The Real Side

By hiddles-evans

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Segredos e mentiras fazem parte do nosso dia-a-dia. Em alguns momentos, simplesmente mentir ou ocultar fatos... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36¹
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40

Capítulo 26

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By hiddles-evans

Assim que James dera partida no carro, Avril perguntara se ele estava com algum aparelho celular, e, sem perguntar o motivo, ele apenas tirara seu aparelho do bolso e entregara à mulher, que passou todo o trajeto até o hospital fazendo algumas pesquisas rápidas. Seu descontentamento era evidente, mas James optou por não questionar. Ouvira tanto a voz da morena naquele dia que um pouco de paz e silêncio era tudo que desejava, ainda mais sabendo que o hospital para onde seguiam deveria estar caótico, já que a maior parte dos feridos do Triskelion seria atendida lá.

Avril também não se opôs ao silêncio, na verdade, até agradeceu por seu companheiro não insistir em manter algum diálogo desnecessário, principalmente porque facilmente iria começar a gritar com ele apenas por ser a única pessoa próxima. Desde o começo, quando decidiram expor as duas agências, Avril sabia que seu nome também seria exposto e que causaria um pequeno alvoroço, mas não esperava que isso começaria tão rápido: diversos sites já comentavam seu envolvimento com a S.H.I.EL.D., expunham detalhes de missões que envolviam problemas políticos internacionais, assim como descrições minuciosas de seus poderes e capacidades, além de longos parágrafos a acusando de ser uma das responsáveis pela Guerra de NY pelo seu envolvimento com a Fase 2. A mídia não largaria de seu pé por no mínimo algumas eternidades.

Para saber se já precisava se preparar mentalmente pelo assédio dos jornalistas, a mulher mudou o foco de sua pesquisa para o hospital, não muito surpresa em descobrir que jornalistas já se encontravam em massa no local, principalmente por ter sido vazada a informação de que o Capitão América estava internado e em estado delicado, e a notável presença de militares de segurança apenas confirmava que ele realmente estava ali. Sem muitas escolhas, Avril abandonou as pesquisas e digitou o número do hospital, informando que estava a caminho e precisaria de uma escolta até o prédio, assim como saber qual entrada era mais adequada. Querendo poupar o trabalho de ter que repassar as informações para James depois, ela colocou a ligação no viva-voz, surpresa ao perceber que a administração do hospital não só já esperava sua chegada, como estava incrivelmente bem organizados.

- Você vai ter que ser a pessoa que repete "ela não vai responder nenhuma pergunta" incansáveis vezes até entrarmos no prédio – avisou ela, quando se aproximavam do hospital - Eu não posso dizer uma palavra ou vou ter mais problemas.

- Você não pode simplesmente escolher as palavras certas? – resmungou ele, cansado. Já tinha avistado um pequeno grupo de militares armados e alguns médicos se aproximando da calçada, com uma quantidade absurda de jornalistas os cercando – Eles não vão embora depois de terem o que querem?

- Acha que eu comecei nessa vida hoje? Eu cresci com esses caras caindo matando em cima de mim. E dessa vez eles têm algo grande nas mãos – ela ergueu o celular – Conhecimento de tudo que eu fiz na S.H.I.E.L.D.

- Você está ferrada.

- Muito ferrada.

Mesmo com os vidros do carro escurecidos com filme, a luminosidade dos incessantes flashes adentrava no veículo, principalmente depois que a porta do passageiro foi aberta por um dos enfermeiros, que lhe entregou um cobertor para que ela pudesse ao menos cobrir o rosto. Enquanto era movida para uma cadeira de rodas, os jornalistas tentavam furar a barreira de qualquer forma, na tentativa de descobrir quem era o paciente importante e qual era seu grau de envolvimento com a S.H.I.E.L.D. Quando finalmente conseguiram identificar a jovem, o alvoroço tomou proporções ainda maiores.

- É Avril Stark ali?! Srtª Stark! Avril! – em um primeiro momento, a única coisa que ela conseguia identificar era seu nome repetido inúmeras vezes, com diferentes entonações. Outra boa parte gritava de forma desorganizada suas perguntas na esperança de que ela respondesse. Avril cobriu o rosto com mais vontade quando os gritos deixaram de ser sons aleatórios e passou a identificar algum significado, se mostrando perguntas bem genéricas, mas que tinham como objetivo incomodá-la.

- Você realmente faz parte da S.H.I.E.L.D.?

- Seu pai tem conhecimento de suas ações nos últimos anos?

- Os arquivos da S.H.I.E.L.D. citam seu nome várias vezes ligado à espionagem internacional e atos de terrorismo, como isso afeta as Indústrias Stark?

- Como a princesa de um império de tornou uma assassina?

- Você é realmente culpada pela Batalha de NY, dois anos atrás?

- Desde quando você tem poderes?

Depois do que pareceu uma eternidade, o grupo entrou no prédio e as vozes dos jornalistas ficaram distantes, abafadas pelas portas bem guardadas por militares, embora as perguntas continuassem se repetindo em seus ouvidos, deixando-a levemente atordoada. Havia desacostumado a lidar com a mídia daquela maneira, e pelo jeito ela teria que reaprender o mais rápido possível.

- Leve a Srtª Stark para a sala de exam... – ordenou um dos enfermeiros para o que empurrava sua cadeira.

- Não, não... Eu quero ver o Cap. Rogers – cortou-o ela, chegando até a segurar as rodas para deixar clara sua vontade – Estou fora de risco, não precisa pressa.

- Cap. Rogers ainda está em cirurgia, enquanto isso nós v...

- Não tem "enquanto isso", querido. Eu quero ver o Rogers – insistiu Avril – A sala de cirurgia tem vidro para assistir que eu sei como as coisas funcionam, então...

- Avril – a voz de Natasha ecoou pelo corredor, mas ela só parou porque estava feliz em ver a colega bem, na medida do possível – Só obedece ao médico.

Avril até tentara argumentar, mas acabou sendo levada – e a todo momento expressando sua insatisfação por isso – para realizar uma rápida bateria de exames, que no fundo não foi nada rápida. Foram diversos raio-X para localizar todas suas fraturas e ressonância magnética para diagnosticar possíveis danos cerebrais. Depois disso, ela foi medicada e teve o tornozelo devidamente imobilizado com uma bota ortopédica, que tornava sua locomoção muito mais fácil do que se engessassem a região, e teve os outros ferimentos checados e limpos. Quando todo esse processo foi finalizado, eles já haviam adentrado na madrugada e, mesmo exausta, Avril insistia em ver Steve. Talvez aquela inquietação que sentia finalmente encontrasse um fim assim que seus olhos encontrassem o soldado, como que para realmente aceitar que ele havia sobrevivido.

Como sabiam que ela não desistiria, seus médicos acabaram por liberá-la para visitar o loiro, antes que a morena acabasse fugindo. Natasha se encontrava do lado de fora de seu quarto e se ofereceu para levá-la. A ruiva pensou em alertá-la sobre o estado de Steve, mas desistiu. Avril não lhe daria ouvidos. Ela estava insistindo tanto em ver o soldado exatamente porque não conseguia acreditar nas palavras que lhe eram ditas, ela queria ver com seus próprios olhos.

