- Papai, papai olha para mim! – Gabriella pediu dando pulinhos animados e eu soube naquele momento a minha palavra favorita para toda vida: papai. Como então pouco tempo eu já os amava tanto, era indescritível, quase mágico, era simplesmente perfeito. Eles eram a melhor parte de mim, meu melhor acerto em meio a tantos erros, eu os levaria comigo para sempre.
- Sim, meu amor. – Virei-me para ela dando-lhe a maior atenção.
- Olha o que a mamãe me ensinou. – Ela respirou fundo e se preparou. – J-O-S-H-U-A! – Ela soletrou meu nome, meu nome! Eu não podia ser mais feliz, olhei para os lados para agradecer Any por tudo, mas ela não estava na sala.
- Onde está a mamãe?! – Perguntei olhado para cima, onde Jaden estava escalando meus ombros e pulando dali.
- Não sei papai, acho que ela saiu. – Jaden disse antes de pular no chão e eu entrei em pânico. Any não poderia me deixar sozinho assim com as crianças, eu não estava preparado, não sou nada comparado a ela, e se acontecer alguma coisa?!
- Onde foi que você se enfiou Elly?! – Perguntei retoricamente encarando a porta.
- Papai, vamos procurar a mamãe! – Jaden ofereceu empolgado.
- Legal! Esconde-esconde! O meu favorito! – Gabriella comemorou juntando as mãos. Fitei meus filhos que me encaravam cheios de expectativa.
- Tudo bem, tudo bem! – Cedi e eles gritaram. – Vamos começar pela sala, mas em silêncio senão a mamãe perceberá tudo. – Falei e os dois levaram o indicador à boca. Seguimos para fora silenciosamente, meus filhos esgueiravam-se pelas paredes imitando espiões, eu não consegui evitar o riso.
- Shhhh! – Os dois fizeram em uníssono e eu levantei minhas mãos em sinal de rendição, continuávamos em direção a sala quando comecei a ouvir vozes.
- Sei que é meio inesperado, mas quando a minha secretária me entregou o convite, sabia que tinha que agradecer. – Um homem disse sorrindo para Any. Ele era alto, moreno, tinha um sorriso jovial, com certeza fazia sucesso com as mulheres.
- Tio Lamar!!!! – Meu filho correu para o homem que o recebeu de braços abertos e na hora reconheci seu nome, ele era o tal amigo de Any que Gabriella havia mencionado. O que esse cara quer aqui?!
- Como vai o meu melhor amigo?! – Lamar perguntou e eu fiquei irado, eu deveria ser o melhor amigo do meu filho, eu! Mas você acabou de chegar, sabe-se lá há quanto tempo esse cara está na vida deles. Minha consciência me denunciou e eu fiquei extremamente inseguro.
- Mamãe, a senhora não sabe brincar?! – Gabriella questionou um pouco indignada, o que me fez lembrar Sofya logo de cara. – Essa brincadeira é de se esconder, eu, o Den e o papai te achamos rápido demais! – Ela protestou e imediatamente os olhos do tal Lamar se arregalaram, Any percebendo isso, sorriu sem graça e se virou para mim.
- Bem, Josh esse é Lamar pediatra das crianças. – Ela apresentou e eu suspirei um pouco aliviado, então ele era só o médico e nada de mais. – Lamar esse é Josh, meu ex-marido e pai das crianças. – Ela falou aquilo doeu um pouco em mim. Essa era a primeira vez que Any me apresentava assim, como o seu ex, nós nunca terminamos na época do namoro, nem sequer demos um tempo, éramos bons juntos, então era muito estranho vê-la se referindo a mim daquela forma.
- Muito prazer, Josh. – Ele estendeu a mão e eu a apertei. Encaramo-nos e não levou nem um segundo para que eu percebesse que ele queria ser mais do que o médico das crianças, ele queria um lugar maior, o lugar que eu já havia ocupado um dia. – Seus filhos são ótimos. – Elogiou com um sorriso que juguei ser falso.
