The Real Side

By hiddles-evans

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Segredos e mentiras fazem parte do nosso dia-a-dia. Em alguns momentos, simplesmente mentir ou ocultar fatos... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36¹
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40

Capítulo 24

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By hiddles-evans

Olhares acompanhavam a mulher pelos corredores, cada um mais surpreso que o anterior. Da última vez que o nome da agente Stark virara notícia na agência, ela havia sido afastada por mau comportamento, e inúmeras teorias circulavam sobre o que isso deveria significar. Por isso a surpresa de todos ao verem-na entrando no prédio, aparentemente sem permissão, já que não era de conhecimento de ninguém que ela havia retomado seu posto.

Para tentar chamar menos atenção, Avril estava respeitando as regras de vestimenta do prédio, um pouco desconfortável por usar roupa social depois de tanto tempo. O que mais incomodava eram os sapatos de salto excessivamente altos, no estilo que Pepper sempre tentava a obrigar a usar em eventos da empresa. As calças escuras apresentavam a mesma coloração do blazer aberto que vestia por cima da camisa branca bem abotoada. Seus cabelos estavam presos na altura da nuca, e toda vez que passava em frente a algum vidro se surpreendia com a aparência profissional que estava mostrando.

Se Pepper a visse daquele jeito iria arrumar reuniões na empresa para que ela participasse toda semana.

- Agente Stark...! – cantarolou uma voz grave, com seu dono adentrando no elevador logo depois da morena, que observava o horizonte pela parede transparente – Você foi chamada ou está invadindo o prédio? Não me lembro de ter ouvido dizer que você estava de volta.

- Notícias importantes só chegam para pessoas importantes, Rumlow – retrucou ela, com um sorriso educado no rosto enquanto se virava para ele.

- Um amor de pessoa como sempre, pelo visto.

- Com você? Sempre, querido... – sorriu ela antes de ficar séria – Alguma chance de saber me explicar que merda está acontecendo aqui?

- Notícias importantes só chegam para pessoas importantes, não é? – devolveu o homem, lhe mostrando o sorriso mais sacana que possuía.

- Brock – repreendeu-o Avril, com os braços cruzados para mostrar que aquele não era um bom momento – Estou falando sério. O que você sabe?

- Só sei que Pierce colocou a S.T.R.I.K.E. atrás do Sr. América – contou ele, já se preparando para a reação da mulher, que ele já sabia que não seria nada silenciosa.

- Ele o que?!

- Não notou a bagunça que estava lá embaixo? – riu Rumlow, achando graça na expressão assustada de sua companhia, que parecia perdida em pensamentos – O estacionamento? O cara fugiu faz poucas horas.

- Por que Rogers fugiria? – indagou ela, pensando alto. A cada segundo a história ficava ainda mais confusa – Pierce vai ter que falar comigo agora.

- Foi por isso que você veio?

- As outras bases estão no escuro – mentiu ela, embora respostas fosse um dos motivos de estar ali – Sabíamos que alguma merda tinha acontecido, mas não que o Diretor tinha sofrido um atentado e que estávamos caçando o Capitão América.

- Aparentemente não dá para confiar em ninguém hoje – suspirou o homem, escondendo as mãos no bolso – Bom te ver de volta, Avril.

- Concordo – ela sorriu de lado, antes de saírem do elevador – Te vejo por aí.

Talvez fosse paranoia, mas Avril vira algo estranho nos olhos do moreno quando se separaram. Ele repetir uma versão parecida do discurso de Fury havia lhe trazido uma sensação estranha, principalmente por ele estar se referindo a uma das poucas pessoas que ela confiava.

Se não podia confiar em Steve Rogers, em quem confiaria?

---

Avril parou do outro lado da parede de vidro, assistindo o homem andar de um lado para o outro, discutindo algo com o Conselho. Não parecia certo interromper porque: um, ela sequer devia estar ali; e dois, não tinha a melhor das experiências com o Conselho.

