Dantálion [COMPLETO]

By VivianMansano

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[DISTOPIA GAY] Lúcio está prestes a dar o passo mais importante de sua vida: assumir o lugar de seu pai como... More

Introdução
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NOTAS E INTERAÇÃO
Epílogo: Pandora
O Filho da Rebelião - Capítulo 1

42.

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By VivianMansano

Aproveitando os dias seguintes para restaurar as energias perdidas em tantas noites insones, o Sacerdote vai ao ponto de encontro apenas três noites depois. Ele chega cedo, os últimos raios de sol ainda visíveis.

Para disfarçar qualquer suspeita, havia dito a Vero que não estava se sentindo bem e passaria o resto do dia no quarto, descansando, antes de pular pela janela e disparar na direção do bosque. As marcas azuladas sob seus olhos eram convincentes por si sós.

Dantálion aparece à distância, caminhando devagar, mancando sobre a perna esquerda. Há algo errado em seu rosto.

Quando se aproxima, o Sacerdote retém um sibilo. O rosto de Dantálion está vermelho, um dos olhos roxo e inchado, seus lábios marcados por um corte enegrecido de sangue coagulado.

- O que houve com você?! – pergunta o Sacerdote, correndo em sua direção.

- Nada.

- Nada?! Qual o seu problema?! Você viu o estado do seu rosto?

Dantálion responde casualmente, depositando sua mochila a um canto, como se o fato em si não tivesse importância alguma:

- Eu fui assaltado.

O Sacerdote ergue as sobrancelhas, analisando cada marca e ferida em seu rosto. Aparentemente alguém havia tratado de suas feridas, mas não da forma mais eficaz.

- Deixe-me adivinhar, você resolveu dar uma de herói e lutou com ele?

- Com eles. Eram três.

Embora ainda mantivesse seu tom desleixado, o sorriso de vaidade na fala de Dantálion não passou despercebido.

- Por que você não deu o que eles queriam? Não deveria ter reagido.

Dantálion solta um riso nervoso, contraindo os lábios dolorosamente. Ele enfia a mão nos bolsos da calça e começa a retirar, um por um, vários itens exóticos, provavelmente saqueados em suas excursões fora da cidade. Alguns são feitos de um tipo de metal, outros de vidro, e outros de materiais desconhecidos. Mesmo sem poder dizer qual a utilidade deles, qualquer um saberia que não foram produzidos dentro da cidade.

- Preciso te explicar por que não pude entregar a eles? – indaga rispidamente - Prefiro morrer na mão de alguns ladrões idiotas do que morrer nas mãos de um de vocês.

As palavras atingem o Sacerdote. Num impulso irracional, ele encolhe os ombros e prende a respiração, como se pudesse, de algum modo, tornar-se invisível.

- Mas não se preocupe com isso. Não foi hoje, e já estou melhorando. Os outros ficaram bem piores. – complementa, sorrindo.

O Sacerdote esfrega um dos pés sobre a terra, limpando as folhas e galhos caídos.

- Você fez... Bem, você sabe...

- Se eu matei algum deles? – ri o garoto, seus olhos escuros brilhando de contentamento – Não. Pode ficar tranquilo. Matar é uma coisa da qual o seu tipo se orgulha, não o meu.

- Pensei que os Surdos quisessem matar todos do Palácio. – Lúcio o fuzila.

- Agora estamos falando de algo totalmente diferente. Existe uma grande diferença entre matar ditadores e matar um imbecil que rouba sapatos no meio da floresta.

- São todos seres humanos.

- Alguns são mais humanos que outros.

- Isso parece bastante arrogante vindo de você.

- Olhe só o que está falando! Você é o único aqui que já matou alguém. E foi muito pior do que executar um criminoso.

- Tecnicamente, ela era uma criminosa.

-Tecnicamente, eu sou um criminoso, assim como você. – Dantálion olha fundo em seu rosto – E eu tenho certeza que você não acredita em uma só palavra do que acabou de dizer, ou então não estaria aqui se preocupando com minha vida, quando tem a obrigação moral de me matar.

Dantálion se abaixa, guardando os itens retirados dos bolsos na mochila. Sua camisa levanta alguns centímetros, revelando um grande hematoma escuro que percorre toda a lateral de seu tronco. Um chiado de agonia escapa pelos dentes do Sacerdote.

O garoto o encara de volta com amargura:

- A vida fora do Palácio não é as mil-maravilhas que você esperava?

