The Real Side

By hiddles-evans

258K 16.9K 10.4K

Segredos e mentiras fazem parte do nosso dia-a-dia. Em alguns momentos, simplesmente mentir ou ocultar fatos... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36¹
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39

Capítulo 40

6.6K 248 89
By hiddles-evans

Avril sorriu para Bruce assim que ele lhe entregou uma larga caneca com chá quente, se encolhendo ainda mais em sua cadeira assim que experimentou a bebida, aproveitando a falsa sensação de conforto e segurança que o líquido causara em seu corpo. Todos os Vingadores estavam espalhados pela sala de reunião, alguns cuidando de ferimentos – Natasha e Clint – e outros apenas ocasionalmente assistindo as imagens da cela de Valerik. Mesmo com a coleira ainda em seu pescoço, suas mãos algemadas à mesa estavam protegidas por uma grossa luva de metal, para garantir que não poderia tocar alguém com tanta facilidade. A mulher olhava com tédio para as paredes de vidro, à espera de seu interrogador, mas aquela decisão não tinha sido introduzida na conversa ainda.

Alguns tópicos ainda não estavam completamente claros para todos.

- Me diz mais uma vez, quais são as habilidades dela? – pediu Clint, gemendo baixo quando Natasha perfurou sua pele mais uma vez enquanto fazia a sutura em seu supercílio. Avril revirou os olhos, colocando sua caneca sobre a mesa.

- As mesmas que as minhas, mais manipulação mental.

O arqueiro assentiu de leve, dizendo que havia entendido, apenas para segundos depois voltar a erguer a mão com uma dúvida, o que fez com que Avril batesse a cabeça na mesa em desespero.

- Me explica de novo como ela pode conseguir manipular a mente de alguém.

- Magia – resmungou ela irritada, olhando feio para o irmão quando ele começou a rir descrente do outro lado da sala, parado próximo à porta ao lado de Steve – Que foi agora?

- Sério mesmo? Uma cientista acreditando em magia? – zombou Petr – Pensei que você fosse cética, ou algo do tipo.

- Tenho permissão para chamar sua mãe de bruxa? – se intrometeu Thor, tentando aliviar o clima pesado, até conseguindo arrancar um sorriso da mulher enquanto ela concordava.

- Magia e ciência são a mesma coisa, a diferença é que chamamos de magia algo que não sabemos explicar – esclareceu ela, buscando apoio do asgardiano, que assentiu contente com a forma que ela estava abordando o assunto – Eu não faço ideia de como ela pode fazer isso, então vamos poupar a dor de cabeça e chamar de magia no momento.

- Nenhuma suposição? – incentivou Natasha, terminando de colar uma tira de esparadrapo na testa do arqueiro para que a gaze não escapasse do lugar, voltando sua atenção em seguida para guardar todo o material que utilizara.

- Houve uma transferência de energia – lembrou Petr, buscando a confirmação com a irmã – Você não sentiu?

- Comunicação entre as células? Acha que ela consegue fazer isso com células de outras pessoas? – arriscou ela, mordendo as unhas enquanto tentava montar uma teoria aceitável. Aquela talvez até que desse para engolir, se forçasse bastante – Chega ao cérebro pelo sistema nervoso. Hackeia a mente da pessoa.

- Não me parece mais tanta magia assim... – alfinetou o russo, revirando os olhos quando a irmã devolveu um "mas não faz soar menos bizarro".

- Acha que vocês vão conseguir fazer aquilo um dia? – perguntou Bruce, fazendo com que um silêncio desconfortável se instalasse na sala – Avril, você consegue concentrar energia quando quer. Nos olhos, veias...

- Obrigada pela paranoia gratuita que você acabou de me dar, doc – agradeceu ela cínica, o leve desespero claro em seus olhos – Eu realmente precisava de mais.

- Alguém vai ter que interrogar a mulher – comentou Natasha, tomando seu lugar à mesa enquanto Bruce murmurava suas desculpas, o silêncio retornando em seguida, todos se revezando hora encarando um dos irmãos, que negaram em sincronia.

- Jokenpo? – sugeriu Petr, deixando os ombros caírem em cansaço e já colocando seu punho fechado sobre a palma aberta.

- Não! Nós não p... – retrucou Avril com urgência, fazendo uma pausa para respirar fundo quando percebeu que estava mais alterada do que devia transparecer – Não dá para ser um de nós. Ela tem vantagem sobre nós.

- Ela não vai conseguir usar os poderes, por isso a coleira e as luvas – lembrou Tony, o olhar curioso em direção à filha. Ela estava escondendo alguma coisa, e no momento ele nem sabia se queria saber o que era. Já havia recebido informação demais na última hora, e, se Avril tinha um motivo para estar ocultando algo, queria acreditar que ela tinha um bom motivo para isso.

- Ela quis dizer que vocês podem obrigá-la a parar os poderes, mas não podem parar a mente dela – explicou Petr, que no fundo concordava com o ponto da irmã. Eles podiam ser os mais qualificados para o interrogatório, mas isso não queria dizer que eles fossem os mais indicados – Esse é o maior problema, ela saber como nos manipular.

- Pensei que vocês fossem mais poderosos do que ela – alfinetou Clint, não conseguindo a reação que esperava da dupla. Pensou que eles ficariam ofendidos com o comentário, mas acabou que pareciam conformados, algo que não condizia com a personalidade dos dois.

- Sim, mas o que é determinante numa luta: força ou técnica? Nós somos bons, mas ela tem o que, trinta anos a mais de experiência do que nós? – lembrou Avril, seu olhar baixo não abandonando as mãos que descansavam sobre suas pernas – Ela entrou pela porta da frente, sabia o que ia acontecer, está contando com um de nós aparecendo lá.

- Ela está dizendo isso porque está assustada, mas ela tem razão – Natasha intercedeu, ajustando a frequência do comunicador em seu ouvido e pegando o tablet para instruções que estava na ponta da mesa – É melhor eu ir.

Como ninguém se opôs a ideia, a russa logo deixou a sala e rumou para o elevador, se preparando mentalmente para o que esperava ser um dos interrogatórios mais exaustivos de toda sua carreira. Durante o treinamento de Avril, em alguns momentos elas ficaram naquele mesmo cenário, e se lembrava muito bem de como era difícil conseguir arrancar informações da garota, principalmente com ela adquirindo mais tato com o passar dos anos. Agora ficava a dúvida de quanto tato Valerik teria, já que, como seus próprios filhos fizeram questão de frisar, ela tinha muito mais experiência do que eles. Dizer que precisava de toda a concentração que tinha ainda era pouco.

- Isso vai demorar, melhor irmos para um lugar mais confortável – sugeriu Steve, segundos depois que a ex-espiã deixou a sala, com todos concordando sem lhe dar muita atenção, já que estavam ocupados demais encarando a imagem da prisioneira na tela ao fundo. Aos poucos eles foram se dispersando, Petr até se adiantou para chamar a irmã, que continuara sentada em seu canto, mas parou quando o Capitão sinalizou para que não o fizesse. Sabia que tinha algo incomodando a mulher, e temia que seria pior se deixasse para tocar no assunto quando fosse dormir.

Avril apenas ergueu o olhar quando percebeu o soldado sentando ao seu lado, praticamente implorando por sua atenção. Quando ele girou sua cadeira e passou um braço por de trás de seus ombros, a mulher não hesitou em passar para seu colo, descansando a cabeça em seu peito enquanto ele afagava seus cabelos.

- Você não consegue mais dizer, não é? Se eles estão mentindo ou não – perguntou ele em um sussurro, suspirando baixo quando ela assentiu – Outro ponto cego? Você disse que Krigor nunca teve certeza, mas...

- Eu perdi a imparcialidade – Avril o cortou, impedindo que ele continuasse aquele raciocínio errado. Sua vida seria muito mais fácil se apenas se tratasse de outro ponto cego, aquilo era bem mais crítico – Vi o que eu queria ver, e isso poderia ter nos custado muito caro. Talvez não tivesse uma forma de nos prepararmos para ela, mas pelo menos não teríamos perdido tempo estando surpresos.

- Não é sua culpa.

- Você sabe muito bem que é. Eu fiz um mal julgamento, e acabou nessa situação – Avril discordou, forçando suas palmas contra os ombros do soldado para se afastar, forçando um sorriso que sabia que não o convenceria – Mais um erro meu para lista.

Antes que ele pudesse insistir em inocentá-la, Avril se pôs de pé, dizendo que tomaria um banho rápido para tentar pôr seus pensamentos em ordem antes de subir para se juntar à equipe e assistir o interrogatório. Steve gostara da ideia, principalmente por ser uma boa oportunidade de trocar a camisa que rasgara no combate, e uma ducha quente também não faria mal nenhum para relaxar os músculos tensos. Por ter deixado a mulher usar o banheiro primeiro, ele fora o último a subir da equipe, o interrogatório já em andamento quando chegara, as imagens da cela de Valerik mostradas na ampla TV.

- Krigor sabia desde o começo que eu não tinha sido eliminada. Fingir que eu tinha sido foi uma forma de me torturar. Ele sabia que Avril estava fora da jogada, que nenhum de nós ia conseguir recuperá-la uma vez que ela estava com os Stark, sabia que Petr era o próximo que eu tentaria resgatar... – Valerik fez uma pausa longe, respirando fundo antes de olhar brevemente para a câmera que registrava as imagens e voltando olhar para sua interrogadora – Krigor sempre teve o garoto em suas mãos, pronto para machucá-lo caso eu ousasse fazer um movimento suspeito. Fazer com que os dois acreditassem que eu estava morta era apenas mais um jeito de controlá-los.