- Avril Stark! – festejou Pierce assim que avistou a mulher, depois de desligar com a conferência, e ela tomou como a deixa para entrar na sala – Há eras que não nos encontramos! Fico feliz em saber que superou os problemas que estava tendo com seus poderes. Você é uma agente única, não podemos nos dar o luxo de perde-la.

- Não é tão fácil assim me derrubar, senhor – respondeu ela com um sorriso educado, apertando a mão que o homem lhe oferecera.

- Se fosse você, não teria chegado tão longe nessa agência, minha querida... – retrucou Pierce, enigmático. Avril teve que controlar a sensação desconfiada que começara a dar sinais no elevador – Soube que o Conselho deliberou sua volta para seus afazeres... Você quer discutir alguma coisa sobre isso?

- Não foi para isso que eu vim aqui, senhor – disse ela simplesmente, escolhendo cada palavra com cuidado.

- Bom, e na verdade não foi para isso que eu te chamei também – suspirou Pierce, se adiantando para a sua mesa e organizando alguns papeis. Avril acompanhou seus movimentos com o cenho franzido, sem conseguir pensar em algum motivo para ser convocada.

- Não fui chamada, senhor.

- Você já estava vindo para cá, então deixei o chamado de lado – explicou o homem e seu olhar causou um arrepio frio em sua espinha – Você já deve estar ciente da situação.

- Os boatos que ocorrem é que Fury foi morto.

- Não são apenas boatos.

- Algo não parece certo, senhor – disse ela, depois de um longo período em silêncio – Principalmente porque você colocou toda a S.H.I.E.L.D. atrás do Capitão América.

Pierce fechou os olhos por alguns instantes, quase que apreciando o tom de voz protetor da mulher. Havia alguns indícios de para que lado sua confiança pendia e, naquele momento, nunca fora mais claro.

- Rogers sabe de alguma coisa, Stark. Ele sabe de alguma coisa e não nos contou – explicou o homem, com a expressão fechada – Isso é o suficiente o caracterizar como inimigo.

- Não parece que estamos falando do mesmo homem – insistiu Avril, deixando seus lábios se curvarem em um sorriso nervoso – Se Rogers está escondendo alguma coisa, acredito que tenha um bom motivo.

- E desde quando você é do tipo que confia em outros agentes? – questionou Pierce, arriscando alguns passos em sua direção, diminuindo bruscamente a distância entre eles – Você sempre fez mais o tipo desconfiada desde que foi recrutada.

- Passei muito tempo com Rogers, senhor – respondeu ela de imediato, sem se abalar pela postura mais autoritária do secretário – Conheço seu modus operandi. O que está me dizendo não bate com o histórico dele.

- Isso é verdade: você é a agente que melhor conhece Rogers, por isso a chamei – contou o homem, diminuindo a altura da voz e sem demonstrar sinais de que pretendia se afastar – Quero que você o rastreie. A S.T.R.I.K.E também está atrás dele, mas acredito que você possa fazer um trabalho mais ágil e limpo. Até mesmo conseguir as informações que ele esconde. Com um bom motivo ou não, precisamos dele aqui. Rogers é importante para S.H.I.E.L.D. Ele simplesmente ter fugido torna toda a situação mais complicada.

- Irei encontrá-lo, senhor – respondeu Avril com firmeza, embora mentalmente já tivesse xingado até a terceira geração do secretário. Ele estava escondendo alguma coisa, mesmo sem conseguir captar sinais de que estava mentindo, tinha alguma coisa que Pierce não estava contando.

Quando percebeu que o homem não pretendia lhe dar mais ordens, Avril recuou um passo e abaixou levemente a cabeça antes de girar os calcanhares e se direcionar para a porta com os passos mais calmos que podia dar naquele momento. Na verdade, no fundo ela até estava um pouco aliviada. Se Steve estava sendo caçado era porque ele tinha informações perigosas, e não seria absurdo acreditar que seriam as informações que ela precisava.