Assim que abriu a porta do quarto de Steve, Natasha avançou com a cadeira apenas alguns poucos centímetros e parou. Avril demoraria um pouco para aceitar o que via, assim como própria ruiva mais cedo. Ver Steve naquele estado era algo que ninguém estava habituado, e aquela reação era mais do que compreensível. Mesmo com os protestos da ruiva, Avril se levantou da cadeira e deu cada passo em direção à cama com cuidado – não por causa de seu tornozelo, que sequer a incomodava no momento, mas porque a cada passo que dava ficava mais nítida toda a fragilidade de Steve. Todos os cortes e hematomas em seu rosto que, mesmo dormindo, não parecia transmitir serenidade. Toda a angústia permanecia ali.

Se apoiando na beirada da cama, Avril deixou que seus dedos deslizassem pela mão do soldado que estava descoberta, recolhendo sua própria mão ao perceber como seus dedos estavam frios em comparação à mão quente do loiro. Sequer sabia se ele estava dopado ou não, mas não queria correr o risco de perturbá-lo quando era tão nítido que ele precisava de descanso.

- Não preciso te conhecer para saber que você está exausta, Av – suspirou Natasha ao seu lado, passando um braço por detrás de seu ombro – Você precisa descansar tanto quando ele.

- Quem vai ser o homem que vai acordar, Nat? – perguntou a morena em um sussurro, sem tirar os olhos do rosto adormecido do soldado – Não sabemos o que aconteceu lá em cima. Barnes pode... Ele pode ter recuperado alguma memória importante, ou apenas ter dado ouvidos ao instinto de não querer matar um amigo, mas... Quanto dano ele pode ter causado, Nat? Steve aceitou morrer lá...

- Quero que preste atenção no que eu vou dizer porque é a primeira vez que você vai ouvir isso – pediu Natasha, parando na frente da morena e segurando seu rosto com as duas mãos – Pare de tentar prever o que vai acontecer, só dessa vez. Só vai te fazer mal continuar desse jeito... Não vai adiantar em nada você ter endoidado com as possibilidades quando ele acordar.

Natasha tinha razão, mas não era tão fácil apenas parar porque ela não estava realmente tentando prever acontecimentos – tudo não passava de simples questionamentos, sem nenhum tipo de análise que pudesse lhe dar uma resposta confiável. Sequer tinha informações o suficiente para isso. Suas habilidades podiam ser ligadas e desligadas, mas não seus pensamentos. Com relutância, Avril acabou assentindo, um pouco surpresa ao perceber que a ruiva lhe puxava para um abraço. Natasha não era exatamente a pessoa mais carinhosa do mundo, mas a morena preferiu não comentar nada a respeito. Poucas vezes em sua vida admitira que precisava de algum conforto, e aquela era uma delas.

---

Sam apenas percebeu que Steve havia acordado quando o ouviu murmurar aquele tão irritante "a sua esquerda", contente ao encontrar um sorriso discreto no rosto ainda machucado de seu amigo. Por ainda estar muito debilitado, Steve teve que reduzir o número de perguntas e se apegar às informações que julgava mais importantes.

- Como está Avril? – perguntou ele, depois de um tempo.

- A sua esquerda – devolveu Sam, rindo de leve. Steve direcionou o olhar para o outro lado, encontrando com facilidade o corpo inconsciente de Avril em outra poltrona para visitas, em uma posição que não parecia muito confortável graças a bota que ela usava pelo tornozelo – Teoricamente ela ainda está internada, mas não há o que a faça ficar no quarto dela. Ela sempre escapa para o seu.

- Pelo menos ela está dormindo um pouco - suspirou Steve, sem tirar seus olhos do rosto sereno da mulher - Não é fácil fazê-la dormir nesses momentos caóticos.

- Ela foi sedada – contou Sam – Os médicos começaram a ficar preocupados quando souberam que ela estava a mais de um dia acordada.

- Sedativos, hm... - suspirou o loiro, sorrindo de lado – Bom dia, Av.

Ainda de olhos fechados, a mulher riu de leve.

- Para minha defesa, eu tirei um bom cochilo quase agora... – respondeu Avril bocejando – Oi, Sam.

- Sedativos não funcionam no organismo dela - explicou o soldado, vendo a confusão no rosto do amigo – Se ela "dormir" depois de um sedativo pode ter certeza que ela está fingindo para pararem de atormentá-la.

- Ela não falou disso no resumo... Me sinto ludibriado – reclamou Sam.

- Adoro quando falam como se eu não tivesse presente – resmungou ela, se alongando e parando quando um estalo ecoou pelo quarto – Ai.

- Vou avisar os médicos que você acordou e deixar vocês conversarem pouco – avisou Sam, deixando o quarto.

Avril voltou a se encolher a poltrona, abraçando seus joelhos enquanto devolvia o olhar concentrado que Steve lhe lançava. Ela havia passado o último dia inteiro no canto do quarto repassando mentalmente possíveis diálogos para quando ele acordasse, mas sua mente mais uma vez estava vazia. Estavam se encarando por uma eternidade, mas nenhum dos dois se importava. O silêncio era confortável. Nos últimos dias por duas vezes houve a possiblidade de não poderem mais ter o olhar de um travado no outro, aquele breve momento de calma fora muito bem-vindo.

- Como está sua perna? – perguntou Steve em um sussurro.

- Me irritando – suspirou ela, apoiando o queixo nos joelhos antes de rir de leve – Não quero ter que ler toda a sua lista de ferimentos novamente, então vou apenas perguntas como você está.

- Eu cumpri minha promessa – desconversou Steve e ela riu, descrente. O soldado estava ali, praticamente todo quebrado física e mentalmente, mas não iria admitir. Ele tentava manter a imagem que todos tinham de si, mas se esquecera na companhia de quem estava. Era humanamente impossível enganá-la.

- Você não prometeu – corrigiu Avril, um pouco surpresa por perceber que sua voz começava a ficar embargada – Mas você fez questão de não voltar inteiro.

- Sequer sei como que eu voltei - confessou o loiro, e Avril usou seus poderes para se controlar. Estava tudo nos olhos de Steve, toda a dor que tentava esconder e que agora não estava disposta a permanecer quieta. Avril nunca havia visto o soldado tão quebrado. Com cuidado, ela se levantou da poltrona, se arrastando com paciência até a beirada da cama e se sentando na beirada do colchão, tomando as mãos do homem nas suas sob seu olhar atento.

- O que importa é que você está bem. Não vai mudar nada ficarmos nos preocupando com isso agora – sussurrou a morena, com o polegar acariciando o dorso de sua mão – Quando você receber alta nós damos jeito em tudo, certo?

Steve sorriu para as mãos quentes da morena, que estudava com cuidado seu rosto machucado. Uma visível inversão de papéis havia acontecido entre os dois: não era ela que dependia de seu suporte, agora era sua vez. Avril também não estava no melhor de seus momentos, mas o soldado via que a mulher estava ciente de que ele precisava dela, utilizando de suas trapaças para esconder algo que talvez fosse melhor ele não saber.