- Eu sei. – Respondi simplesmente. – Obrigado por estar cuidando tão bem deles. – Agradeci por educação, não vou ficar fazendo ceninha na frente da Any ou dos meus filhos, eles não mereciam isso.
- Eu é que agradeço pelo convite para o aniversário das crianças. – Ele falou gentilmente e eu me dei conta que havia esquecido da festa, foi o que me levou a essa verdade toda, eu me esqueci, mas aparentemente eu deveria ficar de olhos abertos já que havia alguém disposto a me substituir.
- Não agradeça a mim, agradeça a Any, ela é o cérebro responsável por tudo. – Falei pegando minha filha no colo. – Se me dão licença eu vou subir com as crianças. – Despedi-me sabendo que se ficasse ali mais um pouco com certeza expulsaria o doutor amor.
- Papai, podemos brincar de Barbie?! – Gabriella perguntou com um olhar de filhote.
- Claro, meu amor, podemos fazer o que você quiser. – Garanti dando um beijo em sua bochecha.
- Ei! Espere eu vou também! – Jaden correu até nós. – Tchau tio Lamar, eu vou com o meu papai! – Ele se virou antes de segurar a minha mão e partir conosco.
Sentei-me com as crianças na brinquedoteca e revezei a atenção entre meus filhos, era confuso, principalmente porque eu não parava de pensar que Any estava sozinha com o doutor amor na sala. Como se ouvisse meus pensamentos o seu perfume de rosas invadiu o ambiente e eu girei meu corpo para vê-la. Ela estava sorridente, corada e envergonhada, eu conhecia aquele jeito, o sorriso tímido e meigo, eu conhecia como ninguém, ela havia flertado, ou ao menos ele havia feito isso, minhas desconfianças se tornaram certezas, Lamar estava interessado e Any cogitava corresponde-lo, estranhamente aquilo me deixou triste. Eu preciso me livrar desse sentimento de posse, que tenho por ela, constatei e passei a fitar o chão.
- Papai, o senhor está triste?! – Jaden se aproximou de mim com os olhos castanhos preocupados.
- Não campeão, eu estou bem, só estou cansado. – Falei passando a mão pelos olhos, tentando me livrar da melancolia que se instalou em mim.
- Eu te empresto a minha cama. – Ele ofereceu humildemente. – Você pode dormir lá, eu posso ficar com a Ella, o quarto dela é rosa, mas eu posso fazer isso para você ficar. – Ele concluiu e como em um passe de mágica eu me senti mais forte, eles eram a minha prioridade, minha vida.
- Campeão, eu adoraria ficar, mas eu preciso ir para casa tomar banho. – Expliquei e ele olhou para o chão tristonho. – Não fique assim, amanhã eu venho para leva-los a escola.
- Não, papai, fica! – Gabriella me abraçou com força.
- Princesinha, eu adoraria, mas não posso, tenho coisas que preciso resolver. – Falei passando a mão em seu rosto. Era verdade, eu precisava conversar com Ada, ela tinha que saber das crianças.
- Resolve e volta depois. – Ela falou simplista e eu derreti.
- É papai, volta e fica aqui! – Jaden insistiu e fiquei sem saber como continuar a negar.
- Sua mãe, ela precisa descansar. – Dei outra desculpa e eles correram para Any.
- Por favor, por favor, mamãe, deixa o papai ficar. – Gabriella puxou a roupa de Any.
- Mamãe deixa, eu empresto o meu quarto! – Jaden implorou.
- Claro. – Ela os respondeu sem jeito e eu percebi que aquele era o seu limite.
– Se quiser ficar a casa é sua Josh. – Ofereceu desconfortável.
- Crianças. – Chamei e eles vieram até mim. – Eu preciso ir para casa, tudo o que eu mais quero no mundo é ficar com vocês, mas eu tenho que ir. – Falei e os dois fitaram o chão. – Eu vou arrumar tudo para o fim de semana, vocês irão passa-lo comigo, isso se sua mãe quiser. – Finalizei olhando para Any e imediatamente meus filhos começaram a implorar novamente.