Ela encontraria o soldado, mas não pelos motivos do secretário.

- Acredito que Romanoff possa estar com ele também – acrescentou Pierce no momento que seus dedos se fecharam ao redor da maçaneta – Você a conhece muito bem, deve ser capaz de lidar com os dois sem muitos problemas.

Com apenas mais um aceno de cabeça a jovem Stark deixara a sala, mas o secretário continuou o mesmo lugar por um bom tempo. Suas suspeitas haviam se confirmado naquele pequeno espaço de tempo que passara na companhia da agente: Avril sabia de alguma, provavelmente tinha sido ela que Fury havia contatado. A convocação para uma missão emergencial havia sido uma manobra para explicar o sumiço repentino da mulher na Inglaterra e seu aparecimento importuno no Triskelion. O problema era que ele não poderia mandar a S.T.R.I.K.E cuidar dela também – causaria mais um alvoroço na S.H.I.E.L.D. por se tratar de mais uma agente de nível alto, além de ainda acarretar na intromissão do Homem de Ferro na história, e mais problemas era a última coisa que o homem precisava.

Sem conseguir pensar em outra saída, Pierce tirou seu celular do bolso, digitando uma sequência de números já decorada rapidamente antes de levar o aparelho à orelha.

- Mande o Soldado atrás da agente Stark – ordenou o Pierce – Não vamos deixar a garota se tornar um problema.

- Mas, senhor... A garota Stark na verdade é... – a pessoa do outro lado da linha tentou argumentar, mas o secretário a cortou bruscamente.

- Descartável – rosnou o homem, inconscientemente apertando o aparelho em suas mãos – Não vamos precisar da garota e ela é perigosa demais, não a quero atrapalhando nossos planos. Se Ivanov achar ruim, mande o Soldado atrás dele também.

---

Avril saiu do prédio como um fantasma. Por um milagre conseguira passar pelo saguão em raros momentos de pouca movimentação, o que reduzira consideravelmente o número de olhares surpresos que colegas lhe lançavam.

Já na rua, não demorou muito para que um táxi encostasse e ela entrasse no veículo, bufando alto assim que suas costas tocaram o estofado macio.

- Avril St...! – exclamou o motorista, assim que conseguiu ligar o rosto familiar a um nome.

- É. Sim, sou eu – cortou-o ela, impaciente - Para o hotel mais próximo, por favor.

A viagem não duraria muito tempo, então Avril não ousou pegar seu celular. O taxista não parecia ser uma ameaça, mas ela precisava do ambiente mais seguro possível para gravar sua mensagem. Agora não era mais apenas uma questão de manter Clint informado: ela precisava contatar Natasha tanto para saber o que estava acontecendo como para conseguir localizá-la.

- J., ligue para o papai, por favor – pediu a mulher, com a aparelho na orelha e caminhando com aparente calma até o saguão do hotel.

Se não envolvesse J.A.R.V.I.S., apenas seus tutores teriam acesso à mensagem, por isso Avril mudara de ideia no último instante. Aquela desconfiança ainda não saíra de sua mente. Era como se soubesse que mais alguma coisa estava errada, só não sabia o que exatamente. Por isso não faria mal incluir Tony na lista de destinatários. Afinal, Tony e ela tinham seus códigos para situações de perigo desde que ela tinha dez anos, não seria difícil para ele entender o que acontecia.

- Oi, papai. Eu acabei de sair de Triskelion e as coisas estão meio que uma bagunça. Fury realmente foi morto, e parece que Steve está envolvido... Eu sei, nada disso cheira bem. Pierce me colocou para rastreá-lo. Espera um pouco... – ela afastou o aparelho do ouvido e o guardou no bolso para falar com o recepcionista do hotel, que parecia estar tendo uma parada cardíaca – Um quarto, por favor. Qualquer um que tiver uma cama, na verdade.