- O que vocês estão fazendo? – perguntou Steve, assim que chegou perto o suficiente para avistar o trio que dividia o sofá lateral. Avril estava no meio dos dois homens, com a cabeça descansando no ombro de Tony e os dedos da mão direita entrelaçados com os de Petr.

- É nossa última alternativa... Se juntar e desejar junto a mesma coisa do fundo do coração – explicou o russo, com um vestígio de sarcasmo em sua voz – Quem sabe a gente consiga por quantidade, já que qualidade aqui está meio difícil.

- E o que estão desejando? – questionou o soldado, parando com as mãos na cintura próximos a eles, decidindo entrar na brincadeira.

- Que algum de nós ganhe um novo poder – explicou Avril, só então tirando os olhos da tela para se virar para ele – Sabe, para voltarmos para a realidade onde ela continua morta.

- E agora nós pegamos o cara – concluiu Natasha – Você pode andar livremente.

- Aparentemente ele andou avisando os coleguinhas de que eu ainda estava viva, e que seria muito útil em certos experimentos que eles estão fazendo.

- Strucker – foi o palpite da ruiva, sua desconfiança clara mesmo em uma imagem tão distante.

- Eles acreditam que eu vá saber lidar com o tal cetro melhor do que eles.

- Ela está mentindo? – perguntou Avril para o irmão. O que o cientista alemão poderia ter contra ela? – Parece que ela está mentindo.

- É difícil dizer dessa distância, Avril. Sossega – resmungou o homem, mas ele estava tão incomodado quanto sua irmã caçula.

- Você veio atrás de proteção?

- Aprendi do pior jeito que não é uma boa ideia subestimar a HYDRA.

Natasha esperou por poucos segundos alguma notificação piscar em sua tela com mais algum tema que deveria abordar. Sabia que já tinha esgotado todos os temas essenciais, e que não era aconselhável dar muita brecha para a prisioneira, ou ela poderia arrumar um jeito de virar a situação a seu favor. O fato de Valerik parecer estar absolutamente confortável com a situação fazia com que seus instintos apitassem o tempo todo. Ela tinha um plano, o problema era como eles o descobririam sem que fosse o vendo em ação.

- Minha pergunta é bem simples – anunciou Natasha assim que retornou para a sala, nem se dando ao trabalho de se sentar primeiro – Ela está mentindo ou não?

- Só que a resposta é que não é simples, Romanoff – suspirou Petr, afundando uns bons centímetros no sofá. Já havia repetido tantas vezes aquela explicação nas últimas horas que até considerava gravar a resposta e deixar que J.A.R.V.I.S. assumisse, embora suspeitasse que até o sistema logo se irritaria por ter que repeti-la incontáveis vezes – Ela é habilidosa, mais do que eu e Avril. Ela sabe como manipular as respostas para soar como verdade.

- A pergunta não é essa... – Avril interrompeu o que estava prestes a se tornar uma discussão entre dois, assumindo pela postura mais irritadiça de Natasha – O que ela ganha dizendo essas coisas? O que ela ganha vindo até aqui?

- Desenvolva – pediu Bruce de imediato, contente por enfim terem desistindo de bater na mesma tecla e talvez estarem agora no caminho certo. Não dava para tudo dar em um beco sem saída, em algum lugar tinha que ter uma solução.

- Ela passou os últimos vinte e cinco anos se fingindo de morta, afastada da HYDRA. Nada do que ela disse é novidade ou algo que possa nos ajudar. Mesmo assim ela veio direto para nós, mal lutou... – Avril parou para olhar feio para o arqueiro quando ele contestou o "mal lutou". A mulher não precisava ter parado para conversar com eles durante a invasão, ela simplesmente não queria lutar – Qual a motivação? Ela poderia ter continuado vivendo a vida patética dela.

- Ela sabe que estamos nos perguntando isso, e só piora a situação. Ela não está dois degraus acima, é a desgraça da escadaria toda – acrescentou Petr pensativo – Ela sabe todas as variantes, não teria vindo aqui desconhecendo alguma possibilidade.

- Ela disse q... – começou Bruce, apenas para ser brutalmente interrompido pela caçula do grupo.

- Não, escolha errada – Avril avisou. Aquele jogo não era deles, era de Valerik. Se jogassem da forma que ela queria, nunca iriam ganhar – As palavras dela não são confiáveis. Ela sabe que não vamos acreditar em nada que ela d...

Valerik sabia que nenhum dos dois acreditaria em uma palavra que saísse de sua boca, sabia que precisaria de um outro meio para conseguir a atenção de seus filhos, e Avril havia sido a escolhida, mesmo agora percebendo que queria continuar na ignorância. Não iria sair coisa boa daquilo, e tudo que ela mais queria era distância.

- Filha da p... – ofegou ela, sem perceber que se virara para seu irmão, que ficou assustado ao ver a mulher com os olhos marejados. Avril precisava de uma máquina do tempo, talvez dar uns três tapas na cara para que sua versão do passado desistisse de bancar a detetive.

- Avril... O que foi? – perguntou Pert com cuidado, desconfortável com a reação da irmã – O que você descobriu?

- Tem um caixa de madeira escura dentro do meu closet... No meu quarto, não do Steve – começou ela, tentando controlar sua respiração naturalmente. Tony ao fundo fez menção de se pronunciar, mas desistiu – Tem uma coisa lá dentro que acho que vamos precisar. Vai lá pegar, por favor.

- Para q...?

- Pete, por favor!

O homem ergueu as mãos em um movimento rápido, pedindo que ela se acalmasse, logo seguindo para o elevador para não perder tempo. Tony dera a entender que ia voltar a questioná-la, mas a mulher logo sinalizou para que esperasse. Petr ainda estava muito próximo, e, se suspeitasse de algo, colocaria tudo a perder.

- Avril... – começou Tony, ciente de que algo estava muito errado, principalmente quando viu a filha se pôr de pé e começar a andar de um lado para o outro – Por que você mandou ele buscar sua caixa de fotos?

- J.A.R.V.I.S., protocolo de segurança 3983 – Tony não reconheceu de imediato o comando que a mulher estava dando, e apenas ficou mais confuso quando entendeu o que ela pedia – Tranque o quarto assim que ele entrar.

- Avril...

- Shhh... eu preciso pensar...! – resmungou ela, levando ambas as mãos às têmporas e apertando a região, tentando restabelecer uma concentração que sabia ter escapado por entre seus dedos. Aquilo não era nada bom. A ideia principal era conseguir ter alguma vantagem sobre Valerik, não lhe dar uma – Droga, ela conseguiu.

Alguns questionamentos foram proferidos, mas nenhum chegou a conquistar sua atenção. Mentalmente, ela tentava esquematizar algum roteiro de perguntas, identificar pontos em que a mãe poderia se aproveitar para tirar vantagem, ou que não permitiria que fossem abordados. Mais do que nunca Avril precisava estudar todas as variantes. Não queria nem pensar no que poderia acontecer caso desse um passo errado, embora duvidasse que Valerik tivesse planos de catástrofe de nível mundial, mas temia pela sua sanidade.

- Interrompa a comunicação com a cela dela – pediu ela para J.A.R.V.I.S., tirando seu comunicador do ouvido e apertando alguns botões antes de o posicionar novamente, dando alguns passos para longe do grupo mesmo sem olhar para o chão – Se a situação sair de controle, eu ligo meu canal de novo. Ou grito, sei lá.

- Ow, espera... Você vai entrar lá? – indagou Steve com urgência, segurando seu braço antes que ela saísse de seu alcance – Você disse mais cedo que isso era uma péssima ideia.

- Tenho que admitir que ela é mais esperta do que eu pensava.

- E isso é motivo para você entrar lá? – retrucou o soldado, a mulher revirando os olhos diante de tanto sarcasmo em poucas palavras. Em um movimento rápido, Avril se livrou do aperto que ele fazia em seu braço, se afastando um passo antes que ele pudesse pensar em repetir o movimento.

- Ela conseguiu. Eu quero falar com ela – disse ela, olhando para cada membro da equipe mesmo sabendo que não encontraria apoio em nenhum deles – Ela veio aqui para conversar, e ela conseguiu minha atenção.

- Como? – questionou Clint. O arqueiro sabia muito bem que ela era capaz de perceber detalhes que o restante das pessoas sequer era capaz de notar, mas parecia ter algo a mais naquela história. Avril havia finalmente encontrado alguma informação importante que mudava sua percepção das coisas, só que sua postura não era confiante, e ela não estar se esforçando para disfarçar isso era apenas um indício de que aquilo não era uma boa ideia. Se não a conhecesse bem, Clint diria que ela estava assustada.

- É entre eu e ela – foi a resposta que Avril escolheu, que causou uma reação curiosa em Tony: ele começou a rir.

- Então ela volta dos mortos e dez minutos depois vocês já têm segredinhos mãe e filha? – disse ele com calma, mesmo que nada disso transparecesse em seus olhos. Tony estava possesso e agradecia não ter nada por perto que pudesse quebrar, ou faria um belo de um estrago. Toda a confusão da aparição repentina de Valerik já havia passado, e agora ele só sentia ódio, e até que estava fazendo um trabalho melhor do que esperava para se controlar. Normalmente quando alguém morre, as pessoas têm certa resistência para manter as memórias do que o falecido vez de ruim, acabam o elevando a um nível a que nunca fez por merecer. Lauren Smith nunca tivera esse problema, mesmo quando viva já era posta em um pedestal, algo em que ele não via problema nenhum. Só que as coisas mudaram no instante que ele foi obrigado – depois de muita relutância e gritaria – a aceitar que a perfeita Lauren não passava de uma cientista da HYDRA. Tony agora tinha dois nomes para dividir o ódio e a culpa por tudo de ruim que acontecera com sua filha, mas logo percebera que aquele sentimento apenas aumentara de proporção.