- Por favor, mamãe! – Eles gritavam incessantemente.
- Tudo bem. – Cedeu sorrindo. – Vocês podem ficar com o papai este fim de semana. – Anunciou e a sala se transformou em um palco de comemorações.
Depois de tanta celebração o cansaço venceu meus filhos e Any os levou para o banho, pensei em ir embora, contudo antes de subir Federico me pediu que esperasse até que ele dormisse, assim pareceria que eu fiquei a noite toda. Enquanto eu colocava Jaden para dormir, Any fazia o mesmo trabalho com Gabriella. Fiquei surpreso com a facilidade que tive para fazer meu filho pegar no sono.
- Boa noite, papai, eu te amo para sempre. – Ele declarou antes de adormecer.
- Eu também te amo para sempre, campeão. – Falei inclinando-me e beijando sua testa.
- Nada mal para a primeira vez. – Any constatou encostada no batente da porta.
- Diana já dormiu?! – Perguntei levantando-me.
- Há uns quinze minutos. – Respondeu divertida saindo do quarto.
- E eu achando que tinha ido bem. – Disse sem graça enquanto fechava a porta.
- E você foi, acredite demorou muito até que eu conseguisse ter uma noite tranquila. – Garantiu e eu fui atingido em cheio, nada do que eu fizesse recuperaria o tempo que perdi, ou tornaria o caminho de Any mais fácil. – Desculpe, não foi a minha intenção te deixar assim. – Ela pediu rapidamente.
- Não, o único que deve desculpas aqui sou eu. – Assumi a culpa. – Elly, eu falhei com você, com nossos filhos, acabei com tudo o que poderíamos ter, você fez um trabalho incrível, eu só tenho que ser grato por isso e também por você permitir que eu entre na sua vida outra vez.
- Na minha não, na das crianças. – Ela corrigiu friamente.
- Sim, na das crianças. – Repeti conformado. – Bem, eu acho que está na minha hora. – Anunciei olhando para a escada.
- Eu te levo até a porta. – Any ofereceu educadamente. Seguíamos em silêncio para a porta quando o meu celular vibrou.
Não quero bancar a namorada ciumenta, mas já é tarde e estou preocupada, você está bem?!
A mensagem de Heyoon me fez suspirar fundo, minha noite estava longe de terminar, eu ainda tinha um grande desafio pela frente, contar tudo a minha namorada e torcer para que ela aceitasse.
Estou bem e já a caminho de casa, me espere, quero ver você.
- Tudo bem, Josh?! – Any interrogou com os olhos preocupados.
- Eu ainda não contei a Heyoon. – Falei com a cabeça cheia sem medir as palavras.
- Heyoon?! – Questionou confusa e eu percebi que havia entrado em uma saia justa.
- Minha namorada. – Disse calmamente. – Eu não disse a ela sobre as crianças.
- Está preocupado com a reação dela?! – Perguntou receosa.
- Sim, quero que ela goste das crianças e não quero que ela tenha uma impressão errada de mim. – Desabafei cansado.
- Então se importa com a opinião dela?! – Any continuou perguntando e eu estranhei aquilo.
- Sim, não quero que Heyoon sofra com essa história. – Suspirei pensando no quão difícil seria para ela saber de tudo.
- Então o que vocês têm é sério. – Desta vez Any não perguntou e sim constatou, eu a encarei e talvez fosse uma impressão mas os olhos dela pareciam marejados.
- Você está bem?! – Foi a minha vez de perguntar.
- Sim, eu só estou com sono. – Ela respondeu fazendo uma cara de sono fofa, aquilo me trouxe tantas lembranças que não resisti e estiquei minha mão para afagar seu rosto. Prometa que não vai me tocar como já vez um dia. O pedido de Any cintilou em minha mente fazendo-me recolher a mão.