O recepcionista assentiu mais vezes que o necessário, sentindo dificuldades para digitar com suas mãos trêmulas. Não demorou muito para que ele lhe entregasse a chave de seu quarto e ela rumou para o elevador. Ali ela pretendia terminar a mensagem, mas um rapaz conseguiu entrar no elevador mesmo com ela apertando o botão que fechava as portas repetidas vezes.

Bufando mentalmente, a mulher sequer ousara ameaçar levar a mão para o bolso onde seu celular se encontrava. Não podia confiar em ninguém.

Não muito surpresa, Avril percebeu que estava pagando por uma suíte até que luxuosa. Era um quarto espaçoso, tendo até uma pequena mesa de jantar do centro. Batendo a porta às suas costas, ela se perguntava se o recepcionista havia escolhido o quarto propositalmente ou o taxista que a deixara em um hotel caro. Algum dia o mundo entenderia que quem era bilionário era o mais velho dos Stark.

Andando de um lado para o outro, ela pegou o aparelho no bolso, o levando ao ouvido para terminar a mensagem.

- Onde que eu parei? Rastrear o Rogers...! Não estou muito confortável com isso, mas é ele que tem respostas e preciso entender o que está acontecendo – terminou de explicar, jogando sua bolsa em direção à cama, vendo-a acabar caindo no chão em seguida. Quando estava prestes a finalizar a ligação, Avril sentiu a necessidade de ter algo específico para Tony e Clint – Não, não precisa vir para cá. Posso lidar com isso sozinha. Sem contar que outro vingador envolvido pode atrair muita atenção e você não é muito discr...

Avril parou no meio da sentença quando sentiu uma movimentação estranha e distante: alguém armado no terraço do prédio a frente.

Antes que pudesse fazer alguma, tiros invadiram o quarto e nem de todos ela conseguiu desviar. Um tiro atravessara sua coxa esquerda e outro atravessara seu abdômen.

- Mas que p...?! – ofegou ela, vendo seu celular longe de seu alcance, embora ele não lhe fosse ser muito útil no momento, já que não conseguiria contatar apoio com ele. Enquanto tentava encontrar o atirador, ela colocou seu comunicador no ouvido – Agente Stark sob ataque. Inimigo desconhecido e sem contato visual. Contei apenas um, mas não sei se há outros. Fui comprometida.

- Estamos mandando reforços, Stark – a voz desconhecida de algum agente respondeu, enquanto ela xingava baixo e tentava parar o sangramento – Tente se proteger.

- Não acho que seja uma opção... – cantarolou ela, ainda sentindo a dor dos ferimentos. Havia treinado várias vezes como ignorar aqueles estímulos e amenizar ferimentos graves para caso estivesse sozinha em uma situação como aquela. Mas claro que era mais difícil se concentrar quando não se estava em uma simulação – Cadê você, desgraçado?

Respirando fundo várias vezes e ciente de que era uma péssima ideia, Avril rolou pelo carpete para alcançar a bolsa que carregava seu armamento. Algo em sua mente lhe dizia que devia sair daquele quarto o mais rápido possível, mesmo que fosse desarmada, mas ela simplesmente ignorou aquele aviso. O atentado de Fury, a perseguição de Steve, e agora ela sofrendo um ataque... Não existia aquele tipo de coincidência.

Chutando seus saltos para longe e com sua pistola posicionada em mãos, ela foi se aproximando da janela com um passo de cada vez, temendo uma aparição repentina do atirador, embora não sentisse sua presença. Quando estava prestes a alcançar a janela, os tiros recomeçaram, e ela teve que pular para trás da mesa e derrubá-la para servir como proteção primária.

O atirador estava do outro lado da janela e logo invadira o quarto.

Enquanto atirava de volta, Avril conseguiu reparar em alguns poucos detalhes: o atirador era um homem um pouco mais alto que ela, com cabelos escuros e compridos, trajando o que parecia ser um uniforme todo a base de couro. Pela movimentação e sua cabeça baixa, não conseguira ter uma boa visão de seu rosto, então não conseguia identifica-lo.

