A Casa de Bonecas

By BlackChesire

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Em uma casa construída com mentiras, onde todas as palavras e reações são falsas, você deve saber reconhecer... More

Epígrafe
Prólogo
Cap. 1
Cap. 2
Cap. 3
Cap. 4
Cap. 5
Cap. 6
Cap. 7
Cap. 8
Cap. 9
Recado da Autora I
Cap. 10
Cap. 11
Cap. 12
Cap. 13
Cap. 14
Cap. 15
Cap. 16 - Um Pedido
Cap. 17
Cap. 18
Cap. 19
Cap. 20
Cap. 21
Cap. 22
Cap. 23
Cap. 24
Cap. 25
Recado da Autora II
Cap. 26
Cap. 28
Alerta de Gatilho
Cap. 29
Cap.30
Cap. 31
Recado da Autora III
Cap. 32
Cap. 33
Cap. 34
Capítulo 35 - Final
Epílogo: All I Want For Christmas - Especial de Natal
Agradecimentos
Booktrailers e mais umas coisinhas
20 Fatos Sobre "A Casa de Bonecas"
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Cap. 27

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By BlackChesire

Eu nunca vou te deixar no escuro
Eu te dei o centro do meu coração
O único que brilha uma luz em mim
Se você sair para algum lugar
Não importa o que você faça eu estarei com você
Como um navio afundando lá fora
Vou chegar até você antes que eu afunde também

Seafret – Sinking Ship

◈◇◈

O dia parecia mais frio e mórbido do que os outros e eu não sabia ao certo se era pelo céu nublado e pelo vento gelado que fazia meu rosto ficar dormente ou se era pela ausência de Eliel andando ao meu lado.

Coloquei as mãos nos bolsos do casaco e abaixei os olhos para o asfalto, mais uma vez tentando plantar em minha cabeça a ideia de que meu irmão estava bem. Idiota, eu sabia que não me convenceria com tanta facilidade.

Henri não havia dito uma palavra sequer desde que deixamos a casa, parecia ainda chocado com a informação de que o pai de Abelle matava crianças friamente para transformá-las em meros brinquedos. Eu não sentia um pingo de surpresa, alguma parte minha já esperava por isso – talvez a parte que, há somente alguns dias, eu havia percebido que estava conectada com Abelle de alguma forma.

Eu sentia que no fundo nós duas éramos iguais, mesmo sem ainda conhecê-la completamente ou saber com total certeza o que realmente havia acontecido à ela.

Sim, era o espírito de uma menininha que há sabe-se lá quantos anos estava presa naquela casa, uma menininha que todos que moraram lá tiveram medo quando deveriam mesmo era ter tido pena. Mas eu não podia jugar, eu mesma chegara a pensar que Abelle era quem queria causar mal, mas tinha algo mais, Victor estava lá, pronto para...

Para fazer o quê?

Era isso o que ainda me intrigava. O que ele queria com as pessoas que iam morar naquela casa? Ele já estava morto há décadas – talvez há séculos – e já deveria ter sossegado pelo tanto de crianças que havia assassinado.

Meu pulmão de repente ficou pesado e novamente senti vontade de chorar. Deus, eram crianças! Como alguém poderia fazer uma coisa daquelas sem sentir remorso algum? Com a mais pura frieza? E tratar a filha da forma que ele tratava... aquele homem definitivamente não era normal.

Respirei fundo e voltei ao mundo real, vendo que Henri já estava mais à frente conversando com um garoto que não parecia muito mais velho que o meu irmão. O garoto assentiu para ele e apontou para algum lugar ao longe.

Quando Henri se voltou à mim um sorriso esperançoso tomava seu rosto. Era mesmo o que eu estava pensando?

– Lis! Ele viu o seu irmão! Ontem, quando estava escurecendo...

– Ah, pelo amor dos deuses do sorvete, só vamos logo!

◈◇◈

Henri tentava me consolar mais uma vez enquanto eu, novamente, incorporava o bebê chorão e soluçava feito uma criança perdida, sentada na calçada com o rosto caído entre os joelhos.

– Calma Lis, a gente vai encontrar ele – Henri disse passando a mão pelas minhas costas e parando para me dar um abraço.

Como Henri? Como?! Pelo amor de Deus! Eu nunca vou encontrar meu irmão e minha mãe vai me matar – eu disse e tentei respirar fundo. – Não, claro que não, eu mesma vou me matar. Eu sou tão burra e idiota, nunca deveria ter deixado ele sozinho, isso é tudo culpa minha...

