A Queda de Durkheim

By carlosmrocha

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Segundo livro da série Crônicas Delorianas. O Estado de Durkheim sofre uma grande invasão e Ilya Gregorvich a... More

Segundo livro
Recruta Gregorvich
O mago genista
A frente de batalha
Viagem para Nergorod
Major Haivan Drakeen
Na casa de Masha
A criatura
Há quatrocentos e setenta e dois anos
O Sono de Mil Ciclos
Agulhas de Estanho
Beijo quente, beijo frio
Elipses
A hipótese de Drakeen
A tumba dos wlegdars
A mente de um menodrol
A serpente de vento
Retorno da escuridão
Máscaras
Correspondência
Convite
Embate
O Covil dos Vorn-Nasca
Sinal
Reunião
Retorno à tumba
Colosso de metal
Meias verdades
O melhor mecânico do mundo
Chegar ao próximo dia
Futuro sombrio
Preparativos
Ruínas sob a neve
Batalha dos milhares
Sala de comando
Gênio das sombras
A torre gotejante
Fuga
O legado do Professor Mikhail
Epílogo

Horror na montanha oca

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By carlosmrocha

Masha estava exausta. Sentia remorso pelo que havia acontecido a Marya. A menina viajava deitada no banco traseiro do veículo. O ombro esquerdo horrivelmente queimado estava coberto de pomada amarelada, mas vertia água e secreção. Foi uma sorte ter aquilo no kit de primeiros socorros que Masha obteve com sua prima, Fiodora, meses atrás.

Não fazia muito tempo, tiveram que travar combate com os guardas em um dos postos que encontraram ao longo da estrada. Clarão derrubou quatro soldados com tiros precisos, mas em meio ao tiroteio Marya foi atingida. Agora, tremia e tinha febre.

Num primeiro momento, Masha chegou a achar justo que ela recebesse um castigo por ter usado de chantagem para fugir, mas depois, sentiu culpa por não ter sido dura o suficiente com ela. Se assim fosse, ela estaria segura com a mãe em Kassev. Clarão coletou armas, munição e suprimentos do posto.

Seguiram pela estrada, mas foram perseguidos por dois veículos. Tiros foram disparados em ambas direções, mas Clarão foi hábil e desabilitou ambos com tiros certeiros nos pneus dianteiros. Havia uma pequena estrada lateral que tomaram, pois seguir para Nergorod agora seria suicídio. Masha seguia o sinal que vinha de um ponto adiante. Investigar a fonte era agora mais importante. Logo cedo, foi possível ver a oeste os contornos de uma pequena cidade, Huselberc, mas o sinal vinha do norte seguindo uma estrada abandonada com as laterais tomadas por mato. Era uma trilha sinuosa que subia pela serra de morros nus e de aparência desolada. O carro sacudia muito sobre a trilha de cascalho grosso. O zumbido do motor vinha sobrepondo o silêncio e ecoando contra os enormes paredões de rocha entre os quais o pequeno veículo avançava lentamente. Depois de horas, finalmente avistaram dois veículos estacionados ao lado de uma garganta cruzada por uma frágil e estreita ponte de madeira. Ao ver aquilo, Masha levou o carro para o canto da trilha afundando-o no matagal que beirava a encosta.

— E agora? — indagou Clarão.

— O sinal vem dali, certo? Vamos verificar. — Masha saiu do veículo.

— Será prudente?

— Francamente Clarão! Prudência? A esta altura?

— E a menina?

— Ela fica e nós vamos. — seguiu adiante.

A caminhada até as proximidades da ponte foi silenciosa.

— Veja — Masha sussurrou. — Os carros parecem abandonados.

De fato, havia muita poeira e folhas sobre os veículos. O mato crescia e os envolvia.

— Parecem estar aí há um bom tempo. — concordou Clarão, em sua postura dura e inumana.

Masha ponderou que levar um daquele veículos poderia ser uma boa opção para seguir viagem. Não estariam procurando por um daqueles modelos. Por outro lado, sua curiosidade de investigar a origem do sinal era irresistível.

