Maratona 4/4
HampellVille - outubro de 2020.
- Por que me ignorou todo esse tempo, docinho? - Davies perguntou assim que parou na minha frente, sem nem um "oi" antes.
Estamos em frente ao restaurante, ele fica na esquina do escritório do Max, por isso cheguei aqui rápido.
- Oi pra você também, Davies. - Falei com tom de ironia e ele deu um sorrisinho.
- Oi, Med. Você está bem? - Respondeu num tom mais irônico ainda.
- Estou sim, Davies. E você? - Troquei o peso de uma perna para outra, já cansada de ficar em pé na calçada do restaurante simples, mas muito confortável.
- Estou, também. - Ele me olhou meio nervoso, parecia querer dizer algo.
O vi abrir e fechar a boca algumas vezes. E então, depois de um longo suspiro, criou coragem para dizer:
- Eu senti saudades de você, Med. - Mordi a bochecha inferior esquerda, ao escutá-lo admitir algo que eu não teria coragem. Não pessoalmente.
- Eu também, Dav. - Admiti também, em um sussurro, depois de um suspiro fraco.
- Pode me dar um abraço? - Ele perguntou, depois que ficamos alguns segundos encarando qualquer direção, que não fossem os olhos um do outro.
Assenti minimamente e senti meu coração disparar, enquanto o via de aproximar.
Ele me abraçou pelos ombros e eu o abracei pela cintura. Coloquei, como de costume, a mão no peito esquerdo dele e senti o coração batendo tão forte quando o meu. Escondi meu rosto no pescoço dele, aspirando fortemente a fragrância do perfume que ele usa. Não sei ao certo descrever o cheiro, mas é um cheiro bom e único. Se eu sentisse de longe, logo me lembraria dele.
Afastei-me minimamente e encarei os olhos dele profundamente.
- Parece meio indecente depois de tanto tempo sem te ver, mas posso te beijar? É que... sei lá, senti falta disso. - Ele perguntou, meio envergonhado e com as bochechas. Eu sorri, mas assenti mesmo estando surpresa pela pergunta repentina.
Eu deveria estar brava, mas parece impossível quando se trata de Davies. Ele é sempre tão inesperado.
Ele aproximou devagar e eu fechei os olhos, assim que os lábios dele tocaram os meus.
Não percebi o quanto sentia falta do beijo dele, até esse exato momento. No começo foi só um longo encostar de lábios, que mesmo assim fizeram meu pobre coração disparar ainda mais, mas então, ele me pediu passagem com a língua, que eu logo cedi e nosso beijo entrou em perfeita sincronia. Ele levou uma mão até a minha cintura e a outra na minha nuca, como de costume, e eu deixei as minhas duas ao redor do pescoço dele. Você deveria estar brava!
Estamos nos beijando, matando toda nossa saudade desse mês que ficamos longe, na frente de um restaurante, com várias pessoas olhando. Não me importei em me afastar, mesmo sabendo desse último detalhe. Estou tão extasiada com o beijo que grita "SENTI SUA FALTA", que nem me importei em afastá-lo. Eu precisava disso, pelo menos por enquanto.
Davies afastou-se devagar assim que o nosso fôlego acabou. Escondi o rosto no pescoço dele outra vez, sem abrir os olhos.
Meu coração bate tão forte agora que posso o sentir batendo nas orelhas. Engraçado, mas eu realmente sinto. É como se eu estivesse nervosa por alguma coisa, mas não estou.
- Meu coração está batendo tão forte, que consigo o senti-lo em meu peito. - Davies sussurrou, só para mim. - Olha. - Sussurrou outra vez, pegando minha mão e levando até o peito esquerdo dele.
Eu achei que meu coração estava descompassado, até sentir o dele. Olhei para ele, tentando entender o motivo. Eu sei porquê o meu bate assim, estou me apaixonando por ele. Será que o dele bate pelo mesmo motivo? Eu não sei, talvez esteja assim porque está sem fôlego. Davies não está apaixonado por mim, porque quando estamos apaixonados, não devemos magoar quem amamos.
E ele me magoou. Terrivelmente.
- Medeleine, nesse tempo que ficamos longe, percebi que sinto algo muito forte por você. Talvez não seja amor, mas sei que se não for, chega muito perto disso.
