A Morte Te Segue

By sstrawberrylittle

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Na Universidade do Colorado em Boulder, após o caos ser orquestrado, há paz. Após uma semana intensa de prova... More

Comunicado!
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 36
Epílogo.
Agradecimentos!

Capítulo 35

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By sstrawberrylittle

 "Eu aprendi que tudo o que precisamos é de uma mão para segurar e um coração para nos entender"
William Shakespeare.

                                 
"Três meses após filha de senador  ser sequestrada por assassino em série, o caso ainda permanece sem solução.

Marion Sparza estava sendo perseguida incessantemente por Charles Hull, pai de Inez Hull, que foi assassinada brutalmente por Alexander Compton na Floresta Nacional de Los Angeles. A garota sofria constantes ameaças, e Charles desferiu à ela, como maneira de castigá-la pela negligência de abandonar a sua filha naquelas condições, a morte consecutiva de todos à sua volta.

A filha do senador resolveu se entregar ao assassino para evitar mais mortes, e foi mantida em cárcere durante o dia do seu julgamento, porém, graças a ajuda de seu namorado, Nicolas Owen, conseguiu fugir do cativeiro. O assassino até agora continua desaparecido, e a polícia segue uma intensa busca por ele.

Foram encontradas várias evidências na casa de Charles Hull que conectavam sua responsabilidade no crime. Há um vídeo gravado em que ele ameaçava cometer suicídio ou entregar-se à polícia após assassinar Marion Sparza, pois também sentia a dor da fardo, não só pelas vítimas que fez, mas por ter sido um pai ausente na vida de sua filha. De certo modo, comportamentalistas que estudaram o caso concluíram que Charles se sentia culpado pelos acontecimentos com Inez, e descarregou o ódio de si mesmo em Marion Sparza. Pessoas próximas ao assassino mencionaram que ele falava constantemente como as coisas seriam diferentes se tivesse conseguido a tutela da filha após o divórcio.

Autonomeado como "Marte", buscando uma justiça sangrenta pelo o que ocorreu há anos atrás, um fator que reafirmou sua brutalidade e crueldade foi uma das provas encontradas em sua casa, e a mais chocante de todas, a cabeça de Alexander Compton, que até então, estava desaparecida. Ela estava em fase de putrefação, sendo usada como enfeite de centro de mesa.

O honorável senador Robert Sparza assumiu a culpa pela identidade falsa de Marion, e justificou isso em legítima defesa, considerando que sua filha estava sendo constantemente perseguida. A Suprema Corte está analisando os fatos, mas até então, vem se mostrado totalmente flexível quanto a isso.

Qualquer pessoa que obtiver de informações sobre o paradeiro de Charles Hull, entre em contato imediatamente com a polícia."

— Eu disse, Tara. Está aí a prova. Ele sempre consegue se dar bem. — Marion estava sentada em um sofá de canto, olhando para a mulher loira à sua frente que mantinha os olhos fixados no jornal acima de sua mesa, cujo havia sido depositado pela jovem assim que chegou na sala.

Tara Bridges, uma mulher astuciosa, buscava as melhores palavras para falar naquele momento. Seus cabelos loiros ondulados, penteados para o lado, e sua pele sutilmente corada do sol, traziam a impressão de uma surfista perdida em uma clínica de psicologia. As suas roupas floridas destacavam-se em meio ao ambiente composto por tons pastéis. O seu sorriso e sua simpatia iluminavam as pessoas à sua volta. Porém, dessa vez, ela não estava com um sorriso. Com uma expressão séria, Tara olhou para os lados, e sem sutileza, questionou:

— Seu pai te afeta mais que um assassino à solta? 

— Não é isso...

Marion, após três meses do confronto entre ela e o assassino na Floresta Nacional de Los Angeles, começou sessões de terapia, porém, nem mesmo nas sessões de terapia encontrou coragem para confessar o que de fato havia acontecido naquela noite. 

A garota tinha medo de ser acusada por um novo crime, e mesmo sendo Nicolas quem desferiu a facada em Charles Hull, ela presenciou, e depois ajudou a ocultar o cadáver. Então, após ambos livrarem-se do corpo, no dia seguinte, inventaram uma longa história para polícia, contando detalhes de como o assassino havia sequestrado Marion, e como Nicolas havia salvado ela das garras dele, pulando a parte das facadas, e da cova rasa que fizeram no meio da floresta para abrigar o seu corpo mutilado.