– Lis! – Henri gritou me chacoalhando pelos ombros e me dando um susto enorme devido ao fato de que eu nunca havia o visto nervoso ou irritado, aquele Henri era novidade para mim. – Eu sei que não é fácil, acredite, mas você se desesperar não vai ajudar em nada, você quer ter controle sobre a situação e, me desculpe, mas nunca vai conseguir se nunca aprender a se manter calma. Olha para mim – ele disse segurando meu rosto com as mãos e praticamente me obrigando a focar em seus olhos. – Respira devagar e com calma, você vai acabar tendo um troço. Fecha os olhos e foca nas batidas do seu coração que eu sei que deve estar mais rápido do que quando você corre.

Fiz o que ele instruiu e segurei as lágrimas o máximo que podia. Não era fácil, com certeza não, mas eu sabia que Henri estava mais do que certo: eu jamais conseguiria encontrar meu irmão e dar um jeito naquela situação toda se me desesperasse a cada coisinha que dava errado ao longo do caminho.

– Nós vamos encontrar o seu irmão, tudo bem? Saiba que estou com você e não vou te deixar nem por um segundo, eu prometo que vou te ajudar a fazer tudo certo – ele disse com uma calma contagiante e secou uma lágrima solitária que ainda escorria pelo meu rosto com o polegar.

Ficamos em silêncio por mais alguns segundos até eu abrir os olhos e ele apertar suas mãos em volta das minhas.

– Está melhor? – Ele perguntou e eu assenti.

E tinha como não estar depois daquilo? Henri definitivamente sabia como tranquilizar alguém, chegava a ser estranho.

– Desculpe ter gritado com você, mas se eu não tivesse feito isso você nunca pararia de falar para prestar atenção em mim.

– Como...?

– Sabe o meu irmão? Bom, ele sofria... Não, ele sofre com ataques de pânico e muitas vezes eu precisava lidar com ele sozinho quando estávamos na escola ou fazendo algo fora de casa.

– Eu sinto muito – murmurei abaixando os olhos para meus pés inquietos, sem saber o que falar.

– Tudo bem, muita gente passa por isso e o Erick... Ele vai melhorar, assim como você vai encontrar o Eliel – Henri disse com um sorriso que teria feito meu coração derreter se eu não estivesse focada demais em outras coisas. Ele se levantou e me ajudou a fazer o mesmo, me puxando pela mão. – Vamos ver a minha avó.

– Isso vai me ajudar em algo?

– No momento ela está sendo a nossa última opção.

◈◇◈

Dona Emy parecia já saber de alguma forma que estávamos indo para lá, pois assim que chegamos ela já estava parada à frente do portão, com Biscoito sentado ao seu lado balançando seu rabo de uma forma quase frenética. Ele estava se preparando para se levantar e correr em nossa direção quando Dona Emy lhe lançou um olhar de repreensão que o animal pareceu entender muito bem, pois voltou a se acalmar e abaixou a cabeça.

– Vovó, nós...

– Ah querida, eu sinto muito – ela disse me abraçando de repente mas apenas aceitei e a abracei de volta, sabendo que eu precisava daquilo. – Lira me contou o que aconteceu.

Ah, então é isso? Pensei, entendendo o que Henri havia dito sobre sua avó ser nossa última opção.

– Então você sabe sobre... sobre... – eu murmurei sem conseguir terminar a frase pois uma pedra de gelo pareceu mais uma vez se prender em minha garganta.

– Sim, sim. Mas está frio aqui fora, não? Vamos entrar para poder falar sobre isso com calma – ela disse virando-se para dentro da casa e eu e a Henri a seguimos sem dizer mais uma palavra.

Ele apenas me encarou e encolheu os ombros como se dissesse "eu te falei, não falei?".

Assim que entramos na sala apenas me sentei no sofá e aguardei enquanto Dona Emy ia fazer algo na cozinha, como de costume. Henri sentou ao meu lado e apertou minha mão, como uma forma silenciosa de dizer que tudo ficaria bem, então apenas comprimi os lábios e apoiei minha cabeça em seu ombro.

Mesmo que o que eu sentia não fosse recíproco, já era mais que perfeito tê-lo como melhor amigo, e ter alguém para me aturar e me ajudar a manter a cabeça no lugar em momentos como aquele fazia tudo parecer um pouco melhor.

Me recompus assim que Dona Emy voltou à sala, carregando duas xícaras em suas mãos enrugadas e entregando uma a mim e outra à Henri. Senti cheiro de café e parei por um momento antes de levar a xícara à boca, me sentindo aliviada por estar misturado com leite.

