Dantálion [COMPLETO]

By VivianMansano

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[DISTOPIA GAY] Lúcio está prestes a dar o passo mais importante de sua vida: assumir o lugar de seu pai como... More

Introdução
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NOTAS E INTERAÇÃO
Epílogo: Pandora
O Filho da Rebelião - Capítulo 1

44.

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By VivianMansano




Os batimentos cardíacos ecoam em seu crânio conforme corre, atravessando a floresta num único fôlego.

O ponto de encontro está vazio, nenhum sinal de Dantálion.

Ele leva as mãos ao rosto, recobrando o ar. Alguns segundos depois já está em movimento de novo, percorrendo os arredores da clareira freneticamente, a ansiedade ardendo em sua pele.

Quando está prestes a completar a terceira volta, vultos assomam à distância.

Sem pensar duas vezes, corre para o centro da clareira, jogando-se atrás do tronco caído que a cerca por um dos lados.

As pessoas se aproximam. Mais ou menos quatro.

Pelas conversas, devem ser homens e mulheres juntos, voltando para as ruas centrais depois de encerrar o dia de trabalho. Caminham pesadamente, provavelmente carregando algo, suas vozes entrecortadas por momentos de mudez.

O Sacerdote se abaixa mais, tentando controlar a respiração alta enquanto o grupo passa logo ao lado.

- Você acha que eles realmente existem? – questiona um homem.

- Não sei. – é a resposta de uma voz feminina – Mas, você sabe, quando os boatos são muitos, é porque alguma coisa está acontecendo. Você ouviu o que aquele rapaz dos dentes amarelos disse, não ouviu?

- Aquele garoto só fala besteira. Um tempo atrás disse que viu luzes que piscam na serra. Agora fica espalhando que não sei quem falou não sei o quê. Eu já disse pra ele que, se continuar assim, vai acabar parando no palanque. E vocês também! Já disse para não falarem mais sobre esse assunto!

- Se eles existem mesmo, - retoma o outro, como se a ameaça do anterior não tivesse efeito nenhum – espero que sejam capturados logo. Já não basta a vida estar difícil, ainda tem que surgir um bando de desocupados pra causar desordem. Se todos fizessem sua parte, não teríamos que trabalhar tanto.

As vozes se calam subitamente, enchendo o bosque em seu vazio cadenciado de folhas caindo e arbustos sendo sacudidos por criaturas invisíveis. O riacho murmura por pouco tempo, antes de ser interrompido pelos sons dos passos avançando rapidamente em sua direção.

O Sacerdote fecha os olhos, desejando que se afastem. Não seria capaz de livrar-se de um grupo tão grande, mas fugir seria impossível. Se o rio estivesse mais perto, poderia tentar se arrastar e mergulhar antes que o identificassem, mas estava lá, preso atrás do espaço minúsculo do tronco, sem condições de chegar até a água. Se qualquer um o reconhecesse, seria o fim.

Numa última esperança, enfia as mãos na terra úmida, esfregando a pasta com cheiro de bolor pelo rosto e pelo cabelo, contendo a repulsa. Se tivesse que lutar para fugir, pelo menos poderia ter uma chance de passar desconhecido.

Já coberto de lama, retira a adaga amarrada na cintura, apertando o cabo entre os dedos, tomando fôlego para se defender a qualquer segundo.

Os passos param ao seu lado. Galhos e folhas começam a ser remexidos pela clareira. Eles sabem de sua presença. E, mais do que sabem, eles o procuram.

Respirando fundo, decidido, Lúcio salta de trás do tronco, adaga em mãos, fazendo um barulho alto que chama a atenção de seu oponente.

Diante dele, Dantálion ergue as sobrancelhas numa expressão de incredulidade, galhos secos empilhados sobre seus braços finos.

Sentindo alívio, e logo depois vergonha, o Sacerdote guarda a arma, sem dizer nada, e senta ao lado da fogueira que Dantálion começava a montar, cobrindo o rosto sujo com as mãos.