Era um segredo que permanecia a sete chaves de um baú escondido a muitos palmos do chão, mas no momento do desespero, após tirar o celular da bolsa e verificar que ele havia descarregado e não gravado nenhuma confissão, o casal entrou em desespero e fez a primeira coisa que pensaram; preferiram manter um segredo em um túmulo ao invés de uma cela.

— Eu sei, seu pai te feriu psicologicamente desde a sua infância, e dado as circunstâncias, sei que um diálogo entre vocês pode não funcionar. — A mulher olhou para Marion com compaixão. — Mas você já tentou falar para ele tudo isso?

— O ressentimento me impede. — Pronunciou com mágoa.

— O seu ressentimento é totalmente coerente, não consigo imaginar alguém que não teria ressentimento, medo, raiva e angústia nesse caso. — Tara encarou seus olhos esverdeados com tristeza, como se pudesse sentir a dor da garota. — Mas talvez, só o fato de dizer como tem se sentido desde que sua mãe faleceu, o quanto se sente abusada psicologicamente em sua presença, dê um alívio para o seu coração.

— Eu odeio ele, Tara. Não consigo ter um diálogo. Não consigo nem mesmo olhar em seus olhos. — Admitiu. — É impossível.

— Escreva uma carta. Desabafe o que quiser nessa carta. Se quiser xingá-lo do começo ao fim, faça isso. Se quiser contar o quanto sentiu-se reprimida e maltratada com suas ações, fique à vontade. — Ela disse, com determinação. — Se no fim decidir guardar a carta para você, que seja. Se desejar entregar ao destinatário, é sua opção. — Especulou, levantando as mãos em rendição. — O que você não pode mais fazer é continuar guardando isso aí dentro.

— Tudo bem. — Ela sorriu.

A garota não sabia como conseguiria descrever seu pai em uma simples carta, e colocar tanta dor e sofrimento já passados em um único pedaço de papel, mas resolveu considerar aquela opção.

O silêncio tomava conta da sala na qual estavam, quando Tara resolveu questionar:

— E o Nicolas? Ainda não se falam?

— Não. Depois do que aconteceu as coisas ficaram estranhas. — Admitiu. — Às vezes, quando nos encontramos, nos cumprimentamos. Mas é bem raro.

— Não entendo. — Pronunciou, confusa. — Ele te salvou. As coisas não deveriam ficar estranhas.

Marion suspirou. Tara sabia apenas a versão que todo mundo sabia, então não iria entender como as coisas ficaram estranhas depois deles terem matado uma pessoa e desovado um corpo. Era um nível de intimidade que a jovem preferiria não ter com alguém. Em resposta, ela somente alegou:

— Também não entendo. Te contei minha desconfiança sobre ele, né? Achei que as coisas poderiam ter mudado por conta disso, mas depois que tudo ocorreu, ele me contou o motivo da ligação que realizou para Roberta no dia do assassinato dela. — Confessou. — Aquela ligação foi após ele ficar sabendo sobre a entrevista que eu havia dado revelando minha verdadeira identidade. Nicolas ficou com medo de acontecer alguma coisa comigo, estava ciente de como a polícia estava me perseguindo na época. Ele queria avisar meu irmão, para me proteger. Marcus, inclusive, confirmou toda essa história depois.

— Deveria falar com ele. — Induziu.

— Não sei se é a opção mais viável, já passaram três meses. — Abaixou a cabeça, emitindo um longo suspiro. — Ele parece já ter seguido em frente.

A psicóloga olhou com a testa franzida para a garota à sua frente. Era possível sentir a sua angústia em meio a tudo o que estava acontecendo. 

— Acho que já deu meu horário. Hoje vou comparecer na inauguração do memorial das vítimas.  — Marion levantou-se, ajeitando sua bolsa em volta do corpo.

— Até mais, Marion. Te desejo forças. Pense no que te falei. — Tara pronunciou. — E pare de colecionar jornais. — Emitiu um riso abafado, observando o jornal que ainda estava em sua mesa, e a garota riu junto.

Marion voltou para república dirigindo. Ela havia pegado — sem pedir — permanentemente o carro de seu pai, que nem se quer questionou sua atitude. A garota continuava com a falta de habilidade no volante, mas não importava-se mais com determinado fator.

Ela, apesar de cursar Psicologia, demorou um certo tempo para convencer a si mesma que estava precisando de sessões de terapias para lhe ajudar a superar vários aspectos de sua vida. E quando convenceu-se, sentiu-se aliviada por ter com quem desabafar tudo o que sentia. Suas inseguranças, medos e traumas não cessaram totalmente, mas aos poucos ela conseguia uma segurança jamais sentida antes, dia após dia.

