona aquele comandante de forma abrupta e intimidadora.

- Senhor. Eu também quero saber. Sinceramente eu também não sei! Afirma Antônio de forma direta, demonstrando um certo sarcasmo em sua fala.

- Vosmicê tem alguma hipótese do que pode ter acontecido com esses corpos Antônio? Questiona aquele senhor de forma mais tranquila, depois da resposta direta de Antônio.

- O que me vem a cabeça é que eles podem ter sido enterrados pelos escravos senhor. Mas, é apenas uma suposição.

- Eu quero que o senhor me dê o nome dos primeiros escravos que entraram naquela casa e ficaram lá naquela primeira parte do trabalho.

- A maioria desses escravos fugiram naquela madrugada mesmo senhor. Outros fugiram pela manhã, quando os capatazes os deixaram sozinhos. Ficaram apenas três escravos idosos a trabalhar, Tisiu, Godines e Augusto.

- Eu vou chamá-los para interrogatório. Eles devem ter mais informações sobre um possível funeral desses escravos.

- Acho que eles podem lhe contar se viram alguma coisa senhor. Eu não sei. Eu estava em casa dormindo nessa noite e só cheguei lá no outro dia pela manhã. Afirma Antônio.

- Tem uma outra coisa. Vosmicê participou das negociações de Pérola?

- Não senhor. Essa parte eu deixei para Scarlett negociar. Ela era a dona e Pérola era muito valiosa senhor. Valia uma verdadeira fortuna. Eu preferi deixar isso para a própria dona dela realizar a negociação. Afirma Antônio.

- Eu fiquei sabendo de algumas coisas que me deixaram intrigado. Scarlett vendeu Pérola na sexta-feira anoite para o comprador da cidade grande. No sábado eles iriam registrar no papel aquela venda junto ao registrador. Entretanto, o registrador foi sequestrado na sexta. O que o senhor tem a me dizer sobre isso? Questiona aquele comandante.

- Sinceramente, não sabia de nada disso senhor. Eu tenho a dizer que é muito estranha toda essa situação e é uma coincidência muito grande esses fatos todos terem acontecido no mesmo final de semana.

- É exatamente o que pensei. Assim como eu, acha que esse sequestro do registrador possa ter relação com a compra de Pérola?

- Penso que talvez sim. Mas, não sei até que ponto isso tem haver com o incêndio naquela casa, pois Pérola morreu naquela noite, ao que tudo indica.

- O corpo dela não foi encontrado e dos demais escravos também não.

- Não foi mesmo senhor, mas, não há nenhum indício também de que eles estejam vivos e Gildásio viu os seus quartos a pegarem fogo naquela noite. Tudo indica que eles morreram.

- Pois bem. Agradeço pela sua ajuda nessa investigação. Muito obrigado Antônio. Diz aquele comandante encerrando aquela conversa.

Na segunda-feira aqueles três escravos foram levados para interrogatório. Eram senhores idosos, com idades entre 55 e 65 anos. Eles não fugiram naquele horário de almoço porque já debilitados, imaginavam que não conseguiriam ir muito longe. Aquele comandante começa os questionando, com os três em uma mesma sala, se eles viram algo que poderia ser os corpos daqueles escravos durante aqueles trabalhos. Quando eles responderam que não.

Ele fez mais perguntas que foram respondidas pelos escravos, mas o ponto principal, ainda ficou obscuro naquela investigação. Ao final daquele interrogatório, ele mandou aqueles escravos para a fazenda, ainda desconfiado do que eles estavam a dizer. Aquele comandante tinha colocado na mente que desvendaria esse caso, não importa o que tivesse que fazer para isso.

Naquela segunda-feira, o doutor retirou o último curativo de Scarlett, quando notou que aqueles dois joelhos estavam inflamados, o trazendo uma grande preocupação. Ele limpou aqueles pontos superficialmente e passou remédios, para ver se evitava que aquelas inflamações pudessem crescer no decorrer dos dias seguintes. Caso isso ocorresse, ele teria que fazer uma limpeza mais profunda o que levaria Scarlett novamente a sentir muitas dores e entrar em um estágio de profundo sofrimento.