- Será que vou receber alguma explicação sobre isso? – pergunta o garoto, deixando os galhos caírem sobre o chão.

O Sacerdote não responde, milhares de pensamentos surgindo e desaparecendo de sua mente numa velocidade impossível de acompanhar. Notando suas emoções alteradas, Dantálion se aproxima.

- Diga o que aconteceu, Moloque. De quem está se escondendo?

Ele não tira as mãos do rosto para responder:

- Alguém no Palácio sabe.

O outro fixa os olhos atentos sobre ele.

- Quem?

- Meu Auxiliador pessoal.

- Vero?

- Sim.

Dantálion suspira, relaxando o corpo, e volta a pegar os galhos que tinha derrubado para montar a fogueira.

- Não me assuste desse jeito.

- Você não tem nada a dizer?!

- Vero é um dos nossos. – responde, sem olhar em sua direção – Pensei que você já soubesse.

- Vero é da Ordem dos Surdos?!

A imagem do Auxiliador, fraco e idoso, vestido em um manto preto e descendo pelo poço, não lhe parece muito plausível.

- Não exatamente. Ele costumava ser, antes da Limpeza. Mas depois fez um acordo comigo.

- Que acordo?

- Um acordo simples. Ele não fala nada, e nós também não.

Dantálion para o que está fazendo por alguns segundos, refletindo sobre algo com um sorriso malicioso.

- Na verdade, o acordo tinha mais uma condição...

- Qual?

Ele vira as costas para a fogueira que estava armando, batendo as mãos uma na outra para se livrar do pó.

- Você. Você é o termo principal de nosso contrato.

- Como?

- Não é difícil imaginar. Você é o Sacerdote.

Dantálion o observa com expectativa.

- O acordo era você não me matar?

- Desnecessário. – vira-se o outro – Eu não ganharia nada matando você.

- Mas fez o acordo mesmo assim?

- Vero não queria ceder de jeito nenhum. Eu precisava do apoio dele.

- Então você ameaçou me matar para conseguir que ele te apoiasse?

- Sim. - sorri - E ele acreditou até a última palavra.

- E por que ele cederia por minha causa?

- Não sei. – ri, um brilho maldoso no olhar – Provavelmente não foi por causa desse seu rostinho imundo. Vá se lavar logo, está me deixando com nojo. O que você estava fazendo, afinal?

- Nada.

- Nada?! Você viu o estado de seu rosto? – brinca, divertindo-se ao inverter a fala de Lúcio no dia anterior.

Seus olhares se encontram e permanecem fixos numa intensidade desconfortável por alguns instantes.

O Sacerdote desvia os olhos para um ponto invisível à frente, tentando encontrar alguma coerência naquilo tudo. Vero era diferente, sem dúvidas, mas ainda assim era um Auxiliador. Por que motivo um Auxiliador entraria para a Ordem dos Surdos? E por que ele teria que fazer um acordo com eles? Qual era a real ligação entre os Surdos e ele próprio, para que Vero tivesse que jurar protegê-lo? Para que Vero estivesse disposto a arriscar a própria vida para proteger a sua?

Cansado de procurar pelas respostas sozinho, ele fecha os olhos, assumindo um tom sincero e firme:

- Dantálion... Você não acha que já é hora de sentar aqui e me contar a verdade?

O outro leva as mãos à testa, deslizando os dedos pelo cabelo enquanto pensa.

- Tudo bem, Lúcio. Acho que você já provou que merece conhecer sua história.

Com o fogo já aceso e a noite se tornando cada vez mais densa, Dantálion senta à sua frente, inclinado na direção das chamas que dão um tom alaranjado à sua pele pálida.

- Como você já deve ter imaginado, seu avô lutou ao nosso lado, e sua mãe também, depois dele. Eles não participavam tão ativamente da Ordem, como você, mas nos ajudavam de vez em quando, e faziam vista grossa para nossas ações. Se não fosse por eles, jamais teríamos conseguido sobreviver até hoje. Ter contatos no Palácio sempre foi nossa melhor estratégia de sobrevivência.

