THEODORA
Já era noite quando chegamos em casa e nem nos preocupamos em fazer algo para jantarmos, pois tínhamos passado boa parte do dia comendo no chá de bebê.
— Isso era para os convidados, Bonequinha – Apolo comentou rindo, quando eu peguei cinco lembrancinhas na parte de trás do carro dele, assim que descemos na garagem de casa.
— Sobrou e eu peguei. Não ia deixar esses bombons estragar, né? E aqui tem uma caixa para cada um, então pare de me encher o saco por ter pegado chocolate para a gente.
— Aí tem cinco e nós somos em quatro, Bonequinha – Jacob falou, rindo também.
— Dois para mim, ora bolas – murmurei, emburrada, já seguindo com a Gi para dentro de casa, deixando os dois rindo enquanto pegavam as sacolas de presentes.
Ginger nos deu "Boa noite" antes de ir para o quarto dela, já eu segui para o meu a fim de tomar um banho à medida que Apolo e Jacob terminavam de levar para o quarto, todas as roupinhas e brinquedos que a nossa filha havia ganhado dos convidados.
— Espero que o Adrian e o Alexos fiquem bem – Apolo disse, tempo depois, saindo do banheiro, enrolado numa toalha e enxugando o cabelo em outra – Mesmo o Adrian tendo feito de modo errado, expondo a Karina daquele jeito, eu sei o quanto aquilo foi difícil para ele.
— Ainda bem que ele expôs aquela desgraçada nojenta, assim vimos que ela não era tão amiga assim de nenhum de vocês, pois destetava a todos em segredo – comentei, sentada na cama, ajeitando as roupinhas da bebê em uma bolsa que eu ia levar para o hospital quando chegasse o momento de ela nascer.
— Eu espero é que a Karina não venha prejudicar eles, isso sim, pois dizem que mulher traída é pior que o capeta para infernizar a vida dos outros – Jacob completou, deitado ao meu lado.
— Então vocês já sabem de que comigo vai ser mil vezes pior se revolverem me trair, hein? – indaguei, sorrindo, fazendo os dois rirem.
Apolo foi para o closet se vestir, depois retornou ao quarto, fechando e tirando a bolsa de cima da cama e colocando a mesma dentro do berço que eles dois haviam montado recentemente em um canto da suíte, pois a nossa filha iria dormir conosco enquanto ela fosse bebezinha.
— Mozão, já que você está em pé, pega o creme e faz uma massagem nos meus pés? – pedi, dando um sorriso para ele, que logo sumiu, entrando no banheiro, voltando segundos depois.
Fiquei recostada na cabeceira da cama e Apolo se sentou aos meus pés, já começando a passar o creme e massagear tanto eles quanto minhas pernas, deixando-me muito relaxada.
— Faz massagem no meu também, Mozão – Jacob pediu, erguendo o pé dele rumo ao Apolo, sorrindo cinicamente.
— Não. Você não está grávido, Ursinho.
— Poxa. Quando eu tiver, você vai ver só, seu malvado – retrucou Jacob, fingindo estar magoado.
Não me aguentei e cai na risada com eles dois.
JACOB
Um mês antes do previsto, recebemos uma ligação do nosso advogado, que nos informou que a audiência da guarda definitiva da Gi havia sido antecipada e que iríamos ter que comparecer no Tribunal de Justiça nos próximos dias.
Tínhamos deixado de lado toda tensão e preocupação com relação ao andamento do processo, mas com a notícia da antecipação da audiência, a nossa ansiedade voltou novamente à tona. Entretanto, a juíza deu uma resposta favorável ao processo, nos concedendo a adoção plena da Ginger.
Segundo o Dr. Sender, esse tipo de adoção era uma adoção onde o menor adotado passava a ser, para todos os efeitos legais, filho legítimo dos adotantes, desligando-se de qualquer vínculo com parentes de sangue. Ou seja, mesmo com o irmão dela vivo, ambos não tinham mais vínculos de nada.
Gi até poderia ter um novo nome, caso desejasse, e ela quis apenas trocar o seu sobrenome para o nosso. Então, com os papéis da adoção em mãos, fomos até o cartório da cidade e fizemos a mudança, já tirando novos documentos para ela.
— Agora você é oficialmente uma Greedy, princesa – falei a abraçando, já vendo Apolo tirar uma foto de nós dois, antes de abraçar nossa filha também.
— Obrigada por vocês me adotar e me dar a oportunidade de ter uma vida que eu nunca sonhei que teria. Prometo fazer novas amizades e sempre andar na linha, sem me meter em confusões. Sei que é muito cedo para dizer isso e talvez os dois não acreditem, mas já amo vocês como meus pais – Ginger disse e isso nos emocionou, causando mais uma rodada de abraços.