Nesse tempo de recuperação de Scarlett os trabalhos retornaram naquela fazenda. Os escravos ficaram sobre a vigilância daqueles poucos capatazes contratados. Com confiança de que aquela senhora estava muito mal e que dificilmente retornaria para aquela fazenda, tendo visto que ela não tinha mais recursos para a contratação de capitães do mato para a busca de escravos fugidos e confiando que não seriam castigados a ponto de serem mortos caso fossem capturados, diversos escravos resolveram tentar esse ato em busca da liberdade.

Eles descobriram que havia um quilombo ao norte daquelas terras há algumas léguas daquela fazenda e mais encorajados, pouco a pouco, alguns deles foram fugindo, enquanto aqueles capatazes estavam desatentos. Logo na primeira semana de retorno dos trabalhos, cerca de 15 escravos fugiram, o que estava a preocupar intensamente Gildásio e também Antônio. Sem muita paciência com os escravos, a cada fuga realizada, Gildásio interrogava os escravos que participavam daqueles grupos a base de um castigo severo, para que eles dissessem quando e para onde os escravos fugiram. Mas, aqueles homens, mesmo sofrendo severos castigos, não diziam nada e a captura dos fugitivos se tornava quase impossível.

Como os escravos estavam a perceber que dificilmente seriam capturados caso realizassem aquela fuga, a motivação deles para se livrarem de uma vez por todas daquela senhora ia aumentando e a cada semana aquele número de fugitivos aumentava. Nas outras duas semanas seguintes, mais 40 escravos realizaram a fuga. Foi quando, desesperados, após a fuga de 55 escravos em um intervalo de menos de um mês, Antônio e Gildásio, resolveram colocar aqueles escravos apenas em dois grupos, uma parte deles trabalharia na parte 4 daquela fazenda e um outro grupo, revezaria nos trabalhos da parte 1 e 2 daquelas terras. A parte 3 havia sido queimada na última revolta e estava improdutiva, portanto, eles a deixaram sem manutenção durante aquele período mais crítico, o qual eles tinham um número muito pequeno de capatazes para controlar aqueles escravos.

No dia 03 de maio de 1796, Juliano chamou aquele comandante para tomarem um drink depois do expediente. Ele queria saber informações sobre aquelas investigações do caso Scarlett. No começo daquela conversa ele comentou sobre assuntos diversos daquele vilarejo, pois, sabia que aquele comandante não falava sobre as investigações de forma detalhada, enquanto estava sóbrio. Entretanto, ele pediu várias bebidas e foi incentivando aquele comandante a beber o máximo possível. Quando notou que o comandante já estava muito bêbado, ele entrou no assunto:

- E a investigação de Scarlett comandante, o que aconteceu efetivamente naquela casa?

- Esse assunto é sigiloso. Disse aquele comandante já tendo dificuldades até de pronunciar as palavras, apontando o seu dedo para Juliano, demonstrando completo descontrole, quando diz abrindo os braços: - Mas, como o senhor é meu amigo e sei que não vai contar para ninguém, eu estou desconfiado que aconteceu alguma coisa muito estranha naquela casa.

- Tipo o que comandante? Questiona Juliano.

- Ta tudo muito estranho nessa investigação. Eu não encontrei os corpos dos escravos que estavam naquela casa e foram mortos naquele segundo andar naquela noite. Afirmou aquele comandante, quando tomou mais um copo de bebida forte.

Imediatamente o coração de Juliano bateu mais forte. Ele estava desconfiado de que aqueles escravos pudessem estar envolvidos no incêndio por não ter encontrado os seus corpos. Certamente ele continuaria a procurá-los e não iria encontrar nada, pois aquele grupo de escravos estava vivo e havia fugido daquela casa. Depois dessa reflexão Juliano diz:

- Mas, será que não queimou comandante?

