No começo daquela noite, Maria a mucama de Scarlett bate na porta do quarto de Pérola, pois estava com muita curiosidade em conhecê-la. Mesmo muito cansada, Pérola se levanta de sua cama e abra a porta demonstrando um sorriso ao abri-la. Quando Maria se apresenta:
- Olá, eu sou Maria a mucama da senhora Scarlett. Você será a minha companheira nessa tarefa de servir a nossa dona.
- Olá Maria eu me chamo Pérola é um prazer em conhecê-la. Entre, vamos conversas um pouco. Maria entra no quarto e senta na cama de forma muito animada.
Aquela jovem tinha 17 anos e era uma negra muito bela, que Scarlett colocou bem nova para ser a sua mucama quando tinha 15 anos apenas. Nesses últimos meses, Maria estava com uma ansiedade pela chegada da escrava que Scarlett desejava, pois, enquanto aquela senhora esperava essa nova escrava, ela estava cada vez mais estressada e violenta e quem, normalmente, sofre mais com essas mudanças de humor da dona é quem está mais próximo dela, no caso a mucama. Então Maria ao se sentar em frente de Pérola diz maravilhada:
- Nossa como você é bonita Pérola, nem parece uma escrava. Você parece mais uma fidalga!
- Você também é muito linda Maria. Além disso é muito simpática.
- Que bom que você chegou. Nesses dias em que a nossa dona estava procurar você ela estava implacável com todos. Ela tem me castigado muito nesses dias. Diz aquela escrava a retirar uma parte do seu vestido e Pérola perceber que o seu ombro estava muito machucado, com cortes que pareciam ser muito dolorosos. Quando ela se assusta intensamente e engole seco de medo.
- Eu sinto muito que ela tenha ficado assim. Você é mucama dela há quanto tempo? Me conte um pouco mais sobre a sua história.
- Eu nasci aqui mesmo Pérola. A minha mãe está na lavoura e meu pai também. Eu tenho 17 anos e fui escolhida por ela para ser mucama aos 15, depois disso a minha vida virou uma tormenta. Dia sim e no outro também, normalmente, sou castigada por Scarlett. O que tenho é que rezar todos os dias para que ela não seja muito severa no dia de amanhã. É tudo que rezo sempre! Diz aquela escrava demonstrando um certo desespero em seu semblante.
Novamente Pérola engole seco. Aquele relato a assusta intensamente e ela não sabe o que dizer para confortar aquela sofrida escrava. Quando diz, de forma carinhosa:
- Você tem a minha idade. O que aconteceu com a outra mucama da senhora? Ela tinha uma antes, não tinha?
- Scarlett a matou senhora. Ela já teve 3 mucamas e matou todas elas. Duas delas ela matou em seu quarto de tanto bater e uma outra ela matou no tronco, por ela ter cuspido em seu rosto em um momento de revolta.
Pérola coloca a mão na boca. A cada coisa que Maria dizia, mais horrorizada ela ficava. Como ela poderia suportar aquilo que estava a frente do seu destino. Pérola começa a ficar com um semblante triste e preocupado. Quando ela diz:
- Não se preocupe, isso não vai acontecer com você, porque agora somos duas mucamas e vamos fazer o possível para servir a nossa dona da melhor forma possível, de forma que ela não precise mais nos castigar.
- Espero muito que consigamos, ela é muito exigente.
- Eu posso imaginar. Amigas? Pérola então estende a mão com um sorriso no rosto para Maria. E Maria aperta a sua mão e diz:
- Amigas! E elas abrem um sorriso muito agradável uma para a outra. Quando Pérola diz:
- Se trabalharmos unidas, ajudando uma a outra tenderemos a ter melhores resultados. O nosso dever é atender a tudo que a nossa dona pede em conjunto e de forma rápida. Para tentar evitar um pouco o nosso sofrimento. Se caso ela pedir alguma coisa e uma de nós duas esquecermos, ou a outra faz ou avisa como lembrança para que seja feita. Eu tenho uma coisa que vai ajudar muito. Diz Pérola a pegar uma pena, tinta e um papal. Quando Maria assustada diz:
- Mas eu não sei ler Pérola. Diz ela em tom triste.
- Mas, eu sei e vou anotando tudo que a senhora ordena. Quando chegarem as horas de realizarmos as tarefas eu vou lhe dizendo o que é para fazer. Assim, evitamos o esquecimento. Eu vou te ensinando a ler aos poucos também, para que você possa me ajudar a não esquecer nada no futuro.
- Jura que vai me ensinar a ler e escrever!
- Juro! Somos amigas, posso te ajudar tudo que desejar daqui pra frente.
- Eu nunca tive uma amiga assim como você, que soubesse ler e escrever. Respondo Maria a ver lágrimas caírem dos seus olhos de tanta emoção naquele momento. Para os escravos daquela época, qualquer demonstração de carinho e afeto, representava muito para eles, que passavam por muito tempo sem qualquer ato de compaixão realizado por alguém. Ao ver a emoção daquela jovem Pérola instintivamente a abraça e diz:
- Agora você tem uma amiga que vai te ajudar em tudo. Seremos a dupla de mucamas mais eficiente que essa casa já teve. Scarlett não te castigará mais como estava a fazer e nem a mim, pois não nascemos para sermos castigados o tempo todo e sentir dor. Nascemos para trabalharmos e sermos felizes! Diz aquela escrava de forma reflexiva ainda abraçando aquela mucama.