- Eu já vou, mas venho amanhã cedo para leva-los a escola. – Falei com a mão na maçaneta. – Boa noite, Any. – Desejei abrindo a porta e saindo da casa.
- Boa noite. – Ela respondeu e eu segui meu caminho. – Josh! – Luna gritou quando eu andava até o carro, me virei para ela, contudo ela permaneceu calada por alguns segundos. – Boa sorte com sua namorada. – Disse baixinho e tive a impressão que não era aquilo que ela gostaria de dizer.
...
- Que bom que você esperou. – Falei ao chegar a casa e me deparar com Ada sentada no sofá mexendo em seu celular.
- Você disse que queria me ver. – Ela sorriu, caminhou até mim e me beijou. – Eu senti saudades, você saiu ontem e hoje também, não quero parecer carente, eu sei que você tem assuntos da empresa para tratar, mas não pude evitar. – Ela foi sincera e eu selei nossos lábios levemente antes de guia-la ao sofá para dizer tudo.
- Na verdade o motivo da minha ausência nestes últimos dois dias não foi o trabalho. – Confessei e Heyoon me encarou confusa. – Eu tenho algo sério para te contar, espero que você entenda, porque isso é a coisa mais importante da minha vida.
- O que foi Josh?! Você está me assustando. – Ela falou temerosa.
- Você sabe que eu fui casado na época da faculdade, sabe também que me divorciei por uma paixão e que depois fui abandonado no altar. – Fiz uma introdução esperando que isso fosse aliviar o impacto da notícia.
- Sim, a garota legal e a golpista. – Heyoon disse eu ri do apelido que ela deu as minhas antigas relações.
- Isso mesmo, acontece que Any, minha ex-mulher ficou grávida. – Revelei e Ada arregalou os olhos. – Não agora, mas naquela época, contudo eu não soube de nada porque Diarra, a golpista que me deixou, impediu que Any fizesse contato comigo. – Completei nervoso.
- Está me dizendo que é pai?! – Heyoon perguntou e eu assenti. Ela fitou o chão por alguns minutos que pareceram durar uma eternidade, mas quando voltou a me encarar eu vi seus olhos cheios de lágrimas. – Filho. – Disse para si mesma. – Você sabe o que isso significa para mim?! – Ela questionou sem nenhum tom acusatório e eu sabia o porquê, mesmo que não dissesse eu conhecia o desejo dela de ser mãe ou pelo menos supunha isso, já que logo que começamos a sair ela mencionou amargamente que não podia ter filhos.
- Sim, eu sei, mas quero que saiba que isso não muda nada. – Assegurei não querendo magoa-la.
- Muda, Josh, isso muda tudo, mas entenda eu não estou brava, é só que você é pai e essa é uma grande coisa, estou feliz por você. – Falou e fiquei tocado por sua sinceridade. – Você já conhece seu filho ou filha?! – Ela perguntou enxugando as lágrimas.
- Sim, eu já os conheço. – Respondi sorrindo vendo em minha mente a imagem dos meus filhos.
- Plural?! São dois?! Tipo você e Sofya?! – Ela questionou curiosa, já cheia de energia, como a Heyoon que eu sempre conheci.
- Sim, exatamente com Sofya e eu, um menino e uma menina. – Contei e ela sorriu. – Jaden e Gabriella, eles têm quatro anos.
- Uma garotinha, você é pai de uma garotinha, eu posso ajuda-la a se vestir! – Exclamou animada e eu arquei a sobrancelha. – Isso se você deixar. – Ela se aproximou fazendo charme. – É claro que tem a mãe dela também, mas você disse que ela era legal, como é mesmo o nome dela?! – Perguntou frenética.
- Any Gabrielly. – Respondi simplesmente.
- Any Gabrielly,gosto do nome, é elegante, aposto que ela tem um ótimo gosto para se vestir. – Disse empolgada.
- Ela é boa, boa demais. – Elogiei completamente grato pela postura de Any com toda a história. – Se eu estivesse no lugar dela acho que não agiria da mesma forma.