Aproximaram-se da antiga ponte que não era nada convidativa. O vento a fazia ranger e balançar. A madeira parecia quebradiça. Atravessaram a ponte com cautela. Esta resmungou como se fosse uma velhinha com artrite. Do outro lado, avistaram imponentes portões de ferro embutidos na rocha da montanha. Masha não era especialista, mas acreditava que aquilo era uma tumba wlegdar. Uma daquelas que Halle insistia que fosse visitar para auxiliá-lo com suas pesquisas. Os portões tinham alguns símbolos e padrões geométricos forjados em baixo relevo. O único som que escutavam era o sibilar do vento gelado à distância.

— Não deve haver ninguém aí — Sugeriu Clarão num sussurro.

— Por que acha isso?

— Os veículos estão abandonados há tempos... Não vi sinais no solo de que mais veículos circularam por aqui. Talvez os últimos visitantes tenham morrido aí dentro...

— Faz sentido. — Masha colocou força para que o portão cedesse. Este moveu-se numa série de estalos e roncos metálicos graves. A luz penetrou e desenhou linhas ascendentes de uma longa escadaria.

O constante zumbido que pulsava alto na mente do menodrol deixava-o inquieto, mas também, igualmente curioso. Masha tirou uma lanterna da bolsa para iluminar o caminho adiante. O teto do túnel se estreitava numa terminação trapezoidal e era polido e lustroso, refletindo bem a luz. Foi uma longa subida de degraus estreitos e altos. No topo, encontraram um amplo salão oval que a lanterna mal conseguiu iluminar. Estátuas representando as circunspectas figuras dos antigos wlegdars circundavam o recinto, e entre estas, passagens para diversos corredores. O lugar era grande e Masha deixou escapar.

— Isto não se parece nada com uma tumba...

Clarão seguiu o zumbido que agora ecoava em sua mente como se estivesse a escutar o badalar de sinos numa torre de alerta. Mal notou que Masha vinha falando com ele. Ela teve que puxá-lo pelo braço para ter sua atenção.

— Está me escutando? Tudo bem?

O menodrol tinha os olhos vidrados e olhava como se a moça fosse transparente. Apenas assentiu com um gesto e seguiu para uma das passagens a passos largos. Masha o seguiu apreensiva passando a lanterna para a mão esquerda. Sacou sua pistola com a destra.

— Esse lugar é assustador — murmurou.

O corredor escavado na forma de trapézio seguiu até um segundo lance de escadas num padrão espiral.

— Clarão, espere! — disse Masha ofegante. — Preciso descansar...

O menodrol ignorou as súplicas de Masha e seguiu subindo a longa escadaria, incansável. Masha reuniu forças para segui-lo, mas aos poucos foi ficando para trás. Ela chegou a um salão que lhe evocou sensação familiar. Possuía bancadas, estante e mesas que a lembravam de um laboratório abandonado. Chegou a tempo de ver, do outro lado do salão, o menodrol sair. Ele passou por uma porta da qual escapava luz tênue de fonte distante. Masha notou um zumbido distante, mas não teve fôlego para seguir. Seus pulmões e suas pernas estavam queimando. Estava encharcada de suor. Ajoelhou-se e depois deitou-se no chão de pedra fria e polida. Bufou por alguns instantes. Se esforçou para ficar de pé novamente e grunhiu. Seguiu com as pernas pesadas e latejantes na direção da porta suavemente iluminada.

Ao aproximar-se, um odor desagradável preencheu suas narinas. E ao ver mais um lance de escadas ascendentes, chorou de raiva e cansaço. Apertou os punhos e reuniu forças para continuar subindo.

— Como é que ele aguenta?

O cheiro foi ficando mais forte e pungente. No meio do caminho, guardou a pistola na bolsa e tirou da mesma um lenço que passou a pressionar contra o nariz. Viu que faltavam apenas uns trinta degraus, mas a exaustão tomou-a por completo. Debruçou-se sobre os degraus e deu tempo às pernas para descansar. Dali, escutou vozes longínquas dialogar, sem distinguir as palavras. Sentiu arrepios. A luz de sua lanterna poderia denunciar sua presença e resolveu desligá-la. A escuridão tomou a escadaria, mas aos poucos, os olhos se ajustaram e os contornos do batente da porta acima ficaram nítidos.