Ao chegar na república novamente, a garota esbarrou com a última pessoa que esperava ver naquele momento, Mark Bradley. O rapaz a olhou constrangido, com um certo remorso em sua fisionomia. Ele sorriu envergonhado em sua direção, e quando virou de costas para seguir seu destino, a garota percebeu que ele levava consigo flores vermelhas em mãos. Então, não hesitou em chamá-lo:

— Mark. — Pronunciou em voz alta, e o rapaz olhou para ela com atenção. — Vai comparecer na inauguração do memorial?

— Vou sim. — Ele sorriu.

— Te vejo lá. 

— Nicolas vai? — O jovem questionou, curioso.

— Não sei. — Respondeu, respirando fundo. — Não sei mais nada dele.

Mark pareceu ponderar diante do que Marion havia dito. Ele mantinha sua cabeça abaixada, observando o chão, refletindo em suas palavras. Não demorou para que olhasse na direção dela novamente, dessa vez, sorrindo.

— Deveria saber. É possível perceber que o que há entre vocês é real. — Após dizer aquilo, Mark deu as costas para a garota, e prosseguiu o seu caminho.

A jovem havia ficado surpresa com o que havia acabado de escutar, e seguiu em direção ao seu quarto com pensamentos aéreos. Chegando no recinto, encontrou Mikaylla devidamente arrumada para comparecer na inauguração do memorial, com um vestido preto e sandálias de salto, porém, estava dormindo. Ela sempre fazia aquilo quando precisavam ir para algum lugar. Se arrumava antecipadamente, e depois, tirava um cochilo com a roupa de festa antes de seguirem ao destino.

Marion vislumbrou em sua cama as oito flores que havia encomendado para aquela inauguração, uma de cada cor. Rosas pigmentadas, da mesma forma que Nicolas havia lhe dado. A dona da loja havia instruído sobre o significado de cada tonalidade, e ela escolheu com muita cautela cada uma. Em seguida observou Mikaylla dormindo na cama ao lado novamente, com a boca aberta, e um fio de saliva escorrendo pelo canto de seus lábios, e sorriu com os olhos marejados, sentindo-se grata por não ter perdido aquela amiga também.

Como já havia arrumado-se para comparecer ao memorial antes de ir para terapia, e encontrava-se, igualmente à Mikaylla, com um vestido preto e sandálias de salto, ela sentou-se em uma cadeira, e ficou de frente para uma escrivaninha que havia em seu quarto. Com um papel à sua frente, e uma caneta ressaltando várias penas na cor rosa — a favorita de Leonora — a jovem começou a tentativa árdua de expressar, através daquela carta, todo trauma e sentimentos pelo seu pai contemplados até nos dias de hoje.

Ela achou que seria terrivelmente difícil colocar aquilo em um folha, então usou frente e verso do mesmo papel. A escrita fluía conforme os sentimentos, tanto de ódio e rancor, como de tristeza e ressentimento, começavam a serem despertados no fundo de seu coração. Suas lágrimas escorriam, levando toda maquiagem embora, e assim que acabou, depois de mais ou menos uma hora redigindo aquele texto, colocou o que havia escrito dentro de um envelope de carta. Não sabia se pretendia entregar ao seu pai, mas guardou com carinho em sua bolsa.

Assim que parou para olhar sua imagem no espelho, ajeitou maquiagem que havia borrado durante o choro silencioso com as mãos, e enquanto fazia isso, pode ouvir uma buzina em frente à república. Ela deduziu que fosse Marcus, já que apesar dela dirigir, ele insistiu para que fossem ao memorial juntos, e a garota, para agradar o irmão, concordou.

Marion acordou Mikaylla, que logo ajeitou-se novamente, pegou sua bolsa, e desceram às escadas em direção ao carro que estavam lhe esperando. O mesmo carro preto comprido de sempre. Assim que entraram, Marion deparou-se com seu irmão e com seu pai, ambos de ternos em tons escuros. 

Era Robert quem havia financiado aquele memorial, mas a ideia havia partido de Marion. A jovem informou seus planos para Marcus, que por sua vez, informou para o pai, e que por algum motivo, resolveu construir aquela lembrança para todas as vítimas, em Boulder. Ela sabia que o motivo dele estar construindo aquilo poderia ser pelo simples fato de querer alavancar seu nome depois de tanta polêmica, mas não ligava. Precisava do dinheiro para fazer aquela homenagem.