- Não concordo! – Heyoon se posicionou. – Você tem um coração gigante, é claro que faria o mesmo. – Afirmou categoricamente e eu fiquei admirado por sua fé em mim.
- Obrigado. – Agradeci beijando sua mão.
- Não agradeça, são seus filhos, eles são a coisa mais importante para você. – Falou acariciando meu rosto. – E quando vou conhecê-los?! – Perguntou ansiosa.
- No fim de semana. – Respondi sorrindo. – Eu tenho que preparar quartos para eles. – Pontuei coçando a cabeça.
- Deixa comigo! – Ela se ofereceu com um sorriso de orelha a orelha.
- Não é preciso, não quero te dar trabalho. – Disse e seu sorriso ganhou mais determinação.
- Josh , por favor, você odeia compras! – Pontou e eu concordei com a cabeça. – Eu adoro compras e como não terei outra oportunidade para decorar um quarto de criança, sou automaticamente a solução perfeita para o seu problema. – Argumentou com paixão. – Vai deixa! – Ela pediu beijando meu rosto. – Por favor, amorzinho. – Heyoon disse sedutoramente desabotoando minha camisa. – Vamos, do contrario eu vou te torturar. – Sussurrou em meu ouvido e eu me vi obrigado a ceder, ela queria algo que eu não poderia dar a ela, não hoje, minha mente estava um caos.
- Está bem, está bem. – Falei me afastando dela. – Mas não exagere. – Pedi dando o cartão a ela.
- Só irei comprar o necessário. – Afirmou, mas eu sabia que a realidade seria completamente diferente.
Fiz o possível para me desviar de Heyoon depois disso, procurei ser sutil para que ela não ficasse chateada. Quando saí do escritório e fui me deitar ela já dormia tranquilamente, fechei os olhos e tentei descansar, contudo imagens inconvenientes de Any com o doutor amor surgiam incessantemente em minha cabeça, ele queria o meu lugar, queria Any, e ainda que não fosse meu direito isso me tirava o sono. Girando na cama lembrei-me de que ele não era o primeiro que já tentou algo com ela.
- Ai Elly! – Sofya protestou enquanto Any fazia algo em seu rosto. Minha irmã estava deitada no colo de Elly que se debruçava sobre ela olhando a concentrada.
- Quieta Sosô! Qualquer erro e eu assassino sua sobrancelha. – Ela disse dando um tapa em seu ombro. Por mais que eu adorasse a relação das duas eu tinha que admitir que isso era um pouco inconveniente. No dia anterior Any e eu faríamos quatro meses de casados, mas a visita inoportuna de Sofya estragou a comemoração.
- Que bonitinho as duas amiguinhas! – Ironizei ficando de frente para elas.
- Mau humor logo cedo, me poupe maninho. – Minha irmã disse impacientemente.
- Espero que esteja familiarizada com o sofá porque é nele em que você irá dormir hoje Sofya! – Determinei sério e Any imediatamente parou o que estava fazendo.
- Joshua! – Falou brava. – Sua irmã está nos visitando, não se deixa as visitas dormirem no sofá. – Pontuou como uma verdadeira dona de casa. – Ele é desconfortável.
- Eu que o diga. – Exprimi colocando as mãos em minhas costas doloridas por minha noite no sofá. – Mas meu lugar em com você, ela é a intrusa! – Acusei chateado. – Além disso, ontem era a nossa comemoração.
- Olha só, nem vem, não sou intrusa. – Sofya defendeu-se. – Eu perguntei se estava tudo bem vir este fim de semana e a Elly disse que sim. – Argumentou e eu bufei.
- Não me olha com essa cara! – Any disse brava. – Eu perguntei e você disse sim, várias vezes inclusive.
- Estávamos fazendo amor! – Expus e Any corou imediatamente. – Eu diria sim para qualquer coisa.
- É sério que você é tão fácil assim, maninho?! – Sofya perguntou debochada.