- Sim, e, como você pode ver, estou muito feliz com isso – grunhiu Avril, fuzilando o pai antes de voltar a caminhar para o elevador, sem ninguém mais se opondo – Vou ser o mais breve possível, prometo.

Steve a acompanhou com os olhos até as portas se fecharem, deixando todo o ar que seus pulmões armazenavam abandonar seu corpo de uma vez, buscando Tony no fundo da sala em seguida para o questionar se ia mesmo permitir que as duas ficassem no mesmo espaço sem supervisão, até respirando mais aliviado quando ele devolveu um descrente "o caramba que vou".

---

Valerik estava quase tirando um cochilo com a cabeça apoiada na mesa de metal quando ouviu sons discretos de alguém se aproximando, aos poucos seus sentidos cansados diminuindo a lista de possibilidades. Romanoff passara um bom tempo ali, e, além de duvidar que retornaria tão cedo, já estava acostumada com os sons que seu corpo produzia, então definitivamente não era ela. Os passos eram leves demais, o que também já tirava a parte não treinada dos Vingadores da lista, porém a presença era discreta demais, o calor que o corpo perdia para o ambiente bem menor do que o considerado ideal, o que diminuía as possibilidades para duas pessoas. Quando debatia se erguia a cabeça para descobrir de uma vez ou se tentava identificar pelo olfato, a pessoa se sentou na cadeira vaga do outro lado da mesa.

- Você acha que me conhece muito bem, não é? – a voz calma e baixa de sua filha chegou a seus ouvidos, a fazendo sorrir antes de se sentar direito. Ela estava irritada. A afirmativa que trouxera era verdadeira e parecia ser algum tipo de ofensa. Avril estava tentando mascarar, e até estava fazendo um bom trabalho, mas a percepção de Valerik a superava – Você entrou nesse prédio consciente de que eu não acreditaria em nada que você pudesse manipular, que não haveria nada que dissesse que fosse me fazer mudar de ideia, que eu só confiaria naquilo que está fora de sua zona de controle...

Na sala alguns andares acima, Tony quase enviou Steve e Thor para interromperem a cena durante aquela pausa, vendo ambas as mulheres esboçarem o mesmo sorriso. Satisfação estava expressa no rosto das duas, e, mesmo que não soubesse dizer o motivo, aquilo lhe causava uma sensação ruim. Se não soubesse melhor, poderia pensar que estavam tramando algo, o que era a interpretação mais errônea possível. Valerik na verdade estava surpresa. Sabia que a filha ainda não tinha terminado de explicar seus motivos por ter descido, mas pelo rumo daquela conversa, ela já sabia onde iria chegar.

- Irônico que você mesma está fora dessa zona – apontou a jovem – Sabia que só assim eu aceitaria ficar no mesmo ambiente que você mais uma vez.

- Você me superestima, Avril... Não esperava que você fosse concordar, talvez porque eu possa ter te subestimado – confessou a mulher, institivamente puxando as mãos para poder puxar sua cadeira para mais perto da mesa, bufando baixo quando o barulho do metal a lembrou que nada tiraria seus membros dali – Não imaginei que você fosse compreender tão rápido. Para perceber esse detalhe... É necessário um grau de atenção imenso, não pensei que você já tivesse.

- Há uma diferença essencial entre nós – continuou Avril, optando por ignorar a bajulação da mulher. Aquilo a deixava enojada, Valerik não tinha o menor direito de comentar suas habilidades quando ela a forçara a ser daquele jeito – A coleira em seu pescoço foi feita para mim, ela só se ativa quando detecta o uso de poderes. Só que os seus não funcionam como os meus. Eu posso ligar e desligar, mas você, assim como o Petr, não consegue. É ligado o tempo inteiro. Pelo menos as mais essenciais.

Avril quase riu ao notar a movimentação na sala, com alguns gritos que ela entendera como "então a coleira está sendo só um enfeite?!", embora não pudesse julgá-los por aquele pensamento também ter lhe ocorrido momentos antes, apenas para respirar aliviada ao perceber que não havia nada que Valerik poderia fazer fisicamente para a ameaçar. As palavras eram sua única arma, e felizmente Avril também tinha bastante munição.

- Você teve o topete de entrar nesse prédio usando o mínimo de habilidade possível, e eu não notei... Pelo menos até você começar a usar de verdade – Avril prosseguiu com suas teorias, repassando mentalmente a memória recente apenas para garantir que estava deixando algo passar – Eu te irritei, aí você teve que apelar para manter a imagem de durona. Eu te disse algumas verdades e você perdeu a linha. Mentirosos não gostam de ser desvendados, não é?

O sorriso da mulher se alargou quando Valerik respirou fundo, no mínimo mal-humorada. Ela não queria dar o gostinho para a filha de repetir o que fizera mais cedo, iria se acalmar sem ajuda de suas habilidades. Avril já não precisava mais de provas, sabia que estava certa em suas colocações, só que também não precisava deixar que ela se sentisse ainda mais confiante por saber que conseguia a tirar do sério. Talvez agora ela não julgasse mais tanto Tony, conviver com aquela garota não deveria ser tão fácil como uma vez imaginara.

- Eu não sei dizer se é vantagem ou desvantagem, já que eu prefiro poder sentir a dor para me colocar de volta no meu lugar, mas talvez seja porque eu esteja um pouco perto demais na insanidade... Bom ponto para falar com minha psicóloga depois, ela vai adorar esse tópico – Avril fez uma breve pausa ao perceber a digressão, mas a animação não deixou o rosto. Era um tanto confuso por um lado, já que a conclusão a que chegara não era nada boa, mas seu lado curioso não conseguia conter a satisfação depois de desvendar o mistério que lhe fora entregue – Só que você não tem essa escolha, não é? Se eu estivesse no estado que você está e com a coleira, eu estaria gritando e me contorcendo no chão. E sabe o que é curioso? Petr não estaria. No momento, ele está com o herumus trincado bem próximo ao ombro, mas ele está agindo como se nada tivesse acontecido porque não está atrapalhando no momento, e o osso vai ter que se colar sozinho de qualquer jeito.

Tudo que Valerik lhe deu como confirmação foi silêncio, incentivando que ela continuasse ou debochando de suas suposições, caso estivesse errada. Era difícil dizer. Mesmo que ela não estivesse mascarando suas reações, a mulher não era difícil de ler.

- Você está sofrendo, constantemente. Cada célula do seu corpo está emitindo sinal de dor, mas você não sente, porque você não tem essa habilidade, não é? É desnecessária, se for pensar bem – continuou Avril, depois de respirar fundo e ficar um pouco mais séria, já que agora estava adentrando em um tópico um pouco mais delicado, se aproximando do desfecho – Se formos pensar em termos teóricos, eu sou a ultrapassada nessa linha de evolução, já que para que eu iria precisar sentir dor se sei diagnosticar o problema sem esse artificio? E eu não estou acreditando que eu precisei de quase seis meses e você chutando a porta da frente para algo que inconscientemente eu já sabia desde o começo.

Avril desapoiou os braços da mesa e deixou suas costas descansarem no encosto, visualmente mostrando que era a vez da prisioneira tomar a dianteira da conversa, coisa que não aconteceu de imediato. Ela apenas ficou encarando-a, seus olhos ainda mais escuros que os delas nunca abandonando os seus, como se tivesse algo ali para ser decifrado.

- Então, parabéns – disse ela, sorrindo para disfarçar seu desconforto – Você queria minha atenção, e agora você a tem. Agora se explique.

- Faça meu diagnóstico.

- Você está morrendo – disse Avril sem pensar duas vezes, sequer se dando ao trabalho de se irritar com a mulher parecer ignorar o que ela falava – Todas suas células estão debilitadas. Não sei dizer a causa. Não é câncer, não é algo que se propaga, provavelmente é algo que começou simultaneamente e em todas as células. Nunca ouvi sobre algo desse tipo.

- Você é realmente especial, Av...

- Chega! – exigiu a jovem, surpreendendo Valerik, que olhava para ela confusa. Sabia muito bem como irritar a filha, mas dessa vez não estava sequer tentando – No menor desvio de assunto que você fizer, eu saio dessa sala. É um aviso. Agora explica.

- Eu estou explicando: você é especial – Valerik repetiu, sorrindo em compaixão pela confusão da filha. Ela era inteligente, claro, mas sua ingenuidade era perigosa, impedia que ela visse o cenário com uma visão mais ampla e objetiva. No fim das contas, ela continuava uma criança – Você disse que estaria ultrapassada na linha evolutiva, mas eu duvido. Agora entendo porque Krigor se empenhou tanto em te ter em sua posse. Você vê... O que corre em minhas veias, nas de Petr, e até nas suas, não é o soro que foi usado no Soldado Invernal, muito menos o que foi usado no Capitão América. Não, foi um soro incompleto, em fase de testes... Eles não são boas comparações, se somos parecidos com alguém, seria...

- O Caveira Vermelha – completou Avril quando a mãe fez uma breve pausa, como se temesse terminar o raciocínio. Mesmo sem as versões de Steve, ela já tinha conhecimento de toda aquela história, já que em alguns pontos não só envolvia seu avô e Tia Peggy, mas como o próprio surgimento da S.H.I.E.L.D., e ela quisera saber de tudo assim que ingressara na agência. Mesmo sem querer, Avril ficou minimamente abatida. Não era todo dia que se é comparada com uma das ameaças da Segunda Guerra, e não era muito agradável.