Não demorou para que a munição do atirador acabasse, e no momento que largou a arma, o ar escapou dos pulmões de Avril.

- O Soldado Invernal – ofegou a morena, tendo agora uma boa visão de sua mão metálica, mesmo estando coberta por uma leva. Esse cara atirou em alguém com a Romanoff no meio. Tentando controlar seus instintos que gritavam para que ela saísse dali o mais rápido possível, ela segurou sua arma com mais vontade, deixando a cabeça no homem em sua mira – Quem que mandou, hein?! Quem te mandou atrás de mim?

Como já esperava, Avril não obteve resposta.

O Soldado Invernal se adiantou em sua direção, ignorando os inúmeros tiros da mulher, jogando para longe a mesa que ela usava como proteção. Avril teve que abandonar a arma quando acabou a munição e se preparar para um combate mais próximo. O Soldado tentara acertar o primeiro soco e o confronto se iniciou.

Por alguns breves momentos, a vantagem era dela. O homem era muito mais forte que o natural, porém não esperava que ela também fosse. Mesmo assim, Avril precisava tomar cuidado com o braço de metal, já que não adiantava golpear aquele membro e ele ainda apresentava muito mais perigo do que o braço natural do soldado, embora esse fosse tão rápido quanto o artificial. Eram claros os objetivos do Soldado a cada golpe que Avril conseguia bloquear: qualquer um daqueles socos poderia facilmente a matar se atingisse o ponto certo.

Não demorou muito para que a mulher encontrasse uma brecha em sua defesa, deixando que ele agarrasse seu pulso apenas com a mão natural. Antes que ele pudesse entender o que acontecia, a mulher estava às suas costas, pegando impulso na parede para derrubá-lo. Ao atingir o chão, a mulher estava ajoelhada em suas costas, com um pé mantendo seu pulso metálico prensado contra o carpete. Uma mão forçava seu ombro direito para baixo, enquanto a outra segurava seu braço para trás, deixando claro que estava pronta para deslocar o osso caso fosse necessário.

- Você responde minhas perguntas... – murmurou Avril, com a voz ofegante, aproximando o rosto de seu ouvido – E eu prometo não fazer nenhum estrago no seu rosto bonitinho, o que acha?

Não a surpreendendo muito, o Soldado conseguira escapar braço metálico, agarrando sua perna e a jogando para o lado. Avril conseguiu no último segundo desviar do punho fechado do homem, que afundou alguns bons centímetros no chão, mas não teve tempo o suficiente para criar uma boa distância entre eles, ou ficar devidamente de pé. O homem tentara puxá-la pelo pé no intuito de ficar por cima de seu corpo, mas não conseguira impedir o chute potente que a mulher lhe acertara no rosto com o pé livre, o deixando desnorteado. Jogando as pernas para cima para se pôr de pé, Avril pegou o primeiro objeto que suas mãos tocaram – uma cadeira que tombara quando o ataque começara. Juntando toda força possível, ela mirara novamente a cabeça do homem, mas ele nunca chegou a ser atingindo. Ele não apenas segurara a cadeira como também a puxara para trás, consequentemente trazendo a mulher para mais perto, já que era óbvio seus esforços para se manter distante dele, pela distância ser sua maior aliada no momento. Sem muitas opções, Avril pegara impulso para jogar suas pernas ao redor do pescoço do soldado, usando seu próprio peso para derrubá-lo. Só não esperava que ele fosse conseguir sair da chave com tanta facilidade, ainda mais inverter o jogo.

Avril acabou de costas no chão, sem ter tempo de erguer suas pernas antes das mãos do homem se fecharem ao redor de seu pescoço. O soldado não imobilizara suas mãos, e, mesmo com os braços livres, nenhum dos seus esforços parecia desestabilizar o oponente. Tentara elevar o quadril para desequilibrá-lo, mas além de estar ficando sendo forças, o soldado já parecia estar ciente daquela manobra, forçando ainda mais seu corpo para baixo. Não existia escapatória.