- Corpos não queimam totalmente. Eles sempre deixam indícios. Os ossos ficam. Isso tinha que está lá, pelo menos indícios deles. Afirma aquele comandante demonstrando certeza no que estava a afirmar.

- Que coisa estranha em comandante. Afirma Juliano tentando passar credibilidade em sua fala.

- Mas, isso não é o pior. Diz aquele comandante.

- Ainda tem mais comandante?

- Sim. Tem mais um mistério que ainda está me intrigando. Afirma ele.

- E que mistério é esse comandante? Questiona Juliano demonstrando uma preocupação enorme do que aquele comandante iria dizer.

- Eu preciso ir ao banheiro e já volto. Diz aquele comandante a se levantar, deixando Juliano naquela mesa extremamente preocupado.

Quando aquele comandante estava a retornar, ele caiu no chão enquanto chegava próximo a cadeira e não levantou mais. Todas as pessoas foram em socorro dele, mas, ele havia desmaiado de tanta bebida que tomou. Alguns daqueles homens que estavam no bar o pegaram e o levaram para casa com a ajuda de Juliano. Ele deixou aquele comandante lá, que recebeu os cuidados de sua esposa.

Mas, o maior mistério daquele caso, Juliano para alguns, Antônio Dias Filho para outros, não havia descoberto. Tudo que passava por sua cabeça era que aquele comandante poderia ter descoberto algum indício maior que aqueles escravos estavam vivos e realizaram o ataque a Scarlett, ou que aquele comandante descobriu algo sobre a participação de mais alguém naquele incêndio, começando as investigações para descobrir quem era. Antônio Dias Filho estava muito preocupado com as respostas dadas por aquele militar. A investigação estava a avançar muito e estava indo para um caminho muito perigoso.

No dia seguinte ele foi na casa do seu primo Matias e repassou para ele as informações que havia recebido do comandante, demonstrando preocupação quanto a aquele mistério não revelado. Ele estava decidido a intervir de alguma forma naquelas investigações plantando uma prova naquele local. Mas, o seu primo foi categórico ao dizer que ele não deveria fazer nada nesse sentido, pois até aquele momento não havia nada que o ligasse ao crime, entretanto, se ele tomasse alguma ação naquele sentido, poderia ser descoberto e ser preso. Então Antônio Dias Filho entendeu aquela reflexão do primo e resolveu acatá-la, mas, ainda estava muito preocupado com os rumos daquela investigação.

Na quarta-feira daquela semana, o comandante mandou prender aqueles três escravos, pois ele queria interrogá-los. Depois de ser informado que aqueles escravos poderiam ter sido enterrados por aquele primeiro grupo que chegou aos escombros daquela casa grande, ele fez aquele primeiro interrogatório, mas não ficou satisfeito, achou que aqueles escravos poderiam estar mentindo para ocultar o local de enterro daquele grupo de escravos que vivia no segundo andar.

Dessa vez ele levou um de cada vez para aquele interrogatório e os torturou de forma extrema, batendo muito neles para que eles dissessem a verdade, onde enterraram os corpos daqueles escravos. Os interrogados sempre diziam que não haviam encontrado nenhum escravo, quando aqueles soldados os surravam de forma ainda mais intensa. Como já eram idosos, eles, ao serem torturados, ficavam muito debilitados ao final daqueles castigos extremos e eram então deixados, sem forças, naquelas celas da cadeia. Aquele comandante não estava nada satisfeito com as respostas daqueles escravos e por não estar conseguindo avançar naquelas investigações.

Pelos outros dois dias seguidos aquele comandante agiu da mesma forma nos interrogatórios, sendo severo com aqueles escravos, batendo neles até que não suportassem mais. Quando no terceiro dia, em meio a aquelas torturas extremas, o escravo mais velho, Tisiu disse que aqueles escravos haviam sido enterrados e que ele sabia onde eles estavam.