"Vero era... Um grande amigo de sua mãe. Quando a rebelião mais recente estava prestes a estourar, os Surdos foram denunciados, como você já sabe, e o nome de sua mãe foi citado. Na mesma semana ela faleceu, mas fez questão de pedir a Vero que cuidasse de você e que te protegesse dos outros Auxiliadores."

- Como é que ela ficou doente na mesma semana em que foi denunciada? E como ela conseguiu falar com Vero sem ter ninguém por perto?

- Você está me pedindo para contar algo que eu preferiria não te contar, Lúcio.

Dantálion mergulha um pouco mais na direção das chamas, apertando os lábios e remexendo as cinzas com um graveto.

- Conte.

- Você tem certeza de que quer ouvir? Você não vai gostar.

- Mas que merda, Dantálion! Claro que quero ouvir! Fale logo!

O garoto o encara de modo sombrio por detrás das labaredas.

- Foi Vero quem matou sua mãe.

Lúcio afasta o corpo para trás involuntariamente, olhando com terror para os olhos negros que contrastam entre sua frieza e o calor das chamas dançando em sua íris.

- Mas não fique com ódio dele, por favor. Ele fez isso por um motivo, e nunca foi a mesma pessoa depois do que aconteceu. Ele foi quem mais sofreu.

Lúcio observa o fogo, atordoado demais para falar qualquer coisa.

- Eles sabiam que ela seria morta a qualquer momento pelos Auxiliadores. E, pior do que morta, eles a torturariam para terem respostas. Então ela pediu que ele a matasse antes que alguém mais pudesse colocar as mãos sobre ela.

- Não praticamos tortura. – interrompe o Sacerdote, seco.

Dantálion joga a cabeça para trás e solta uma gargalhada alta.

Uma gargalhada alta e mórbida.

- Como eu dizia, - continua, retornando à sua seriedade – ela seria torturada e morta, então pediu a Vero que a matasse antes, e foi nesse momento que ele jurou cuidar de você. Ele não prometeu que te levaria aos Surdos, disse que faria o que fosse de sua vontade, mas que, caso você seguisse esse caminho, ele esconderia seus segredos. É por isso que ninguém percebeu ainda que você sai à noite, porque ele guarda o seu quarto e não deixa que ninguém descubra.

O Sacerdote sente seu estômago embrulhar, o chão se move sob seus pés.

Sua mãe não havia ficado doente, não havia morrido, como todos lhe contaram. Não tinha sido uma fatalidade, nem uma vontade da Voz de levá-la consigo.

Ela foi morta.

Ela se suicidou.

Através de Vero.

Por medo dos Auxiliadores que agora moravam com ele. Os seus Auxiliadores. Os mesmo que ele cumprimentava todos os dias. Os mesmos que teriam matado sua mãe. Que o matariam. Que matariam Dantálion.

Lúcio se ergue, tremendo. Com um passo em falso, se apoia sobre o tronco de uma árvore, tentando conter a náusea.

Dantálion se aproxima, pronto para ajudá-lo.

Desta vez, porém, Lúcio não vomita.

A explosão guardada em seu peito aumenta em intensidade, queimando em suas veias. Ardendo em seus músculos. Apertando sua garganta.

Controlando a respiração, ele se põe de pé, lançando um olhar firme e odioso para Dantálion.

- Você está certo. - diz, a voz um pouco trêmula – Eu sou um fraco.

Ele fecha os olhos com raiva, as mãos em punho, e atinge os galhos ardentes da fogueira com um soco, levantando uma nuvem de fagulhas, sem demonstrar qualquer traço de dor quando seus dedos se tingem de fuligem preta e quente.

- E eu preciso me tornar forte.

De pé, Dantálion olha com espanto para o garoto que surge à sua frente, enxergando nos olhos dele o reflexo dos seus.   

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