- Eu e Petr, sim. Você não – Valerik tratou logo em corrigir – Se formos separar em grupos, você fica no mesmo que Barnes e Rogers. É quase uma brincadeira do destino você e Rogers terem acabado um do lado do outro mesmo com a barreira do tempo. O segredo nunca está no soro, está na pessoa.

Avril riu já cansada daquela conversa, passando a mão pelo rosto enquanto bufava. Só faltava ela dizer que o segredo estava no coração para terminar de citar o Erskine e fazer com que todos perdessem a paciência de vez. Ela pelo menos estava.

- Me diga, Avril... – suspirou Valerik, depois de notar a má vontade da filha em acrescentar algo na conversa muito espirituosa que estavam tendo – Você ficou um longo período sob o domínio da HYDRA, depois de décadas eles tinham a esperada cobaia de novo em suas mãos. Quantos experimentos eles fizeram? Quantas variações se soro?

- Eu parei de contar depois da segunda vez.

- E nenhum deles te matou, pelo visto – comentou a mais velha, praticamente já vendo a resposta que esperava da filha saindo de sua boca.

- Não é como se não tivessem chegado perto.

- Exatamente. Perto – repetiu Valerik, um entusiasmo em sua voz que ela nem tentara esconder. Seu lado cientista queria compartilhar aquela teoria que vinha aperfeiçoando há anos, era o momento – É exatamente o mesmo mecanismo com que você se recuperou das perdas de memória. Quantos anos demorou para que seu irmão recuperasse as memórias, e quantas semanas você demorou? A ameaça chega, e te derruba. Você aprende como funciona, a derruba, e fica mais resistente a ela. Não são os soros que eles injetaram em você que te deixaram mais forte... Eles são apenas desafios para o seu organismo. Você se fortalece sozinha. E essa é uma diferença essencial entre você e nós. Nós três tomamos o mesmo soro, e ele é letal para os três. Só que enquanto o meu organismo e o de Petr o aceita, deixando ser alterado e usufruindo dessa força que vem com um custo muito alto, o seu se fortalece lutando contra ele.

- O que está te enfraquecendo é o soro – concluiu Avril, mal assimilando todas as informações que recebera. Teria muito tempo para pensar a respeito de como seu organismo funcionava, o foco agora era seu irmão. Ele era igual a Valerik, ela própria tinha dito isso antes, o problema também se estendia a ele. Seu subconsciente sabia desde o começo o que tudo aquilo significava, mas era diferente quando não se tinha outra opção além de aceitar a realidade.

- Quase poético – brincou Valerik, a tirando de seus devaneios.

- Ainda não explica o que veio fazer aqui – lembrou a mais jovem, balançando a cabeça de leve para tentar voltar a sua postura anterior. Não podia fraquejar na presença da mulher, precisava manter a concentração – No estado que você está, duvido que possamos fazer alguma coisa, e tenho certeza de que não querermos.

Os cantos dos lábios de Valerik se ergueram, seus olhos com um brilho travesso.

- Quer ouvir a mentira que eu tentei me convencer ou a verdade? – ofereceu ela, tendo apenas como resposta a filha erguendo a sobrancelha – Não pensei que você fosse pegar a dica tão fácil, mas que talvez você fosse se lembrar disso no futuro, quando percebesse as complicações no estado de seu irmão. Que saber que eu passei pela mesma coisa ajudaria em algo.

- Me deixa arriscar... – suspirou Avril cansada, sequer dando o trabalho de analisá-la – Essa é a mentira.

- A verdade é que eu sou egoísta, e queria ver vocês uma última vez – confessou ela – Sem ser por fotos.

Avril respirou fundo, uma, duas vezes antes de apoiar as mãos na mesa e se levantar, o ruído da cadeira sendo forçada para trás fazendo com que Valerik fechasse os olhos. Não podia mentir e dizer que não esperava uma reação daquelas da filha, até esperava piores, com ela esperneando e gritando como a boa menina mimada que era. Ela estava apenas mais uma vez provando como estava errada a seu respeito. Claro que tinha fé, mas em nenhum momento acreditou que Avril praticamente sozinha iria controlar a situação na HYDRA, ainda mais conseguir tirar seu irmão junto. Ser capturada pelo Soldado Invernal e de alguma forma ainda conseguir manipulá-lo? Valerik teria que aceitar que estava delirando caso considerasse aquilo. Não havia mentido quando dissera que a subestimara. A garota recebera o mínimo possível de instruções, e aparentemente se saíra melhor do que ela em alguns quesitos, que fora treinada a adolescência inteira. Tinha que dar algum crédito a ela, mesmo que Avril não fosse aceitar com facilidade.

- Por que você continua me chamando pelo nome americano? – questionou ela, assim que a mãe a chamou, pedindo que não deixasse a sala. Com um leve indício de irritação em sua seriedade, a jovem se virou com os braços cruzados – Krigor sequer consegue pronunciar Avril sem parecer que está morrendo, e o Pete às vezes ainda faz careta.

- Seu pai não te contou? Seu nome original te trouxe nada menos do que dor. Não queria que você crescesse com ele – contou Valerik, o cenho franzido em confusão, mesmo que fizesse sentido que ela não soubesse daquela história. Pensando bem, talvez nem Tony soubesse, já que o pedido fora feito diretamente aos pais dele – Avril poderia ter o mundo inteiro de possibilidades a sua espera, já Dominik estava destinada a coisas cruéis. Foi o principal motivo de ter tirado da HYDRA, pensei que já tivesse entendido isso.

Avril não respondeu de imediato, rapidamente se questionando se seu pai realmente sabia daquilo tudo e resolvera não compartilhar, logo identificando o que realmente estava a irritando naquela história, e, como de se esperar, era as ações contraditórias.

- Eu realmente não te entendo... Sei exatamente que tipo de reação você espera de mim, mas ao mesmo tempo parece que você espera algo a mais – comentou Avril, antes que seu lado mais racional conseguisse lhe convencer que confrontá-la era uma péssima ideia. No fundo ela sabia que aquela era a única chance que tinha de dizer tudo o que queria, que tanto não teria permissão para descer ali uma outra vez, como também ela ficaria tanto tempo no prédio, além de duvidar que fosse viver tanto para conseguir persuadir a todos para que poder ficar mais uma vez no mesmo espaço que a mãe. O fato de que Avril também não iria querer era algo a ser considerado – É patético, especialmente para você. Você escolheu por tudo isso, não importa o tipo de mentiras que você se convenceu nos últimos anos. As coisas poderiam ter sido completamente diferentes, e talvez assim você fosse ser digna de pena. Então me poupe.

Valerik não se opôs quando a filha voltou a lhe dar as costas e saiu da sala, e até duvidava se ela pararia caso tivesse a chamado mais uma vez. Claro que havia algumas coisas que ainda gostaria de perguntar a ela, talvez como Barnes estava, se sabia da sua localização e se ele estava seguro, apenas para quietar um pouco sua consciência. Porém ela sabia que seria a última vez que teriam a oportunidade de conversar, e que Avril tinha conseguido o encerramento de que precisava, e aquilo já era suficiente para ela. Um já fora, faltam mais dois.

Três, na verdade.

---

Avril teve que se controlar para não xingar Deus e o mundo quando percebeu que Petr estava de volta na sala com o restante da equipe, o clima pesado evidenciando que talvez tivessem desconsiderado seu pedido de não monitorarem a conversa, mas na verdade estava cansada demais para discutir com alguém. Precisava de sua cama e várias horas de sono sem interrupções, embora duvidava que fosse conseguir. Sua mente tinha um longo histórico de a torturar em momentos de pressão, dificilmente aquele seria diferente.

O silêncio pesado permaneceu mesmo quando ela entrou na sala, parando atrás do sofá onde Tony, Steve e Petr estavam desconfortavelmente sentados, todos com as posturas tensas.

- Envelhecer é para quem merece, Av, e não acho que estou nesse grupo seleto – disse o russo, assim que percebeu que a irmã finalmente tinha conseguido escolher o que dizer, provavelmente alguma coisa para lhe dar esperanças de uma salvação. Sabia que ela tinha boas intenções, mas não queria sua pena – Se eu sobreviver até à idade dela, para mim já é vitória, então nem estressa.

Avril concordou irônica, desviando o olhar assim que ele se colocou de pé. A mulher sabia que seu estado não era assim tão digno de pena, mas pelo menos a coloração de seus olhos não estava sob seu controle, aquele tom avermelhado a entregando, um aviso prévio para qualquer um tomar cuidado com as palavras que diziam caso não quisessem ter que a consolar aos prantos. Talvez ações também pudesse entrar naquela, já que seu irmão rumando para o elevador causou o mesmo efeito. Sabia muito bem para onde ele queria ir, e não tinha como concordar com aquilo.

- Não ouse tentar me parar, Avril – avisou ele com a voz bem mais controlada do que a da mulher, que quase revirara os olhos quando sua voz saíra falha ao tentar pará-lo. O leve toque em seu braço logo sumiu ao perceber a hostilidade que Petr transmitia, e como era direcionada a ela – Você se acha tão inteligente, mas ainda não entendeu, não é? Você tem todo o direito de ficar puta com ela, mas você não se lembra. Então eu tenho todo o direito do mundo de falar umas poucas e boas para ela, e é melhor você não tentar me impedir.