- Já chega! – Defini. – Nós dois vamos jantar juntos essa noite. – Determinei olhando para minha mulher. – E você Sosô claramente está desconvidada! – Afirmei antes de sair da sala.
Maravilhosa, esse é o único adjetivo que chega perto de definir a companhia de Any, era maravilhosa, me trazia paz, serenidade, mas ao mesmo tempo era cheia de vida e paixão. Saímos de nosso jantar incrível e caminhávamos para casa, eu já começava a me preparar psicologicamente para voltar para minha realidade com sofya, quando ouvi uma voz conhecida.
- Ei, Any S! – Bailey se aproximou de nós, cheio dos seus gracejos. Ele era da minha turma na faculdade e sempre quis ficar com Any desde que a viu na recepção dos calouros, mas para o azar dele e minha sorte eu fui sorteado como mentor dela na universidade.
- É Any B. agora. – Falei passando a mão na cintura da minha esposa.
- Calma, Beauchamp, eu não quis ofender. – Ele levantou as mãos em sinal de falsa rendição.
- Boa noite, Bailey. – Any desejou com indiferença. Isso meu amor. – Como vai?!
- Melhor agora que eu te vi. – Bailey galanteou. – E ai quer esticar em algum lugar?! – Ele ofereceu e me preparei para soca-lo, mas fui quebrado pela gargalhada de Any. – Qual a piada Any S?! – Ele perguntou sem graça pela reação dela.
- É que é muito engraçado você acreditar que eu vou sair com você quando eu estou aqui indo para casa fazer amor com meu marido. – Ela respondeu rindo muito. – Desculpa, mas é engraçado. – Ela disse tentando parar de rir e eu percebi que Bailey tinha ficado ofendido e aquilo era ótimo. – Licença, mas eu quero ir para o quarto. – Any disse me puxando.
- Amor o que foi isso?! – Perguntei perplexo quando nos afastamos.
- Você viu a cara dele?! – Ela interrogou explodindo em risadas e eu não consegui resisti e a acompanhei.
- Você foi maravilhosa! – Declarei antes de puxa-la para um beijo. – Tenho muito orgulho de ser casado com você. – Falei acariciando seu rosto. – O único problema é que foi uma mentira. – Disse a olhando intensamente.
- E quem disse isso?! – Ela perguntou com um sorriso. – Sabe, eu estava pensando, não testamos o sofá ainda, será que ele é resistente?! – Ela interrogou com um sorriso malicioso.
- Any, Any, Sofya está em casa. – Ponderei desejando matar minha irmã.
- Eu vou ser silenciosa. – Ela sussurrou em meu ouvido. – Vem amor. – Ela se afastou e estendeu a mão, eu a peguei e caminhamos juntos para casa, naquele momento eu acreditei ser impossível ser mais feliz, mas quando chegamos em casa eu descobri que estava errado.
- Mal posso esperar para Sofya dormir, acho que vou dar algo para ela. – Brinquei enquanto Elly abria a casa.
- Oh minha nossa! – Any exclamou ao entrar no apartamento, entrei e vi a sala toda à luz de velas e decorada para um momento romântico. – Você fez isso?! – Ela perguntou.
- Não, mas sei quem fez. – Disse encantado.
- Sofya. – Constatou ao pegar um bilhete fixado na entrada.
“Feliz aniversário Beauany! Volto amanhã para o almoço. Aproveitem!”
- Ela é tão generosa. – Any suspirou. – Você deve desculpas a ela.
- Eu peço o que você quiser, mas agora. – Falei tomando-a em meus braços. – Nós dois temos uma noite incrível pela frente.
- Eu amo você. – Ela declarou se inclinando para mim e meu coração disparou, eu descobri naquele instante que essa era a maior certeza que tinha: Any me amava.
...
No dia seguinte Any e eu entramos no carro um pouco sem jeito um com o outro e partimos em direção a escola das crianças.
- Papai tem a música dos dedinhos?! – Gabriella perguntou se ajeitando na cadeira e eu entrei em pânico.