Ele não responde.

Dantálion se ergue, segurando um objeto nas mãos.

- O que me fez pensar, Sacerdote, que você precisa aprender a se defender se quiser ficar andando sozinho por aí. Aposto que você é tão idiota que não veria um agressor nem se ele estivesse em cima de você.

- A única pessoa que já me agrediu está bem na minha frente. – cospe, irritado com o insulto.

Dantálion ri como se estivesse ouvindo algo divertido e lhe estende o objeto.

- Você vai precisar de uma dessas.

Pegando cuidadosamente o objeto, o Sacerdote remove o tecido que o protege, sentindo seu peso. Em suas mãos surge uma adaga extremamente afiada, com uma lâmina reluzente e cabo de madeira negra. A lâmina, sem um arranhão sequer, provavelmente nunca foi usada.

Ele balança a adaga com desprezo.

- Eu não sei como usar uma dessas.

- Eu te ensino.

Sem nenhum aviso, Dantálion se lança contra ele, atingindo suas costelas com o cotovelo, sem qualquer tentativa de diminuir o impacto. O Sacerdote grita, ajoelhando-se para controlar a dor, e deixa a adaga cair ao seu lado.

Dantálion o cerca por trás, plantando o pé com força em suas costas, jogando-o com o rosto no chão. Em menos de um segundo, já está sobre ele, bloqueando sua respiração.

Ele o imobiliza usando os joelhos magros e duros, protestos de dor escapando do Sacerdote quando seus braços são pressionados com mais força contra o chão.

Sem dificuldade alguma, Dantálion saca uma adaga idêntica da cintura e puxa seu cabelo, obrigando seu pescoço a arquear para trás numa posição dolorosa. A lâmina é então pressionada contra sua garganta.

Impossibilitado de se mover, a dor em seu cabelo atingindo um nível insuportável, ele solta um gemido.

Dantálion aproxima a boca de seu ouvido, sem diminuir o aperto, sussurrando maliciosamente:

- É assim que se usa uma dessas. E você precisa parar de duvidar de mim.

O Sacerdote o encara, suplicante. Um sorriso de puro prazer se espalha pelo rosto de Dantálion enquanto aperta a lâmina com mais força contra sua garganta.

A lâmina queima em sua pele, dificultando sua respiração. Seus braços são torcidos sob a pressão dos joelhos de Dantálion, e a dor do puxão em seu cabelo parece ressoar em cada milímetro de seu corpo. Incapaz de falar, ele implora com os olhos para que o outro pare.

Dantálion não demonstra comoção alguma. Apenas o mantém na posição, sem diminuir a força com que o imobiliza, nem afastar a lâmina.

Os segundos passam lentamente, e seu corpo começa a adormecer, os sentidos se confundindo sob a dor esmagadora, a falta de ar nos pulmões o envolvendo numa névoa de sonolência irresistível.

Ele olha novamente para Dantálion, manchas pretas atrapalhando sua visão. Com medo de que qualquer movimento mais forte possa afundar a lâmina em sua pele, solta um novo grunhido. Os olhos do outro permanecem impiedosos, seu sorriso expandindo-se ao ver seu desespero.

Aos poucos, toda a dor desaparece, cedendo à dormência geral de seus membros, e sua consciência começa a vacilar, atraída para um lugar vazio e pacífico de insensibilidade. Ele se entrega ao torpor, satisfeito por se sentir bem, e fecha os olhos para perder os sentidos.

Só então Dantálion afasta a lâmina e solta seu cabelo, deixando seu rosto atingir o chão com força. Dantálion o liberta, afastando-se friamente enquanto ele luta para retomar a lucidez, arfando e tremendo. Tosse compulsivamente, sentindo o ar queimar quando volta a circular em sua garganta. Diversos pontos atingidos de seu corpo doem simultaneamente. Incapaz de pensar com clareza, ele permanece deitado sobre a grama por alguns minutos.

Só depois de muito tempo consegue focalizar a figura de Dantálion agachado ao seu lado.

- Você é um doente! – grita o mais alto que pode, cada palavra arranhando a garganta seca.

- E você é um fraco. – provoca o outro.

- Você não precisava ter feito isso!

- Precisava, sim.

Um novo acesso de tosse o toma.

- Você quase me matou!

- Pare de ser exagerado, eu só te apaguei um pouco, só isso. Precisaria de muito mais para te matar.

