Insensatez (Em Andamento)

By JadeBSand

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No seu aniversário de 22 anos, Ester é sorteada na promoção de uma rede de supermercados. O prêmio: uma viage... More

Ester
Capítulo 1: Uma Pequena Insensatez
Capítulo 1: Uma pequena Insensatez (segunda parte)
Capítulo 2: Acerto de Contas
Capítulo 2: Acerto de Contas (segunda parte)
Capítulo 3: Miguel
Capítulo 4: A saga do Anel
Capítulo 5: Procurando Miguel
Capítulo 5: Miguel
Capítulo 6: Contato
Capítulo 7: De novo
Capítulo 8
Capítulo 9 (Miguel)
Capítulo 10
Capítulo 11: uma proposta
Capítulo 12: uma proposta (continuação)
Capítulo 13: O esconderijo
Capítulo 14: Voltamos
Capítulo 15:
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19

Capítulo 20

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By JadeBSand


À noite, Miguel saiu do quarto bem vestido, mais bem vestido que qualquer outra ocasião que eu já tinha visto, e olha que normalmente ele se vestia bem. Eu já tinha arrumado Alice e a entreguei em seu colo. Ela estava linda com os cabelinhos presos e o vestido branco novo. Ele tinha ficado um pouco grande, mas não fazia diferença. Fechei a porta do quarto para me vestir. O único espelho do quarto não era muito grande e ficava na porta do guarda-roupas. Despi o vestido que estava usando e peguei o que Miguel tinha me presenteado. Vesti-o. Serviu perfeitamente. Eu me lembrava de que, para se ter um vestido perfeito naquele tipo de tecido, era preciso algumas provas e ajustes. Não era sorte demais Miguel ter encontrado um exatamente no meu tamanho? Pus brincos prateados que combinaram bem com o azul escuro da peça. Testei sapatos. Eu não tinha muitos pares. Eu não tinha levado nada de casa, e o fato de quase não sair não auxiliava muito na hora de comprar. Miguel deixava dinheiro para que eu comprasse o que quisesse, mas algumas coisas exigiam mais força de vontade que eu normalmente tinha. Acabei na única sandália de salto que eu tinha, e não era tão alta. De cor nude, ela ficou quase imperceptível nos meus pés.

Eu já tinha feito uma maquiagem discreta quando estava no banheiro e arrumado os cabelos, mas retoquei destacando melhor os lábios. Miguel tinha algo em mente e eu que não ia fazer pouco caso aparecendo de cara lavada onde quer que ele estivesse nos levando. Desci e ele estava na sala. Alice estava de pé no sofá e ele a estava segurando com muito cuidado. Os empregados não estavam à vista, o que não queria dizer que eles não estivessem presentes. Eles ficavam o tempo todo na casa. Eram invisíveis como mandava o bom treinamento.

— E então? — falei, quando desci a escada.

— Você está linda — Miguel disse, e não vi nenhum sarcasmo em seu rosto. Também não me iludi muito. Talvez ele só estivesse sendo educado.

— Obrigada. Você teve bom gosto e muita sorte para encontrar esse vestido no meu tamanho exato.

— Sou bom observador.

— Imagino que sim. Você também está perfeito.

O que não era nenhuma novidade. De bermuda e camiseta Miguel ficava pronto para aparecer na TV, imagina usando o melhor corte disponível.

— Para onde estamos indo? — perguntei, ajeitando Alice no carro. Ela fez birra pois não estava acostumada a ficar amarrada daquele jeito.

— Um restaurante, como eu havia dito. Lamento não as ter levado para conhecer as coisas boas da cidade antes. Você estaria menos entediada e menos aborrecida comigo.

— Fico feliz que tenha pensado nisso justo hoje. Não saí nenhuma vez enquanto você esteve fora e estava ficando louca.

— Fez bem em não sair sozinha.

Foram apenas alguns minutos até chegarmos ao restaurante reservado por Miguel. Era um simpático estabelecimento de madeira e pedra, iluminação indireta e muito glamour. Me senti estranha ao entrar. Eu não era acostumada a nada daquilo e não tinha educado Alice para ser uma bonequinha perfeita. Ela era bagunceira.

— Crianças são permitidas aqui? — questionei, olhando em volta. As mesas ficavam longe umas das outras.

— Claro! Não se preocupe se ela se sujar.