Talvez eu seja muito precipitado dizendo isso, mas é que eu realmente acho que esrou me apaixonando por você. - Ele fez uma pausa, pareceu pensar, mas então continuou: - Nos conhecemos há pouco tempo, talvez três meses? Ou quatro? Sei lá! Mas eu acho que esse tempo foi o... - Fez uma pausa e suspirou. Passou a mão entre os cabelos e então continuou: - Foi o suficiente pra fazer eu me apegar à menina doce que você é. Eu gosto muito de você e... não precisa me dizer que sente o mesmo, mas quero que saiba que meus sentimentos são reais. Nunca me senti assim antes e... sei lá. Meu deus, estou nervoso pra caralho. - Ele passou a mão pelos cabelos outra vez, mostrando que realmente está nervoso e eu sorri.
Peguei a mão dele e coloquei no meu peito, onde meu coração bate freneticamente.
- Está sentindo? Eu também acho que estou me apaixonando por você, Davies. Mas... - Disse e ele me encarou, como se estivesse em desespero. Mordi o lábio, mas ainda me sinto magoada. - Eu não posso, Davies! Você me magoou muito e dói tanto. Você me quebrou e eu, embora esteja juntando os cacos, não posso colá-los tão facilmente assim. - Ele me encarou, sem imaginar o porquê da minha mágoa.
Ah, Davies!
- Eu vi o que aconteceu entre você e entre a Savannah na cachoeira. - Ele me olhou e arregalou os olhos. - Aquele é o meu lugar especial, Davies e você sabia disso! Você não pode transformar em um bordel se sabe que tem importância para mim! Se você realmente se importa, por que faz questão de me machucar? O amor não machuca, Davies, mas o seu me quebra um pouco todos os dias.
Não me sinto segura perto de você, não consigo me entregar porque sei que vai partir meu coração em mil pedaços, ele vai quebrar mais uma vez e eu não posso aguentar! - Falei e ele me olhou apreensivo. Me afastei um pouco dele, precisando de ar.
- Doce, por favor, me desculpa. Eu não imaginei que ficaria magoada, eu juro! Nunca quis machucar você, amor. - Sussurrou e se aproximou de mim. - Eu tinha medo de não ser correspondido, tinha medo de ser precipitado demais e te afastar de mim. Medeleine, eu prometo que não quero te magoar. - Davies encostou nossas testas e fechou os olhos. - Eu só tive medo, muito medo! Eu não sou bobo e sei porquê meu coração batia tão forte, porquê eu me sentia tão nervoso perto de você. Eu sabia que estava me apaixonando e tinha medo. Não queria te perder, mas não queria te amar. - Ele disse, com os lábios próximos dos meus. Davies abriu olhos e eu pude ver que ele estava sendo sincero e, ainda por cima, pude ver o que ele sentia por mim. É como se estivesse estampado em seus olhos.
Me sinto nervosa e ansiosa.
Ele me beijou outra vez, apenas um encostar de lábios pouco demorado e então disse:
- Obrigado por ter entrado na minha vida e ter lotado a merda da minha caixa postal, docinho. - Gargalhei e neguei com a cabeça, mas o abracei apertado.
Me senti feliz por tê-lo comigo, mas ainda me sentia insegura. Resolvi que o daria uma chance. Mais uma chance.
- Tudo bem, Davies. Eu te perdôo, mas só desta vez. - Ele sorriu para mim e eu me senti feliz.
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- Mas e você e o Ethan? Nunca mais sairam juntos? - Ele perguntou, parecendo mais curioso sobre o assunto do que deveria.
Agora estamos já dentro do restaurante, organizados em uma mesa e esperando nossos pedidos chegarem; bife à milanesa e macarrão ao molho branco.
Agora, me sinto mais segura sobre a nossa reciprocidade, mas ainda me sinto duvidosa.
Notei que divagava demais nos meus pensamentos e então resolvi voltar a prestar atenção nele.
- Desculpe, estou meio avoada, pode repetir, por favor? - Perguntei e cocei a cabeça. Ele riu da minha cara de perdida.
- Perguntei se nunca mais saiu com o Ethan. - Deu de ombros, despreocupado. Ah sim, era disso que falávamos!