Imediatamente aquele comandante levou aquele escravo, sem forças e demonstrando um desespero enorme, até a fazenda. Logo eles liberaram aqueles dois outros escravos e foram apenas com ele até o local para procurar aqueles corpos enterrados. Aquele escravo indicou o ponto sabendo que nada seria encontrado, pois ele não havia enterrado ninguém ali e nem havia visto isso ocorrer. Entretanto, o seu desespero foi tão grande em meio a tortura insuportável que estava a sofrer, que para se libertar dela, pelo menos por um tempo, ele criou aquela versão.

Os policiais ordenaram que os escravos daquela fazenda cavassem aquele espaço até que escureceu e não encontraram nada. Quando aquele comandante o questionou:

- Porque não achamos nada escravo? Com quem vosmicê veio aqui enterrar esses escravos?

- Veio eu e mais cinco escravos que fugiram naquele dia senhor. Então os nomes daqueles escravos fugitivos foram ditos e Gildásio que os acompanhavam, afirmou que aqueles escravos haviam mesmo fugido daquelas terras e não haviam sido capturados.

Aquele comandante furioso o questionou mais uma vez:

- Tem certeza que esses escravos foram enterrados e que estão aqui?

- Sim senhor. Eu tenho. Nós os enterramos aqui.

- Bem, hoje já está tarde. Não vamos encontrar mais nada aqui. Mas, amanhã na primeira luz do dia, vamos retornar e vosmicê vai ter que dar conta desses corpos. Caso contrário, o seu castigo será muito mais severo do que os que estava a sofrer quando afirmou que eles foram enterrados. Afirma aquele comandante em tom irado.

Eles saem anoite daquela fazenda e enquanto se dirigiram para aquela cadeia em cima de uma carroça, pela escuridão daquela estrada, com aquele escravo e dois soldados ao seu lado, Tisiu desesperado, mesmo com as suas mãos presas aos grilhões, ao ver que um dos soldados estava distraído sentado a frente dele, pegou a espada que estava sobre posse daquele homem e atacou um dos soldados que o vigiava, quando logo em seguida, um outro soldado atingiu o seu corpo com uma espada e o matou imediatamente. O soldado atingido foi levado rapidamente para a clínica, mas não resistiu, também falecendo naquela noite.

O comandante, daquele momento em diante, hipoteticamente, só saberia onde aqueles corpos foram enterrados se encontrasse algum daqueles negros fugidos, o que era quase impossível a aquela altura porque eles já haviam fugido ha muito tempo.

Nos dias seguintes o comandante chegou a questionar aos dois outros escravos idosos se eles viram quando aqueles corpos foram retirados daquela casa grande, mas, eles disseram que estavam a trabalhar em uma outra parte da casa e por esse motivo eles não viram o enterro daqueles escravos. Então aquele comandante praticamente descartou a hipótese de que eles estivessem vivos, trabalhando mais para entender a dinâmica daquele incêndio do que imaginando que ele pode ter sido ocasionada por aqueles escravos que tinham quartos no segundo andar.

Depois da fala convicta de Tisiu, que inclusive os levou até o ponto em que aqueles escravos teriam sido enterrados, o comandante acreditava que aqueles escravos estavam mesmo mortos. Eles chegaram a cavar um grande perímetro naquele ponto indicado por Tisiu, mas não encontraram nada naquele local. Quando aquele comandante achando que estava perdendo muito tempo em algo que todos os indícios levavam a crer que os escravos estavam mesmo mortos, decide encerrar as buscas por aqueles corpos.

Enquanto esses fatos ocorriam, Artur, Pérola, Maria, Tisa e Albertina estavam no quilombo felizes da vida ao realizar várias ações de trabalho com aqueles negros. Durante os trabalhos, eles cantavam o tempo inteiro e dançavam felizes, ajustando o ritmo do trabalho a música, o que os dava ainda mais motivação para o aumento da produtividade, nos trabalhos da roça e da cozinha. Nos finais das tardes, normalmente se juntavam todos para realizar festas com músicas de tambor e danças típicas africanas, onde todos ficavam muito felizes.

