Dantálion [COMPLETO]

By VivianMansano

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[DISTOPIA GAY] Lúcio está prestes a dar o passo mais importante de sua vida: assumir o lugar de seu pai como... More

Introdução
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NOTAS E INTERAÇÃO
Epílogo: Pandora
O Filho da Rebelião - Capítulo 1

83.

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By VivianMansano

Os olhos de Anton faíscam de prazer ao ver o pânico que o toma.

Agora não terá escolha: se deixar o Auxiliador escapar com vida, ele morre.

Lúcio tenta controlar a respiração. Precisa acalmar a mente, caso contrário não terá como vencer uma luta contra o homem, mais alto e mais forte.

- Você não pode fazer nada. – ele balbucia, a voz falhando – Entrar no Templo é um Crime Imperdoável. Se você me entregar, estará se denunciando também.

Anton solta uma gargalhada que ecoa pelas paredes de mármore, erguendo as palmas das mãos ao lado do corpo.

- Eu sou a Justiça, Lúcio. Quem é que vai me punir?

Ele tomba a cabeça para a esquerda, seu sorriso maldoso iluminado pela lanterna caída.

- Além do mais, pequeno Sacerdote, eu não vou te denunciar. Você vai.

Lúcio se posiciona diante da porta, bloqueando o caminho. Não pode deixar que Anton saia, mesmo que isso signifique usar seu próprio corpo como barreira.

- Sabe, Lúcio... – continua o Auxiliador, caminhando lentamente – Eu sempre achei que você fosse do tipo que causaria problemas, mas jamais imaginei que fosse capaz de tantos estragos em tão pouco tempo... Você mal iniciou como Sacerdote, e já teve a capacidade de fazer o que fez... Apesar do histórico deplorável de sua família, eu jamais imaginei que você poderia ser tão cruel. Assassinar o próprio pai! Nem eu seria capaz de fazer algo assim!

O olhar cínico que ele lança contradiz suas palavras.

- Você sabe que ele não era meu pai. – rosna entredentes.

- Sim, eu sei. Seu pai era aquele velho feiticeiro, que, aliás, também está morto graças a você. Você deve realmente ser um garoto mau, Lúcio.

Anton sacode a cabeça, rindo.

As mãos de Lúcio começam a tremer, a raiva o cegando.

- E também aposto, meu caro, que você devia ter alguma relação com aquele garoto... Como era mesmo o nome dele? Iago, não era? Você acha que não percebi os olhares que vocês trocaram durante o julgamento? – ele ri novamente - Diga-me, Sacerdote, como é a sensação de matar a única pessoa que já te amou na vida? Doeu muito?

Sua respiração se torna difícil, seu peito o esmagando por dentro, sem encontrar ar para responder.

O que estava acontecendo? Por que não conseguia controlar as emoções? Por que Anton não o atacava logo, ao invés de brincar com seus sentimentos? Por que o Auxiliador continuava usando palavras para atingir seus pontos fracos, para abrir suas feridas?

A memória de Dantálion aparece diante de seus olhos. A voz do garoto ecoa em sua mente, as mesmas palavras que ele havia dito alguns dias antes, na floresta:

- Anton é um torturador.

Anton é um torturador, e está o torturando.

Os planos do outro se tornam repentinamente claros: ele pretende desestabilizá-lo emocionalmente, dominá-lo, para arrancar uma confissão pública, sem correr o risco de ser acusado por entrar no Templo.

- Você não vai conseguir minha confissão.

O Auxiliador ergue as sobrancelhas, surpreso:

- Parece que o demoniozinho te ensinou a ser mais esperto, Sacerdote. Quem diria...

Anton continua sua passada lenta, caminhando de um lado para o outro, como um leão cercando sua presa. Lúcio não se intimida e se mantém estável, protegendo a saída.

- Sabe o que é uma pena? – Anton retoma em seu tom sarcástico – É uma pena que ele tenha morrido acusado de um Crime Imperdoável. Se eu tivesse chegado antes daqueles outros Auxiliadores, teria feito ele confessar que era um Surdo. Aqueles idiotas! Nem mesmo se atentaram para o detalhe de que um carpinteiro não seria capaz de escrever algo daquele nível. Infelizmente, não pude fazer nada, e o patife morreu uma morte rápida demais. Se eu tivesse chegado primeiro, Lúcio, nós três poderíamos estar juntos agora, nos divertindo bastante... O que acha disso, Sacerdote? Eu poderia te mostrar tudo que fiz com ele quando era apenas um menininho, poderia te fazer sentir... Não seria bom saber o que ele sentia? Não seria um ótimo laço de amor entre vocês dois, reviverem alguns traumas de infância juntos? Você poderia segurar as mãos dele enquanto ele gritava...