- Vou deixar você descansar – anunciou Avril, descendo da cama – Qualquer coisa eu estou na poltrona do lado.

- Não... Fica aqui – pediu Steve, segurando sua mão quando a mulher tentou se afastar – Por favor.

Antes que Avril pudesse dizer alguma coisa, eles já não estavam mais sozinhos no quarto.

- Que ótima notícia para começar o dia! – festejou um médico, com Sam em seu encalço – Sou Dr. Joseph. É muito bom vê-lo acordado, Cap. Rogers.

Joseph iniciou então a habitual conversa médico-paciente, com algumas intromissões de Avril e Sam, que ocupavam cada um a sua poltrona. Depois de checar tudo o que podia, Joseph voltou sua atenção para a ficha de Steve, só então dando atenção para os acompanhantes.

- Daqui parece que seus ferimentos estão muito bons, Wilson.

- Acha que é tão fácil marcar esse rosto lindo, Doutor?

- E seus pontos, Stark? – perguntou Joseph rindo, desistindo de manter a conversa com o moreno.

- Vão remover hoje mais tarde.

- E seu tornozelo?

- Pedi que removessem junto com os pontos, mas ninguém está me levando a sério – suspirou ela, revirando os olhos quando o médico começou a rir – Não falei?

- Posso dizer que você está muito bem acompanhado, Capitão – disse Joseph ao soldado, devolvendo a prancheta à cama – E que logo receberá alta. Está se recuperando bem e rápido. Só precisa de mais alguns dias em observação, apenas por precaução.

- Srtª Stark? – chamou-a um homem que aparecera a porta, trajando o uniforme de polícia da cidade – Você precisa nos acompanhar.

- Desculpe, querido, mas não é tão fácil assim me chamar para sair... – brincou a morena, embora estivesse séria. No fundo ela já sabia do que se tratava e não era pouco problema – Você vai precisar de um mandato, no mínimo.

O policial sorriu maldoso, tirando o mandato do bolso.

- O Congresso te convocou para depor e você não apareceu, Stark – explicou o homem – Estamos apenas seguindo o protocolo.

- A Srtª Stark está em processo de recuperação, não pode deixar o hospital – se intrometeu Joseph, sem mais o vestígio de riso na voz – Pensei que tinha deixado isso bem claro quando trouxeram a intimação.

- Nesse meio tempo ela recebeu alta, não há o que a impeça de comparecer à audiência.

- Stark é minha paciente e eu não autorizei alta nenhuma.

- Você não pode passar por cima de uma decisão da justiça.

- Posso porque vocês não vão se responsabilizar caso o estado dela piore – retrucou o médico – Agora gostaria que deixasse o quarto. Está perturbando meus pacientes e me impedindo de fazer meu trabalho.

O policial olhou do médico para a morena que ele devia escoltar para a delegacia e suspirou alto. Causaria ainda mais confusão se tentasse leva-la a força, mesmo com o mandato, e suas ordens eram para ser o mais discreto possível, já que a imprensa estava se matando para conseguir algo digno de manchete. Se o nome da jovem Stark se envolvesse em mais um escândalo por causa de suas ações, provavelmente sua vida se tornaria um verdadeiro inferno.

Sem muitas escolhas, ele apenas deixou o quarto.

- Eu estaria em sérios problemas se socasse uma paciente, então, Wilson, pode fazer isso por mim? – resmungou Joseph, se virando para a morena de olhos arregalados em seguida – Você não disse que ia chamar seus advogados dois dias atrás?!

- E-eu esqueci! – se explicou ela, puxando um celular novo do bolso antes de se levantar da poltrona para retornar ao seu quarto. Teria que pedir que Pepper colocasse alguns advogados das empresas no caso e com certeza não seria uma conversa calma, então era melhor ficar em um ambiente mais reservado – Me arrume o máximo de tempo que conseguir, por favor.

Depois que o médio assentiu, Avril deixou o quarto com seus já comuns passos arrastados, apenas cumprimentando o militar que fazia a guarda do quarto antes de iniciar sua tão agradável conversa com Pepper, que, a essa altura do campeonato, já deveria ter descoberto do atentado que sofrera alguns dias atrás, o que possivelmente deveria refletir em seu humor.

- Por que ela está sendo intimada? – perguntou Steve, vendo os outros dois homens suspirarem alto assim que ela deixou o quarto – Ela não pode ter conseguido fazer alguma besteira no tempo que eu estava apagado, não é?

- É por causa dos arquivos da S.H.I.E.L.D. que nós colocamos na internet – explicou Sam – Aparentemente, ela e Romanoff estiveram envolvidas em algumas missões... Delicadas, politicamente falando. Stark não está com tantos problemas como a ruivinha, mas como uma figura pública, a situação também não está nada boa para ela.

- Isso está sendo mais uma manobra para tentar mostrar à população que eles têm algum controle sobre o caso do que realmente condenar alguém – acrescentou Joseph, com as mãos escondidas nos bolsos de seu jaleco e o olhar passeando pela janela, como se nada estivesse acontecendo – Eles não vão prendê-las porque precisam delas soltas, mas também não podem simplesmente deixá-las andando por aí como se nada tivesse acontecido. É apenas para manter as aparências.

- Você parece ter pensado muito no assunto, Doutor – comentou Steve e ele sorriu.

- Stark gosta de expor suas ideias e nem sempre Romanoff estava perto... Estou apenas reproduzindo suas conclusões, não precisam se assustar – brincou o homem, já caminhando para a porta – Preciso checar outros pacientes. Vou deixar vocês à vontade.

---

Avril deixou a sala com passos delicados mesmo com sua vontade sendo descontar toda sua frustação no piso limpo do prédio. Ela odiava interrogatórios, um sentimento desenvolvido durante seus primeiros anos como agente, tendo que se reportar a seus superiores com certa frequência, principalmente quando cometia deslizes. O lado bom dos interrogatórios dessa época de sua vida era que normalmente as únicas pessoas envolvidas eram ela e alguém de nível hierárquico mais alto que o seu, variando entre Clint, Coulson e Fury, com o grau de sua infração sendo um fator importante. O único caso mais inusitado que tivera até o dia anterior fora depois da Guerra de NY, quando teve que se reportar ao Conselho. Apenas todos os outros casos respeitavam o protocolo infratora-responsável. Porém aquele caso era diferente: a audiência era pública, o que significava que na mesma sala que ela estaria a maior quantidade de jornalistas por metro quadrado que ela vira na vida. Cada palavra sua tinha que ser escolhida cuidadosamente para evitar uma catástrofe maior que o que já acontecia, principalmente porque ela não seria a única atingida: qualquer erro seu se transformaria em dor de cabeça para Pepper, já que ter o sobrenome que identificava as Indústrias tornava ligeiramente complicado desvincular seu nome. Não era exatamente como se aquilo tivesse realmente prejudicando as empresas – da última vez que checara as ações estavam até subindo – mas não deixava de ser má repercussão, e em algum momento os acionistas iriam se irritar com aquela história.

