Dantálion [COMPLETO]

By VivianMansano

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[DISTOPIA GAY] Lúcio está prestes a dar o passo mais importante de sua vida: assumir o lugar de seu pai como... More

Introdução
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NOTAS E INTERAÇÃO
Epílogo: Pandora
O Filho da Rebelião - Capítulo 1

52.

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By VivianMansano

Ei você, aí fora no frio,

ficando solitário, ficando velho,

você pode me sentir?

Ei você, não os ajude a enterrar a luz.

Juntos nós ficamos em pé,

separados nós caímos.

Pink Floyd - Hey you

A bebida faz seu efeito, dissipando o clima tenso entre eles e os fazendo esquecer completamente a discussão anterior. O Sacerdote é quem quebra o silêncio, sua voz pesada:

- Dantálion... Quem é o outro rei?

Ele não ergue o rosto para responder, sua cabeça enterrada nos braços cruzados, a voz cansada e lenta:

- Do que você está falando, garoto?

- Do jogo. Se eu sou o rei, quem é o outro?

- Não tem outro rei, você é os dois. – responde, seu olhar distante da realidade.

- Isso significa que eu estou jogando nos dois lados?

- Sim. Tanto os Auxiliadores quanto os Surdos te veem como inimigo, os dois lados ficariam felizes de colocarem as mãos em você.

- E como então eu posso ganhar no final?

Dantálion não responde.

- Se eu sou os dois reis, quem é você?

- Eu sou a mão que move as peças.

- E o que acontece se você... Não terminar o jogo?

Dantálion se volta em sua direção, sua voz alterada pela bebida:

- Outra pessoa tão inteligente quanto eu terá que assumir meu lugar e terminar o que comecei.

Ele olha com intensidade no fundo de seus olhos.

- É por isso que estou te ensinando a jogar, meu pequeno delinquente.

O garoto se levanta com dificuldade, pegando os copos e a garrafa vazia e os levando de volta ao outro cômodo. Quando retorna, Lúcio está de cabeça baixa, aparentemente chateado.

- Qual o problema agora?

Vagarosamente, ele levanta o rosto, os olhos avermelhados de cansaço.

- Por que eu, Dantálion? Por que você quis me mostrar tudo isso? Por que você sabe meu nome, minha história? Por que conversa com meu Auxiliador pessoal? Será só porque você precisa de mim? Só porque você queria um Sacerdote jogando para você?

O outro senta à sua frente, encarando-o com seu olhar sério e frio.

- Sim, Lúcio. Eu precisava de um Sacerdote jogando para mim, você está certo. Eu estou te usando, se é isso que quer saber. Planejei te usar desde o começo, e estou fazendo isso, e pretendo continuar fazendo. Mas acho que não é nenhuma surpresa para você, é?

Seus olhos faíscam, aumentando a mágoa de Lúcio.

- Mas essa é só uma parte da verdade. – continua, amenizando o tom – Como Surdo e como integrante normal da cidade, eu sempre te observei de longe, ainda mais depois das relações existentes entre sua família e nós no passado. Se quer saber, eu sempre desejei te usar, te persuadir, te atrair até mim. Passei anos planejando, pensando, te analisando, e esperei ansiosamente até o dia daquela Audição, em que finalmente você cometeu um deslize e se deu conta de que eu existia. Mas fiz tudo isso porque, no fundo, eu sinto como se sempre te conhecesse intimamente.

"Eu tinha minhas dúvidas a seu respeito, mas, no dia da Audição, quando te vi olhando para dentro do Templo, quando te vi olhando em minha direção, eu tive certeza de quem você era: você era igual a mim. Você, Lúcio, não se contentaria em simplesmente viver, você deseja estar presente, deseja ser algo maior do que nasceu para ser. Você e eu somos o tipo raro de pessoa que não aguenta uma vida superficial e fácil. Nós queremos sentir o sangue correndo em nossas veias, mesmo que para isso tenhamos que nos ferir. Você é como uma parte de mim mesmo, e eu sinto que preciso de você desesperadamente."

- Por que você mentiu pra mim? – retoma o Sacerdote, sem se comover com o discurso acalorado do outro – Por que me perguntou sobre minha mãe como se não a conhecesse, quando na verdade você a conheceu mais do que eu? Por que não me contou sobre ela e meu avô antes?

Dantálion responde com seriedade:

- Porque algumas coisas precisam de tempo para serem ditas.

- Isso significa que você ainda está escondendo coisas de mim?

- Sim, ainda estou, para o seu próprio bem.

Ele sacode a cabeça, ressentido.

- Pensei que fôssemos amigos...

- Nós somos amigos. – diz Dantálion, tocando a mão esquerda em seu ombro – Você é a primeira pessoa para quem eu contei meu passado, é a primeira pessoa que eu trago até aqui. Nunca confiei em ninguém como eu confio em você. Você é meu único e melhor amigo, Lúcio, não duvide disso.

- Mas, mesmo assim, esconde coisas de mim.

- Por favor, não me leve a mal, – suspira o garoto – mas estamos no meio de um conflito, e somos representantes de lados opostos. Existe uma distância muito grande entre nós. Eu sou um ninguém e você é o Sacerdote, eu lidero os Surdos e você comanda o Palácio, e cada um de nós tem sua própria função para cumprir. Não adianta fingirmos que nossa amizade é como a de qualquer outra pessoa. Existem limites de confiança que não podemos ultrapassar. Temos que aceitar isso.

- Então... Você está dizendo que nunca seremos amigos realmente? - os olhos vermelhos de Lúcio começam a ficar úmidos - Que nunca poderemos confiar inteiramente um no outro? Que tudo se resume a apenas nosso interesse mútuo de continuarmos vivos? É simplesmente isso para você? Peças num tabuleiro? Você me usa enquanto tenho utilidade para você, e depois me entrega para morrer?

- É claro que não! Eu estou me arriscando para proteger sua vida!

- Você está se arriscando para proteger seus planos! Minha vida é a última das suas prioridades!

- Isso é uma grande mentira e você sabe!

- Não! Eu não sei! Eu não tenho como saber o que é verdade no meio das suas mentiras que não acabam nunca!

- Você conta tantas mentiras quanto eu, Sacerdote! O que me garante que você não vai me trair quando a hora chegar?! Você é um medroso, um covarde que escolhe matar qualquer um para sair da reta! Você me venderia por sua segurança. Você já pensou nisso muitas vezes! E faria, se precisasse! Estou errado?! Você pode olhar na minha cara e dizer que estou errado?!

Lúcio se afasta alguns metros, sem coragem de encará-lo de volta.

Dantálion revira os olhos, impaciente.

- Olha, Lúcio, nós bebemos, estamos muito emotivos e cansados. Já não acha que é hora de voltar para casa? Você sabe melhor do que eu que essa discussão é inútil. Não somos as melhores pessoas do mundo, e não estamos na melhor das situações para sermos legais um com o outro. A realidade é essa, e nossos sentimentos jamais serão capazes de mudar as coisas.

Lúcio abaixa a cabeça, escondendo o rosto entre as mãos.

- Eu vou voltar para o Palácio.    

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