Maria, Tisa e Albertina estavam demonstrando uma felicidade enorme por estarem naquele espaço junto aos seus irmãos de cor. Com o tempo, Maria que era mais acanhada foi se aproximando a outras pessoas do grupo e também se ambientou. Ela confessou para Pérola em um dos dias que estava até a gostar de um dos guerreiros daquele quilombo, quando Pérola disse que ela precisava acalmar o seu coração, pois ela teria que ir embora.

Durante aqueles dias, aquelas três mulheres se mostraram tão ambientadas e felizes naquele quilombo, que conversavam entre si demonstrando a hipótese de continuarem a viver naquele local pelo resto de suas vidas. Muito bem recebidas, logo todas se ambientaram às atividades e as pessoas daquele espaço e Maria, bem como Tisa, logo arrumaram homens que se interessaram por elas e surgiram algumas paixões bem rápidas naquela comunidade. Sempre que podiam, aquelas duas davam uma fugida daquele espaço, para locais mais reservados, com o intuito poderem se relacionar com os seus novos companheiros. Todas estavam muito felizes naquele contexto.

Entretanto, Artur queria seguir viagem rumo ao destino programado e Pérola concordou que eles já haviam descansado bastante e que era hora de retornar para a viagem. Eles partiriam no dia 08 de maio, depois de ficarem 19 dias naquele quilombo. Na noite do dia 06, eles conversaram com Albertina, quando ela afirmou que estava pensando em ficar no quilombo. Artur ficou muito triste com aquela ideia de sua tia e eles conversaram sobre o tema, na presença de Pérola:

- Tia, como vou fazer sem a senhora para me ajudar? A senhora prometeu que lutaria pela liberdade comigo. Afirma Artur querendo que sua tia o acompanhasse.

- Livre nós já somos meu filho. Olha a liberdade desse lugar! Não há lugar no mundo que possamos ter uma liberdade tão grande. Eu já sou uma senhora velha. Nunca pensei que encontraria o que tenho aqui em minha vida. Eu estou feliz e realizada. Aquilo que prometi a sua mãe eu tive. Eu tenho a minha liberdade aqui e é aqui que eu quero ficar. Afirma Albertina a sorrir intensamente demonstrando uma felicidade enorme em seu semblante.

- Mas, tia, como eu vou fazer sem a senhora? A senhora é minha conselheira, depois da morte da minha mãe sempre esteve ao meu lado. Questiona Artur demonstrando receio em sua fala.

- Fique aqui conosco. Porque quer partir? Eu estou muito velha para ir para tão longe meu filho. Eu estou muito cansada. Não vou conseguir acompanhar vosmicês. Eu prefiro que vosmicês possam ir só. Tem a minha benção. Afirma Albertina, quando Artur entende aquele desejo de sua tia e ao ver a felicidade daquele povo ao redor, lhe dá um forte abraço e diz que entende que aquele lugar seria muito bom para ela.

Na manhã do dia seguinte, Pérola conversa com Maria:

- Amanhã nós vamos embora rumo ao nosso destino Maria. Finalmente seremos plenamente livres.

- Pérola, nós já somos livres! Olhe a liberdade aqui! Afirma Maria tendo a mesma convicção apresentada por Albertina na noite anterior. Algo que espanta Pérola que afirma:

- Eu sei, mas seremos livres em uma terra. Ou vosmicê também se encantou por aqui e vai me abandonar? Questiona Pérola abrindo um leve sorriso.

- Jamais Pérola, me lembrarei de vosmicê em todos os momentos de minha vida! Vosmicê foi a melhor pessoa que já conheci na minha vida! Eu estou muito feliz que conseguimos a liberdade juntas. Afirma Maria demonstrando emoção em sua fala.

- Então vosmicê vai comigo? Questiona Pérola, um pouco desconfiada com os rumos daquela conversa.