O silêncio retornou assim que Petr deixou a sala, e Avril agradeceu ninguém tentar aliviar o clima ou lhe fazer alguma pergunta para a fazer se sentir útil. Precisava passar por aquilo da maneira mais difícil, sem atalhos. Se tentasse deixar aquela confusão de sentimentos para uma outra hora, talvez fosse realmente perder a sanidade, dessa vez sem volta.

- Vocês monitoram a conversa para mim? – pediu ela depois de um tempo e um longo suspiro – Não tenho cabeça para isso no momento.

Várias afirmações em concordância ecoaram pelo ambiente, em um tom prestativo demais que até fez com que ela soltasse uma risada fraca antes de seguir para o elevador. Assim que a única russa no local passou a ser Natasha, todos soltaram a respiração que nem haviam percebido que prendiam.

- O negócio ficou bem mais pesado do que esperava... – comentou Clint, as mãos passeando pelos cabelos e os olhos levemente arregalados. Seu olhar caiu em Tony no outro sofá, seu olhar sem foco perdido em algum lugar no tapete, estado que ele notara o homem estar há uns bons três minutos – Tony, você está legal?

- Ainda assimilando, mas provavelmente não.

- O que vamos fazer com ela? – perguntou Natasha, fechando os olhos cansada quando percebeu que eles entenderam que ela se referia à Ivanov errada – Valerik precisa ser entregue à autoridades. Ela tem alguns bons crimes para responder, até onde me lembro.

- Vou entrar em contato com a OTAN – anunciou Steve, soltando um gemido sofrido ao forçar os braços para se levantar, seus músculos o punindo pela posição que mantivera por muito tempo, além da postura tensa demais. O soldado até tentara relaxar um pouco enquanto buscava um tablet perdido no andar, só que o aviso de J.A.R.V.I.S. que viria a seguir faria com que ele travasse completamente no lugar.

- Cap. Rogers, acredito que a Srtª Stark esteja se direcionando para o telhado do prédio.

- Essa foi uma tentativa amigável de me chamar de suicida, J? – a voz de Avril ecoou no ouvido de todos, que não sabiam se respiravam aliviados ou mais preocupados – Não foi tão amigável.

De qualquer forma, Steve rapidamente pediu para que outra pessoa falasse com a OTAN e para que Tony deixasse que ele lidasse com aquilo dessa vez, já que o patriarca da família também não estava no melhor estado. O soldado optara pelas escadas para tentar controlar sua ansiedade, além de que também o elevador não o levaria até o telhado.

Assim que chegara lá, o vento frio da noite logo o recepcionou com violência, por se tratar de um dos locais mais altos da cidade. Localizar Avril não foi muito difícil, já que ela sequer saíra da linha da porta, apoiada na proteção do prédio para que ninguém caísse por acidente, os cabelos soltos seguindo qualquer direção que a ventania quisesse, vez ou outra tentando colocar um punhado de fios atrás da orelha quando eles ficavam muito em seu rosto.

- Você não está pensando em pular, não é? – perguntou ele um pouco mais alto mesmo parando ao seu lado, já que o barulho dos carros lá embaixo e o zumbido do vento em seus ouvidos atrapalhavam um pouco – Não estou com o escudo e seria muito idiota pular atrás de você sem ele.

- Claro, porque com o escudo pular do prédio fica menos idiota – retrucou ela, tentando soar brincalhona, mas sabia que iria falhar antes mesmo de abrir a boca. Steve passou um braço por de trás de suas costas em um movimento que só aparentava ser confiante, incerto se ela iria querer ou não ainda mais aproximação. Talvez ele não esperasse que o frio que fazia ali estivesse a incomodando, ficando um pouco surpreso, embora mais tranquilo, quando ela se alinhou contra seu corpo – Daqui de cima todos os ruídos da cidade parecem mais altos para mim, sabia? Consigo ouvir do quarto, mas bem mais abafado. Pensei que talvez ouvindo eles sem interferência fosse ocupar de vez a minha mente... Me enganei.

- Como você está?

- Não estou – ela riu sem humor, os olhos passeando pelas poucas estrelas que conseguiam superar a iluminação da cidade – Sabe, estou começando a sentir falta de quando Loki era o maior dos meus problemas. Ignorância é realmente uma benção. Algumas coisas realmente deveriam permanecer desconhecidas.

- Seria o caminho mais fácil, e nós não exatamente gostamos das coisas facilitadas, não é? – brincou ele, mas dessa vez a mulher não o acompanhou na risada.

- Eu não sei o que fazer, Steve. Dessa vez realmente não sei – desabafou ela, ficando agora de frente para Steve, as costas contra a proteção. Em seus olhos, Avril logo notou que ele se sentia de mãos atadas tanto quando ela – Para falar a verdade, nem há o que fazer... Valerik está presa e morrendo, Krigor também está preso e espero que morra logo mesmo merecendo uma vida longa de sofrimento, nós estamos mais perto do que nunca de finalmente derrubar a HYDRA e recuperar o cetro, mas eu me sinto perdida. Sem saber que passo dar.

- Ei... Valerik te abalou, isso era de se esperar – lembrou ele, a mão livre acariciando seu rosto – Você cresceu com a informação de que sua mãe estava morta, e acabou que ela ainda nunca foi que você imaginou que ela era. Não faço ideia de como você está aguentando tudo isso tão bem.

- Eu não estou.

- Mas parece – insistiu Steve, sorrindo para tentar animá-la, apertando seus ombros de forma carinhosa – Você tomou a dianteira, tentou proteger seu irmão... Sei que você não está sentindo, mas você está lidando com tudo com a cabeça no lugar, mesmo que o coração não esteja.

- Não quero perder o Pete. Tem muito mais o soro no organismo dele do que no de Valerik e... – o nome da mãe aparecer em sua fala fez com que Avril se controlasse um pouco mais, respirando fundo e olhando para cima para diminuir a quantidade de lágrimas que seus olhos haviam começado a acumular – Ela diz que se importa conosco, mas a única coisa com que ela se preocupa é com ela mesma, e ela não foi capaz de se salvar. Ela já tinha anos de experiência nessa área, e teve muito tempo livre, e mesmo assim não conseguiu. Se ela não achou uma forma de parar isso, duvido que eu consiga.

- Desistir antes de lutar não parece em nada com você. Você está com medo e eu entendo, mas essa não é a Avril falando – disse Steve sério, mesmo que seu tom de advertência estivesse muito mais amigável do que de costume – Valerik era uma só, só podia contar com ela mesma. Nós somos uma equipe. Bruce te ajudou com o antídoto e teve sucesso, e, como a própria Valerik disse, há três organismos aprimorados que servem de exemplo, e acontece de dois deles serem você e eu. Se encontrarmos Bucky um dia, teremos os três. Se tiver um jeito de salvá-lo, nós vamos. Tenha um pouco de fé.

Avril assentiu sem muita convicção, mas Steve já esperava aquilo. Ela precisava de um pouco mais de tempo, acontecera muita coisa em um espaço de tempo pequeno demais, era mais do que compreensível. Com cuidado, ele a envolveu com o outro braço, a mantendo próxima enquanto beijava seus cabelos, logo sentindo as mãos dela segurarem o material de sua camisa em suas costas.

- Você veio aqui pelo ar livre e pela barulheira, que tal nós sairmos do prédio um pouco? Pegar um filme ou só andar no parque? – sugeriu ele depois de um tempo – Você precisa espairecer.

- A ordem de "Avril não pode deixar o prédio" foi revogada? – estranhou a mulher, sua voz abafada pelo rosto contra o peito de Steve fazendo com que ele risse de leve.

- Não... Isso é um problema?

Avril esboçou um sorriso que ele julgou verdadeiro enquanto se afastava minimamente para fitar seu rosto.

- Qualquer dia alguém vai me acusar de corromper o Capitão América... – comentou ela, seu olhar automaticamente abaixando para os lábios do soldado quando ele abaixou o rosto em sua direção – Você costumava seguir ordens.

- Ordens que eu acredito que valham a pena serem seguidas, é diferente – lembrou ele, a puxando pela mão em direção à porta depois de um beijo rápido.

---

Tony sabia muito bem que não iria conseguir dormir mesmo agora que sua filha havia retornado para a Torre, mas ele era teimoso e queria se irritar virando de um lado para o outro em sua cama ocupada por apenas uma pessoa. Em algum momento daquela madrugada longa, ele chegara a se lamentar por Pepper não estar na cidade naquela semana, para logo se arrepender do pensamento. Na verdade, tinha que agradecer por Valerik ter escolhido logo um dos poucos dias que a CEO das Industrias Stark não estava no prédio, e isso apenas serviu para que o homem se irritasse ainda mais. Ainda ter que agradecer aquela psicopata era o fundo do poço, embora agora Tony sentisse que já tinha passado até disso. Aquela história de que em um certo momento não era possível piorar era uma completa mentira.

Não só podia, como sempre piorava.

Frustrado por mais uma vez não conseguir pregar os olhos, Tony jogou as pernas para fora da cama, os cotovelos apoiados nos joelhos afastados e o rosto nas mãos, respirando fundo algumas vezes na esperança de que encontraria um pouco bom senso no oxigênio do quarto, apenas para ficar ainda mais determinado a fazer o que planejava. Perguntou para J.A.R.V.I.S. a localização e o status de todos os membros da equipe antes de deixar o quarto, negando sem pensar duas vezes quando o sistema perguntou se ele desejava que alguém fosse acordado. Ninguém concordaria com o que ele queria fazer, além de que precisava ser sozinho.

Já havia passado da hora de Valerik e ele terem uma conversa.

