A Casa de Bonecas

By BlackChesire

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Em uma casa construída com mentiras, onde todas as palavras e reações são falsas, você deve saber reconhecer... More

Epígrafe
Prólogo
Cap. 1
Cap. 2
Cap. 3
Cap. 4
Cap. 5
Cap. 6
Cap. 7
Cap. 8
Cap. 9
Recado da Autora I
Cap. 10
Cap. 11
Cap. 12
Cap. 13
Cap. 14
Cap. 15
Cap. 16 - Um Pedido
Cap. 17
Cap. 18
Cap. 19
Cap. 20
Cap. 21
Cap. 22
Cap. 23
Cap. 24
Cap. 25
Recado da Autora II
Cap. 26
Cap. 27
Alerta de Gatilho
Cap. 29
Cap.30
Cap. 31
Recado da Autora III
Cap. 32
Cap. 33
Cap. 34
Capítulo 35 - Final
Epílogo: All I Want For Christmas - Especial de Natal
Agradecimentos
Booktrailers e mais umas coisinhas
20 Fatos Sobre "A Casa de Bonecas"
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Cap. 28

648 98 30
By BlackChesire

Então nós entramos e
Gravemente lemos as lápides
Todas estas pessoas, todas estas vidas
Onde estão agora?
Com amores, e ódios
E paixões iguais às minhas
Elas nasceram
E então viveram
E então morreram
Parece tão injusto
Me dá vontade de chorar

The Smiths – Cemetry Gates

◈◇◈

– Ok, não é tão assustador quanto eu pensava – murmurei enquanto eu e Henri andávamos lentamente por entre os túmulos do cemitério da cidade, quase que escondidos sob o gramado alto e malcuidado.

– O que? Você estava esperando encontrar vampiros e demônios andando por aí livremente? – Henri perguntou de uma forma nada séria e encolhi os ombros.

– É... Eu meio que tinha uma ideia bem errada sobre cemitérios já que nunca tinha estado em um antes – respondi meio envergonhada por este fato, afinal, que tipo de ser humano nunca foi em um enterro de pessoas próximas antes? – Claro que eu tenho alguns parentes mortos e tal, mas minha mãe nunca me deixou ir ao enterro ou velório deles, ela achava que seria uma experiência traumatizante para mim. Exceto no do meu pai.

– Como assim?

– Eu acabei não indo por vontade própria. Mesmo sendo só uma criança, acho que eu já tinha consciência de que não seria legal que a minha última memória dele fosse do seu corpo morto em um caixão, seria triste e esquisito, então eu só... não quis.

– Faz sentido. Mas... E o pai do seu irmão? O que houve? – Henri perguntou e soltei um suspiro cansado, sem querer lembrar daquele assunto novamente.

– Ele e minha mãe não se davam muito bem. Quero dizer, se amavam é claro, mas viviam brigando por coisas idiotas e isso acabava deixando as coisas meio turbulentas do tipo, eu e meu irmão trancados no quarto fingindo que nada estava acontecendo mesmo que estivéssemos a beira de um ataque de pânico enquanto minha mãe e Jack trocavam apelidinhos "carinhosos" na sala. Isso resultou em um divórcio que resultou na nossa mudança que consequentemente resultou no desaparecimento do meu irmão – expliquei e um longo período de um silêncio estranho se seguiu, somente os sons dos meus passos e dos de Henri ao meu lado ecoando pelo local vazio e parado. – Você acha mesmo que vamos encontrá-lo? – Perguntei receosa e novamente senti a mão de Henri se fechar sobre a minha como uma forma de dizer que sim e que ele estaria ali independente de qualquer coisa para me ajudar com aquilo.

– É claro Lis, e eu vou fazer... – na metade da frase eu já não conseguia mais ouvir absolutamente nada do que saía da boca de Henri, estava paralisada e completamente focada na figura à minha frente que corria por entre os túmulos como se aquele fosse um local com o qual já estivesse acostumada.

– Ah meu Deus... – eu murmurei em um misto de espanto e desespero, agarrando o braço de Henri e fazendo-o voltar-se para onde eu olhava fixamente com uma expressão de "qual é a loucura da vez?"

– Lis, o que foi? – Ele perguntou enquanto eu apenas tentava acalmar minha respiração para não acabar surtando mais uma vez.

– Jura que você não tá vendo? – Eu disse incrédula e o silêncio de Henri foi o suficiente para que eu soubesse que não, ele não estava, e provavelmente achava que eu estava delirando mais uma vez. – Abelle...

Uou, o quê?!

– Precisamos ir até lá – eu disse quase que num impulso e Henri segurou meus ombros, virando-me em sua direção.

– Ficou maluca? Essa não é a garotinha que tá assombrando a sua casa e que muito provavelmente é a responsável pelo sumiço do seu irmão?

– Eu quero muito acreditar que não, por isso eu realmente preciso ir até lá – respondi e, sem dar tempo para mais algum empecilho que Henri poderia querer colocar entre mim e Abelle, corri para onde a garotinha loira brincava com algumas flores, aparentemente falando sozinha.

Quando estava a somente alguns centímetros da menina, travei, sem saber o que fazer. Eu deveria apenas abordá-la e perguntar sobre tudo como se fosse a coisa mais normal do mundo? Bom, eu não sabia se tinha coragem o suficiente para isso – na verdade eu duvidava muito que tivesse –, então apenas me aproximei da forma mais lenta e discreta possível, sentindo que meu coração poderia saltar pela boca a qualquer momento.

Porcaria, Marliss. Deveria ter ficado na sua e apenas procurado pelo seu irmão como qualquer pessoa normal, mas não, vamos ir até um espírito que já morreu a séculos para encher ele de perguntas, nada melhor, não é mesmo.