Finalmente o Sacerdote consegue erguer o tronco do chão, sentando-se no meio de um bosque que gira lentamente.

- Você é sádico!

Dantálion solta um suspiro de impaciência.

- Só estava tentando te mostrar como seria lutar com um oponente de verdade. Você acha que consegue oferecer alguma coisa aos Surdos se nem mesmo tenta reagir?

- Tudo que você me mostrou é que eu não tenho chance nenhuma! Eu não pude reagir!

- Que seja. Pelo menos que isso te sirva de lição: não saia por aí arrumando brigas.

O Sacerdote aperta as mãos contra a cabeça, a dor de ter os cabelos quase arrancados penetrando em seu crânio.

- Só estava tentando te mostrar que você não precisa cortar um oponente para derrotá-lo. Se não puder cortar alguém, você pode usar a lâmina para distrair sua atenção enquanto faz outra coisa. Aposto que você nem percebeu que a lâmina estava de lado, não é? Eu poderia pressionar o quanto quisesse e ela jamais te machucaria. Só usei a adaga para te controlar enquanto bloqueava seu ar com o resto do corpo. Se eu tivesse te segurado um pouco mais, por exemplo, você teria passado um bom tempo desacordado. Seria tempo suficiente para fugir ou procurar ajuda. Não é bom começar uma briga usando a adaga logo de início, você provavelmente iria perdê-la e seria esfaqueado com sua própria arma. Eu só deixei você descobrir que eu estava armado depois que já tinha te colocado no chão.

O Sacerdote o encara com ódio.

- Você não podia ter simplesmente me dito isso?

- Não. Você precisa se acostumar com a dor e com a adrenalina para aprender a manter a cabeça fria numa luta, é sua única chance. Você precisa dominar sua mente e a mente de seu inimigo, já que seu corpo não é forte o bastante. Não posso correr o risco de te colocar no meio de uma guerra sem saber como é ser derrotado. Você precisa saber o que está acontecendo.

- Se você sabe tanto sobre lutar, eu me pergunto por que você ganhou esse olho roxo. – provoca.

- É porque nem todos os meus oponentes são ruins como você. – responde Dantálion com um sorriso maldoso – Se fossem, eu não teria que me preocupar com nada.

Irritado, o Sacerdote pega a lâmina que deixou cair e se levanta, encarando-o. Dantálion ergue as sobrancelhas com surpresa e saca sua própria adaga, brincando com ela entre os dedos. Os dois permanecem estáticos como dois cães prestes a se atacar.

O Sacerdote se lança contra ele, usando o cabo da adaga para atingir seu rosto. Dantálion desvia com facilidade, batendo as duas mãos em seus rins. Lúcio cai, soltando a lâmina.

Mesmo caído, tenta acertar o outro com um soco, mas Dantálion agarra seu pulso e o gira, obrigando-o a deitar com as costas sobre o chão.

Torcendo seu braço, Dantálion o imobiliza novamente, pressionando o próprio corpo para sentar-se sobre seu peito. Com os olhos negros fixos nos seus, ele aproxima a adaga de seu rosto, mirando a ponta fina e afiada diretamente sobre seu olho esquerdo.

A ponta da lâmina roça em seus cílios, a poucos milímetros de perfurar seu olho. Tomado de terror, o Sacerdote trava todos os músculos. Qualquer movimento poderia deixá-lo cego.

Dantálion sorri, aproximando o rosto do seu, sussurrando:

- Você também pode usar a adaga de outras formas. Às vezes, você ganha uma luta por desestabilizar o emocional de seu oponente. Se você deixar alguém em pânico, do jeito como te deixei agora, você já ganhou. Neste momento, você está com tanto medo que eu poderia fazer qualquer coisa que quisesse e você nem teria coragem de reagir. Isso é o que chamamos de ser um refém.

Dantálion afasta a lâmina de seu rosto, ainda sentado sobre ele, mudando de tom:

- E então, como você faria pra sair de uma dessas?

O Sacerdote pensa, tentando ignorar a dor e o medo para manter as ideias claras. Ele se lembra repentinamente do hematoma nas costas de Dantálion, e toma consciência de suas próprias pernas, que estão livres para se mover.

Sem piedade, dobra as pernas, lançando os dois joelhos contra a lateral de Dantálion, acertando em cheio o local ferido.

O garoto solta um uivo de dor, mas não sai de cima dele.

