Depois que eu cheguei em casa, tudo melhorou. Eu tomei um banho refrescante, cuidei do que tinha que cuidar e lavei a minha saia manchada.
A estava estendendo junto com a minha calcinha numa cordinha preta, que servia como um varal, do lado de fora, quando alguém entrou gritando dentro de casa.
— MEL? — me chamou primeiro — CADÊ VOCÊ??
— AQUI ATRÁS! — gritei pra Kailana que apareceu na porta dos fundos da cozinha com uma cara de espantada.
A menina pulou os degraus de madeira, parando em minha frente, onde me agarrou com suas mãos desesperadas.
— O que você tá sentindo? — perguntou enquanto puxava a minha linha d'água para baixo para verificar meus olhos — Acha que precisa ir ao médico? Eu liguei para a minha mãe no caminho, ela está esperando alguém ficar no lugar dela para conseguir vir pra casa.
— Espera, o quê? — me perdi.
— Acho que você não tá com febre — ela disse depois de por uma mão no meu pescoço e a outra no dela para medir nossas temperaturas.
— Lana, pera aí! O que aconteceu? — eu a afastei, atordoada, o que fez ela unir as sobrancelhas em confusão.
— Como assim "o que aconteceu"? Você não tá passando mal?
— De onde você tirou isso? — franzi todas as minhas linhas faciais e balancei a cabeça, tentando entender o que diabos estava acontecendo.
— Ué, o Benício me procurou no intervalo dizendo que você não estava se sentindo bem no primeiro período e que não conseguia achar você, então quando eu me dei conta que você tinha vindo pra casa, deduzi o pior, porque, bom, se você precisou vir pra casa, então você devia estar péssima, né? — abri a boca em um "a" e arqueei as minhas sobrancelhas quando finalmente entendi o motivo daquela bagunça.
Eu tinha me esquecido completamente do Ben, e ele devia estar preocupado.
— Tá tudo bem — achei melhor a tranquilizar primeiro, antes de dizer o que realmente havia acontecido — Eu não fiquei doente, eu só tô naqueles dias.
— Aaaaah! — Lana suspirou, aliviada — Nossa, do jeito que o Ben te descreveu, eu jurava que você tava com uma tuberculose!
Sorri culpada.
— Eu acho que tenho uma pequena culpa nisso, entrei um pouco em pânico quando senti que havia sujado a minha saia — olhei para a peça de roupa atrás da gente, justificando o porquê de eu estar naquela parte da casa em primeiro lugar.
— Você podia ter ido falar comigo, bobinha! Tenho roupas extras dentro do armário para casos de emergência, como esse — contou.
— Você estava em aula e eu nem sabia qual era. Não ia ficar batendo de porta em porta até te achar, né? — dei de ombros e ela concordou com a cabeça.
— Bom, pelo menos a diretora Hale te deu uma folguinha. Ela geralmente dá aquelas calças horrorosas do colégio para usarmos — Lana revirou os olhos.
— Não deu — a corrigi, antes que ela entendesse mais uma coisa errada.
— O quê?
— A diretora Hale não me liberou, porque eu não cheguei a ir na sala dela — confessei e comprimi os lábios ao ver a expressão horrorizada da Kailana.
— Tá me dizendo que você tá matando aula? — encolhi os ombros e ela entendeu o meu gesto como um "sim" — E você só me fala isso agora? Meu pai amado, Amélia, minha mãe vai te matar!
Kailana puxou o celular do bolso traseiro de seu short jeans e discou o número da mãe rapidamente, colocando o aparelho contra o ouvido assim que começou a chamar. Mordi o meu lábio inferior, apreensiva.
— Mãe? — disse assim que a mulher do outro lado da linha atendeu — Foi um alarme falso! — avisou — Só foi a pressão dela que abaixou na escola, mas ela já tá melhor. — silêncio — É claro que vou fazer ela comer, mãe — mais alguma coisa que eu não escutei — Aham, ok — mais silêncio — É, não precisa vim. Eu dou conta. —....— Ok, amo a senhora também, tchau.
Ao finalizar a ligação, Lana se virou para me encarar.