- Eu acho que você é um maldito. – ele rosna, a raiva retornando.

- Eu sou um maldito? – Anton pergunta com cinismo – O corpo apodrecendo ali atrás é obra de quem, pequeno Lúcio?

Sua respiração aperta novamente. O poder de Anton é mais forte do que imaginava, enchendo-o de horror. O Auxiliador consegue agarrar seu coração e apertá-lo, sem mover um músculo. A crueldade de sua tortura psicológica supera qualquer ataque físico.

Mesmo ciente disso, Lúcio tem dificuldade para manter a calma, as emoções borbulhando em seu interior, prestes a destruí-lo.

Ele tenta se lembrar do rosto de Iago. Tenta ouvir sua voz. Tenta lembrar-se de tudo que ele lhe ensinou.

Iago havia vencido Anton quando era uma criança, havia escapado dele, o superado. Se uma criança era capaz disso, ele também seria.

A única forma de derrotar o Auxiliador seria através de uma luta corporal. Mas, como o homem é muito mais alto que ele, Lúcio não pode dar o primeiro golpe. Teria que ser engenhoso o bastante para manipular o homem que o estava manipulando. Como num jogo de xadrez, ele deveria dar ao oponente a sensação da vitória para então aplicar seu último movimento.

Me ajude, Dantálion.

Inesperadamente, Lúcio se joga ao chão, de joelhos, e começa a soluçar.

Anton aproveita sua fragilidade para continuar as provocações:

- Sabe o que mais? Iago era esperto demais para ter deixado aquele papel à vista bem no dia em que sua casa foi revistada, não acha? Depois de ter escapado de mim com tanta habilidade, seria muita ingenuidade dele cometer um erro assim. O vermezinho era mais esperto do que todos nós juntos, Sacerdote. Ele fez de propósito. Ele sabia que, mais cedo ou mais tarde, eu o pegaria, e não queria ser torturado de novo. Ele se matou.

Lúcio se descontrola ainda mais, suas costas se retorcendo, os olhos fechados em um aperto de dor.

Anton coloca a mão em seu ombro.

- E ele poderia ter se matado de muitas formas, mas escolheu um Crime Imperdoável, só para ser morto por você. Ele te amava, você sabe... E ele quis te punir por não amá-lo de volta. Ele fez isso para se vingar de você.

Lúcio se entrega ao choro, sem tentar disfarçar nenhum sentimento.

Anton lhe estende a mão.

- Você está cansado de lutar, não está? – pergunta em um tom ameno – Não acha que já é hora de dar um fim a todo este sofrimento, Lúcio? Você não quer que isto acabe? Venha comigo, vamos voltar ao Palácio. Eu prometo que você não será prejudicado, ninguém vai te machucar, nem te condenar à guilhotina. Se nos ajudar a restabelecer a ordem, eu prometo que nenhum mal será feito contra você. Tudo voltará a ser como era antes. O que me diz, Sacerdote? Você não quer que tudo volte ao normal?

Lúcio ergue a cabeça, os soluços parando subitamente. Ele olha para a mão estendida diante de seu rosto.

A mesma mão que havia tentado torturar e matar sua mãe. A mesma mão que havia torturado e matado os pais de Iago. A mesma mão que o obrigou a matar o garoto que o amava. A mão que destruiu não só sua vida, como a vida de centenas de pessoas. A mão do homem que Dantálion jurou matar.

"Quando eu morrer, você promete que vai continuar o que comecei?"

Eu prometo.

Em um movimento rápido, ele mira a adaga no meio da mão de Anton.

O Auxiliador tem um reflexo rápido, e a lâmina abre apenas um pequeno corte na lateral, sem causar nenhum dano grave.

- Você está certo numa coisa, Anton, - Lúcio se ergue, os olhos ardendo em brasa - ele era realmente esperto. Ele me ensinou a ver quando as pessoas mentem, e você é um péssimo mentiroso.

Lúcio salta sobre ele, forçando-o para o chão.

- E ele também me ensinou a mentir muito bem!

O Auxiliador consegue se livrar dele e atinge seu rosto com um soco, derrubando-o.