Antes que fosse tarde, Avril teve que tomar uma decisão ousada. Nunca tentara fazer isso antes e, se desse errado, seria seu fim.

Depois de tentar acertar o rosto do soldado mais uma vez, ela relaxou os braços e eles caíram lentamente. Não demonstrou mais sinais de resistência, seu corpo não produzia mais nenhum sinal de vida.

Avril estava causando uma parada cardíaca.

Pensando que havia a finalizado, o soldado chegou a se levantar, mas logo foi de encontro ao chão quando Avril girou a perna entre eles para lhe aplicar uma rasteira, na esperança de ganhar tempo para se recuperar. Talvez pela parada brusca, seu corpo não estava obedecendo-a: a respiração não se regularizava, os batimentos cardíacos continuavam acelerados, sua visão estava turva e sua cabeça doía. Se sobrevivesse aquilo, Avril nunca mais usaria aquele truque na vida. Com a respiração fora de controle, ela avistou sua bolsa, que guardava mais algumas armas, bem próxima e tentou se esticar para alcançá-la, sendo puxada quando seus dedos estavam a centímetros do objeto. Dentro de suas possibilidades, Avril o chutava com a perna livre, tentando se livrar do aperto do homem em seu tornozelo. A mulher vira um flash mais intenso de irritação passar pelos olhos gélidos do soldado no mesmo instante que ele depositou mais força em sua mão metálica e a virou em um movimento brusco, quebrando os ossos da região com um estalo alto. Involuntariamente Avril se desconcentrara, desorientada pelos estímulos intensos que a região lesionada produzia. Quando finalmente conseguira ignorar parcialmente a dor, antes que pudesse entender o que acontecia e se defender, a mão metálica do soldado voltou a se fechar ao redor de seu pescoço. Porém dessa vez ele a erguera, assistindo com seus olhos raivosos o temor se apossar dos castanhos da mulher.

Embora se esforçasse, sua perna direita não lhe obedecia – os nervos daquele membro deveriam estar comprometidos –, e a esquerda sequer parecia estar causando algum incômodo ao soldado, que tinha seu olhar travados no dela. Cada soco que tentava lhe acertar era facilmente bloqueado com sua mão livre. Em um último ato de tentar escapar, as mãos de Avril seguiram para seu pescoço, tentando diminuir o aperto dos dedos metálicos, como se pudesse superá-lo em força.

O Soldado Invernal sabia que aquela luta estava encerrada. Seu alvo não tinha chances de escapar, e aos poucos começava a perder a consciência: seus dedos que tentavam com tanto desespero tirar o aperto da mão metálica de seu pescoço já não trabalhavam com tanto empenho, seu corpo já não se batia tanto, e seus olhos perdiam o foco. Não era a primeira vez que finalizava um alvo daquela maneira, mas uma sensação estranha de repetição invadiu sua mente. Tanto repetição do método como repetição do alvo.

- Valerik...? – mesmo quase inconsciente, Avril não conseguiu esconder a surpresa ao ouvir a voz rouca e profunda do homem, carregada de um forte sotaque russo, chamando-a por um nome que ela não conhecia. Uma confusão se apossara dos olhos do soldado, que de repente parecia não saber onde estava ou o que estava fazendo, pela movimentação excessiva de seus olhos tanto pelo rosto da mulher como pelo quarto e a respiração descompassada, embora permanecesse estático. Ele a fitava com algo que parecia remorso, e, por um breve instante, seus dedos metálicos relaxaram e o som da respiração dificultada da morena preencheu o quarto.

Aquele som o trouxe de volta para a realidade, e aquele rápido devaneio foi esquecido.

Antes que Avril pudesse reagir, o soldado balançou a cabeça e seu olhar voltou a ficar frio, fechando seus dedos com mais empenho ao redor do pescoço da mulher, e a jogando pela janela em seguida.