- Ah, é! Depois daquele dia, saímos juntos outras vezes, uma ou duas. Mas nunca rolou nada. - Dei de ombros e então continuei. - Ele é muito gato e tudo mais, mas não passaremos de bom amigos. Não combinamos. - Mexi na toalha de mesa colorida, a encarando distraidamente.
E realmente não combinamos. Temos o mesmo gosto para algumas coisas, mas não daríamos certo.
Decidimos que faríamos a festa com fogueira e que seríamos amigos. Apenas amigos.
- Ah, fico até um pouco aliviado. Não queria estragar o que vocês tem. - Ele foi sincero no que disse, por isso o encarei e sorri.
- Relaxa, estamos bem só como amigos. - Ele assentiu e tentou esconder um pequeno sorriso que brotou nós lábios.
Ficamos em silêncio, apenas nos encarando, até que em poucos minutos nossa comida chegou.
Mastiguei rapidamente, enquanto tentava criar coragem de perguntá-lo sobre como seria com a Savannah. Embora eles tivessem algo, ela foi agradável comigo na lanchonete e me tratou super bem no pouco tempo que fiquei lá. Não quero que ela se decepcione, talvez ela sinta algo por ele. E eu definitivamente não vou estragar isso. Eu cheguei depois dela.
Notei o jeito que ela o olhava quando estavam na cachoeira.
Apertei os olhos e os lábios ao lembrar dessa cena. Sabia que era uma grande tempestade num copo d'água, mas ainda assim, nunca presenciei uma cena dessas na vida, muito menos com o cara que eu gosto.
- Docinho? Você tá bem? - Davies perguntou ao reparar na minha careta repentina. Sorri internamente pela preocupação, mas ainda assim me sintia ansiosa.
- Estou bem, Davies, estou bem. Apenas cansada, meu novo emprego é bem corrido, mesmo que para um primeiro dia. - Dei uma garfada no macarrão e ergui o olhar para o rosto dele.
Davies me encarava confuso, não entendi o porquê da ruga na testa franzida dele.
- O quê? - Perguntei, tapando a boca enquanto mastigo.
- Novo emprego? - Perguntou e tomou um pequeno gole do suco de laranja.
- Aham, comecei a trabalhar com o Max, no escritório do pai dele. - Coloquei o garfo no prato assim que acabei de comer.
Davies analisou meu rosto, como se tentasse lembrar de algo. O vi coçar atrás da orelha, com o indicador e então o rosto pareceu se iluminar com a lembrança.
- Secretária dele, né? Você comentou comigo em algum momento. - Assenti e úmideci os lábios com a língua.
- E é muito longe daqui? - Perguntou, curioso. Neguei com a cabeça e peguei o celular da bolsa para verificar a hora.
- Preciso voltar. Tenho que terminar algumas coisas lá. - Ele fez biquinho, mas concordou.
- Quer uma carona? - Perguntou. Não entendi o motivo, já que comentei que era perto dali. Talvez só quisesse mais tempo comigo.
- Não precisa, fica a cinco minutos daqui. Chego rapidinho. - Peguei minha bolsa para entregar dinheiro que cobrisse minha parte, mas ele negou.
- Tudo bem, docinho. Eu pago dessa vez. - Mordi o lábio, mas concordei.
- Está bem, vou indo então, ok? - Me levantei e ele fez o mesmo. - Pode ir na casa do Max mais tarde? Vou cuidar das crianças pra ele. Você pode me ajudar, se quiser. - Sugeri, inclinando um pouco o pescoço para a direita.
Para conseguir o convencer, fiz um biquinho. Ele apenas riu e me deu um selinho.
- Ta bom, me manda a localização da casa dele mais tarde, está bem? - Balbuciei algo, concordando, e o abracei.
- Até mais tarde, gatinho. - Me despedi e sorri para ele.
- Até mais tarde, gatinha. - Retribuiu a brincadeira. O soltei do abraço e saí do restaurante.
Eu sentia muita falta dele e fico feliz em saber que ele sentia algo por mim.
Talvez o que sinto fosse recíproco.
Sorri ao pensar que, talvez algum dia, Davies e eu nos amaríamos intensamente.
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Oii, tudo bommm?
Ok, sei que merecem calmaria depois do capítulo 20 e acho que esse capítulo é bem amorzinho 🥰
A maratona acabou, então teremos capítulo apenas sexta-feira, ok?
É isso, beijos.
Angel ❤️