- Acho que teremos que nos separar amiga. Depois que conheci o meu verdadeiro povo, a minha origem, gente como a gente livre nesse lugar maravilhoso, eu acho que não vou conseguir viver em um outro lugar que não seja aqui! A felicidade está nesse lugar Pérola. Olha essas crianças correndo para lá e para cá. Olha a natureza. Temos tudo aqui! Porque não fica conosco?

- Artur tem um sonho de se tornar um grande fazendeiro. E eu também tenho o sonho de ter a minha própria casa. Mas, eu te entendo amiga. Fico muito feliz que tenha encontrado um lugar que pudesse te trazer essa sensação de felicidade e de liberdade.

- Eu estou muito feliz Pérola. Estou completamente apaixonada! Vosmicê não imagina como Tenreu é um homem bom! Ele me trata como uma verdadeira princesa.

- Vosmicê merece Maria. É uma verdadeira princesa, pelo coração nobre que tem. Diz Pérola a mudar o seu semblante para triste.

- O que foi Pérola, ficou triste porque eu resolvi ficar?

- Não amiga. Eu estou muito feliz que vosmicê está apaixonada. Eu sei como isso é bom e o quanto é importante lutar para ficar junto do seu amor. Eu estou triste porque senti saudades de Maria Tereza. Seria tão bom se ela e seus guerreiros encontrassem um lugar como esse antes de terem morrido naquela fazenda. Diz Pérola quando lágrimas começam a escorrer de seus olhos.

- Seria sim. Eu também sinto muita falta da nossa princesa. Coração nobre como aquele é difícil de se ver. Só encontrei duas, vosmicê e ela. Mas, ela está bem! Está nos vendo aqui livres e felizes da vida com a nossa tão sonhada liberdade. Afirma Maria, abrindo um sorriso o que melhora o semblante de Pérola.

- Está sim. Está feliz como Justina e Gertrudes, que também estão lá de cima vendo que conseguimos cumprir a promessa de chegarmos a nossa liberdade. Tudo isso nós fizemos também por elas.

- Nós conseguimos amiga! Nós conseguimos! Afirma Maria ao abraçar Pérola fortemente, demonstrando um enorme carinho por ela.

Ao ser avisado por Pérola que Maria também resolveu ficar no quilombo, Artur ficou muito surpreso e foi logo conversar com Tisa, para saber quais eram os planos dela. Se iria para o sul com eles ou se ficaria também naquele quilombo. Então ele começa a conversar com a sua grande amiga que cuidou dele desde que era muito criança:

- Tisa, amanhã estaremos partindo para o sul. Vosmicê vem conosco?

- Eu conversei muito com Maria e Albertina. Eu resolvi ficar aqui junto aos meus irmãos de cor Artur. Eu estou bem aqui. Eu não tenho vontade de viver novamente em terra de branco. Aqui é o melhor lugar para um negro se viver. Afirma Tisa demonstrando convicção em sua fala. Artur imediatamente lhe dá um forte abraço e fica a chorar abraçado a ela por um logo tempo, demonstrando emoção, quando diz:

- Eu jamais vou esquecer vosmicê em minha vida Tisa. Vosmicê sempre foi uma irmã para mim durante toda a minha vida. O que vosmicê fez por mim não tem preço. Muito obrigado por tudo!

- Artur, meu irmão de coração. Tudo que fiz eu faria de novo. Inclusive levar aquela surra de Scarlett para que vosmicê pudesse abraçar a sua mãe mais uma vez. Afirma Tisa agora a sorrir em tom sarcástico. Quando ela diz sorrindo: - Mentira, essa parte pula. Mas, eu te amo demais meu irmão! Eu também jamais vou esquecer tudo que passamos e o carinho que sempre teve comigo. Muito obrigada por me colocar nos seus planos de luta pela liberdade. Afirma Tisa emocionada.