Mikaylla logo sentou-se ao lado de Marcus, encarando o rapaz de uma maneira nada sútil, o que deixou ele com as bochechas vermelhas de vergonha. Marion viu-se obrigada a sentar-se ao lado de seu pai, de frente para o irmão e a amiga, e para não causar qualquer atrito desnecessário, acabou fazendo isso sem nem questionar.

No decorrer do caminho, Mikaylla tagarelou referente ao seu fetiche por futebol americano, e que seu sonho era participar de competições, nem que fosse por lazer. Ela também começou a falar sobre a dificuldade de integrar uma equipe feminina de futebol americano para competir, e Marcus parecia encantado por tudo o que a garota falava. Apenas concordava, até que pronunciou:

— Também sou um grande amante dos esportes. Adoro futebol americano.

Ao ouvir suas palavras, sua irmã não conteve a risada. Marcus odiava esportes desde pequeno, o máximo que fazia era ficar jogando jogos online, e sua atividade física para evitar sedentarismo era academia, e só. A jovem resolveu disfarçar ao observar o entusiasmo do irmão ao conversar com Mikaylla, e continuou olhando em direção a janela, apreciando a cidade pacata de Boulder e os poucos movimentos da rua.

— Quero morar em uma cidade como essa. — Robert pronunciou, causando surpresa em todos.

Ele havia desligado seu computador portátil, que sempre mexia durante trajeto de carro, e olhava para fora da janela, junto com Marion. A garota não respondeu nada. Apenas continuou olhando, fingindo que o homem não estava ao seu lado.

Assim que chegaram ao memorial, antes de descer do carro, a jovem colocou a mão no fundo de sua bolsa, e pegou o envelope de carta, depositando ele sutilmente na coxa de Robert. Assim que fez isso, saiu do automóvel e prosseguiu seu caminho, junto com a sua amiga e seu irmão.

Era possível ver o pequeno grupo de pessoas em volta daquele ambiente. A inauguração estava fechada apenas para familiares e amigos. Ao entrarem, puderam visualizar a grande lápide de mármore preto, em uma parte restrita do cemitério. O memorial continha todas as vítimas, com suas fotos e nomes. Ao chegar no local, várias pessoas encararam Marion com um sorriso. A garota, invés de odiada, passou a ser aclamada. Reconhecida como uma sobrevivente.

A jovem olhou para a foto de Inez, e viu que era a que possuía menos flores. As pessoas entraram em conflito ao acrescentar Inez no memorial, já que alguns familiares não queriam que a filha do assassino fizesse parte da mesma homenagem. Houve muita briga em decorrer desse levantamento, e a mãe e padrasto de jovem assassinada sentiram-se ofendidos por aquilo. No fim, todos chegaram em um acordo, graças à Marcus, que usava sua capacidade de influenciar as pessoas para o bem, ao contrário de seu pai. Ele fez um discurso explicando que um filho não pode carregar a culpa de seus progenitores.

Marion encarou as rosas em suas mãos, uma de cada cor, e depositou a primeira flor roxa, que significava proteção — a proteção que ela não conseguiu dar — em frente a foto de Inez.

— Para você que abandonei, mesmo que inconsequentemente. Te peço perdão. — Marion pronunciou em voz baixa. — Eu nunca me perdoei por ter feito aquilo, mas sigo trabalhando constantemente nesse perdão. Aonde quer que você esteja, espero que tenha paz, e que não guarde rancor de mim.

A jovem deu dois passos para o lado e encarou a foto da outra vítima. Madison Farrel tinha em seus lábios um sorriso majestoso, como sempre. A sua confiança era refletida em sua própria imagem.

— Para você, Madison Farrel, a pessoa mais corajosa que eu já conheci. — Depositou a flor azul, a sua preferida. — Dizem que o azul representa firmeza e confiança. Sempre foi a minha cor preferida, mas você sempre representou ela muito melhor que eu.

Novamente prosseguiu com dois passos para o lado, encarando dessa vez, a foto de sua professora, Molly Berry.

— Acho que nunca terei a sorte de ter uma professora tão legal quanto você, Molly. — Depositou a flor amarela. — Essa cor representa o raio-de-sol que você era em meio à aquela instituição.

Um pouco mais para o lado, estava a foto de Ariana Hudson. A vítima mais nova, e nem seus dezoito anos havia completado. Cabelos pretos com partes azuis, e uma fisionomia brava estampada em suas feições. Marion sentiu seu coração apertar-se.