Num canto do restaurante havia um espaço lúdico com brinquedos e distração para crianças, e eu entendi que Miguel tinha pensado em tudo.

Nos sentamos e ele me deu sugestões de acordo com o cardápio apresentado pelo garçom. Dei palpites conforme ele pediu, mas deixei que ele escolhesse os pratos. Enquanto aguardávamos e olhávamos Alice brincando, nossos olhos se cruzaram. Então eu vi que ele finalmente estava acessível para conversar. Durante o dia ele tinha ficado às voltas com telefones e papeis, e não sobrou tempo para mim, mas agora era a minha vez.

— E então? O que você tem a me dizer sobre o objeto que está guardado numa caixinha no seu guarda-roupas? 

Miguel me olhou longamente antes de responder.

— Quer mesmo falar sobre isso? Ele está guardado, não está?

— E acha que estou bem com isso? Tem ideia do quanto eu me revirei na cama esses dias, sem conseguir dormir, por causa daquela coisa? Está guardado, mas eu quero respostas. Você prometeu e eu fui paciente o dia todo.

— Certo. Você tem razão, mas não há motivo para pânico. O que eu tenho a dizer é o seguinte: anéis não andam. Ângelus pode dizer o que quiser, mas sempre haverá uma explicação plausível para todas as coisas, e eu estou resolvendo tudo para que esses eventos não voltem a acontecer. Fiz contatos e alguns negócios, e você não será mais perturbada.

— Assim espero. Gostaria que aquela coisa fosse vendida para um chinês e ficasse lá do outro lado do mundo o resto da eternidade.

Miguel riu das minhas palavras, mas seu olhar estava dentro do meu como nunca tinha estado.

— Ângelus falou de Alice... — comentei, sentindo o peso de seu olhar. — O que você tem a dizer? Ele é seu homem de confiança.

— Ângelus nunca atestaria um objeto falso, nunca acobertaria uma fraude, nunca fecharia os olhos para um embuste. É um homem em quem negociantes, clientes e museus podem confiar. No entanto, suas crenças pessoais não me dizem respeito. Entre mim e ele há uma relação profissional. Apenas isso.

— Então pensa que é tudo crença dele?

— Sim. Meu avô falava nesses supostos dons, mas meu pai não acreditava. Cada vez mais, vejo que ele tinha razão. 

— E quanto ao anel na igreja?

— Deve haver uma explicação plausível. Mas não falemos mais disso por hoje. Eu a trouxe aqui para termos um clima melhor para conversar sobre coisas melhores. Está gostando?

— Claro! É tudo muito lindo. Que restaurante tem uma casinha onde podemos entreter as crianças e um som ambiente tão agradável?

— Quero te fazer uma proposta.

— Proposta, hein?

— Sim. Gostaria que ouvisse com carinho.

— Estou ouvindo.

Por alguns segundos ficamos nos encarando, nos estudando. Os olhos de Miguel estavam muito sagazes embaixo dos cílios negros. E eu tentando adivinhar qual seria a próxima bomba.

— Eu pensei melhor, e acho que talvez seja adequado nós nos casarmos.

As palavras de Miguel saíram como uma confusão na minha frente. Como assim? Balancei a cabeça, estreitei os olhos.

— Adequado? Nós nos casarmos?

— E viajarmos para Portugal. Claro, a viagem seria daqui a uns meses.

Olhei-o sem saber o que responder. Aquilo não tinha nada de romântico. O ambiente, as roupas, o som, até o cheiro de comida, tudo isso não conseguia amenizar a frieza da proposta. Ele estava falando de negócios.

— Algum problema novo ou é um negócio especial? — Também me mantive fria e impessoal.

— Conveniência. Alice precisa de nós dois e vai ser ruim estarmos tão longe um do outro. E não posso passar tanto tempo longe dos meus negócios.

— E quanto à minha vida particular?

— Achei que você estivesse preocupada com o futuro de nossa filha.

— E estou. Mas qual a razão do casamento? Que tipo de família formaremos com um casamento calculado?

— Uma família bem estruturada. Sem paixonites e ciúmes idiotas. Com obrigações bem claras. Eu vou mantê-las muito bem, vou estar perto de Alice, cuidar de você...

— Simples assim?

— Simples assim. Você é sensata. Sabe do que estou falando.

— E se eu não achar correto os termos desse casamento?