- Essa música é chata! – Jaden provocou mostrando a língua.
- Jaden Soares ! – Luna chamou-o rígida e eu então me dei conta que meus filhos ainda não eram completamente meus. – Quantas vezes eu já disse que não se deve mostrar a língua, principalmente para alguém que gostamos?! – Ela perguntou séria.
- Muitas, mamãe. – Ele respondeu olhando para baixo e não precisou que Any dissesse mais nada, porque ele se virou para a irmã e a olhou com pesar. – Me perdoa Ella. – Pediu sincero.
- Tudo bem Den. – Gabriella acariciou o braço do irmão. – Papai tem a música dos dedinhos?! – Ela questionou novamente e eu conheci outra característica dela. Teimosa como a mãe.
- Querida eu não... – Eu iria decepciona-la, porém Any me interrompeu.
- Bem aqui. – Ela disse tirando um pen-drive da bolsa. – Posso?! – Pediu indicando o painel do carro.
- Claro! – Falei sorrindo e ela ligou o pen-drive no carro. – Você é incrível. – Elogiei e ela corou, parte de mim ficou exultante ao saber que minhas palavras ainda a afetavam.
- Primeira regra do mundo dos pais: ande sempre preparado. – Ela falou e imediatamente uma música excessivamente animada e estridente começou a tocar e a Gabriella cantarolou alegremente e Any a acompanhou. – Segunda regra: músicas infantis são mais grudentas que qualquer chiclete, você não pode contra elas. – Ela explicou ao notar minha careta.
No final da viagem eu já tinha certeza que a segunda regra de Any era verdadeira, sem ouvir duas vezes eu sabia que a música dos dedinhos me acompanharia o restante da semana.
- Prontinho. – Falei descendo Gabriella do carro. – Agora você campeão. – Disse tirando cinto da cadeirinha de Jaden
- Pode deixar papai. – Ele pulou do carro. – Viu como eu sou forte! – Ele fez uma pose engraçada.
- É claro que é você puxou a mim! – Exprimi com orgulho.
- Olha, mamãe o papai falou que eu pareço com ele. – Den contou animado.
- É como parece. – Any ironizou, mas nosso filho não entendeu. – Vem, já estamos em cima da hora. – Ela ofereceu a mão passou a andar em direção ao portão da escola. – Meu amor tenha um bom dia. – Ela se abaixou para ficar na altura de Jaden. – A bombinha está na mochila qualquer coisa, use está bem?! – Perguntou e ele assentiu. – Eu amo você para sempre. – Ela declarou afagando o rosto dele.
- Eu te amo para sempre, mamãe. – Jaden a abraçou e correu para mim. – Por que está chorando papai?! – Ele perguntou e eu me dei conta que havia ficado comovido demais com a cena.
- Não é nada, só eu estou feliz. – Falei sorrindo.
- Eu também estou. Eu amo você papai! – Exclamou pulando em meu pescoço.
- Eu também amo você. – Declarei e me afastei um pouco, notando que Any já havia se despedido de Gabriella
- Papai, você vem me buscar?! – Ela perguntou com as bochechas vermelhas.
- Claro meu amor, venho buscar vocês. – Garanti ela sorriu. – Eu te amo, minha princesinha.
- Eu te amo, papai. – Ela beijou a minha bochecha. – Até mais tarde! – Acenou e pegou a mão do irmão, seguindo junto a ele até a escola.
- Como você consegue deixa-los?! – Perguntei a Any enquanto nós víamos as crianças passarem pelo portão.
- Eu ainda não descobri, acho que é o costume, com o tempo isso se torna um hábito. – Ela respondeu também hipnotizada. – Eles vão à escola desde os sete meses, eu os coloquei em um berçário quando comecei a trabalhar, foi difícil, mas nos adaptamos bem. – Contou e deu um suspiro, então eu percebi o quão forte ela havia se tornado. A Any que conheci na faculdade era meiga, frágil, delicada, mas a mulher que estava na minha frente era firme como uma rocha criou sozinha, dois filhos e fez um excelente trabalho.