— Garota, essa foi por pouco! — assobiou e passou a mão na testa, como se limpasse algum suor.
— Obrigada, mas eu não entendi qual é o problema de dizer que eu vim pra casa porque tô naqueles dias? — cruzei os braços.
Já vi muita gente na internet dizendo que cólicas no período menstrual era frescura e tudo mais, mas a maioria dos que falavam eram homens, então isso por si só já justifica a ignorância.
— O problema não tá no porquê de você ter vindo pra casa, mas como você veio, e ela ficaria muito louca da vida se descobrisse que você saiu sem autorização — Lana respondeu e colocou o peso do corpo em uma só perna — Aliás, por que você não foi falar com a diretora? A sua cólica tava tão insuportável assim pra você ter que vim correndo?
— Não, é só que eu achei que ficaria estranho, então me poupei do constrangimento — alisei meu próprio braço, me sentindo desconfortável por confessar aquilo.
— Mel — Lana riu — Você sabe que toda mulher menstrua, não sabe?
— É claro que eu sei — recuei um passo, ofendida.
— Então não tem o porquê de se sentir constrangida por uma coisa tão natural — a menina deu um passo em minha direção, restaurando a nossa aproximação e pousando a mão em meu ombro — Não é nojento, nem errado, Mel. É só nosso corpo sendo ele mesmo. — sorriu. Não era um sorriso feliz, mas era como se quisesse me tranquilizar sobre aquela questão em específico — E pessoas sangram, mas as mulheres foram amaldiçoadas a sagrarem sete dias na semana todo santo mês!
Sorri, mais leve.
— Eu só sangro por dois e olhe lá! — a informei e a morena em minha frente abriu a boca exageradamente em um "o".
— Sua filha da mãe privilegiada! — xingou brincando e eu acabei gargalhando.
— Eu não sinto nojo, eu só acho estranho ter que falar sobre isso, porque eu nunca recebi nem um aviso da minha tia de que iria menstruar um dia. Tudo o que sei foi porque aprendi sozinha ao pesquisar no Google "o porquê de eu estar sangrando por baixo aos onze anos e se aquilo significava que eu iria morrer!"
Kailana gargalhou.
— A minha mãe teve a conversa comigo e com o Kaike no dia da minha primeira menstruação. Falamos sobre período menstrual, mesmo sob os protestos do Kai, e sobre o que isso significava. Então depois o nosso pai sentou com a gente pra falar sobre sexo e as melhores formas de nos prevenirmos, advertindo que só deveríamos fazer quando tivéssemos idade o suficiente e nos sentíssemos prontos — contou com um sorriso ao mesmo tempo que com uma careta — Foi estranho, não vou negar, mas foi essencial. Acho importante todos os pais terem esse tipo de conversa com os filhos, nem que seja uma única vez.
— É, eu acho que teria esse tipo de conversa se os meus pais estivessem vivos — dei de ombros e Lana me mostrou um sorriso solidário.
— Bom, já que estamos em casa, por que não fazemos um dia de spa? — sugeriu animada.
— Olha, eu vou aceitar, porque eu tô mesmo precisando cuidar de mim! — disse ao olhar para as pontas do meu cabelo ressecadas, Kailana sorriu e me puxou para dentro de casa.
Que o dia comece!
✨Aloha, guys✨
aaaaaaa eu achei esse capítulo tão essencial, por mais que não tenha "nada demais", sabe? Eu tô tentando lidar com esses assuntos da forma mais leve possível e eu amo o fato de ter tantos persongens desconstruídos, ajudando os outros a se desconstruirem.
E só pra constar, vocês tão arrasando nos comentários. Eu me divirto horrores lendo, sério! Às vezes deixo acumular pra ler tudo de uma vez e eu me acabo de rir sozinha olhando pro celular, o povo fica achando q eu tô doida hahahahahaha
Em compensação, vou dar um mini spoiler. Preparados? Lá vai
Tô escrevendo a cena de uma festa de aniversário. VISHHHHHHHHHHHHH!!!!
De quem vocês acham que é? E o que vocês esperam ter nela?