— Está no seu direito. Mas lembre-se de que eu também tenho os meus direitos. Isso pode ser conflitante na educação de Alice. Ela precisa estar comigo.

— Senti ameaças na sua negociação.

— Sinto muito. Acho que está bem claro o que temos que fazer. Nos casamos aqui, nos mudamos e recomeçamos nossa vida lá. Tenho uma boa casa e meios de...

O interrompi.

— Qual seria a minha obrigação nesse... hum... contrato de casamento?

— Ser minha esposa e se portar como uma pessoa sensata. Nada diferente do que já vem fazendo. Tenho visto como você lida com as questões e isso me agrada muito. É séria, ponderada, corajosa. Pensa antes de agir. Se continuar assim, nos daremos muito bem. Seremos discretos, tranquilos, uma família invejável. Vou manter meus negócios e você me ajudará neles. Vamos dar a Alice o que há de melhor.

— Eu entendi o "seremos discretos" de uma forma pouco agradável, mas tudo bem. Vou pensar na sua proposta.

— O que você entendeu?

— Deixa pra lá.

— Quanto tempo você precisa para pensar?

— Já vai botar pressão, é?

Miguel estava em seu jeito sério, mas sorriu. Ele ficava lindo sorrindo, mas não comentei nada. Era capaz de ele desistir do casamento se eu fizesse qualquer demonstração de carinho.

Eu minimizei a discussão sobre a proposta para poder digerir melhor. Miguel era uma caixa de surpresas, quase uma caixa de pandora. Cada vez que ele aparecia, trazia uma bomba para a minha vida. E agora, essa. Se eu estava impressionada? Com certeza. Eu ainda via aquele homem como um príncipe encantado. E ainda me via como a gata borralheira, só que no lugar do sapatinho, eu tinha uma filha. Cada proposta que Miguel fazia me dava vontade de fugir, porque eram muito incomuns. Fugir, me esconder de algo imaginário, casar. Casar... será que essas coisas estavam interligadas? Levantei o olhar e Miguel estava esperando a resposta.

— É para hoje?

— De preferência.

— O problema é que você não está sendo muito... animador. Parece que será um casamento frio.

— Por quê? Não há nada de frio em nós. Eu senti sua falta quando estive fora. Tenho certeza de que você também sentiu a minha. Temos química, vontade de ficar um com o outro, e nos respeitamos. Acho que nosso casamento será ótimo.

— Bom... que posso fazer?

— Dizer sim? — Ele pegou minha mão.

— Você é simplesmente irresistível.

Miguel sorriu.

O garçom trouxe os pratos. Serviu-os com habilidade discreta. Pedi uma colher para que Alice pudesse brincar em sua cadeirinha especial. Ela começou a bater na mesa enquanto comíamos e eu tive trabalho para fazê-la desistir de chamar a atenção.

Quando terminamos a refeição e eu deixei Alice voltar para o cantinho dos brinquedos, Miguel pediu a sobremesa. Tomamos vinho. Estava tudo muito lindo, e se não fosse a surpresa do estranho pedido de casamento — pedido não, quase uma intimação —, eu diria que era mesmo um conto de fadas.

Até que Miguel passou a mão por cima da minha e pegou meus dedos de um jeito delicado.

— Uma tentativa de tornar isso mais romântico? — comentei.

— Não pense que estou fazendo algum sacrifício. Estou mesmo convencido de que vai ser ótimo ficarmos juntos oficialmente. Sinto não termos tido tempo de nos aproximar, de confiarmos um no outro..., mas teremos bastante tempo a partir de hoje. Eu quero ficar com você.

— A partir de hoje? Há um padre e um juiz neste restaurante para cuidar de tudo agora mesmo? — Olhei em volta. — Vindo de você, eu não duvido.

— Não é isso. Não precisamos nos manter afastados até o dia do casamento. Podemos começar hoje. O que acha?

Olhei dentro de seus olhos negros e ele parecia estar falando sério. Deixei que meus dedos entrassem entre os dele, e pequenos choques subiram pelos meus nervos. Seria ótimo se eu conseguisse me manter fria, como ele. Eu poderia aproveitar melhor aquela aventura. Mas cada vez que Miguel aparecia eu ficava mais fraca e mais ansiosa. Seu charme e sua voz rouca não ajudavam em nada, e aquele súbito romance também não.