Masha raciocinou e concluiu que Clarão havia sido atraído pelo sinal, como um inseto para a luz de uma lanterna. Usando as mãos e pernas escalou lentamente os degraus. Quase no topo, começou a distinguir as palavras.

— Obviamente inesperado — disse uma voz arrastada, fraca e rouca, como a de um velho.

— O que faremos com ele, Yurleg?

— Vamos descobrir como chegou aqui e depois, consumi-lo.

— Sim! — foi a resposta excitada da voz mais jovem. — Isso nos poupará uma viagem até a cidade.

— É melhor amarrá-lo. Tetyukhin, vou buscar correntes, você verifica se é seguro tocá-lo.

Masha limpou o suor do rosto. Amarrou o lenço para cobrir a boca e o nariz. Depois voltou a empunhar a pistola. Reuniu forças, sentindo as batatas das pernas repuxando, subiu os degraus que restavam. Viu um estreito corredor que dava para uma sala parcialmente iluminada. Avistou a silhueta de Clarão, e ao seu lado, um homem de estatura média, duas cabeças mais baixo que o menodrol. Masha tentava controlar a respiração pesada para não fazer barulho. O cheiro de carniça, muito forte atrapalhava-a. O homem avistou Masha se aproximando num andar coxo. Ela sentiu um arrepio quando o par de olhos reluziu esverdeado como dois vaga-lumes na penumbra.

— Afaste-se dele — ordenou Masha apontando a pistola.

O homem de olhos sinistros obedeceu. Em seguida, caminhou sem provocar ruído em direção dela.

— Não se aproxime!

O homem fez um pausa e deu um passo largo de lado. Ficou entre ela e Clarão.

— Tem boa mira, mulher? — disse ao dar outro passo adiante. — Se errar, poderá acertar seu amigo.

Seu coração estava disparado, suor escorria pela testa e as luvas estavam encharcadas. A arma tremia um pouco em sua mão e o oponente estava atento ao fato. Ela deu dois passos laterais para evitar acertar em Clarão, mas o homem se ajustou com precisão, como se tivesse um olho nas costas. Um jogo de gato e rato, e Masha estava mais para rato do que gato.

Ele deu um passo adiante e atiçou — Não sabe o que sou, sabe?

— Clarão! Me ouça!

— Isto mesmo — disse dando mais um passo adiante. Tinham pouco mais de dez metros entre eles. — Chame-o! Se acordar, as coisas ficarão interessantes... — seu jeito de falar era esquisito, cheio de ritmo e entonações. Havia um sotaque peculiar que ela não podia reconhecer. Ele parecia se divertir. Aquele encontro estava quebrando um longo período de tédio.

— Teria sido ótimo se tivéssemos nos livrado dos cadáveres. Adoraria sentir o cheiro do seu medo.

Masha disparou três vezes. Os três relâmpagos vermelhos iluminaram o salão por breves instantes. Mirou nas pernas, naquele ângulo os tiros não tinham chance de atingir Clarão. O homem saltou de modo impossível por cima dos disparos. Os tiros atingiram o chão perto de Clarão cavando discos de pedra derretida que ficaram em brasa por uns instantes antes de esfriar. O homem veio sobre ela como um gato a ponto de capturar sua presa. O terror cresceu dentro dela e sem pensar, disparou freneticamente.

Dois disparos atingiram a criatura no peito explodindo a carne em pequenas bolas de chamas. Masha pode ver o rosto descarnado, enegrecido e disforme. Como os olhos arregalados o ser horripilante tombou a seus pés. Ela caiu para trás, apavorada com a pistola quente e fumegante tremendo em sua mão. Viu que os dedos magros, semi-esqueléticos se contorciam. O rosto, deitado no chão girou e se ergueu de modo inumano.

— Há! Há! Infelizmente, mulher, não poderá me deter com um brinquedo destes.