— Ari, sempre te considerei uma irmã caçula. — Com cuidado, depositou uma flor laranja em frente à imagem de Ariana. — Me falaram na loja que o laranja representa a jovialidade, euforia e festa. E isso é o que você era. Uma festa.

Marion olhou ao lado, para a foto de Amelie. Com uma profunda respiração, ela depositou a flor branca. Ela também buscava perdão pela morte de Amelie Kemp, por mais que não soubesse dos planos iniciais de abandoná-la em uma estrada deserta ou fazer mal à aquela garota de alguma forma.

— A flor branca representa a inocência, mas ao mesmo, luminosidade e o otimismo. Não te conheci a fundo, mas pela boca de seus amigos e familiares, você era exatamente assim.

Marion encarou a foto de Leonora Leach, e depositou a flor rosa com um sorriso no rosto.

— Rosa significa o romantismo. Lembrei de você sempre em busca de sua alma gêmea. — Marion deixou uma lágrima escorrer de seus olhos. — Também combina com sua mecha no cabelo é caneta de plumas. Você sempre gostou de um acessório. — Forneceu uma risada triste.

A garota prosseguiu para a próxima pessoa que estava sendo registrada naquela imensa lápide. Olga Dyer. E depositou a rosa vermelha.

— Tinha que ser vermelho. Dizem que o vermelho representa o poder e a sensualidade, e sabemos, de nós duas você sempre foi a mais poderosa e sensual. — Marion suspirou, com um sorriso triste. — Queria que estivesse aqui.

A última rosa ficou por conta de Roberta Sheppard, uma de suas melhores amigas. Marion suspirou ao encarar a garota loira, com um sorriso simpático, e depositou a flor na cor pêssego para ela.

— Me informaram que essa cor representa a positividade e a doçura. E você era a pessoa mais doce que eu já conheci, apesar de seus erros. — Enxugou suas lágrimas, e voltou junto ao seu irmão, pai e amiga, ficando na frente deles, e sendo acompanhada pelos olhares de todos familiares e amigos que observavam a garota com tristeza.

Marion sentiu uma mão sendo colocada em seu braço, e assim que olhou a quem pertencia aquela mão teve uma surpresa. Era o seu pai, com os olhos vermelhos e inchados. Apesar de ficar assustada com tamanha sensibilidade daquele senhor, ainda não sentia empatia e nem compaixão, somente indiferença. Robert encarou seus olhos, e pronunciou uma palavra, que com toda certeza, ousara falar muito pouco ao decorrer da sua vida:

— Desculpa.

Após dizer aquilo, do mesmo jeito que havia chego, retirou-se sutilmente, quase que imperceptível. Marion piscou os olhos consecutivamente para ter certeza que aquela ação havia sido real ou um mero devaneio de sua mente. A segunda opção parecia ser mais coerente, mas ao olhar os olhos ainda inchados de seu pai, que agora estava atrás de si, soube que aquilo realmente havia acontecido.

A garota voltou a sua atenção para as demais pessoas no local, percorreu seus olhos pela multidão, e encontrou Cameron a observando com cautela. Dessa vez, ele não estava com a expressão zangada de sempre, que lhe acusava somente com um olhar. Mas sim com um olhar arrependido, consentindo ao mesmo tempo um sorriso envergonhado, e Marion ignorou, voltando a analisar aquela pequena multidão, procurando quem ela realmente queria. 

Finalmente avistou ele. Nicolas Owen. O professor estava com o braço envolvendo o ombro de Sarah, e por mais que Marion quisesse mostrar que não importava-se com aquela situação, prosseguiu observando o rapaz com uma fisionomia rancorosa no rosto, e ele retribuía com o mesmo rancor.

— Licença. — Pronunciou, em direção às pessoas com quem havia vindo até o memorial.

Ela não aguentava mais ficar naquele local, presenciando Nicolas íntimo de Sarah, e ainda fazendo questão de encará-la daquela forma. A jovem sentia-se desestruturada diante daquilo, e começou a caminhar entre as lápides uniformemente arquitetadas. Seus olhos ainda escorriam lágrimas devido aquele singelo gesto que fez para cada uma das vítimas, mas soube que não havia sido apenas aquele gesto que a fazia chorar naquele momento.

Os sons de seu salto no chão era o único barulho que era possível escutar. A multidão de pessoas já havia ficado para trás. De repente, algo audível além de seus saltos no chão tomou conta do local.

— Marion. — Uma voz firme chamou, o que fez ela virar-se para trás. Era Nicolas.