Com minha mão entre seus dedos longos, Miguel pegou algo do bolso. Uma caixinha. Tremi e senti calor ao identificar aquele gesto. Ele ia mesmo fazer um pedido de casamento. Ele abriu a caixinha na minha frente e colocou-a na minha mão. Uma pedra cintilou lá dentro.

— Um anel, é? — falei. Estava um pouco boba com a situação. — Anéis me despertam gatilhos emocionais. Eu tive uma experiência ruim com anéis, caso não se lembre.

— Esqueça aquilo. Esse é um anel comum. Encomendei numa joalheria. — Ele pegou minha mão, pegou o anel e o colocou no dedo certo. — Serviu direitinho. Tomei a liberdade de medir seu dedo na última vez em que estivemos juntos.

— Parece que você esteve ocupado por esses dias. — Olhei a pedra cintilar em minha mão, pesada, chamativa. Miguel pegou minha mão suavemente e beijou-a. Senti seus lábios quentes e macios e não soube o que dizer. De repente, um dos garçons trouxe uma rosa e me entregou e eu fiquei sem voz. Rosas, anéis, jantar, vestido... o que mais estava por vir?

Miguel encheu as taças de vinho e me estendeu a minha. Peguei e tomei um gole, olhando a rosa e o anel de noivado.

— E então? — ele perguntou, me tirando dos devaneios.

— Oi?

— Você está paralisada. Não gostou?

— Sim, eu gostei. É que foi realmente inesperado.

— Por quê? Nós já tínhamos ficado juntos antes de eu viajar.

— Mas não tínhamos conversado.

— Por que ficar conversando se podemos fazer coisas concretas?

— Você é bem persuasivo. Está frio e calmo enquanto eu estou fervilhando por dentro.

— Gosto de sua energia. É gostoso estar com uma pessoa quente. Só não quero sentimentalismos exagerados, ok? Ciúmes, histerias, discussões... nada disso. Quero você lúcida e sensata, como sempre foi.

— Assim, quase como amigos que têm um plano em comum e dormem juntos?

— Algo assim.

— Esse conto de fadas está ficando muito esquisito.

— Eu gosto de você. Temos uma relação mais companheira que muitos casais que se apaixonaram. Sentimos desejo um pelo outro. Não podemos ficar assim? Nada mais é necessário.

— Não? E o amor?

— Pretendo um casamento civil que não envolva sentimentalismos. Não tenho boas relações com casamentos por amor. — Ele fez aspas ao falar amor.

— Ah, é! Me esqueci que você é o galã de olhos escuros e de passado sombrio e eu a mocinha boba e desajeitada. Só que a realidade é mais cruel, né.

Miguel suspirou.

— Vamos parar? Podemos ser melhores do que isso. Você, eu e nossa filha, e uma vida perfeita e equilibrada pela frente. Não é assim o amor? Podemos até ter mais filhos, se assim quisermos, lá na frente. Não é tentador para você?

— Colocando nestes termos, é sim.

Miguel deu outro beijo na minha mão. Tomei o restante do vinho da minha taça olhando em seus olhos, tentando imaginar seus motivos. Miguel era uma caixinha de surpresas e eu estava sempre disposta, às vezes até demais, para pagar pra ver. Desviei de seus olhos hipnotizantes quando ouvi Alice chorar. Me levantei e me dei conta de que duas taças de vinho eram o limite para mim, e que o vestido estava um pouco apertado depois de jantar. Peguei Alice, ajeitei o cantinho de brinquedos e a levei até a mesa. Estava tarde e ela precisava dormir.

— Miguel, a noite está linda, mas é o limite de Alice. Nada mais naquele canto atrai a atenção dela.

— Vamos embora. Lá também vai ser bom.

— Você convocou uma sinfonia para tocar enquanto fazemos amor?

— Se eu soubesse que você gostava, teria convocado sim. Mas é só um quarto novo. Para nós dois.

Me lembrei de que dona Teresinha estava arrumando um outro quarto, mais cedo. A casa tinha quatro quartos no piso superior, e nós só estávamos ocupando dois.

— Achei que você iria me levar para Portugal.

— E vou. Mas isso leva tempo, e até lá nós precisamos de um ninho melhor.

Olhei para ele e o vi sorrir. Ele tinha bebido umas três taças e parecia mais relaxado, apesar da forma como falava.

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