— Vamos logo para casa, porque eu acho que a Bonequinha deve estar pirando de curiosidade para saber o resultado da audiência. Mas bem que podíamos trollar com ela e dizer que a juíza foi contra o nosso caso.
— A Bonequinha vai acabar te dando uns tapas, Mozão. Mas, seria bem engraçado mesmo ver a reação dela – comentei, rindo, juntamente com os outros dois.
Então nos dirigimos para o carro e fomos para nossa casa, planejando como iríamos enganar a Thea.
Apolo estava certo, a Theodora se encontrava quase tendo uma síncope quando estacionamos o veículo na frente da garagem.
— E aí? Qual foi o resultado? – ela nos questionou, se aproximando de nós à medida que saíamos do carro.
Thea estava com um sorriso enorme no rosto, indicando que a mesma estava bastante animada e ansiosa. E me deu até um pouquinho de remorso em tirar aquele sorriso dela.
— Vamos primeiro entrar, Bonequinha? Depois a gente se senta e conversa sério sobre isso – falei, tentando permanecer com o semblante entre o sério e o triste, assim como as expressões faciais do Apolo e da Gi.
Theodora notou que havia acontecido algo não muito bom e nos acompanhou para dentro de casa.
— O que aconteceu, gente? Me falem logo. Eles disseram um "Não" para vocês, foi?
Assentimos, assim que nos sentando no sofá.
— A juíza determinou que não podemos adotar a Ginger enquanto a mesma não for uma órfã de verdade.
— Ou seja, o irmão dela precisa falecer primeiro para só assim podermos entrar com um novo pedido de adoção e, finalmente, sermos os pais dela perante a lei – complementei a fala do Apolo.
— Até lá, eu vou ter que ficar em um orfanato, sob os cuidados do estado. Aff... – Gi murmurou, fingindo está indignada com aquilo também.
— Não pode ser... Temos que recorrer, gente! Não é isso que o advogado falou que precisávamos fazer se a resposta fosse negativa? – Thea indagou e nem esperou que a respondêssemos, já foi logo surtando, andando de um lado para outro na sala de estar com aquele jeitinho engraçado e bonito que as grávidas ficam quando estão já com o barrigão.
Ela falava consigo mesma, divagando em seus próprios pensamentos de vingança para com a tal juíza do caso, fazendo com que eu, Apolo e Ginger tentássemos segurar o riso.
— Bonequinha, você parou com sua vida criminosa, lembra? – Apolo conseguiu falar, apenas com um sorriso nos lábios.
— Ah, mas eu volto com muito prazer para poder me vingar daquela juíza desgracenta.
— Ei, Bonequinha – a chamei, já não conseguindo segurar meu riso à medida que me levantava do sofá e me aproximava da mesma, segurando-a pelos ombros – Se acalme, ok? A gente só estava brincando. Deu tudo certo lá no tribunal, viu?
Theodora me encarou, depois olhou para a Gi e para o Apolo, antes de voltar seu olhar de novo para mim.
— Sério mesmo?
— Uhum...
— E já tiramos até os meus novos documentos – nossa filha informou, sorrindo, já vindo abraçá-la.
— AI MEU DEUS! – Thea gritou em felicidade, me abraçando assim que Ginger se desvencilhou dela – Estou muito feliz. Somos uma família agora.
— Falta só a gente se casar com você, Bonequinha. Mas isso pode levar alguns anos para não pormos em risco a adoção da nossa nova filhota – Apolo indagou, se aproximando também.
— Isso é o de menos, Mozão – Theodora rebateu, o abraçando.
— Não abraça muito não, porque foi ele que deu a ideia para mentirmos para você, Bonequinha – comentei, rindo juntamente com a Gi parada ao meu lado.
— Por favor, não me bata.
— Estou feliz demais para te bater, Mozão – Thea informou sorrindo e dando um beijo na bochecha do Apolo – Porque não vamos para Bowen Island? Passar o final de semana lá para relaxarmos e comemorarmos essa vitória – ela sugeriu, nos olhando.
Concordamos com a ideia então subimos para os nossos respectivos quartos a fim de podermos arrumar nossas coisas. Enquanto Theodora e Apolo terminavam de colocar algumas peças de roupas em uma mala, aproveitei para ligar para nossas famílias e amigos, incluindo o chefe dos médicos, e os informei sobre o resultado da audiência.
Todos nos felicitaram, desejando coisas boas para nossa família, e o meu chefe após eu informá-lo sobre estarmos indo para a nossa casa de praia para passarmos o sábado e o domingo, o mesmo me disse que ficaria de plantão no hospital naquele final de semana e que só me chamaria se realmente fosse de extrema urgência.
O agradeci e voltei a ajudar o pessoal, descendo com o Apolo para pegarmos comida na nossa dispensa. Depois de quarenta minutos, com a casa trancada e com todos estarmos dentro do meu carro, saímos finalmente rumo à Bowen Island.