Como suspeitava, eles não tinham nenhuma acusação concreta contra ela, e nem podiam fazer ameaças mais abertas como fizeram com Natasha por se tratar de uma cidadã americana. Não dava simplesmente para acusa-la de traição com o material que tinham em mãos, embora tivessem tentado algumas vezes trazer à tona seu envolvimento com a Fase 2, o que com certeza já devia estar sendo assunto para vários artigos na internet. Aquele projeto era sua cruz e, toda vez que pensava que havia se livrado de seu peso, ele caía de volta em suas costas. Avril não podia ser julgada por aquilo, principalmente por ter sido uma das vítimas do incidente, mas eles haviam abordado o assunto na tentativa de desestabilizá-la, coisa em que não obtiveram sucesso.

Aquele assunto perturbava sua mente desde que constatara o sumiço do cetro, não dava para desestabilizar o que já estava desestabilizado.

- Stark... – Fury a chamou do final do corredor, quando ela já seguia o caminho para deixar o prédio depois da longa e exaustiva audiência. Era no mínimo inusitado ver o Diretor com roupas civis, e Avril fazia uma nota mentalmente para começar a se acostumar com isso – Vem comigo.

- Vai demorar muito? – perguntou ela, visivelmente cansada – Nat, Stevie e Sam vão se encontrar em algum lugar que eu já esqueci e querem que eu esteja lá.

- Eles estão indo para o cemitério, e é para lá que nós vamos – o homem riu, passando um braço por de trás do ombro de sua antiga agente a guiando em direção ao estacionamento – Queria conversar com você no caminho.

- Estou tentando me lembrar de possíveis merdas que eu possa ter feito nas últimas horas, mas não consigo pensar em nada – brincou Avril, embora tivesse um pouco de seriedade em sua constatação. O tom de voz de Fury praticamente anunciava que ela estava com problemas.

- Só ande, garota – disse ele entre leves risadas. Tinha um teor cômico toda vez que Avril fazia alguma análise errada e era difícil não se divertir com isso.

Não demorou para que chegasse no estacionamento e Fury apontasse o carro. Dentro do veículo, Avril esperou que o homem retomasse o assunto quando ele bem desejasse. Estava curiosa, mas tinha um certo receio sobre que assunto ele queria abordar.

- Sabe, Stark... A decisão de te recrutar sempre foi uma coisa um pouco incerta – começou Fury, arriscando um olhar de lado para a mulher no banco do passageiro enquanto virava em uma esquina – Ninguém tinha coragem de colocar a mão no fogo por completo por você.

- Eu estou corando ou...? – debochou ela, apenas recebendo um olhar feio do homem – Tudo bem, continue.

- Sempre soubemos que você era qualificada para a parte científica, você sempre foi uma criança prodígio... Mas sua adolescência conturbada te tornou um investimento perigoso. Ninguém na S.H.I.E.L.D. precisava de uma versão mais nova do seu pai.

- Mas vocês me recrutaram do mesmo jeito – lembrou ela, um pouco confusa com aquele dado. Algo na postura de Fury estava diferente, e ela não estava exatamente sabendo classificar o que era. Talvez fosse o tom nostálgico em sua fala que estivesse a incomodando, junto com a incerteza do que ele planejava com aquela conversa – Eu ainda era consideravelmente rebelde quando ingressei. Para falar bem a verdade, eu só realmente evoluí, o que? Nos últimos dois anos?

- Te recrutei porque julguei que as futuras dores de cabeça que você me causaria valiam a pena... E eu tive que me esforçar para lembrar disso várias vezes durante esses anos – suspirou ele, balançando a cabeça em descrença ao ouvi-la murmurar um "não posso argumentar contra isso" – Sabe, inicialmente, eu nunca achei que você se tornaria uma agente de campo. Não por não ter capacidades físicas para isso, mas porque sempre te julguei imatura demais para puxar o gatilho, ou ver alguém puxar o gatilho.

Avril permaneceu em silêncio. Ela ingressara na S.H.I.E.L.D. como cientista e todos haviam sido bem claros que aquela seria sua única função na agência, e sequer sua versão mais jovem se opusera à decisão naquele momento. Apenas meses mais tarde, durante os treinamentos padrões de todos os agentes que eles mudaram de ideia, mas Avril não podia dizer que ficara contente com a ideia. Ser agente de campo soava bem badass, ainda mais portando habilidades especiais, só que aquela Avril não se via sabendo como agir em um momento crítico, como tendo que tomar decisões do tipo "sucesso da missão versus bem-estar de seus parceiros". Ela ter se tornado uma boa agente de campo fora um verdadeiro milagre.

- Essa era um pouco da imagem que eu tinha de você até a semana passada, Stark – continuou Fury, vendo que sua acompanhante estava perdida em pensamentos, com o olhar vagando a frente sem um ponto fixo – Você ter escondido seus poderes de mim fez com que sua imagem caísse muito comigo. Você se mostrou mais emocionalmente instável do que eu podia imaginar.

- Eu entendo isso. Eu aceitei as consequências das minhas escolhas – retrucou ela rápido, com a voz baixa e séria – Aquele ano inteiro de treinamento foi exatamente para isso, e eu sabia que as coisas não iriam voltar a ser como antes. Então por que você disse que tinha essa imagem até semana passada? O que mudou?

- Quando eu percebi que outra batalha aconteceria e você ficaria de fora, eu esperei uma reação igual ou pior do que a que você teve em NY, quase dois anos atrás. Esperei te ver choramingando em um canto, tentando escapar de qualquer forma mesmo sabendo que iria atrapalhar ao invés de ajudar, principalmente porque há alguma coisa forte entre você e o Rogers, forte o suficiente até para que eu perceba. Mas você não fez nada do que eu esperava – confessou o homem sem tirar o olho da rua, mas sentindo os olhos surpresos de Avril em si – Posso até arriscar em dizer que o Rogers só conseguiu lidar com isso tudo com o mínimo de bom senso porque você estava no fundo sendo o pilar que o sustentava. Você foi o pilar que manteve toda a operação em andamento. Você trabalhou mais do lado de fora do que se tivesse integrado à equipe no campo.

Quase como que tivesse sido cronometrado, eles chegaram ao estacionamento do cemitério, podendo Fury assim finalmente poder se virar para sua agente sem infringir nenhuma lei de trânsito.

- Isso... Essa postura, essa iniciativa... Eu genuinamente nunca esperei de você, Avril – disse Fury, quase que com carinho na voz, o que fez ela duvidar se aquilo era real ou sua imaginação – Agora todos os problemas e noites mal dormidas que você me causou parecem empecilhos pequenos perto da agente essencial que você tornou. Eu passaria por tudo isso novamente com um sorriso no rosto.

Não era imaginação. Depois de anos de reclamações e advertências, Nick Fury estava reconhecendo seu valor, a parabenizando por algo que ela fizera sem nenhum pingo de ironia na voz.

O mundo devia estar acabando e ninguém a avisara.

- O-brigada, Diretor – murmurou ela, pigarreando em seguida para recuperar sua voz – E-eu... Obrigada.

