Meias verdades

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Depois da visita às ruínas, ficou claro para Drakeen e Riboachev que a guerra, somada à existência daquele enorme estoque de menodrols a despertar poderiam levar à extinção de Durkheim, e talvez, desencadear um conflito mundial. Era possível vislumbrar um futuro no qual a humanidade seria escravizada, ou até, destruída por aqueles que controlassem aquele estoque de soldados.

No momento, quem estaria mais próximo dessa condição era o Yrkun-Nasca libertado por Balkan. Drakeen suspeitava que este havia destruído a base militar em que serviu por décadas no extremo norte. As informações de inteligência produzidas foram bem aceitas pelo pessoal do Departamento D, em Zalle, mas Drakeen não tinha certeza do impacto delas no alto comando do exército. Estes sim governavam o que restava do país.

Ainda como chefe da unidade de contra deserção, o major recebeu um relatório vindo de Huselherc, não muito distante de Nergorod. Era sobre a captura de uma engenheira fugitiva do IMPA que levou consigo um menodrol. Este estava internado no Hospital Geral de Huselherc, em estado grave, enquanto a fugitiva e outra jovem, de nome Marya Wolchkin, estavam sob custódia do polícia local. Ao ler na mensagem o nome das duas, Wolchkin e Flammoc, Drakeen lembrou-se de tê-los ouvido antes ligados ao famoso caso de Ilya Gregorvich. O major sabia, através de Fredrik Hurtog que Ilya estava com Bremmen. Ou seja, caçadores, aquela fugitiva do IMPA... Toda a coisa parecia querer se juntar.

Drakeen conseguiu uma cópia do relatório policial em que Flammoc relatava ter confrontado Vorn-Nascas numa tumba Wlegdar e que estes possuíam um aparelho capaz de controlar menodrols. A polícia não deu crédito à história de Masha, mas Drakeen enxergou o padrão se fechando. Ele ordenou que os três fossem transferidos para Nergorod. Os aguardava ansiosamente e também esperava pela chegada de Argos e dos agentes do Departamento D.

Drakeen imaginava se todos aqueles eventos fariam sentido para o alto comando e se seria viável tecer uma ligação entre a atuação do tentáculo e os Vorn-Nascas de modo a criar um impacto na estratégia de defesa, ou mesmo, sobrevivência. Mas no fundo ele temia resistência e lentidão na resposta do alto comando. A coisa toda parecia estar em suas mãos. Enfrentar aquela ameaça poderia caber a ele.

O major estava cansado, mas terminou de escrever um relatório detalhado e chamou o assistente do dia. O rapaz angustiado, magro e de olhos fundos emitiu um ralo — Sim, senhor.

Drakeen virou o rosto para examiná-lo com seu único olho e a possibilidade de que aquele rapaz não fosse capaz de cumprir uma simples instrução para postar o relatório o fez estremecer. Ele vinha ficando paranóico ultimamente. Apoiou a mão na mesa e levantou-se.

— Venha comigo, soldado.

O rapaz abriu a boca para dizer algo, mas desistiu.

— Você é daqui mesmo? — indagou Drakeen.

— Não, major. Sou de Voln.

— Já esteve em combate?

— Não senhor, fui designado para ser intendente aqui. Mas isso poderá mudar logo. Ouvi dizer que os invasores se aproximam.

— É o que dizem. O que pensa?

— Sobre o que, major?

— A guerra.

— Não sou nenhum covarde, mas fico imaginando se não seria o caso de estabelecer termos de rendição.

— Entendo. Tenho minhas dúvidas se o inimigo estaria interessado em nossa rendição.

O soldado nada mais disse enquanto caminharam pelos corredores movimentados do quartel até a sala de comunicações.

— Assegure-se de que a mensagem e o relatório serão transmitidos. Assim que estiver com o protocolo de recebimento, leve-o até mim.

A Queda de DurkheimOnde as histórias ganham vida. Descobre agora