A hipótese de Drakeen

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O Major Drakeen sentia que estava na pista correta. Se ao menos estivesse alocado em uma unidade decente, como no serviço de inteligência, teria os recursos e agentes para prosseguir com sua investigação até chegar ao fundo da questão. O caso de Gregorvich agora favorecia a investigação e conseguiria acesso aos arquivos que desejava de modo legítimo.

— Pode entrar Major. O agente Oleksei irá recebê-lo — disse a jovem recepcionista de cabelos curtos, um corte bem masculino.

Drakeen caminhou por entre as mesas cheias de papel, cada qual com seus aparelhos de telecomunicação e dúzias de agentes e assistentes trabalhando, deslocando-se de lá para cá e conversando. "Um ambiente caótico" pensou Drakeen. "Detestaria trabalhar aqui".

Alguns interrompiam o trabalho para encará-lo, pois a figura de um oficial do exército sem um dos braços era algo incomum. A manga do uniforme ficava dobrada e presa por um alfinete. Drakeen tinha dificuldade de interpretar todos aqueles olhares. Seriam apenas por causa de seu braço?

A mesa do agente Oleksei constrastava com todo aquele caos circundante. Seus papéis estavam empilhados e organizados com espaços uniformes dividindo as pilhas. Todo o resto dos objetos, lápis, tinteiro, mata-borrão, também estavam organizados seguindo linhas imaginárias verticais e horizontais.

Um burburinho tomou conta do departamento e alguns dos agentes, de pouco pudor, ou falta de polidez, até apontavam o dedo para ele. O oficial militar contraiu os ombros em desconforto. Com um gesto, Oleksei indicou que se sentasse. O agente usava gel nos cabelos pretos que penteava para trás deixando sua testa grande e reta em evidência. Era um sujeito pequeno e magro, mas de algum modo, seu olhar confiante parecia um pouco ameaçador.

Drakeen sentou-se e indagou incomodado — O que há com seu pessoal, Oleksei? Será que nunca viram alguém com um aleijão?

Ele riu discretamente — Certamente que sim! Mas não o famoso oficial que sobreviveu ao ataque de Meruoga.

Drakeen estava surpreso por eles saberem daquilo. Ele fora o único sobrevivente do confronto com aquele dragão, mas isso havia acontecido há muitos anos.

— Ora Major, não faça essa cara. Aqui todos nós gostamos de discutir casos que envolvam o sobrenatural. Conhecemos cada um deles. Afinal, está no Departamento G, não sabia?

Este é o Departamento G? — Drakeen franziu o cenho, que se dobrava de maneira imperfeita devido às cicatrizes que tinha atravessando a testa e a bochecha.

— Confesso que imaginava algo muito diferente... Cheguei a duvidar que essa divisão existisse.

— O senhor tem bons contatos, não é Drakeen? Caso contrário, não teria chegado até mim.

O mais velho desconversou — Até onde sei, estou apenas conduzindo um procedimento de requisição de informações.

— Ah, sim, é claro. — Oleksei enfatizou com ironia. — No que podemos ajudar os senhores dos Assuntos Internos do Exército?

— É sobre Ilya Gregorvich e Halle Bremmen.

— Bremmen, não é? — Oleksei demonstrou interesse.

— Sim, foi por isso que vim até o senhor. O caso de Gregorvich e Bremmen esteve consigo, não é mesmo?

Oleksei fez uma careta e assentiu. Tirou um cigarro do bolso, acendeu e colocou não beirada da boca. — Não se importa?

O major fez que não e disse — Gregorvich é um recruta foragido e acreditamos que ele possa estar com Bremmen.

— Uma suposição razoável... Mas o que deseja, Major?

A Queda de DurkheimWhere stories live. Discover now