Anton o imobiliza com o peso do corpo, enquanto usa uma das mãos para desamarrar a corda dourada que leva presa à cintura, símbolo da Justiça.

- Você ficaria honrado em saber, Sacerdote, que esta foi a mesma que eu usei nele, e sempre foi bastante eficaz. Vamos ver o que ela consegue fazer desta vez.

Aproveitando a distração, Lúcio livra o braço direito, tendo tempo suficiente para pegar a adaga e cravá-la na perna do Auxiliador.

Anton grita, perdendo o controle sobre ele, que consegue sair de sua imobilização.

Incapaz de retomar a adaga, ainda cravada na perna do outro, ele se joga sobre o homem mais uma vez, usando apenas os punhos para atingi-lo.

Lúcio acaba subjugado outra vez quando Anton rola sobre ele, travando seu peito contra o chão de pedra frio.

O Auxiliador arranca a adaga da própria perna, soltando um novo grito de dor, e a aproxima do rosto do Sacerdote.

- Você gosta tanto daquele maldito, não é? – cospe, o ódio transpassando sua voz – Por que não fica igual a ele?!

Lúcio sente a lâmina atravessar sua orelha, rasgando a cartilagem.

Ele grita, o sangue quente escorrendo por toda a lateral de seu rosto, a dor o consumindo por inteiro.

Anton solta uma gargalhada assustadora, seus olhos azuis acendendo de prazer ao ver o sangue brotar da orelha dilacerada.

Num movimento inesperado, porém, Lúcio se livra de sua imobilização, levantando-se.

Os olhos do Auxiliador se arregalam, incapazes de compreender a cena.

Ele se levanta para capturá-lo novamente, sentindo o corpo pesar.

Lúcio leva a mão à orelha, tentando controlar a dor e estancar o sangramento que desce por seu rosto e pescoço, dando-lhe um aspecto bestial enquanto ri.

Anton avança em sua direção, mas uma das pernas falha, quase o fazendo cair. Ele tenta dar outro passo, arrastando a perna esquerda.

- O que você fez comigo?! – grita, tomado de terror.

Como se estivesse perfeitamente bem, Lúcio sorri.

- Iago me ensinou muitas coisas importantes. Ele me ensinou a lutar, e me ensinou a manter a calma durante uma luta, mesmo que eu estivesse sentindo dor. Ele me ensinou que as lutas não são vencidas com o corpo, e sim com a mente. E ele me ensinou também mais uma coisa...

Seus olhos faíscam com um prazer doentio.

- Que homens maldosos como você são tão insensíveis que nem percebem quando uma agulha fura sua pele.

Ele afasta uma das mãos, revelando a seringa vazia.

Anton tomba, seu rosto atingindo o chão.

- Vá para o Inferno, Sacerdote!

Lúcio sacode a cabeça com desdém.

- Se eu for para o Inferno, Anton, para onde é que você vai?

Tomado pela crueldade e pela sensação de poder, Lúcio solta uma gargalhada feroz, aproximando-se devagar do homem caído a seus pés.

- Isso – diz, atirando a seringa no chão – é para vingar meu pai verdadeiro por tudo que você o fez passar.

Ele abaixa o rosto, olhando em seus olhos.

- Mas não se preocupe, você não vai morrer por causa desse veneno.

Ele pega a corda que o Auxiliador havia deixado cair.

- Afinal, ele demoraria algumas horas para te matar, e nós não teremos todo esse tempo, teremos?

Ele sobe em suas costas, colocando a corda ao redor de seu pescoço.

- Vai levar menos tempo para vingar o pequeno Iago.

Com um sorriso de malícia, ele aperta a corda.

- Diga-me, Auxiliador da Justiça, como é a sensação de ser torturado? Dói muito?

Gemidos de desespero escapam da garganta de Anton.

- Eu gostaria que doesse mil vezes mais. Eu gostaria de cortar todo o seu corpo, do mesmo jeito que você fez com ele, mas infelizmente não tenho tanto tempo a perder com um merda como você. Eu tenho uma cidade inteira para destruir.

Ele aperta a corda com mais força, aproximando o rosto ensanguentado do ouvido do Auxiliador, uma expressão de pura crueldade e frieza tornando seu olhar medonho.

- Aliás, - diz, com a voz tomada por um prazer maldoso - não me chame mais de Sacerdote, nem mesmo de Lúcio.

As vértebras do pescoço de Anton estalam.

- Meu nome é Dantálion.    

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