- Sem mais "diretor", Stark... – lembrou ele, descendo do carro.

- Quer que eu te chame de "Nick"?

- Também não precisa forçar, não é?

---

Sam e Steve encaravam a suposta lápide de Fury quando eles chegaram. Não fazia muito tempo que havia recebido alta, mas o loiro parecia muito mais saudável que Avril, que ainda tinha um corte ou outro sem ter cicatrizado por completo, assim como a perna imobilizada. O estado de ambos havia sido delicado, só que ter o soro em seu organismo tornava a recuperação muito mais rápida. Avril ficou mais ao fundo enquanto seu antigo chefe conversava com a dupla, sem realmente prestar atenção sobre o que falavam, ainda um pouco mexida pelo que Fury lhe dissera no caminho até ali. Até aquele momento a morena não tinha se visto como uma figura importante naquele episódio, e não ficaria nem um pouco surpresa se tivesse na verdade atrapalhado a operação, já que em vários momentos ela sequer tentara esconder sua instabilidade. Talvez fosse a insegurança por ter ficado muito tempo afastada dos assuntos sérios da agência, mas Avril não se via uma agente melhor do que fora antes do incidente com o cetro, embora parecesse que tivesse evoluído muito nesse meio tempo.

Apenas uma coisa era certa: melhor que suas antigas versões ou não, agora mais do que nunca Avril teria que provar para si que Fury estava certo, que havia se tornado uma agente essencial. S.H.I.E.L.D. e HYDRA eram sua responsabilidade, não apenas porque devia proteger o que seu avô começara, ou pela HYDRA estar com a posse do cetro, mas por simplesmente ter tomado a tarefa como sua. Era uma sensação estranha, mas pela primeira vez sentia que estava no lugar certo, fazendo a coisa certa. Havia escolhido entrar naquela confusão e ela integraria a equipe de pessoas que colocariam ordem na casa, embora ainda não soubesse exatamente como as coisas iriam funcionar. Ainda tinha um bom número de agentes da S.H.I.E.L.D. e alguns super-heróis, só precisavam se organizar.

Enquanto estava perdida em pensamentos, Fury se despedia da dupla de soldados, já se virando para deixar o local.

- Avril – murmurou o homem ao passar ao seu lado, se despedindo. Não faria o convite que fizera a Sam a ela. Embora o notório desempenho nos últimos dias, Fury tinha que admitir que Avril talvez fosse ser mais bem aproveitada com os Vingadores. Eles seriam a linha de frente contra a HYDRA, a jovem Stark poderia ser uma boa adição ao time.

- Nick – respondeu ela, olhando para frente com um sorriso discreto nos lábios. Fury parou alguns passos às suas costas, nem um pouco feliz com ela continuar o chamando pelo primeiro nome. Rindo, Avril se virou para ele – Relaxa, quando perder a graça eu paro.

- Esse é o problema.

Nesse breve espaço de tempo Natasha se juntou ao grupo, embora estivesse conversando mais especificamente com Steve, deixando ela e Sam apenas observando. Avril não chegou a prestar atenção por muito tempo na conversa dos dois já que seu novo celular vibrara em seu bolso, avisando que recebera uma nova mensagem de seu pai. Tony pedia que ela se direcionasse imediatamente para a Torre dos Vingadores, de preferência na companhia de Steve e Natasha, já que todos se encontravam em Washington. Levando em consideração apenas as pessoas que estavam no planeta, eles eram os únicos que faltavam para a reunião estar completa.

- Onde pensa que vai, Nat? – se apressou em Avril em dizer, assim que percebeu que a ruiva se despedia, rapidamente guardando seu aparelho no bolso.

- Tem alguma coisa planejada, Stark? – estranhou ela, cruzando os braços – Com esse problema dos interrogatórios resolvido, nós temos algum tempo livre agora.

- Fomos convocados – contou ela, e o ar ficou tenso. A apreensão era tão nítida nos olhos da dupla que Avril não deixou que o suspense se estendesse por muito tempo, emendando em seguida mais detalhes – Reunião de emergência da Torre dos Vingadores. Só falta a gente. E Thor, mas isso vai ser mais problemática para resolver...

- Por quê? – foi a vez do soldado questionar, e a morena respirou fundo. Avril sabia que Sam e Steve pretendiam começar a procurar Barnes o mais rápido possível, e ela concordava com a decisão, já que era perigoso deixar um assassino mentalmente bagunçado sem supervisão, mas, com tudo o que estava acontecendo, eles precisavam do Capitão América na Torre, ele era o líder da equipe, e Avril sabia que o loiro não iria concordar logo de cara.

- Acho que vamos ter que deixar o projeto "Procurando Bucky" de lado momentaneamente – começou a morena com cuidado, mas mesmo assim Steve instantaneamente entrou na defensiva.

- Bucky está perdido e confuso, Stark. Encontrá-lo é nossa prioridade.

- Ei, não me chame pelo sobrenome nesse tom – alertou Avril, colocando as mãos na cintura, ofendida pelo tom de voz do soldado – Sei muito bem o quanto o cara significa para você, e já deixei bem claro que estou à disposição para te ajudar a procurá-lo. Só que se formos compará-lo com a HYDRA, no momento ele parece um unicórnio cheio de glitter. Temos problemas maiores, Steve.

- HYDRA está com a maior parte dos objetos perigosos que a S.H.I.E.L.D. protegia, incluindo... – lembrou Natasha, que ouvira parte da conversa de Avril e James nos dias anteriores. Poucas coisas conseguiam tirar a morena do sério daquela maneira, e boa parte não era de origem midgardiana.

- O cetro do Loki – concluiu Steve assustado, se virando para a morena – Se eles tentarem usar o cetro, você...

- O cetro não me afeta mais, Steve. Só que isso não o torna menos perigoso – suspirou ela, quase sentindo falta da falsa sensação de segurança de quando acreditava que a arma estava sob os cuidados da S.H.I.EL.D., não sob a posse da irmã malvada da agência – A localização do cetro está perdida há meses, eu já chequei. Não sabemos a quanto tempo eles estão com o cetro e isso não é nada bom. Precisamos recuperá-lo. E derrubar a HYDRA. Não necessariamente nessa ordem.

O silêncio dos dois Vingadores deixou claro que ninguém tinha mais objeções.

- Certo, tem uma nave nos esperando – avisou Avril, sorrindo ao ver a expressão constrangida de Sam que não sabia o que fazer – Você foi convocado também, Wilson. Estava envolvido nessa bagunça e pode vir a nos ser útil. E até onde me lembro, suas asas foram cortadas. Posso construir outras, se você quiser.

- Você consegue?

- Eu posso ser bem fria às vezes, mas eu tenho sentimentos, Wilson. Eu sou uma Stark. Construir máquinas é meu segundo nome.

---

Como Fury havia a levado até o cemitério mais cedo, Avril foi de carona com Natasha, assim como a dupla de soldados. Por causa da perna imobilizada, a morena voluntariamente abriu mão do banco da frente e Steve a acompanhou, deixando Sam como copiloto.