Avril nunca fora muito fã de grandes altitudes, e naquele momento aquele sentimento se tornou mais forte do que nunca. Foram poucos segundos antes que ela atingisse o chão depois de cair por quatro andares, e aquela sensação horrível foi a única coisa que ocupou sua mente. Nenhum clichê de ver momentos de sua vida passarem por seus olhos. Apenas a ciência de que logo ela atingiria o solo e seria apenas aquilo.

O Soldado Invernal respirou fundo algumas vezes antes de se aproximar da janela agora completamente destruída, facilmente encontrando seu alvo caído no meio da rua, quase na calçada oposta ao prédio onde estava. Vários carros estavam próximos a ela, provavelmente por terem freado no susto e tentado desviar do que quer que fosse que havia sido jogado na rua. Não demorou muito para que os gritos começassem.

Daquela distância não podia afirmar que a mulher estava morta, mas mesmo que não tivesse, seria difícil ela sobreviver àqueles ferimentos. No mínimo dois tiros, o estrangulamento e mais a queda. Ele não precisava arriscar ser flagrado.

Aquela missão estava concluída.

----

"Agente Stark sob ataque. Inimigo desconhecido e sem contato visual. Contei apenas um, mas não sei se há outros. Fui comprometida".

"O Soldado Invernal".

"Quem que mandou, hein?! Quem te mandou atrás de mim?".

Natasha já estava bem ciente de que o número de pessoas confiáveis naquele momento era baixo, mas um pressentimento ruim lhe dominava desde que chegara à casa do tal Sam Wilson, e a vontade de contatar Clint e Avril apenas aumentava com o passar das horas. Não tinha certeza se podia confiar em ambos, só que aquela sensação de que algo de ruim havia acontecido não saia de sua mente e começava a atrapalhar seus pensamentos.

Minutos depois de sair do chuveiro ela se lembrara da linha secreta que a jovem Stark possuía, exatamente para momentos críticos como aquele. Não era possível rastrear ninguém por aquela linha, então não haveria nenhum problema checá-la, mesmo que quem a administrasse estivesse do lado inimigo.

Steve tentara pará-la ao vê-la pegar o celular e digitar uma grande sequência de números, rapidamente a repreendendo, já que eles não sabiam em quem podiam confiar. A ruiva facilmente percebeu que o soldado desistira de se opor no momento que citara o nome de sua pupila, mas prosseguiu em sua explicação da mesma forma.

Assim que estabelecera uma conexão estável com a linha, Natasha colocara a ligação no viva-voz para que ambos escutassem juntos. As reações da dupla eram praticamente idênticas e simultâneas, como relaxarem os ombros ao perceberem que Avril estava do lado deles, disposta e próxima para auxiliar no que fosse necessário. Porém ambos também congelaram quando o ataque começou.

- Steve... – arriscou Natasha com a voz baixa, se sentindo tentada a pausar a mensagem. Mesmo sendo consideravelmente irritante na maior parte do tempo, Avril era sua amiga, sua pupila, uma das poucas pessoas nesse mundo por quem a ruiva faria o possível e o impossível para proteger. Pausar aquela mensagem seria como deixar aberta aquela questão, não ouvir a confirmação do pior.

- Deixe terminar – ordenou o soldado, com o maxilar travado. O mais agonizante era apenas ter um registro auditivo. Não poder ver o que estava acontecendo, embora Steve acreditasse que poder assistir aquela cena e não poder interferir seria algo desumano. Os ruídos da mensagem denunciavam a movimentação dos combatentes, assim como algum de seus golpes que entravam, mas principalmente os gemidos sofridos de Avril que pareciam inundar todo o quarto. Pela falta de ruídos na mensagem e pelos sons que a mulher emitia, quase no final eles podiam deduzir que ela estava sendo estrangulada. Algo que parecia um nome foi dito e um silêncio intenso se estendeu.

O som de vidros quebrando e o barulho alto de algo caindo ao fundo fez com que Natasha pulasse em seu lugar. Os gritos sucessores deixaram clara a gravidade da situação, assim como o som de carros freando e colidindo. Com berros de pedido de ajuda a ruiva largou o celular na cama e se levantou, com ambas as mãos na boca.