— Não tenho nada para falar com você. — Pronunciou, ressentida.

— Não mesmo? — Nicolas aproximou-se ficando poucos centímetros de distância da garota, enquanto observava seu rosto com cautela.

— Talvez tenha, Nicolas. — Marion gritou. — Talvez eu tenha que te falar que você é um egoísta. Que você não pode sair da vida das pessoas quando bem entender, e também que você não vale nada.

— Tudo bem. Pode colocar tudo para fora. — Incentivou.

— Por hoje é só. — A garota virou-se de costas, com o objetivo de deixá-lo sozinho, mas foi surpreendida pela mão do professor envolvendo sua cintura, e virando seu corpo abruptamente em sua direção.

Nicolas fez questão de manter o seu rosto o mais próximo possível de Marion, pois gostava de ver em sua fisionomia a tentação de não beijá-lo, mas para ele, a tentação era a mesma, e quase inevitável. O professor sentia saudades do seu beijo, da sua risada, do seu corpo e da sua companhia. Ele queria poder tocá-la como antes, mas cada vez que tentava chegar mais perto, a garota colocava-se mais distante.

— Agora é minha vez. — Começou a falar, com uma voz rígida. — Eu não estou de evitando, você que está me evitando. — Respirou fundo. — Você quer fingir que aquela noite em que matamos Charles nunca aconteceu, e com isso, quer fingir que nossa relação nunca existiu. Mas eu não vou deixar você fazer isso, Marion. Eu não me arrependo de nada o que fiz naquele dia, e faria mil vezes se fosse preciso. O importante é que você está viva, na minha frente. — Alisou uma mecha do cabelo da garota. — Isso é o que me importa. — Com a mesma mão que alisava os cabelos dela, Nicolas deslizou seus dedos por sua bochecha. — Eu percebi que é amor o que sinto por você quando estava disposto a sacrificar minha vida para proteger a sua naquela noite.

— Isso é coragem. — Marion pronunciou.

— Não. Não faria por qualquer um. — Especulou. — Faria pelos meus pais, pela minha irmã, e por você. Não consigo pensar em mais alguém.

— Sarah. — Cruzou os braços e emburrou o rosto. Nicolas emitiu uma risada ao ver a expressão da garota enciumada. — O que foi?

— É amizade. Ela estava chorando pela Olga e eu lhe dei um abraço. Nada de especial. Não tem nada além disso entre nós. — Admitiu.

— Hum. — Pronunciou, descruzando os braços e suavizando sua fisionomia. Ela deu-se conta o quão tola deveria estar parecendo naquele momento. — Eu percebi que é amor quando... — Ela suspirou, buscando coragem para prosseguir com sua fala. Ainda era trabalhoso lidar com seus próprios sentimentos. — Eu percebi que é amor quando me dói ficar longe de você.

Nicolas encarava Marion com sua respiração profunda, quase ofegante, e Marion retribuía na mesma medida. Ele aproximou-se de seu rosto, e iniciou um beijo lento, deslizando sua língua por dentro da boca da garota, podendo sentir o ardor, o efeito da paixão e da saudade. Tudo junto em um único gesto. Envolvendo ambos naquela química implacável. O professor conseguia escutar seu coração disparado, e a garota, finalmente, optou por deixar as borboletas no estômago livres para voar.

Assim que pararam o beijo, Nicolas ainda mantendo sua testa encostada na dela, olhando em seus olhos com paixão, e sentindo a chama de uma brasa quente ressurgir em seu peito, sem hesitar, pronunciou:

— Namora comigo?

— Quê?! — A garota respondeu assustada. — Assim do nada?

— Acho que tivemos uma preliminar bem intensa. — Ironizou. — Fugimos da polícia, lutamos com um assassino, matamos e desovamos um corpo. Acho que o namoro você tira de letra.

— Aceito. — Emitiu um sorriso genuíno. — Mas em um cemitério, Nicolas? Não tinha um lugar melhor para um pedido desses?

— Somos um casal peculiar. — Admitiu, enquanto sorria de felicidade ao constatar que agora sim, eles eram um casal de verdade.

O rapaz abraçou o corpo da jovem à sua frente, cheirou seus cabelos sedosos, e constatou que ainda tinham o mesmo cheiro de camomila de sempre. Ela pressionava sua cabeça contra o peito dele, podendo assim, ouvir seu coração acelerado. Ambos perceberam que era o momento mais feliz que aquele cemitério presenciava há tempos.

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