- Era o mínimo que eu poderia fazer para retribuir tudo que vosmicê fez por mim. Quando perdi a minha mãe, vosmicê foi o meu apoio naquela casa. Sem vosmicê eu nem imagino o que seria de minha vida. Eu te amo minha irmã! Nunca se esqueça disso. Afirma Artur a abraçar Tisa, iniciando aquele processo de despedida.

Aquela noite passa com todos refletindo muito sobre a vida e o que passaram juntos com as pessoas que deixariam no dia seguinte. Artur se lembra de vários momentos de sua vida com a sua tia Albertina e com Tisa. Pérola se lembrava o tempo todo de Maria e tudo que ela havia lhe ensinado quando chegou naquela casa. Muitos castigos de Pérola foram evitados pela ajuda que aquela amiga fiel havia lhe dado.

O dia 08 de maio amanhece e logo após fazerem as suas refeições era hora da partida. A carroça já estava pronta e o cavalo também. Aquele casal, partiria rumo ao sul do estado, deixando Albertina, Maria e Tisa a viver junto aos seus irmãos de cor naquele quilombo.

Artur e Pérola se despedem daquele rei, o agradecendo intensamente pela proteção durante aquele tempo. Eles deixam uma quantidade de joias de Scarlett de presente para que ele pudesse adquirir pertences para aquele povo, quando aquele senhor os agradece imensamente pela generosidade. Depois desse momento, eles se despedem de um por um daqueles moradores. Quando restam apenas as suas três companheiras de quase uma vida para aquela despedida.

Pérola primeiro abraça Albertina, enquanto Artur abraça Maria. Pérola agradece Albertina por todos os conselhos, ensinamentos e pelas orientações que lhe passou no momento certo para que aquele momento e a liberdade que eles conseguiram fosse possível. Artur agradece Maria por tudo. Assim que eles encerram aqueles abraços, chorando muito de emoção, Artur abraça Tisa, enquanto Pérola vai abraçar Maria.

Aquela despedida era de pura emoção. Todos aquelas pessoas que conquistaram a liberdade ao sair da fazenda de Scarlett estavam muito emocionados por estarem ali, podendo se despedir de pessoas tão amadas, os quais conviveram por toda a vida, podendo presenciar alguns deles indo a caminho da liberdade e outros permanecendo na liberdade em um local tão agradável, junto aos seus irmãos de cor.

Pérola parecia que não queria desgrudar de Maria e aquele sentimento era recíproco. A amizade daquelas duas foi algo imediato. Assim que Pérola chegou naquela casa pela primeira vez, Maria veio com um coração enorme ajudá-la, mesmo em uma situação tão adversa. Ao passar essas imagens na memória de Pérola dos primeiros encontros com Maria, o seu coração aperta de emoção. Ela chorava muito. Quando diz:

- Um pedaço de mim ficará com vosmicê no dia de hoje. Um pedaço do meu coração é seu Maria. Muito obrigada por tudo que fez por mim! Afirmou Pérola muito emocionada.

Maria também não parava de chorar, abraçando a sua melhor amiga e então ela diz em despedida:

- Eu jamais me esquecerei de vosmicê Pérola. Com vosmicê eu aprendi o que é uma amizade de verdade. Vosmicê me ensinou a ler e escrever. Isso era o meu sonho! Afirma ela a sorrir em meio a aquele choro extremo. Quando ela continua a sua fala: - O que sinto por vosmicê não pode ser descrito nem com as palavras que me ensinou. O meu amor por vosmicê é de irmandade, é muito maior do que esse mundo! Afirma Maria ao abraçar Pérola novamente de forma intensa, estando as duas extremamente emocionadas naquela despedida.

Artur ainda abraçado a Tisa disse a ela:

- Obrigado minha irmã de coração. Eu não tenho palavras para dizer o quanto vosmicê é importante para mim. Eu queria que ficássemos juntos pelo resto de nossas vidas, como vivemos até hoje. Mas, o destino nos prega peças, nos separa daqueles que amamos. E eu te amo muito minha irmã!