A mulher parecia dormir tranquila mesmo com a posição desconfortável, o cabelo curto todo para um lado, o rosto de expressão serena virado para a porta. Seus passos pesados logo fizeram com que Valerik despertasse antes mesmo de entrar na cela, seu sorriso discreto fazendo questão de lhe avisar que ela não estava nem um pouco surpresa.

- Sabia que você viria aqui mais cedo ou mais tarde – disse ela, lutando para voltar a se sentar direito sem o auxílio das mãos, que continuavam presas à mesa. Tony se xingou mentalmente enquanto puxava a cadeira vaga a sua frente, já que passaria por aquele estresse apenas porque escolhera passar. Não era nada agradável quando não podia passar a culpa para alguém.

- Pare de agir como se me conhecesse, Valerik – resmungou ele ao se sentar. Ela, por sua vez, pareceu hesitar ao ouvir o nome na voz de Tony, fechando a boca assim que percebeu que se perdera em pensamentos. Ele nunca havia a conhecido de fato, não passava de um garoto inocente quando se encontraram pela primeira vez, que agora realmente parecia ser em outra vida. Tony já não era mais inocente, muito menos um garoto, e agora também sabia quem ela era, sem disfarces.

- Posso te pedir um favor, Tony? – perguntou ela em um sussurro, ignorando o seco "não" que ouviu em resposta – Me chame de Lauren.

- Qual o seu problema com os nomes originais? – retrucou ele depois de rir descrente. Sabia que a mulher conseguiria irritá-lo com facilidade, mas realmente não esperava que fosse com aquele tópico, daquela forma – Por que não ser você mesma?

- Talvez eu não goste de quem eu sou, quem me obriguei a ser.

- O que você já fez para mudar isso?

- Talvez eu seja quem eu deva ser – devolveu ela, no mesmo tom enigmático da resposta anterior, mas Tony não se deixou abalar. De alguma forma, ele já estava acostumado a ter alguém fugindo com habilidade de suas perguntas, e, coincidentemente ou não, a pessoa se parecia muito com Valerik.

- Você precisa aprender a ser direta – alfinetou o homem e, para sua surpresa, obteve algum resultado.

- O que você quer que eu diga, Tony? Que eu sinto muito? – rosnou ela, com uma ferocidade que não se lembrava de ter visto antes em seu rosto – Eu sinto, mas faria tudo de novo se fosse necessário.

- Você é a vadia – Tony concordou com a fala da filha, horas atrás. Em nenhum momento se iludira que sairia dali certo de que apenas ouvira palavras sinceras, mas em algumas partes Valerik poderia apenas mentir para proteger sua imagem, e parecia que ela não estava disposta a fazer isso. Ela queria brincar de vítima, só que em nenhum momento abaixava a arma carregada que empunhava.

- Você não faria o necessário por ela? – perguntou a mulher com um tom inocente na voz, chegando até a inclinar a cabeça para o lado e franzir de leve o cenho. De alguma forma, ele percebeu que a russa sabia de todos os seus esforços desesperados nos últimos meses para recuperar a filha, e, se não sabia de fato, estava fazendo uma dedução certeira. Aquela maldita sensação que sempre tivera quando mais jovem ao estar em sua presença, e um dos fatores que fizeram com que seu pai valorizasse tanto a mulher: ou ela agia como se soubesse de tudo, ou realmente sabia.

- Ela nunca vai te perdoar – desconversou ele, balançando a cabeça discretamente em negação – Eu também não.

- Eu não mereço perdão. Não vim para cá atrás disso, eu já disse isso. Eu queria ver as crianças mais uma vez – lembrou a mulher, a pausa seguida parecendo que ela se questionava se deveria mesmo dizer aquilo – E você também.

- Eu? – repetiu Tony confuso.

- Eu joguei uma responsabilidade grande demais nas suas costas sem você ter nenhum preparo – explicou ela, assistindo o rosto do homem aos poucos se contorcer em uma expressão indignada – Foi injusto com você.

- Você é inacreditável – resmungou ele irritado, até pronto para se retirar e desistir daquela ideia idiota, mas a fala seguinte de Valerik fez com que ele ficasse parado no lugar absorvendo a informação, o irritando ainda mais.

- Eu não iria conseguir protegê-la, Tony.

- Protegê-la? Lembra do seu marido? – começou ele, cínico – Ele disse uma coisa bem interessante sobre você tentando contato há muito tempo quando a Avril foi interrogá-lo, e eu fui checar. Eu chequei todos os dias de aniversário dela, até mesmo os que ela estava na Europa, e só depois que eu fui pensar que talvez ele nem considerava a data de agosto como aniversário dela, então fui checar todos os 20 de abril, e em 2007, aniversário dela de dezoito anos, teve uma festa das Industrias Stark, a mesma que ela desapareceu por uma semana depois, e você estava lá, assim como Krigor – Tony se debruçou sobre a mesa, ficando mais próximo da mulher que se esforçava para se manter indiferente – Se ele não estivesse lá, você teria ou não a raptado? Você queria ou não usá-la para invadir a HYDRA?

- Não sabia que você sabia disso – confessou Valerik devagar, desconfortável por nunca ter assumido que aquela informação chegaria a ele – Você não entenderia.

- Não entenderia? Você clama se preocupar com ela, mas planejava usá-la do mesmo jeito que Krigor – acusou Tony – Você vê apenas uma arma, não sua filha.

- Eu pensei... Vocês não têm noção do potencial dela, Tony – suspirou ela cansada, optando por abrir o jogo de uma vez. O homem a sua frente talvez fosse a única pessoa naquele planeta que poderia compreendê-la, tinha que ao menos lhe dar uma chance – Naquela idade ela já tinha certo domínio e... Eu poderia tê-la treinado. A S.H.I.E.L.D. a treinou com base em hipóteses, eu teria a treinado com base nas minhas experiências. Teria tirado Petr da HYDRA e toda essa confusão teria sido evitada.

- Você queria tirá-la de mim – concluiu ele, por algum motivo, nem um pouco surpreso ou sentido.

- Você já tinha a perdido, Tony...

- Você não fala sobre o que você não sabe! – ele perdeu o controle por alguns instantes, os punhos fechados batendo na mesa de metal e fazendo um barulho alto, mas que não surpreendeu a mulher, que continuou inabalável – Não foi você que a criou. Onde você estava no aniversário da sua suposta morte? Onde você estava quando ela precisou de você? Você não tem direito de dizer que se preocupa com ela.

- Tudo que eu fiz foi para protegê-la.

- Que belo trabalho de merda você fez – retrucou ele sem pensar duas vezes – Ela nunca vai voltar a ser quem um dia ela foi e a culpa é sua.

- Ela está viva, e isso para mim já é mais do que suficiente – disse Valerik, e Tony precisou de alguns segundos para chegar à conclusão de que ela estava realmente ousando acreditar no que dizia.

- E para os infernos com a saúde mental dela, não é? A garota está em constante dor, Valerik. Você nunca vai presenciar isso, mas dá para ver nos olhos dela quando ela está bem e se lembra que não se acha digna de estar bem, ela não se permite estar bem por muito tempo – contou ele – E isso me mata por dentro, porque não importa quantas vezes eu diga o contrário, é uma verdade que ela não tem mais capacidade de aceitar. E você me vem dizer que ela estar viva já é mais que o suficiente? Que tipo de mãe acha que está tudo bem um filho passar por esse tipo de coisa?

- Nós reagimos de forma diferentes a traumas, Tony – insistiu ela. Seu olhar agora não estava mais preso do no homem, mas sim baixo em suas mãos presas à mesa. Quase parecia que sua consciência estava pesando, embora suas palavras contradissessem sua linguagem corporal – Ela não continuou caída por causa de Loki, ela não vai continuar por minha causa. Ela só precisa de tempo.

Tony ponderou por um segundo. De uma forma bem conturbada, ela estava certa. Pelo menos ele esperava que estivesse. Só que ele, diferente daquela mulher irresponsável, não deixaria tudo à mercê do tempo. Se havia alguma forma de ajudar sua filha, ele iria. E se não tivesse, ele inventaria um jeito.

- Ela precisa de alguém que pare de fazer da vida dela um inferno – disse ele por fim enquanto se levantava, lançando um sorriso satisfeito para a mulher no processo – E, felizmente, agora há uma pessoa a menos para isso.

- Você não vai acreditar, mas eu estou feliz com isso – comentou ela, fazendo com que o homem parasse à porta – Ela merece o melhor. Ela e Petr. E eu nunca fui o melhor. Você aprendeu a ser.

- Você nunca tentou. Se escondeu atrás de desculpas a vida inteira – explicou ele, escondendo as mãos nos bolsos da calça e andando devagar pela sala, como se estivesse explicando um caso que mais ninguém conseguira desvendar – Você nunca se arriscou por eles.

- Nunca me arrisquei? – repetiu Valerik, rindo irônica – Faça-me o favor...

- Você fugiu. Diz que abandonou Petr, mas a verdade é que você abandonou todo mundo, foi covarde – continuou Tony, ou alucinando ou realmente vendo um pouco de culpa passar com rapidez pelos os olhos escuros da mulher antes de voltar a sua postura indiferente – Já imaginou quantas vidas teriam sido salvas se você tivesse feito o que precisava ser feito? Você era mãe da neta do fundador da S.H.I.E.L.D., poderíamos ter tirado a HYDRA das sombras antes de ela ter poder para ser um problema. Avril, Pete, e a até mesmo Barnes teriam sofrido muito menos. Claro que você seria condenada à prisão perpétua, mas seus filhos estariam bem.