Ah cacetada, era só o que me faltava, eu a beira de um ataque e meu subconsciente me importunando com coisas óbvias.

– Você veio atrás de respostas, não é? – A garotinha disse tão repentinamente que dei um pulo para trás com o susto. – Ele não está aqui, nenhum deles está, você precisa voltar.

– E-eu... Queria saber mais...

– Quer saber mais sobre o que aconteceu? Tudo bem, isso não me surpreende – ela disse baixinho em um tom suave, nada parecido com a Abelle agoniada e assustada com a qual eu me encontrara em pesadelos e visões. – Viens, vou te mostrar algo.

Apesar dos passos lentos, Abelle parecia saber muito bem para onde estava indo, então apenas a segui, ignorando o fato de as minhas pernas estarem moles e trêmulas feito gelatina.

– Você sabe... sabe onde eles estão? – Perguntei receosa, imaginando que não fosse receber resposta alguma, mas Abelle suspirou e meneou a cabeça.

Je n'aime pas traiter avec ça... – ela murmurou como se estivesse falando sozinha e suspirou demoradamente outra vez antes de responder. – Sim, você verá.

Após mais alguns minutos lentos e silenciosos de caminhada, Abelle parou em frente a uma lápide específica, abaixando a cabeça como se estivesse triste ou incomodada, e levando as duas mãos róseas de encontro ao peito.

– Minha mama e meu papa estão aqui, eu deveria estar com eles mas... Papa me escondeu junto aos outros – ela disse com a voz carregada e rouca, ajoelhando-se em frente à enorme pedra de mármore onde estavam gravados os nomes e datas:

"Abelle Rose Le'Clair - ✩ 13/04/1866 - ✟ 24/12/1875

Evelyn Rose Le'Clair - ✩ 02/07/1845 - ✟ 13/04/1866

Victor Le'Clair - ✩ 30/12/1836 - ✟ 25/12/1875"

– Isto é...? – Perguntei e Abelle apenas balançou a cabeça afirmativamente.

– Ou pelo menos deveria ser, mas nunca encontraram o meu corpo, somente o de papa da minha linda mama, mas você vai encontrar, assim como o seu irmão e os corpos de todas as crianças também – ela disse e quando abri a boca para fazer mais perguntas, a menina gesticulou para que eu me abaixasse ao seu lado. – Não posso te mostrar nada sem que você consinta, então me responda, você quer ver?

– E-eu... eu não sei – sussurrei mordiscando o lábio inferior, tensa e em dúvida.

Todas as visões que Abelle me mostrara haviam sido assustadoras e tinham apenas piorado a situação, me deixando em pânico ao invés de me fazer entender melhor o que se passava. Eu tinha medo de que o que ela iria me mostrar desta vez fosse pior do que tudo que eu já havia visto desde que eu agora sabia sobre as bonecas humanas de Victor.

Olhei para o lado esperando que Abelle me incentivasse ou pelo menos desse um palpite sobre o que fazer, mas ela apenas continuava com a cabeça baixa, os cachos loiros cobrindo o rosto, enquanto passava os dedinhos gordos e rosados pelo nome de sua mãe.

Respirei fundo e coloquei minha mão por cima da sua, assustando-me de início por me lembrar que se tratava de um espírito mas que ainda assim eu podia sentí-la, como se fosse um ser humano normal, vivo e sólido. Me afastei lentamente e tentei tirar aquilo da cabeça, também focando o olhar no túmulo da família Le'Clair.

– Eu quero fazer isso – eu disse baixinho, hesitante, e pude ver Abelle se agitar um pouco depois de tanto tempo imóvel e concentrada nos nomes gravados no mámore à nossa frente. – Quero saber o que aconteceu, quero poder ajudar você e todas as outras crianças. Quero acabar com esse pesadelo de uma vez, então ninguém nunca mais vai precisar se machucar.

Não houve resposta alguma por parte da menina e por um momento cheguei a pensar que ela havia me ignorado ou apenas desistido da ideia, pelo menos até vê-la se voltar para mim e levantar o rosto, mostrando os dois buracos negros que agora tomavam conta de seus olhos.

Me afastei com o susto em um gesto quase automático, engolindo em seco e sentindo minha pele gelar.

– Não tenha medo, eu... Eu já tive olhos lindos, assim como os seus – ela disse com certo pesar, o que fez com que eu me sentisse horrível pela minha reação. – Isso costumava me deixar triste, mas não me importo mais, eu só... eu só queria poder descansar.

– Sinto muito – respondi sentindo meu coração pesar, eu nem conseguia imaginar o tanto que aquela garotinha deveria ter sofrido nas mãos do pai enquanto estava viva e o tanto que ainda sofria mesmo depois de morta.

Ela apenas meneou a cabeça e pousou os dedos sobre as minhas têmporas, pressionando-as cada vez mais forte. No início era somente uma pressão comum e suportável, mas foi ficando cada vez pior, fazendo minha visão escurecer e minha cabeça doer como se recebesse marteladas.

Cerrei os olhos e gritei com a dor que parecia apenas aumentar a cada segundo. Fechei as mãos em volta dos braços de Abelle, tentando afastá-los completamente em vão, pois começava a ficar sem forças e cada vez mais tonta.

– Não... – murmurei quando Abelle finalmente me soltou e meu corpo fraco caiu na grama do cemitério.

Eu queria levantar, mas mal conseguia abrir os olhos e o chão parecia girar abaixo de mim enquanto eu me sentia cada vez mais distante da realidade.

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