– Olhe meu bem, sei que deve estar preocupada, qualquer um estaria se estivesse em seu lugar, mas...

– Eu ainda posso salvá-lo – eu disse sem tirar os olhos do chão. – Eu conversei com... com alguém que pode me ajudar, ela disse que...

– Os corpos, eu sei – Dona Emy disse e eu mal me espantei, já esperava que ela soubesse de tudo, afinal, ela sempre parecia saber. – Eu conversei com Lira, ela me disse muita coisa, só não me disse onde podem estar, eu sinto muito.

– O cemitério não seria a primeira opção? – Henri perguntou e eu quase ri do quão absurdo aquilo parecia ser diante do monte de loucuras que estavam envolvidas naquela história.

– Nenhuma criança jamais foi enterrada – a senhora disse e me voltei à ela na mesma hora.

– Espere, o quê?

– Você mora na casa das bonecas, não é? Eu deveria ter notado antes – ela disse como se se sentisse culpada e respirou fundo antes de continuar. – Desde que eu vim morar aqui eu escuto histórias sobre aquela casa, coisas ruins sempre acontecem lá. Na década de sessenta uma moça foi acusada de matar seu próprio marido e abortar seu bebê porque não havia mais ninguém na casa mas a questão é que não haviam quaisquer provas contra ela, era como se outra pessoa...

– É. Eu entendi, alguém que ninguém podia ver e que era quase como se não existisse mas ainda assim o responsável por tudo – completei e Dona Emy consentiu.

– Em oitenta outra família foi morar por lá, o filho mais novo desapareceu e o mais velho simplesmente surtou, dizendo coisas sem sentido sobre bonecas e corpos de crianças, inclusive do irmão, que nunca foi encontrado apesar de ter sido dado como morto depois de anos de busca.

Senti um peso enorme em minhas costas e um aperto desesperador no peito quando me dei conta de aquele poderia ser o meu futuro. Sequei as mãos úmidas de suor nos jeans e respirei fundo, tentando ao máximo não me apavorar novamente.

Você vai encontrá-lo, você vai encontrá-lo, você vai encontrá-lo... Vai dar tudo certo... repeti para mim mesma incontáveis vezes como um mantra ainda na tentativa de não surtar, quando Henri colocou a mão sobre o meu ombro e me chamou, fazendo-me voltar os olhos arregalados para o seu rosto calmo.

– Se acalma, você tá pirando de novo – ele disse e eu apenas concordei, engolindo a vontade de chorar que me perturbava de novo.

– Desculpe, eu...

– Você vai encontrá-lo, você já fez a escolha certa – Dona Emy disse com tanta certeza e convicção que uma expressão confusa tomou meu rosto mesmo que contra a minha vontade. – Eu vi na sua mão. Você escolheu ajudá-la, não é? Ao invés de fugir como os outros, você ficou e está tentando. Por ela.

Os dois caminhos. Eu me lembrava da primeira vez em que viera na casa de Dona Emy, ela havia lido minha mão e dito que eu havia duas escolhas, cada uma que levaria à um fim diferente.

Eu realmente já havia feito a escolha certa? Céus, eu esperava mesmo que sim.

– Ele descansa com os outros – Dona Emy disse de repente, ganhando minha atenção mais uma vez. – As informações já foram dadas onde você menos espera. Foi o que Lira me disse, eu não entendo mas ela parecia certa de que você entenderia.

Ah, não, eu não entendia nem um pouco, mas teria certeza de entender o quanto antes.

– Volto a votar no cemitério – Henri disse e quase revirei os olhos. – Onde os outros descansam. Com certeza não é um quarto, então... – Abri a boca para contestar mas parei assim que ele ergueu as sobrancelhas com teimosia. – Tem uma ideia melhor?

Eu rezei mentalmente para que alguma iluminasse minha mente naquele momento, porque o cemitério era de longe o lugar que eu menos queria visitar naquele momento, e só de me imaginar lá já sentia calafrios percorrendo o meu corpo.

Isso não é por você e nem por Abelle, é por Eliel, minha voz da consciência fez o favor de me lembrar e respirei fundo, tomando mais um gole do café com leite que ainda segurava.

– Eu quero estar fora daquele lugar antes das seis, por favor – disse baixinho e Henri assentiu, mais uma vez segurando minha mão para mostrar que estava ali.

Ah, e como eu queria que meu irmão também estivesse.

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