- Posso dar uma olhada? – perguntou Avril na metade do caminho para o aeroporto, apontando para o arquivo que Natasha conseguira sobre Barnes, que Steve lhe entregou em seguida.

Havia algumas fotos do homem tanto em sua época de Soldado Invernal como de Bucky Barnes, com longas descrições de suas habilidades e assassinatos que eram atribuídos a ele. Mas nada disso atraiu sua atenção, e ela apenas passava os olhos pelas informações, até encontrar um nome conhecido.

"Líderes do Programa Soldado Invernal:

Arnim Zola (1943-1972)

Anton Tchehov (1972-1974)

Valerik Ivanova (1974-1989)

Vasily Karpov (1989-1998)

Mikhail Gagarin (1998-????)"

Valerik Ivanova.

A mente de Avril entrou em pane por alguns momentos, tentando assimilar a informação: Barnes havia a confundido com um dos monstros que ajudara a destruir qualquer vestígio do homem que ele fora um dia. Aquilo era bastante estranho, até para os padrões surreais da situação, principalmente porque ele devia ter passado por inúmeras lavagens cerebrais desde a última vez que vira a tal Valerik, assumindo que ela sumira depois que fora desconectada do programa. Quão importante era aquela mulher para que Barnes se lembrasse dela quando fora tão difícil despertar uma mera lembrança Steve?

Steve a observava pelo canto do olho, mas preferiu não perguntar quando percebeu que ela se alterara um pouco: a postura mais apreensiva, os ombros tensos, e cenho franzido. Algo lhe perturbara e o soldado sentia que era melhor não tocar no assunto, e que, mesmo se insistisse, Avril arrumaria um jeito de trocar de assunto, principalmente porque não estavam sozinhos no carro, embora tivesse a impressão que ela desconversaria mesmo que estivesse sozinhos.

A postura que Avril havia assumido ele não via desde o helicarrier, alguns anos atrás.

---

- Com essa perna é melhor você não pilotar hoje – avisou Natasha, já tomando seu posto na nave. Antes que a morena pudesse argumentar, Sam ocupara a cadeira de copiloto, deixando claro que ela não chegaria nem perto dos controles. Natasha sorriu com o ato, fazendo um gesto com a mão para que ela deixasse o ambiente – Vá descansar.

- Avril, por favor - pediu Steve ao fundo, indicando uma área mais afastada da nave com a cabeça antes que ela pudesse iniciar alguma discussão com Natasha. Tanto no rosto como na voz do soldado estava claro seu desconforto, o que não passou despercebido pelos olhos atentos da ruiva, que apenas ergueu a sobrancelha para a Stark.

- Só não pergunte – avisou a morena, seguindo o soldado com o som da risada baixa da mulher ao fundo.

Mesmo não tendo sua fratura completamente recuperada, Avril já conseguia andar com certa agilidade, mas escolheu diminuir a velocidade de seus passos tanto porque tinha uma ligeira noção do assunto que Steve iria abordar, e porque não queria exatamente tocar naquele assunto. Lidar com sentimentos não era exatamente uma especialidade dos Stark, e ela não fugia à regra. Mesmo não estando tão afastados dos outros dois, ali o ambiente era mais silencioso, e, embora a iluminação estivesse mais suave pelas lâmpadas estarem apagadas, o espaço não transmitia aconchego, talvez se aproximasse mais de insegurança. Não por ali ser o local de embarque e desembarque, e até saltos quando a invasão era por cima. A apreensão de ambos era tão intensa que se refletia no ar, e aos poucos suas respirações ficavam mais pesadas.

- Eu tenho uma leve ideia do que você vai falar, mas quero te ver sem graça, então fale – brincou Avril, quando Steve parou de costas para ela, com alguns bons passos os separando. Antes que percebesse, ela já se sentava em um dos bancos de metal destinados para equipe, deixando ambas as mãos sobre seus joelhos enquanto estudava a expressão cansada do soldado. Se precisasse, mentiria pelo resto da vida dizendo que ela que colocara o loiro contra a parede e direcionara aquela conversa como bem queria, mas a verdade é que estava tão agoniada como Steve, ou até mais. Aquela definitivamente não era sua área, e o homem a sua frente já tinha passado por uma situação quase bem-sucedida. Ele e Peggy não tinham terminados juntos, mas teriam se Steve não tivesse sido congelado, não havia nada os impedindo, eles gostavam um do outro. Se aquilo fosse uma competição, Steve estaria um quase bem-sucedido relacionamento a sua frente.

Avril teve que ter muito autocontrole para não se perder naquele devaneio e esquecer do que realmente importava.

Mas Steve ter mais experiência em relacionamentos normais provavelmente era a observação mais surreal que faria naquele dia.

- Eu não devia ter te beijado – murmurou Steve, sem rodeios. Desde que acordara no hospital que aquele assunto perturbava sua mente, e parecia que quanto mais ele enrolava para abordar o assunto, menos coragem ele tinha para começar. O cenário havia mudado demais em tão pouco espaço de tempo. Ele próprio havia mudado demais. Seus anseios, o futuro distante e até imaginário demais em que o homem se apegava... Tudo aqui cairia para terceiro, quarto plano. Contra sua vontade, HYDRA era a prioridade, e encontrar Bucky ficava em segundo plano, mas não era sim que ele se sentia. Ele havia dado um passo decisivo quando tomou a decisão de não lutar contra seu amigo, e isso o assustava. Não por não estar disposto a fazer o impossível para recuperar Bucky, porque ele estava, mas porque muita coisa seria sacrificada no processo, como qualquer tipo de coisa que ele pudesse vier a ter com a mulher a sua frente.

Steve aceitara que ia morrer no helicarrier e no fundo sabia que não evitaria um cenário semelhante se fosse necessário, e aquilo não apenas não parecia certo com Avril. Ela vinha logo atrás de Bucky na hierarquia "eu faço o que for necessário para te manter seguro".

- Okay – disse ela devagar, sorrindo de leve ao notar a insegurança do herói a sua frente. Salvar o mundo várias vezes e enfrentar vilões? Fácil. Encarar a garota que ele poderia estar começando a gostar? Isso sim era um desafio.

- Não é que eu não goste de você, pelo contrário. Quero dizer... – suspirou ele, deixando seus ombros caírem. Aquela não era a conversa que Steve queria ter, estava tudo errado e não parecia ter nada que ele pudesse fazer para mudar isso. Se ao menos tivessem nascido na mesma época, as coisas poderiam ser mais fáceis... Se não passassem de dois civis, não haveria força no mundo que pudesse o manter longe de Avril. Steve só queria que as coisas fossem diferentes e isso o fazia se sentir ainda mais impotente – Olhe o que nós estamos vivendo...! HYDRA nunca foi derrotada, S.H.I.E.L.D. caiu... Estamos bem no meio dessa loucura! Você é filha de um amigo e neta de outro. Não posso fazer isso.