O Sacerdote repete a manobra, colocando mais força no impacto.

Dessa vez Dantálion não aguenta, e rola para o lado, com lágrimas nos olhos.

O Sacerdote aproveita a oportunidade e se levanta, pegando a lâmina que o outro havia deixado cair.

Ele então coloca um pé sobre as costas de Dantálion, forçando-o a deitar. Antes que o garoto possa se defender, Lúcio salta sobre ele, mergulhando com o joelho da perna livre sobre a parte alta de suas costas, fazendo-o expelir todo o ar de seus pulmões.

Revigorado pela adrenalina e sorrindo pela vingança, o Sacerdote o puxa pelos cabelos da mesma forma que ele havia feito, posicionando a lâmina sob sua garganta. Ele aperta a adaga com força, ouvindo seus gemidos de dor.

- Muito bem, Moloque. – sussurra Dantálion, esforçando-se para falar – Mas você cometeu um erro.

- O que foi? – ele puxa seu cabelo com mais força.

Apesar do aumento da dor, Dantálion contorce os lábios em um sorriso malicioso.

- Nunca deixe seu adversário com os braços livres.

Antes que pudesse pensar, o braço de Dantálion gira em sua direção, o cotovelo atingindo diretamente sua orelha.

O Sacerdote cai para o lado, perdendo os sentidos momentaneamente, um zunido agudo apitando em seu ouvido enquanto aperta a cabeça com ambas as mãos, tentando diminuir a dor.

Dantálion se levanta, um corte leve em sua garganta já formando uma mancha de sangue que escorre por seu pescoço. Enquanto o Sacerdote permanece deitado, pressionando os ouvidos, ele tira a camisa, torcendo-a do avesso para estancar o sangue.

- Viu como foi bom eu ter te demonstrado? – diz, pressionando o tecido contra o corte - Você quase conseguiu. Infelizmente, ainda é muito idiota e não presta atenção aos detalhes.

- O idiota não ficou com um corte no pescoço. – responde o Sacerdote, ainda apertando a cabeça, mal escutando a própria voz.

- Pior ainda. Isso é porque eu sou esperto o suficiente para tirar a faca da sua garganta antes de sair me jogando para qualquer direção. Já você, mal leva uma cotovelada e quase arranca meu pescoço fora. Você poderia ter me matado, sabia?

Ao recobrar os sentidos, ele ergue o rosto para ver Dantálion.

O hematoma em sua lateral era apenas um dos vários que cobrem todo seu tronco. Várias manchas pretas, roxas e vermelhas se espalham por seu peito e costas, e é possível ver a marca de numerosas cicatrizes brancas que riscam seu corpo, traçando linhas irregulares desde o pescoço até desaparecem sob sua cintura.

Dantálion o encara cinicamente.

- Gosta do que vê?

Lúcio desvia o olhar, envergonhado.

- Você é mais cruel do que eu pensava, Sacerdote. – diz, recolocando a camisa, agora manchada pelo sangue do corte já estancado – Atingiu exatamente meu ponto fraco... Cruel, mas inteligente. Talvez isso te garanta mais alguns anos de vida.

- O seu pescoço vai ficar bom?

- Não se preocupe com isso. Eu já passei por piores.

Dantálion pega a adaga do chão, segurando-a pela lâmina para oferecer o cabo ao Sacerdote.

- Use isto com sabedoria.

Lúcio pega a adaga com cuidado, limpando na grama o fino fio vermelho que recobre a lâmina.

- Amanhã teremos outra reunião. - continua Dantálion, terminando de organizar seus pertences – Me encontre aqui antes da meia-noite para pegar sua roupa. E me devolva o livro.

- Por que o livro?

- Porque sim. Eu pensei bem, e não acho seguro você mantê-lo no Palácio.

- Existe algum motivo para você ter mudado de ideia sobre a segurança do Palácio?

Dantálion aperta os lábios em uma expressão de desconforto.

- Só estou preocupado com você.

- Preocupado comigo?! Você?! – debocha o Sacerdote.

- Sim. – responde seriamente – Eu percebi que você é mais importante do que eu pensava.

- Importante para o seu plano, você quer dizer.

- Não. Não estou falando de nenhum plano.

- Está falando do quê, então?

Dantálion não consegue olhar em seu rosto.

- De nada que você possa entender, Sacerdote. – e, suspirando – Vamos para casa, precisamos descansar para amanhã.    

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