Dantálion [COMPLETO]

By VivianMansano

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[DISTOPIA GAY] Lúcio está prestes a dar o passo mais importante de sua vida: assumir o lugar de seu pai como... More

Introdução
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NOTAS E INTERAÇÃO
Epílogo: Pandora
O Filho da Rebelião - Capítulo 1

58.

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By VivianMansano

Na casa de campo de Ormen
está uma vela solitária.
E no centro disso tudo,
os seus olhos.
No dia da execução
apenas as mulheres se ajoelham e sorriem.
E no centro disso tudo, e no centro disso tudo,
os seus olhos...
Eu sou uma estrela negra.

David Bowie - Blackstar

Já está completamente escuro lá fora.

Uma vela solitária ilumina o quarto do antigo Sacerdote, que apoia as mãos na beirada da janela, observando as primeiras gotas de chuva estalarem no chão.

Lúcio bate em sua porta.

- Ainda não foi dormir, meu filho? – perguntam os olhos acinzentados, brilhando com a chama da vela.

- Eu não durmo muito bem em noites de tempestade. – responde, sentando-se numa cadeira próxima para disfarçar o tremor nas pernas.

- Nem eu. – comenta o pai, suspirando – Lembra-se de quando você era criança, e sempre vinha até aqui perguntar se podia dormir comigo quando estava ventando assim?

- Lembro. Você sempre me dizia para voltar para meu quarto e não ser um medroso.

O antigo Sacerdote contrai os olhos. A luz fraca lhe dá um ar velho e cansado.

- Tudo teria sido tão diferente se sua mãe ainda estivesse aqui... – ele volta a olhar pela janela – Ela certamente teria sido melhor para você do que eu fui. Eu nunca soube como ser bom para você. Sinto muito por tudo, filho. Quando você era criança, nós tivemos alguns... Desentendimentos... E eu acho que não tive inteligência suficiente para te tratar melhor. Afinal, que culpa você tinha? – suas mãos compridas percorrem o cabelo ralo - Hoje eu vejo que você é um garoto bom,Lúcio, e não há nada que eu possa criticar em sua personalidade. Você é exatamente como sua mãe: forte, corajoso, inteligente, e com um coração indomável.

Os dois permanecem mais alguns segundos observando a tempestade que começa a cair, sem dizerem uma palavra. Lúcio força uma crise de tosse.

Ele se levanta da cadeira, caminhando para a porta.

- Vou pegar um pouco de água fresca, você gostaria que eu trouxesse para você também, pai?

A última palavra rasga sua garganta ao meio.

- Obrigado, estou com bastante sede.

O garoto sai, e retorna um minuto depois, com dois copos cheios até a metade, estendendo um para o pai.

- Ultimamente eu tenho pensado a respeito de nós dois. – diz o antigo Sacerdote, balançando o copo entre os dedos – Acho que eu poderia ter sido mais presente em sua vida, ter te escutado mais, te ensinado mais. Eu não deveria ter deixado meus problemas pessoais interferirem em nossa relação.

- Não se preocupe com isso, - responde, controlando-se para manter a voz estabilizada – eu também poderia ter sido mais próximo.

- Não se culpe, Lúcio. Você ainda é uma criança.

O pai olha intensamente para ele, admirando-o dos pés à cabeça.

- Por que estou me enganando assim? – continua, com um sorriso torto – Você não é mais uma criança, já é um homem. Já governa a cidade, talvez melhor do que eu. Em poucas semanas conseguiu aumentar a produção exponencialmente! Você, meu filho, será um grande Sacerdote! Só tome cuidado para não exagerar nos impostos, está bem? – pisca um olho - Tente ser mais equilibrado para não perder popularidade. Ser amado também é importante, por mais que os Auxiliadores não se preocupem muito com isso. Não são eles que recebem as críticas, de qualquer maneira...

Ele dá um passo à frente. Coloca uma das mãos sob o queixo de Lúcio, erguendo seu rosto para vê-lo melhor.

- Você tem os olhos de sua mãe, sabia? Ela teria muito orgulho de ver o homem que você se tornou.

Ergue o copo num brinde.

- Longa vida ao Sacerdote! Que nossa linhagem nunca acabe, e que a Voz sempre fale ao seu coração!

Virando o copo, ele bebe até a última gota.

A tempestade engrossa, tornando-se um rugido furioso que abafa o som do copo estilhaçando.

O antigo Sacerdote se contorce no chão, esticando os braços e pernas desesperadamente em todas as direções, buscando por ar enquanto sua garganta se fecha completamente graças ao efeito da droga.

O Sacerdote apenas o observa com uma expressão vazia, sentindo todo seu corpo adormecer, como se fosse ele que agonizasse.

O pai o olha, implorando por ajuda com movimentos mudos dos lábios, agora que não pode mais falar.

Um minuto depois e ele está inerte.

Agindo metodicamente, sem ter consciência da passagem do tempo, Lúcio coloca a cabeça para fora da porta, garantindo que ninguém está por perto, e retira a lanterna de seu bolso, apontando-a na direção da janela e pressionando o botão que libera um feixe de luz.

Em alguns instantes, uma sombra salta sobre a moldura da janela, estendendo-lhe um tecido preto.

- Se alguém nos vir, ainda teremos chance de correr. – diz a voz fantasmagórica de Dantálion.

Rapidamente, o Sacerdote veste a túnica e a máscara que o outro lhe deu, enquanto Dantálion estende um cobertor pelo chão. Segurando cada um em uma ponta, os dois erguem o corpo pesado, colocando-o sobre a malha, que então fecham e levantam com cordas atadas ao redor.

Com a respiração cortada pelo esforço, as duas silhuetas passam apressadamente pelos corredores do Palácio, por sorte desertos a esta hora da madrugada, e saem debaixo da tempestade violenta.

A espessura da chuva torrencial torna a travessia mais segura, escondendo-os sob uma cortina de água e vapor.

Batendo o corpo várias vezes contra as pedras, finalmente chegam à frente do Templo.

Lúcio usa toda sua força para puxar uma das portas com as mãos, sem ativar o mecanismo barulhento que as abriria automaticamente.

Arrastam o corpo pela passagem estreita.

Assim que fecha a porta, Lúcio retira a máscara, olhando na direção de Dantálion e do cadáver de seu pai de forma estúpida enquanto tenta recobrar o fôlego.

- Não temos tempo agora. – ecoa a voz apressada do garoto, ajeitando o corpo ao fundo do Templo e preparando-se para cobri-lo com algum tipo de material escuro, que faz bastante barulho ao ser manuseado – Me dê a máscara e volte imediatamente para seu quarto. Entre pela janela e finja estar dormindo. Eu dou um jeito nisto. Nos vemos assim que for possível.

Ele obedece inconscientemente, caminhando para a porta.

- Moloque! – grita de repente, fazendo-o voltar o rosto em sua direção.

Dantálion levanta a máscara, revelando um olhar preocupado.

- A partir de agora você precisa mentir bem, ou vai morrer. Acorde com um sorriso amanhã, ou eles vão suspeitar de você. Não vou perguntar se você consegue fazer isso, você não tem escolha.

O garoto cobre o rosto novamente, retornando à atividade insana de esconder um cadáver.

Sem sentir nem mesmo uma gota sobre sua pele, Lúcio arrasta os pés entorpecidamente através da tempestade.

Quando sua consciência retorna, está deitado em sua cama, os raios riscando furiosamente o céu, acompanhados de rugidos medonhos que abafam seus gemidos perturbados.     

E no centro disso tudo,
Os seus olhos...

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