Retorno à tumba

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— Este é o lugar? — indagou o Major Drakeen.

— Sim — disse Balkan ao reconhecer o local do acampamento próximo à entrada da tumba.

O veículo que os conduzia parou próximo ao quiosque abandonado. Balkan, Drakeen e outro oficial desceram. Riboachev era um homemzinho atarracado, de olhos pequenos, de pele vermelha e que tinha o costume de apalpar suas longas suiças loiras que se juntavam aos seus cabelos.

— É bom que isso seja mesmo relevante, Major Drakeen. Estamos todos muito atarefados, já lhe disse, não?

— Sim, Dr. Riboachev, já. É hora de conhecermos a tal câmara.

Balkan e o doutor dirigiram-se, morro acima, para a entrada da tumba, mas algo deteve o major.

— Yurich — disse ao cabo em voz de comando — pegue os rolos de corda no bagageiro e leve até lá.

— Sim, senhor — respondeu o rapaz que conduzira o veículo.

Drakeen caminhou até o quiosque e se agachou. Com seu único braço tocou o solo de terra batida e observou. Apalpou o tampo da mesa detectando manchas deixadas por algum líquido derramado. Franziu a testa e depois seguiu apressado para alcançar Riboachev e Ian Balkan. O doutor, que não sabia que Balkan era um desertor, conversava sobre a guerra e os progressos que faziam no IMPA, onde trabalhava.

— Nossos antepassados cometeram um grande erro ao deixar que os menodrols partissem para o oeste após o fim da guerra. Deveriam ter sido mortos, todos eles, ou então, subjugados e feitos servos. Como se defendia no antigo reino de Hauff.

— Ainda assim, não estaríamos livres de sua ameaça. Segundo os cálculos de um colega, devem haver mais de cinco milhões deles em tumbas como esta, em animação suspensa. Talvez possamos descobrir uma maneira de despertá-los e controlá-los.

— Mais fácil dito do que feito, meu rapaz. Sob a pressão da derrota, penso que o melhor a fazer seja explodir todos esses malditos depósitos de armas vivas.

Drakeen alcançou-os já próximo à entrada. Ofegava e disse — Quando visitaram este local há duas semanas, quantos de vocês estiveram aqui?

— Quatro, senhor.

— Então, me parece que o local obteve visitantes depois que vocês estiveram aqui.

O cabo Yurich vinha atrás do major, vermelho e suado. Estava quase oculto sob os muitos rolos de corda que trazia.

Atravessaram os pesados portões de ferro e desceram as escadas, cruzaram salões, até chegar onde ficava a câmara escondida. Riboachev seguia ao lado de Balkan com um archote nas mãos.

— Aí está — indicou Balkan.

Drakeen e Riboachev espiaram o buraco fundo e tomado por um negrume.

— Acho que a melhor opção é amarrarmos a corda em uma das estátuas do outro lado — Drakken pensou alto indicando o local do outro lado do salão. Ele foi até o local com o cabo e testou a firmeza da corda. — Está bom.

De volta ao poço, Drakeen ligou uma pequena lanterna manótica que trazia no bolso. — Amarre na ponta da corda, Yurich.

A corda foi inserida no poço, e descida. A luz foi diminuindo gradualmente até parecer um ponto distante.

— É bastante profundo — comentou o doutor.

— Não parece uma descida segura — murmurou Yurich temeroso.

— Verdade — constatou Drakeen. Para ele seria difícil descer e impossível subir. — Achei que seu relato sobre a profundidade exagerado. Vejo que me enganei.

— Esteve lá em baixo, não é, Balkan? — indagou Riboachev. — Como subiram?

— Com a ajuda de um gênio — respondeu desanimado.

O major ajoelhou-se e retirou das costas sua mochila. Pegou meia dúzia de recipientes presos por um cordão que fizeram um ruído de lataria ao se chocarem entre si. Os olhos de Balkan brilharam ao ver seus receptáculos. Pensava tê-los perdido para sempre.