Valerik chegou a abrir a boca para retrucar, seus olhos brilhando com um pouco mais de fúria quando Tony a privou de seu turno.

- Então não venha tentar bancar a vítima para o meu lado, porque eu não sou tão piedoso quanto as crianças – finalizou ele, rumando de vez para a porta, sem mais intenções de retornar – Se isso te machuca tanto assim como você diz, você nunca deveria ter a chance de vê-los.

- Vocês são os heróis, Tony. Eu sou apenas humana – respondeu ela, sequer olhando para a sua direção – Fiz o que eu achava que deveria ser feito.

- Você fez o que achava que te pouparia mais, o que torna um tipo mesquinho de ser humano – retrucou ele, a porta se fechando em seguida. Pensou em gritar alguma despedida mesmo com o vidro de proteção os separando, mas optou por deixar as coisas daquele jeito. Ela não merecia sequer um desejo falso de que ela aproveitasse seus últimos dias viva.

---

Tony pensou em ligar a TV da sala assim que se jogou no sofá em frente ao aparelho, uma garrafa de bebida pela metade em mãos. Já bastava o barulho de seus pensamentos em sua mente, não precisava de mais distrações, além de que a pouca iluminação da sala estava agradável. Até pensara em um momento em retornar para seu quarto quando J.A.R.V.I.S. perguntou para onde queria ir assim que entrou no elevador, mas mudou de ideia no último instante. Se iludira ao imaginar que conseguiria dormir depois de falar com Valerik. Parecia que suas dúvidas e questionamentos estavam em época de procriação.

- Dos três, você parece o mais calmo depois de falar com ela – comentou uma voz baixa e próxima, fazendo com que ele se virasse no susto para trás, logo reconhecendo seu acompanhante.

- Mas que p...? Ia machucar fazer a porcaria de um barulho enquanto se aproxima? Avril que pode me dar paradas cardíacas, esse privilégio não foi estendido para você, Rogers – resmungou Tony, voltando a se sentar com a postura relaxada no sofá – E como diabos você sabia que eu estava aqui?

- J.A.R.V.I.S. me avisou – contou ele, ocupando o lugar vago ao seu lado – Ele não sabia se acordava Avril, preferiu me acordar.

- Você monitorou nossa conversa? – indagou o moreno, logo desistindo do sermão que deveria dar no soldado, gesticulando com a mão que "tanto faz" – Estou cansado até para ficar bravo contigo.

- Foi uma discussão um tanto intensa, para falar o mínimo. Quer conversar? – se ofereceu Steve, arriscando um sorriso brincalhão para tentar melhorar o humor do homem – Eu praticamente já virei o ouvinte dessa família, embora não esteja nem um pouco a fim de ouvir a Valerik... Capaz de eu colocar uma mordaça nela mais tarde para garantir que ela vai ficar quieta a viagem toda até a prisão.

- Eu não deveria falar contigo... – suspirou Tony, tomando um grande gole antes de continuar – Você é um péssimo mentiroso. Vai me colocar em problemas no futuro.

- Agora estou com medo de você fazer alguma coisa estúpida, então vai ter que falar – avisou Steve sério e preocupado. Estavam todos tão preocupados em vigiar Avril e Petr que se esqueceram que havia a possibilidade de Tony também não saber lidar direito com aquela situação. Nenhum dos três tinha um bom histórico de decisões inteligentes em momentos de instabilidade emocional, era algo para se preocupar.

- Eu deveria falar disso com a Pepper, mas ela vai chegar a conclusões erradas...

- Tony? – disse o soldado com cuidado, talvez chegando a mesma conclusão errada que o homem temia que a namorada também chegasse – Você... ainda sente algo por ela?

Era uma pergunta um tanto ofensiva, mas Tony não podia reclamar dela. Ouvir outra pessoa fazendo aquele questionamento lhe trouxe um pouco de clareza.

- É mais complicado do que isso, Cap – respondeu ele – Eu só não consigo sentir tanta raiva dela. Eu entendo o que ela fez.

- Agora não estou entendendo mais nada – comentou Steve, rindo em constrangimento – Eu ouvi a conversa, e você estava agindo completamente ao contrário.

- Você não entende essa relação, Rogers. Ter um projetinho de ser humano nos braços e sentir que eles dependem completamente de você. Laur... – ele teve que parar para respirar fundo, corrigindo o pequeno erro de nome que não esperava mais que fosse acontecer, seu olhar travado na tela desligada da TV – Valerik entendeu como isso funcionava muito antes do que eu. Nós não estamos aqui para que eles gostem da gente, que sejam nossos amigos e essa baboseira toda. Seu dever é garantir que eles tenham as melhores chances, os proteger a qualquer custo. Eles podem te odiar por isso, mas não importa. Não acho que eu conseguiria ser tão sangue frio como Valerik, mas... – Tony se virou para o soldado, a compreensão aos poucos se apossando de seu rosto, mesmo que relutasse – No momento que eu finalmente entendi que eu estava estragando a minha filha pela convivência, eu deixei que ela colocasse um maldito oceano entre nós porque acreditei que era o melhor para ela. E de alguma forma bem distorcida, foi o melhor. Mesmo com todos os problemas que o ingresso na S.H.I.E.L.D. trouxe para ela, Avril se tornou uma pessoa consciente, responsável... Algo que ela nunca seria se tivesse ficado comigo. Se isso quebrou meu coração? Destroçou, na verdade, mas foi um sacrifício necessário, e é por isso que você vai manter essa boca a fechada, Capitão: porque nem você e nem ela vão entender o que eu estou passando, porque eu não quero passar por isso de novo.

Tony já havia perdido a filha o suficiente pelo resto da vida, não dava para aceitar ser separado dela novamente, ainda mais caso ela quisesse ficar longe. Era idiotice pensar daquela forma por se tratar de uma mulher já adulta que dificilmente aceitaria continuar morando com ele quando toda a caça a HYDRA terminasse e o cetro fosse recuperado, mas tinha certeza que faria um certo esforço para se manter próximo, talvez mais alguns projetos em conjunto. O importante era ela estar disposta a manter o bom relacionamento entre eles, ou nada daquilo faria o menor sentido. E nada daquilo se manteria caso ela suspeitasse que no fundo ele conseguia entender Valerik.

- Eu a perdi tantas vezes. Eu sei como é bom quando estamos bem, eu valorizo isso mais do que tudo, e eu sei que Avril nunca vai me perdoar se descobrir que eu tomei partido pela mãe dela. Nem mesmo Pete iria compreender, e nessa eu nem sei direito porque me importo – continuou ele, uma risada um tanto desesperada lhe escapando – Não quero nenhum dos dois contra mim, mas não posso simplesmente fingir que não entendendo o lado dela. Eu estou nessa bagunça por causa de uma, e ela tem dois. Ela teve que pensar logicamente para momentos que lógica é a última coisa que importa. Valerik ama aqueles dois mais q... Como diabos tudo virou essa merda? Está tudo errado.

Tony pensou que Steve fosse aproveitar que ele se calara para ingerir mais um pouco do que sobrara da bebida na garrafa, mas se viu em um silêncio desconfortável, e logo entendeu o motivo tão exposto em seus olhos azuis: Steve concordava com ele. Não estava na mesma situação que ele, mas conseguia se colocar em seu lugar, e também não conseguia se ver agindo diferente. Talvez devesse levar aquele tópico à filha, só que ela não era tão compreensiva como o soldado, além de ser bem mais explosiva do que ele. Em um dia distante, quem sabe.

- Sabe, você acha Avril parecida comigo, mas você não conheceu a Valerik. Claro que ela estava infiltrada, mas elas têm os mesmos traços de personalidade, então não acho que era tudo encenação... – comentou Tony depois de um tempo, o silêncio incomodando mais do que gostaria de admitir – O mesmo sorriso fácil que te provoca a contestá-la, o olhar determinado, a postura relaxada que simplesmente desaparece quando o assunto fica sério... Meu pai a idolatrava, quase tanto quanto te idolatrava. Ela passava mais tempo com meus pais do que eu. Se ela não tivesse sumido... Ele teria a adotado apenas para poder chamá-la de Stark e ser parte da família.

- Você gostava dela – concluiu Steve em um sussurro, a confirmação no sorriso nostálgico e no brilho cansados nos olhos de Tony.

- Eu não sei mais. No começo, quando nos conhecemos, ela era um desafio com pernas – brincou ele, o tom travesso em sua voz fazendo com que Steve revirasse os olhos, mesmo o acompanhando na risada sem graça – Ótimas pernas, a propósito. Ela ainda tem, você deve ter percebido. Mas aí ela sumiu, voltou com um bebê, e depois veio a morte de mentira... – Tony parou por um momento, finalmente depois de tantos anos se colocando a pensar naquele assunto – Eu nunca tive a chance de saber como eu me senti em relação a ela. Só sei que nos momentos mais difíceis, quando eu não fazia a menor ideia do que fazer em relação a paternidade, eu sentia a falta dela. A mulher que eu conheci sempre sabia o que estava fazendo, sempre. Até chegava a ser irritante. E eu sempre tive essa sensação de que ela saberia lidar com a filha muito melhor que eu. Agora eu já sei que isso não é verdade, já que ela fez uma zona muito maior que a minha.

- O que você quer fazer em relação a ela?

- Não há muito o que fazer. A mulher está morrendo, não temos recursos o suficiente para salvá-la, e não acredito que ela queira ser salva – suspirou ele, rodando a garrafa vazia pelos dedos – Ela sabia muito bem o que ia acontecer quando entrasse nesse prédio.