- Espera, é isso que eu sou para você? A filha do Tony?! - estranhou Avril, surpresa tanto pela revelação do soldado como por sua própria reação a tal comentário. Havia um pouco de mágoa em sua voz e ela sequer tentou disfarçar. Mesmo se ignorasse a última semana e a confusão de sentimentos que antecederam e sucederam o beijo, Avril considerava Steve seu amigo, não um antigo conhecido da família. Claro que ela havia passado quase que férias com ele porque havia lhe sido ordenado vigiar o soldado, mas isso não conseguira apagar a boa convivência nem a forte conexão que existia entre eles, pelo menos não para ela. Em antigas conversas com Clint havia deixado bem claro que não havia senso de obrigação entre eles, e agora parecia que ela estava errada desde o começo. Havia um teor de obrigação nas ações de Steve e talvez fosse muito maior do que imaginara. Não, Avril não aceitaria isso como verdade. Tinha que ter algo a mais ali e, antes que percebesse, a mulher já cruzava os braços para analisar o soldado, que apenas soltou um "sem trapaça, Av" quando percebeu que não existia mais a possibilidade de enganar a morena. Mal sabia ele que naquele momento a última coisa que Avril podia confiar era em suas análises: mais uma vez ela perdera a imparcialidade, e com a mesma pessoa – É tão difícil assim admitir que você gosta de mim?

- Claro que eu gosto, Avril – suspirou Steve, levando uma mão à testa e massageando a região – Mas tudo é complicado! Olhe quem nós somos.

- O mundo sempre é complicado, mas você está fugindo de alguma coisa que eu não consigo ver o que é! – insistiu ela, um pouco irritada. Steve não havia voltado ainda a ser um ponto cego, Avril apenas não conseguia justificar suas ações, o que era ainda pior. Isso a fazia se sentir ainda mais perdida – Não é a diferença de idade, certo? Porque, tecnicamente, se contarmos os anos que você passou respirando, nós temos quas...

- Não tem nada a ver com isso... – resmungou Steve, sendo logo interrompido por mais teorias da morena.

- Medo de acontecer algo parecido do que aconteceu entre você e Peggy? – arriscou ela. A ideia lhe parecia um pouco idiota, mas não poderia julgá-lo se fosse realmente aquilo. Considerando quem eles eram, como o próprio soldado havia colocado antes, algo ruim acontecer com algum deles não seria exatamente uma surpresa – É isso que está te segurando?

- Por que você está tão determinada nesse assunto?! – antes que pudesse perceber, Steve perdera a cabeça, elevando a voz da forma que não queria, vendo os olhos assustado de Avril se arregalarem com a mudança abrupta de sua postura. Ela estava insistindo em um assunto que o loiro queria deixar quieto, mas não era tão fácil assim tirar Steve do sério, mesmo ela sendo expert no quesito "irritar pessoas". E então a compreensão a atingiu.

Não era apenas desconforto que Steve transmitia, tinha algo mais. Era algo tão simples que Avril quase se xingou por não ter pensado nisso logo de princípio. Os pontos mais característicos de suas personalidades eram muito contrastantes: ele costumava ser um garoto inseguro e introvertido do Brooklin, enquanto ela costumava ser a garota rica de Malibu que tinha como principal hobby aparecer em notícias de tabloides. Era a mais cliché das combinações e o impasse ali era o mais tradicional de todos.

- Você acha que não é recíproco – deduziu Avril, pela primeira vez em muito tempo assustada por não saber o que fazer, e sabia que seu rosto estava falhando excepcionalmente em disfarçar isso – Você acha que eu não gosto de você. Acha que eu me deixei levar pelo momento?

A falta de resposta de Steve foi o suficiente para ela confirmar suas dúvidas.

- Essa é nova – confessou mulher, rindo nervosa e se levantando enquanto passava a mão pelo cabelo, puxando alguns fios no processo – Normalmente os caras assumem que eu gosto deles, não o oposto. A situação realmente é inusitada em todos os sentidos.

- O que você quer dizer com isso? – Steve se flagrou curioso, sem entender sobre o que ela falava.

- Que esse cenário me é familiar demais. Já passei por isso antes – continuou a morena, com sua voz de alterando a cada palavra sem seu consentimento. Rogers estava a afastando quando deveria estar fazendo o contrário, e ainda se sentia no direito que a repreender com um olhar mal-humorado enquanto cada vez mais ela ia se descontrolando – Só que você não é um garotinho mimado que está mais interessado nas Indústrias Stark do que em mim. E ao invés de estar tentando forçar algum tipo de relacionamento, você está é tentando me afastar!

- Por que você está se exaltando?

- Porque aparentemente eu estou apaixonada por você, idiota! – as palavras apenas saiam de sua boca, uma puxando outra até que Avril não tivesse mais controle do que falava, apenas verbalizando da melhor maneira que podia toda aquela confusão que sentia – Até o Fury percebeu isso e eu, sendo outra idiota também, estava tentando fantasiar que tudo não passava de preocupação por um amigo que tem o dom de arriscar sua vida a cada três segundos e...!

Avril desistiu da sentença, respirando fundo e apoiando todo seu peso na parede as suas costas. Aquela sensação era nova: exaustão emocional. Sua mente também estava cansada, mas daquela vez era diferente. Ela poderia dormir até a próxima terça e talvez ainda não fosse ser o suficiente. Afinal, seus problemas ainda não tinham aprendido a se revolver sozinhos.

Steve estava quieto, observando seus movimentos com cuidado, tão perdido em pensamentos que sequer ela podia resumir o que ele pensava. Era um nível de concentração que a mulher não podia analisar. Se Avril estivesse certa, aquela teria sido uma revelação no mínimo inesperada para o soldado, e isso não a ajudava a entender o que se passava em sua mente.

- Se você quiser dizer algo para deixar o clima menos pesado, eu não vou me opor – suspirou ela, depois do que pareceu uma eternidade sob o olhar intenso do soldado.

- Não acredito que ser um sentimento recíproco mude alguma coisa, Av. Acho que no fundo só complica mais – confessou Steve, embora as palavras apresentassem certa resistência para saírem – Nós estamos em situações de risco o tempo todo. Podemos acabar distraindo um ao outro.

"Passo errado, Rogers", pensou o soldado assim que notou uma alteração significante na postura da mulher a sua frente, ele sabia muito bem o que era. Ele havia a ofendido. Sua fala havia deixado a possibilidade de estar duvidando de suas capacidades.

Foi com certa surpresa que o soldado a viu cerrar os punhos com força por alguns segundos e os relaxar em seguida.

- É uma visão sua, não posso te obrigar a concordar comigo – retrucou ela, controlando precariamente sua vontade de socar o loiro – Mas não há questões pessoais quando se coloca o uniforme, Steve. Do mesmo jeito que eu luto ao lado da Romanoff ou do Barton, eu lutaria ao lado do meu pai, ou do seu. Eu fui treinada para suportar momentos de pressão emocional. Claro que a Batalha de NY não conta, já que eu era um alvo e não teve como eu me proteger... Mas Triskelion? – sua voz voltara a ficar embargada e pela primeira vez em muito tempo seus olhos começaram a arder. Avril podia facilmente manter as aparências e retomar o controle do tipo de emoção seu corpo expressava, mas não quis interferir. Acontecia em raras ocasiões, mas tanto ela como Steve mereciam aquela honestidade – Eu tive que passar por tudo aquilo sabendo que as chances de você voltar seriam mínimas. Tive que ter maturidade o suficiente para conseguir te ajudar mesmo estando no refúgio, quando eu deveria estar no prédio te dando cobertura. E eu não parei quando você desistiu. Eu sei muito bem separar as coisas e espero que você não tenha suposto que eu não saberia. Que você ache que você não conseguiria separar as coisas. Porque se for o contrário, eu vou ficar muito p...