— Qual deles contém seu gênio dos ventos?

Balkan apontou para o recipiente bojudo com cristais incrustados.

Com sua única mão o major retirou a garrafa do cordão levando um tempo maior que alguém com duas mãos o faria. Isso fez com Balkan suspirasse de ansiedade. Mesmo não fazendo parte de sua natureza, Balkan sentiu um impulso para convocar o gênio e mandá-lo atirar os três no poço para poder poder recuperar seus pertences e dar o fora dali.

Drakeen, como se percebesse o conflito do rapaz lhe disse — Veja bem o que vai fazer rapaz. Se mostrar lealdade estou certo de que posso pensar em maneiras de recompensá-lo. — balançou o cordão com os demais recipientes. — Penso que há lugar no Estado para jovens como você. — E entregou-o a ele.

— Muito bem, major, obrigado por confiar em mim. E então — disse com um sorriso jovial — quem quer ir primeiro?

Drakeen encarou o cabo Yurich de um modo que o fez erguer a mão, se oferecendo.

Balkan realizou o ritual e convocou seu gênio dos ventos. O som oco de um pequeno estouro fez Yurich sobressaltar-se. Logo um vento quente preencheu a sala agitando as roupas e cabelos de todos os presentes. Balkan sussurrou as instruções que soaram como assobios. — Afastem-se — pediu ao major e ao doutor.

O ar em torno de Yurich ficou denso e uma grande quantidade de poeira dava forma de redemoinho à criatura de vento. A tocha se apagou, deixando apenas o fraco brilho que vinha do fundo do poço. Balkan convocou uma luz tênue à partir dos cristais do receptáculo. A esta altura Yurich gritava apavorado sem os pés no chão. O gênio o atirou para dentro do poço fazendo-o cair em queda livre mais da metade do percurso. Seus gritos ecoaram como numa caixa amplificada. A descida foi rápida e barulhenta, pois Yurich chamava pela mãe e falava em morrer numa gritaria histérica.

Os três chegaram à borda do poço e viram quando Yurich desacelerou e foi depositado suavemente no solo, centenas de metros abaixo.

Balkan repreendeu o gênio com a linguagem de assobios e este retornou à superfície. Sem nenhum escândalo, Drakeen e Riboachev foram levados para baixo. Balkan chegou a pensar em escapar, mas ficaria sem seus outros gênios. Talvez pudesse esperar até que eles morressem, mas isto lhe pareceu mais crueldade do que seria capaz. Então, foi conduzido suavemente até os outros. Já dominava muito bem a técnica de orientar seu gênio para o transporte de pessoas. Acolheu o gênio de volta no receptáculo para que pudesse descansar.

Drakeen deu-lhe um tapinha no ombro — Impressionante!

Balkan disse a Yurich — Me desculpe, minha Anirama tem um certo senso de humor.

Drakeen ergueu a lanterna iluminando o local. Aproximou-se de uma das milhares de cápsulas seguido pelos demais.

— Malditos sejam! — Disse o major entredentes.

Balkan se aproximou e tocou a cobertura da cápsula feita de uma espécie de vidro de baixa opacidade. Limpou a poeira de séculos e o vulto ficou um pouco mais evidente. Tirou uma das luvas e voltou a tocar a superfície, desta vez, de olhos fechados.

— Grandes gênios!

— O que houve, Balkan? — indagou-lhe Drakeen.

— Veja, o interior agora está fluido. Da última vez que estivemos aqui, estava sólido, como gelo.

— Talvez vocês tenham acionado o mecanismo para despertá-los. — sugeriu Riboachev.

— Ou então — retrucou Drakeen — Aqueles que estiveram aqui recentemente...

— Ao que parece, major, o assunto tornou-se sério e deveras urgente!

A Queda de DurkheimWhere stories live. Discover now