Masha se arrastou para trás a boca escancarada numa expressão de horror. Qualquer homem estaria morto com dois disparos da pistola manótica contra o peito. Mirou como pode e descarregou toda munição restante sobre a criatura. Aquilo a fez parar de se mover. Com a força da adrenalina, ela se levantou e correu até Clarão. Retirou sua máscara e beijou-o na boca. Seguiu fazendo isso até o menodrol correspondeu. Os sinais que congelavam seu cérebro perderam o foco e ele libertou-se do transe.

O ruído de algo se arrastando levou os olhares do casal para o Vorn-Nasca mutilado. Um dos disparos quase arrancou uma das pernas, mas ainda assim ele mancava rapidamente. Clarão sacou a pistola do bolso interno de seu sobretudo e disparou contra Tetyukhin fazendo-o cair para trás.

— Ele não morre! Não morre! — ela gritou histérica.

Do outro lado, o outro Vorn-Nasca, Yurleg, veio correndo e com um golpe violento derrubou Clarão no chão. Clarão sentiu uma fisgada indicando uma costela quebrada, mas a tolerância a dor de sua raça permitiu que agisse normalmente. Yurleg tinha confiança que havia desferido um golpe letal, mas não tinha experiência em lutar com menodrols. Surpreendeu-se quando Clarão firmou mira, mesmo caído no chão e disparou contra suas pernas. Os tiros de plasma não matavam as criaturas, mas podiam incapacitá-las. Clarão ficou de pé com a mão esquerda sobre o peito e golfou sangue no chão.

Masha ofereceu ajuda e apoiados um no outro, correram para fugir dali. A dupla de Vorn-Nascas veio atrás deles. Um deles, disparou com uma pistola e atingiu Clarão de raspão provocando queimaduras em sua pele. Yurleg não gostava de usar armas de fogo, mas a raiva o fez abrir uma exceção.

O pânico ajudou Masha a ignorar o cansaço e dores. Desceu as longas escadarias seguida de Clarão. Saíram da tumba, mas foram alcançados pelos Vorn-Nasca antes de atravessarem a velha ponte. Houve fogo cruzado. Clarão procurou cobertura e respondia ao fogo dos inimigos. Masha correu pela ponte gritando o nome de Marya. A jovem estava febril, mas ouviu o chamado de socorro. Passou com dificuldade para o banco dianteiro e desajeitada, conseguiu conduzir o veículo até a extremidade da ponte.

— O que está acontecendo?

— Me dá esse rifle! — Masha ordenou esbaforida.

Marya pegou a arma no banco e passou para ela. Masha ajoelhou-se para mirar com mais precisão. Disparou contra a dupla que se aproximava da rocha que Clarão usava como abrigo. O tiro potente do rifle projetou Tetyukhin para trás envolto numa nuvem de fogo e fumaça. Masha disparou contra Yurleg, mas errou. Ele mancou buscando cobertura. Clarão aproveitou para atravessar a ponte recebendo cobertura de mais disparos feitos por Masha. Um dos disparos de Yurleg atingiu a lataria do carro logo que Clarão havia acabado de entrar. Yurleg coxeou até a extremidade da ponte. Masha empurrou Marya de lado e fez o carro arrancar num zumbido agudo girando as rodas e levantando poeira.

— Quem são aqueles? — Marya indagou.

— Agora não! — retrucou Masha — Clarão, pegue o rifle e estoure aqueles carros.

Masha reduziu a velocidade e Clarão, com o tronco para fora da janela disparou à vontade. Quando os carros pareciam inutilizados, ele retornou ao interior.

Masha tremia e conduzia o veículo rápido demais para as condições precárias daquela estrada.

— Vai mais devagar! Cuidado! — Marya gritou desesperada.

O carro derrapou numa curva e por muito pouco não rolou morro abaixo. Masha brecou o carro bruscamente.

Marya chorava e tremia — O que está havendo?

Masha olhou para o banco traseiro e viu que Clarão estava desacordado. Sangue escorria do canto de sua boca.

— Clarão! Clarão! — Ela desceu do veículo e abriu a porta traseira. Ela o abraçou. Estava frio, mas ainda respirava.

— Não, por favor. Não morra Clarão! Eu o amo! Fique! Fique!

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