- Ela sabe que vai ser presa.

- Sabe – concordou Tony, rindo a algo lhe ocorrer, mesmo que tivesse demorado um mero segundo para ele perceber que poderia estar certo – Talvez ela apenas queria ver o marido mais uma v... Não!

Steve, que encarava as próprias unhas que precisava cortar o mais rápido possível, se virou confuso para o homem, logo a compreensão também lhe atingindo, sua expressão se tornando séria e inconformada.

- Isso seria muita loucura.

- Exatamente por isso acho que descobrimos o plano dela – insistiu Tony, praguejando baixo depois de pensar mais a respeito por mais alguns segundos, ainda mais convencido – É a cara dela, não é?

---

Todo o trajeto até a sala de interrogatório foi feito em silêncio, mesmo que Krigor não conseguisse parar de se perguntar o motivo de estar sendo levado para lá novamente. Não podia ser um pedido dos Vingadores, já que duvidava que mandariam Avril mais uma vez a seu encontro, ou que eles achassem que ainda tinha informações que ele pudesse dar. Bem, de qualquer forma, em breve ele entenderia o motivo para aquilo tudo.

O último agente deixou a sala assim que suas algemas foram presas a mesa, demorando um pouco para que a porta voltasse a ser aberta, com um novo grupo de agente adentrando no espaço, escoltando alguém que ele logo identificou como outro prisioneiro, a julgar pelas roupas que trajava. Apenas quando a pessoa foi sentada a sua frente que ele conseguiu reconhecê-la.

- Valerik...? – arriscou Krigor, um tanto confuso. Fazia muitos anos desde a última vez que se viram, tanto que ele mal conseguia reconstituir a imagem da mulher em sua mente, mas as semelhanças com Avril ainda existiam, mesmo com a ação do tempo clara, embora bem mais amenas do que o natural, em seu rosto – Você está velha.

- Não tanto quanto você, Krigor – retrucou a mulher, brincando com a corrente das algemas em seus pulsos que acabara de ser presa a mesa antes de erguer os olhos para ele, mostrando um brilho divertido que apenas o irritou mais. Querendo o mínimo de privacidade que a situação permitia, Valerik esperou que todos os agentes deixassem a sala – O soro retardou um pouco meu envelhecimento, você não teve esse privilégio.

- O que você está fazendo aqui? – questionou ele por fim, apontando para o uniforme semelhante que a mulher usava – Não acredito que tenha conseguido entrar aqui como visitante.

- Vou passar uma breve temporada aqui... Cortesia de nossos filhos – a ênfase em nossos causou exatamente o efeito que Valerik esperava: a postura já tensa do homem se intensificou e, se ele não estivesse também algemado à mesa, era claro que as mãos dele estariam ao redor de seu pescoço. Um sorriso maldoso disfarçado com doçura apareceu em seus lábios – Pete e Av mandaram um oi.

- Eles conseguiram te rastrear? Oh, eu devia ter arriscado essa – riu Krigor debochado. A verdade era que ele poderia sim ter tentado fazer os filhos se virarem contra a mãe, mas tanto ele não acreditava que eles seriam capazes de achar, como também lhe parecia um desperdício de energia. Se ele quisesse Valerik sob seu poder, ele a teria. O detalhe era que ele a queria sofrendo, e as crianças eram seu único ponto fraco. Continuar fingindo que ela não existia era um método bem mais interessante – Acredito que subestimei as habilidades deles de localizarem pessoas.

- Por favor, Greg...! Acha mesmo que as crianças acreditaram no que você disse a eles? Eles sabem melhor do que isso – zombou ela, um relance de pena passando por seus olhos por ele cogitar por um segundo que eles conseguiriam manipular os dois para fazer o que planejava – Claro que Tony ficou desconfiado e foi checar alguns registrou e descobriu que eu estava viva, mas ele optou por manter segredo, não quis assustar as crianças. Vamos dizer que isso agora isso seja um segredinho de nós pais.

- Então como você veio para aqui? Se entregou? – arriscou Krigor, uma risada incrédula lhe escapando pela garganta ao encontrar certa concordância no rosto da mulher – Você se entregou, não é? Você é ótima em tomar decisões estúpidas. Avril puxou isso completamente de você.

- Meu amor... – suspirou ela, pegando as mãos grossas do homem nas suas, um aperto que deveria parecer carinhoso, mas que causava nada além de repulso em Krigor – Você estava preso, e as crianças em uma posição neutra. Esperei tempo demais para vê-los mais uma vez, e não iria desperdiçar a oportunidade.

- E eles te prenderam.

- Eu queria te ver! – contou a mulher, seu sorriso se tornando mais discreto – Esse era o único jeito.

Krigor bufou alto, se livrando dos dedos insistentes da mulher com um movimento ágil dos pulsos.

- Ainda odeio quando você age como se controlasse tudo...

- É porque eu controlo – lembrou ela.

- Você me parece satisfeita para alguém que está tão presa quanto eu – comentou Krigor, quase se arrependendo logo em seguida ao vê-la voltar a rir satisfeita. Aquilo era exaustivo demais, alguém precisava o levar de volta para sua cela.

- Aí é que está, amor: eu não estou – contou ela, o deixando confuso – Não vou ficar aqui muito tempo.

- Acha que sua filhinha vai te tirar daqui? – debochou ele – Tenho a impressão de que ela quer que você apodreça aqui...

- Ela não é idiota, é claro que ela quer. E de alguma forma ela atendeu meu último desejo: te ver mais uma vez. Te ver aqui, fracassado... – a mulher abaixou o tom de voz, concentrando toda a crueldade que tinha, os olhos brilhando em diversão – Eu vou morrer nos próximos dias sabendo que todos os seus esforços para me atingir e controlar as crianças falharam. Vou morrer sabendo que eles estão bem, que eles tiveram a chance de escolher o que queriam ser e agora são heróis, e que você vai passar o resto de seus muitos dias aqui, remoendo todas as suas derrotas... É mais do que eu mereço.

- Você acha que ganhou? – admirou-se Krigor, no mesmo instante que um alarme soou na sala, avisando que o tempo de conversa tinha terminado.

- Claro que não... Eles ganharam, e isso era tudo que eu queria – negou a mulher, sorrindo para o agente que já se adiantara para a soltar assim que entrou no ambiente, a puxando pelo braço para fazer com que ela levantasse – Espero que esse lugar seja um inferno para você, Krigor. Até nunca mais.

- Aí é que você se engana, meu amor – retrucou Krigor, a voz ligeiramente mais alta para que ela conseguisse ouvir da porta – É no inferno que vamos nos reencontrar de novo.

Valerik permitiu que seus lábios se esticassem em um sorriso animado, forçando seu corpo para trás para dificultar a tarefa dos agentes que a arrastavam para fora da sala. Tinha apenas mais uma coisa para dizer, e precisava ser dita olhando nos olhos de seu marido.

- Mal posso esperar.

FIM

------

n/a: Calma, respira. Nesse ponto você provavelmente já xingou até a minha 23784239423ª geração por eu não ter avisado que o final desse arco coincidia com o final da primeira parte da fic, e eu mega te entendo. Passei muito tempo ponderando se TRS continuaria como uma fic só, ou se dividiria. Acabei optando por dividir porque, vamos ser sinceras, a gente tá só no capítulo 40 e olha esse tamanhão todo. Fiquei imaginando como seria cansativo se a gente seguisse em uma fic só pra alguém começar a ler, sei lá, lá pro começo de Infinity War e estar tipo quase no capítulo 100 – e não são mais capítulos curtinhos como no começo (e até agora, TRS apenas passou por dois filmes de fato – o Avengers de 2012 e CA:TWS –, imagina o tamanho que isso ficaria passando por mais cinco – CINCO – filmes!). Fechou tão bonitinho todo o arco da Dinastia Ivanov, ainda mais sendo os líderes da família se encontrando pela última vez. Deu um ar de fim de história mesmo. O próprio capítulo que seria o 41 se não fosse a divisão, no começo já me dá uma sensação de algo novo, uma dinâmica diferente da equipe – que agora tem OITO pessoas, os russos vão ou se tornar maioria nesse time, eis a questão –, por isso com muita dor no coração, porque eu nunca pensei de fato que diria isso um dia desde que eu reformulei toda a história em 2015, eu finalizo aqui a primeira parte de The Real Side [sons de soluços que não parecem humanos no fundo].

Nos vemos em breve em The Real Side II: Dark Times. VEM ULTRON!

Sugiro que, caso não me sigam ainda, sigam, por favor, para que possam receber uma notificação quando a segunda parte entrar (ainda postarei alguns especiais relacionados a TRS, para vocês respirarem e se recuperarem, mas não deve demorar muito para TRS2 entrar ;))

Continue Reading

You'll Also Like

373K 36.2K 90
SINOPSE: AUDREY GILBERT ERA UMA ANOMALIA. Havia apenas uma duplicata nascida de cada vez, e nunca deveria haver mais do que isso. No entanto, Isobel...
173K 10.3K 76
𝐑𝐨𝐬𝐚𝐥𝐢𝐞 já havia desistido da ideia de contrar o amor da sua vida, que não importasse quantos séculos esperasse, mas ela o encontraria. Em vez...
14.3K 1K 19
Lady apresenta... - Minha estrela Guerreira ☘ • ✤ • ★Tantas estrelas no céu e fui me apaixonar l...
289K 19.6K 30
E de todas as cores naquela praça, o vestido vermelho dela chamava mais a atenção dele. Iniciada: 19/08/2016 Plagio é crime ...