- Se eu tivesse ficado de fora e você ido... – interrompeu-a Steve, a surpreendendo. Tão concentrada em não agredir o homem, ela não tinha percebido as alterações em sua postura. O estado do soldado não estava muito diferente dela: a voz baixa e falha, o rosto avermelhado, e os olhos que começavam a ficar marejados. Ouvir toda a agonia que ela passara naquele dia ser verbalizada não era algo que ele pudesse suportar. Era exatamente um dos motivos por querer manter distância: tomar uma decisão que a machucaria apenas não dava, e as previsões não eram nada boas sobre o que os esperavam. Steve precisava poupá-la, algum dos dois tinha que sair inteiro – Não acredito que teria conseguido fazer metade do que você fez. E isso me assusta. Sei que você é capaz, mas eu não estou acostumado em te ver em ação, e ainda sinto a urgência de te proteger, ainda mais depois do Bucky... Eu quase te perdi, Avril... Passei mais de doze horas tentando me convencer de que você tinha sobrevivido, mas no fundo eu sabia que estava apenas me iludindo.

Barnes.

Avril havia esquecido de considerar Barnes na equação, e agora se via usando métodos errados para um cálculo que ela sequer sabia fazer. Steve havia virado uma versão humana de campo minado e ela era a pessoa que nunca aprendera como o jogo funcionava. Só que ali entender os macetes do jogo era bem mais do que poder se vangloriar por compreender algo que a maior parte da população não conseguia, era algo muito mais essencial que isso. Não saber como ajudar e correr o risco de acabar o piorando ainda mais a situação estava a matando aos poucos.

- Na minha defesa – desconversou a mulher, passando as mãos no rosto com violência, limpando algumas lágrimas que estavam prestes a escapar de seus olhos –, essa foi a minha primeira experiência real de quase morte. Se for comparar com meu pai, é quase nada! Se bem que eu comecei bem mais nova que ele, então tenho fortes chances de bater o recorde dele de... Quatro vezes? Meu Deus, como a Peper consegue...?! O que eu estava querendo dizer é que... A escolha é a sua. Se acha que melhor não, eu sou muito boa em esconder coisas e fingir, então ficaria praticamente tudo na mesma.

Por poucos segundos Steve considerou aquela opção, e a descartou mais rápido ainda. Manter as coisas do jeito que estava parecia ainda pior. As chances de Avril não integrar os Vingadores agora com a revelação da HYDRA eram nulas, só não faria parte da equipe caso recusasse o convite, e Steve a conhecia bem o bastante para saber que essa possibilidade sequer passava por sua cabeça. Eles fariam parte da mesma equipe, quantas vezes por dia ele se flagraria admirando a expressão compenetrada da morena enquanto trabalhava em algo que estava sendo mais complexo do que ela esperava? Ou quantas vezes ele perderia para ela durante simulações de lutas por se distrair com seu sorriso convencido? Quanto ele se arrependeria se algo acontecesse com um dos dois e tivessem desperdiçado inúmeras chances de terem boas memórias juntos? Deveria existir um limite de quanto arrependimento uma pessoa podia suportar e Steve não queria conhecer o seu, ainda mais se fossem em relação à mulher a sua frente.

- Mas eu não sou – a voz de Steve saíra baixa, mas foi o suficiente para que Avril revirasse os olhos, ignorando por completo a mudança de postura do soldado enquanto se deixava irritar pela constante hesitação do homem.

- Cara...! – ofegou ela, deixando os ombros caírem. Aquela discussão estava lhe saindo mais exaustiva do que espera, embora no fundo não conseguisse culpar o loiro, já que até poderia concordar com ele em alguns pontos. Avril estava amedrontada com tudo aquilo e não tinha como negar, mas pelo menos tinha feito uma escolha, diferente do loiro que parecia incapaz de manter seu posicionamento por mais de um argumento – Será que dá para você simplesmente decid..?!

Antes que pudesse entender o que acontecia, Steve avançara em sua direção e extinguira a distância que os separava, tomando o rosto da mulher com uma mão antes de selar seus lábios. Avril apenas pode sorrir quando compreendeu o que aquilo deveria significar, envolvendo o pescoço do soldado com ambos os braços em seguida. Não demorou muito para que Steve se afastasse um pouco apenas para verificar algum indício de que a morena mudara de ideia, contente ao já encontrar o olhar dela travado no seu, sem encontrar qualquer vestígio de dúvidas. Aquele momento era tão essencialmente diferente do primeiro beijo que até parecia ser em outra vida, outras pessoas.

A viagem até NY não era muito longa, mas eles ainda tinham alguns minutos antes de chegar à Torre, e mais um pouco de tempo até que a ausência dos dois começasse a parecer suspeita, por isso logo seus lábios estavam sobre os da morena mais uma vez. Aquele seria o máximo de paz que teria pelos próximos sabe-se lá quantos meses.

---

- Eles realmente estão se beijando e eu não tenho uma câmera... – cantarolou Natasha, fazendo Sam rir.

- Acabei de chegar, mas tinha a sensação de que isso não era algo recente – confessou o homem, afundando em sua cadeira.

- E não é. Só que os dois estavam ocupados demais para perceber – explicou a ruiva, ainda com um sorriso discreto nos lábios. Diferente de Clint, ela não acreditava muito naquela história de que Avril e Steve realmente pudessem ter algum envolvimento mais sério, e não estranharia em descobrir que a jovem Stark tivesse aumentado a lista de affairs durante seu tempo de reclusão, e que o soldado apenas era o próximo da lista. O que a surpreendera foi notar a visível mudança de comportamento dos dois quando estavam perto um do outro, e aos poucos a ruiva começava a aceitar que talvez Clint estivesse certo – Só vou te dar um conselho, Wilson... Você sabe quem é o pai dela.

- Obviamente.

- Se eles não falarem nada disso quando chegarmos à Torre, você também não fala – continuou ela, apontando para trás para ilustrar o que não devia ser comentado – O Stark pode não gostar muito dessa ideia.

- Sério? – riu Sam, descrente – O Homem de Ferro tem ciúmes da Stark Party Girl?

- Por acaso é fã da garota?

- Ela vivia nas notícias – se explicou ele rápido, rindo mais em seguida – E não vou mentir: ela também não agride os olhos.

Natasha apenas ignorou o comentário.

- Stark está ficando um pouco protetor demais em relação à filha, e ele e Rogers têm um velho costume de bater muito de frente... – contou a ruiva, arriscando um rápido olhar para o seu copiloto – Ele não vai aceitar tudo isso com um sorriso no rosto.

- Já podemos preparar os baldes de pipoca?

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