Tisa chorando muito, ainda abraçada a Artur, responde:

- Desde que te conheci Artur, eu sabia que vosmicê era um menino especial e que nos traria muita felicidade. Mesmo sendo branco e tendo um certo poder naquela casa, nunca me tratou mal, nem quando o seu pai era vivo. Eu sabia que era diferente. Eu sabia que continuaria o legado e a promessa que fez a sua mãe e hoje estou muito orgulhosa de vosmicê e de ser a sua irmã. Eu te amo muito. Eu jamais vou esquecer de vosmicê enquanto estiver nessa terra. Espero que um dia possamos nos encontrar, se não for nessa vida, em algum outro lugar, pois a irmandade que construímos foi tão forte, que tenho certeza que nem a eternidade será capaz de nos separar. Vá com Deus meu irmão!

- Fique com Deus também minha irmã. Se não nos encontrarmos nesse mundo, em algum momento nos encontraremos, pois, vosmicê de coração tão nobre, certamente irá para o mesmo lugar que eu, um lugar onde as pessoas boas vão após encerrarem as suas jornadas nessa terra. E por tudo que fizemos de bem, tenho certeza que lá estaremos, juntos, novamente. Afirma Artur muito emocionado ao se despedir de Tisa.

Então Pérola após finalizar aquela despedida a Maria, abraçou Tisa e a agradeceu intensamente, enquanto Artur abraçou a sua Tia e disse:

- Tia, eu não acredito ainda que vamos nos separar depois de vivermos uma vida juntos!

- Vosmicê é um filho pra mim Artur. Eu prometi para a sua mãe que caso ela se fosse eu seria a sua mãe e hoje estou muito orgulhosa do guerreiro que vosmicê se tornou. Vosmicê pode ter orgulho por ter seguido o legado de sua mãe e cumprido a promessa que fez a ela, de conquistar a liberdade e libertar os seus irmãos de cor da escravidão.

- Essa minha promessa não terminará aqui tia. Enquanto eu estiver respirando eu lutarei pela liberdade daqueles que ainda não a tem, conforme prometi a minha mãe. Foi isso que ela me ensinou ao final de sua vida. Que não há nada mais importante do que a liberdade e hoje, que somos livres, podemos constatar isso. Responde Artur.

- Eu vou te pedir apenas um cuidado meu filho. Vosmicê sabe como os escravos descobriram que vosmicê é um escravo?

- Sim minha tia, pela marca de ferro quente que tenho nas minhas costas.

- Vosmicê e Pérola sabem que jamais poderão deixar que ninguém veja essa marca do ferro quente gravada em vosmicês. Caso alguém veja isso, vosmicês poderão ser presos de novo. Por ironia do destino aqui essa marca os salvou. Mas, em terra de branco, se alguém os ver com ela, poderá ser a ruína de vosmicês. Afirma Albertina em tom preocupado.

- Eu sei tia. Faremos o possível para que isso não ocorra. Eu te amo tia! Afirma Artur a abraçar a sua tia com toda a força. Quando diz: - Se cuida tia! Eu não sei se conseguiremos nos ver de novo, porque vou para muito longe! Mas, estou muito feliz que a senhora está livre, feliz e em boas mãos!

- Vai com Deus meu filho! Eu estou muito orgulhosa do homem que vosmicê se tornou. Cuida bem dele pra mim Pérola. Daqui pra frente, vosmicê fará o meu papel na vida do meu filho! Afirma Albertina a limpar as lágrimas dos seus olhos.

- Pode deixar que cuidarei tia Albertina. Afirma Pérola também emocionada.

Então aquele casal sobe na carroça e eles partem dando tchau com as mãos a todo aquele povo do quilombo, enquanto aquelas pessoas os desejavam boa sorte. Maria, Tisa e Albertina ficaram a se emocionar, enquanto Pérola e Artur também emocionados, sumiam vagarosamente naquele horizonte.

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