Avril era durona, mas era improvável ter sobrevivido a essa.

Passos foram ouvidos na gravação, o Soldado Invernal deixando o quarto, e provavelmente pisando no celular de Avril, já que a mensagem acabou com um ruído de algo quebrando. O silêncio perdurou no quarto até Sam chegar. O moreno até chegou a abrir a boca para avisar que o café da manhã estava pronto, mas algo no clima do cômodo fez com que ele desistisse.

- Ela não... – disse Steve, encarando seus pés com as sobrancelhas unidas – Ela sequer estava envolvida nessa história. Não tinha nenhum motivo para mandarem alguém atrás dela.

- Ela estava, Steve. A mensagem era para nós – sussurrou a ruiva, com a voz falha e fraca – Avril percebeu que algo nessa história não estava certo. HYDRA sabia que ela ficaria do seu lado. Você sabe muito bem como ela era.

- Não diga "ela era" como se ela tives...! – grunhiu o soldado, se pondo de pé. Seus punhos estavam cerrados e seus ombros tensos, e Natasha até chegou a recuar. Percebendo como estava sendo irracional, o homem parou – Até onde nós sabemos, ela pode estar viva.

- Steve...

- Olhe na internet – insistiu o loiro, cansado – Se ela realmente tiver morrido, vai ter algum tipo de comoção nacional.

- As Indústrias Stark e a S.H.I.E.L.D. devem estar abafando a história. Avril era uma pessoa importante e foi um caso claro de atentando contra ela. Imagina o problema que isso causaria.

- Vocês estão falando de Avril como em "Avril Stark"? Filha de Tony Stark? – se intrometeu Sam, atraindo o olhar dos dois, sem conseguir controlar sua recente curiosidade e incredulidade – A gênia patricinha? Ela é uma de vocês?

Steve apenas assentiu com a cabeça e Sam arregalou os olhos, surpreso. A garota podia ter sumido da mídia há um bom tempo, mas ele não conseguia a ver envolvida com aquilo tudo.

- Se ela tinha uma forma de te contatar, existe a possibilidade de você conseguir contatar Tony? Ele deve ter mais informações.

- Não era você que tinha uma extensão do J.A.R.V.I.S. no celular?

- Esqueceu que eu não tinha permissão de me comunicar com ela? A extensão foi desinstalada.

Natasha suspirou. A agonia do soldado era tão visível que até parecia que ele estava sofrendo mais do que ela, por isso acabou se sensibilizando. Rogers se preocupava demais por sua protegida e aquela notícia não estava sendo fácil para nenhum dos dois, embora a espiã estivesse sabendo bem melhor do que o loiro.

- Steve... Eu sei que Avril é importante para você, assim como ela é para mim – disse ela, se agachando em frente ao loiro, tentando passar algum conforto ao apertar de leve seus joelhos – Mas agora nós temos outros problemas para lidar. No meio disso tudo talvez consigamos descobrir se ela sobreviveu. Só que agora precisamos agir. Ela vai ficar irada com a gente se ficarmos aqui choramingando ao invés de trabalhar, certo?

Steve se viu obrigada a concordar, embora aquele sentimento ruim o corroesse por dentro. A imagem da garota na última vez que se encontraram, há quase um ano, não saia de sua mente. O riso fácil, o brilho nos olhos, a voz mansa... Avril parecia outra pessoa, completamente diferente da garota assustada que não sabia controlar seus poderes. Se ela realmente estivesse... Ele nunca teria a chance de conviver com aquela versão nova da garota, de ouvi-la reclamar de algo que Clint fizera, ou simplesmente admirar sua expressão concentrada enquanto ela trabalhava em algo. Não dava para aceitar esse cenário.

Ele iria se concentrar no que precisava ser feito, mas não aceitaria que Avril não estava mais viva.

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