- O que você conseguiu fazer é impressionante. – Elogiei e ela se virou para mim.
- Obrigada. – Agradeceu sorrindo. – Mas estou mais confiante agora que tenho ajuda. – Ela piscou para mim e eu sorri. – Josh, se importa em me dar uma carona até a empresa?! – Pediu sem jeito.
- O quê?! Pensei que isso não fosse uma questão. – Falei surpreso. – Mas é claro, sempre que eu trouxer as crianças nós vamos juntos depois.
- Desculpe, é que eu não tinha certeza de como as coisas ficariam depois. – Pediu envergonhada.
- Não tem problema. – Assegurei. – Vamos, então?! – Apontei para o carro e ela me seguiu.
Percorremos o caminho para o escritório tentando fazer o trajeto não parecer uma situação complicada, mas era. Mesmo que nós dois não estivéssemos brigados ainda havia muitas coisas suspensas entre nós, sentimentos mal resolvidos, magoas e tantas outras coisa. Eu estava confuso e com toda certeza Any também estava. Nossos motivos podiam ser diferentes, mas a raiz era a mesma o nosso passado juntos era forte demais e eu me perguntava como havia conseguido viver por tanto tempo ignorando-o.
- Josh, você vai se casar?! – Luna perguntou do nada, tirando-me dos meus devaneios.
- O quê?! – Perguntei confuso. – Eu... eu... eu... – Tentei formular uma resposta, mas foi em vão.
- Desculpa, esquece isso, foi uma pergunta idiota. – Ela se virou para janela e passou a observar a rua silenciosamente. Aquilo partiu meu coração, ela parecia tão indefesa, parecia precisar de mim.
- Ei, Elly. – Chamei pegando sua mão, ela se virou e me encarou, seus olhos mesmo tristes eram calmos. – Eu estou aqui. – Garanti apertando a mão dela que sorriu amargamente.
- Eu queria que nós dois nunca tivesse acontecido. – Falou desolada antes de se voltar para a janela novamente, deixando um buraco gigantesco no meu coração.
O restante do percurso nós permanecemos em silêncio, parte de mim processava a afirmação de Any e concordava com ela e a outra parte queria parar o carro e beija-la até que ela se arrependesse do que havia dito, mas eu afastei a ideia, eu tinha feito uma promessa e iria honra-la pelo menos uma vez na vida eu respeitaria Any, quem sabe não seja desse jeito que eu me redimiria.
- Eu vou para minha sala, se precisar de alguma coisa é só me falar. – Any abriu a boca novamente quando entramos no elevador.
- Tudo bem, mais tarde temos que conversar sobre o registro das crianças, eu quero que elas tenham o meu sobrenome e que sejam incluídos como herdeiros do grupo Beauchamp. – Falei sério.
- Josh, sabe que não precisa fazer isso, não é?! – Ela disse amena.
- É importante para mim. – Declarei e ela sorriu.
- Está bem, mais tarde conversamos então. – Concordou pegando seu gloss de sempre e passando-o nos lábios. Ah, moranguinho não dificulta as coisas para mim! – Algum problema Josh?! – Ela perguntou inocentemente.
- Não, nenhum. – Respondi consternado.
- Que bom então. – Ela falou passando os lábios um no outro para espalhar o gloss enquanto olhava para mim fixamente.
- Ótimo. – Continuei observando seus lábios.
- Você devia comprar um babador. – Ela sugeriu assim que a porta do elevador abriu, saindo apressadamente para sua sala. É atração Joshua, só atração, contenha-se.
- Você está bem?! – Noah perguntou quando eu passei por ele sem nota-lo.
- Não. – Afirmei e ele arregalou os olhos. – Preciso te contar algo.
- Que bom, por que tenho uma coisa para te dizer também. – Ele falou aflito. – Diego está aqui e trancado na sala com Sofya. – Contou e eu temi, minha irmã estava com sérios problemas.