As duas ficam a conversar por um longo tempo naquele quarto. Era a primeira conversa das duas, mas, parecia que elas já se conheciam a anos. Foi impressionante a sinergia e a amizade que surgiu de imediato entre aquelas duas mucamas.
Depois de um tempo, quando viu que a sua dona foi dormir. Pérola desceu para comer alguma coisa, quando as cozinheiras que limpavam aquele espaço ficaram impressionadas com a sua beleza e questionaram se ela era uma sinhá ou uma escrava:
- Eu sou uma escrava senhoras. Eu nasci branca porque minha mãe era uma escrava clara e meu pai era um fazendeiro.
- Mas, você é a escrava mais bonita que já vi em minha vida! Diz uma das senhoras presentes naquela cozinha.
Uma das escravas que tinham naquele espaço era mais jovem, chamada Catarina, ela não ficou nada contente em ver aquela bela escrava a chegar naquela casa. Catarina era uma das negras mais bonitas daquela fazenda e fazia extremo sucesso entre os escravos. Quando viu que apareceu uma escrava mais bela do que ela, ficou com um intenso ciúme.
- Eu nem te acho tão bela assim. Diz ela.
- Você é muito linda. Como se chama?
- Eu me chamo Catarina. Sou uma das cozinheiras dessa casa e realizo trabalhos de limpeza também.
- Fico feliz em conhecê-la.
- E a senhoras, como se chamam? Questiona Pérola a duas escravas que estavam na cozinha além de Catarina, quando elas respondem:
- Eu me chamo Gertrudes. Responde uma senhora cozinheira escrava de 79 anos. A senhora escrava mais velha daquela fazenda.
- Eu me chamo Olivia. Responde uma outra senhora escrava de aproximadamente 45 anos.
- Encantada. O meu nome é Pérola, é um prazer conhecer todas vocês! Diz ela com um sorriso carinhoso.
- A senhora está com fome? Quer comer alguma coisa. Chegou de viagem e não comeu nada. Se quiser posso preparar alguma coisa. Questiona Olivia.
- Ela não é uma senhora Olivia. É uma escrava como a gente. Responde Catarina demonstrando nervosismo.
- Sim senhoras. Peço que por favor que me chamem normalmente. Pois a senhora Scarlett pode ver me chamando dessa forma e repreender as senhoras. Eu sou uma escrava comum como as senhoras. Serei uma das mucamas de Scarlett e estou aos serviços das senhoras para o que precisarem.
- Olha como ela é agradável. Diz Gertrudes.
- Fico muito grata senhora. Eu também achei a senhora muito agradável. Responde Pérola.
- Eu vou indo. Não aguento mais tanta cordialidade o tempo inteiro. Isso não é pra mim! Diz Catarina ao sair daquela cozinha indo em direção ao porão.
Pérola fica sem entender a reação daquela escrava, quando questiona:
- Eu disse alguma coisa que não devia?
- Não, ela é assim mesmo Pérola. Não se preocupe. Catarina acha que ela tem que ser o centro das atenções sempre. Com o tempo ela acostuma. Eu vou preparar uma comida pra você. Eu faço bem rapidinho, já tem algumas coisas prontas aqui. Responde Olivia.
- Eu mesma posso fazer senhora, não gosto de dar trabalho. Responde Pérola.
- Trabalho nenhum menina linda e educada. Eu faço pra você. Afinal de contas é com o tempo que você vai descobrir onde estão as coisas nessa cozinha. E é bom que você nem mexa aqui, pois a nossa dona não gosta. Ela quer que apenas as cozinheiras tratem da comida. Segundo ela, porque se der algum problema, ela já sabe quem colocar no tronco. Diz aquela senhora com um olhar de preocupação.
Pérola novamente se assusta. Todos tinham um tremendo pavor daquela senhora. Ela parecia ser tão má pelos relatos quanto as histórias que haviam chegado aos ouvidos de sua dona. Então aquela senhora prepara a comida e Pérola se alimenta agradecendo intensamente assim que finalizou. Ela vai para o quarto, deita e fica a pensar no dia que se passou e nas pessoas especiais que conheceu.
Ela ficou encantada com a senhora Olivia, Gertrudes e Maria. Era muito difícil encontrar uma senhora com tamanha idade como a senhora Gertrudes sendo escrava. Ela era tão idosa que Scarlett disponibilizou um quartinho ao lado da cozinha onde ela podia dormir, para que ela não pegasse doenças no porão daquela casa. Aquele primeiro dia só havia passado com um momento de terror, que foi quando a sua dona pegou aquela vara e colocou próxima do seu rosto a ameaçando bater nele. Quando Pérola se lembra desse momento ela se arrepia inteira. Imagine a dor que aquela ação de Scarlett poderia ter causado em seu rosto caso ela fizesse o que insinuou. Pérola faz então o sinal da cruz e começa a rezar como de costume a noite antes de dormir, pedindo proteção divina, pois daquele momento em diante, certamente, ela iria precisar muito.