"Me acorde quando os tremores sumirem e o suor frio desaparecer
Me ligue quando acabar e eu mesma reaparecer
Eu não sei por que eu faço isso toda vez
É só quando estou sozinha
Às vezes eu só quero me esconder e eu não quero luta
Eu tento e tento
Apenas me abrace, estou sozinha."
- Demi Lovato (Sober)
Narrado por Alyce
A pior parte do que acontece comigo são as crises. É como se eu fosse fraca demais para ser pressionada ou contrariada, ou simplesmente para aguentar os meus pensamentos incriminatórios (que vêm de mim para mim). Depois de uma crise, eu me lembro exatamente do que senti, é como se eu acabasse de brincar num pula-pula e, ao sair, ainda sentisse as minhas pernas tremerem; mesmo depois de voltar ao controle, é como se a dor no peito ainda estivesse lá, como se o ar ainda me faltasse.
Na verdade, pareço sentir medo de perder o controle sempre, por isso temo tanto as crises, e por esse motivo acabo exagerando e fazendo coisas que me acalmam o tempo todo. Isso não é algo positivo, é como alguém que sofre da Síndrome do Pânico e não consegue nem sair de casa por conta do medo da morte..., mas é inevitável.
Outra vez, eu acordo de repente. Abro os olhos de uma vez e encaro o teto, a janela deixa uma fresta que faz com que os raios do sol desta manhã entrem e iluminem levemente o quarto. Eu automaticamente me lembro de horas atrás, antes de pegar no sono, foi estranho quando Owen tentou se aproximar e me abraçar. Ele percebeu, porque se contentou em apenas colocar a sua mão em cima da minha, e eu sorrio por me lembrar que ele não questionou o meu problema com essa proximidade, mas esse sorriso some quando percebo que não há o calor da sua pele sobre a minha. Sou tomada por um sentimento ruim quando noto a agitação ao meu lado da cama.
Rapidamente, eu me sento e olho para o lado, o que vejo é assustador. O corpo todo de Owen está se contorcendo, suas mãos, seus braços. Os seus olhos estão revirados, a boca espumada, sua pele e lábios pálidos. Ele está tendo uma convulsão.
Eu nunca senti tantas coisas quanto sinto depois de que conheci Owen, mas agora, nesse exato momento, não há nada além de desespero para sentir. Porém, é como se a parte inteligente do meu cérebro tivesse sido desligada. Eu sei exatamente o que fazer, eu já passei por situações como essa, as ordens são claras: vire o corpo de lado, coloque algo macio embaixo da cabeça e tire objetos perigosos de perto. Só que algo acontece e depois que contorno a cama correndo até o seu lado, fico parada, em choque.
Então, quando Owen trava a mandíbula e parece revirar mais os olhos, é como se eu me despertasse um pouco do choque. Ligo o abajur ao lado da cama e me volto para o corpo agitado em minha frente. Preciso de muita, muita força para conseguir virar o seu corpo de lado e segurá-lo. Quero chamar alguém porque nenhuma situação tão séria dependeu apenas de mim, e quando ouço o som de um celular vibrando no chão, embaixo da cama, corro para alcançá-lo.
- Por favor, não tenha senha, por favor...
Eu desbloqueio o celular do homem inconsciente ao meu lado e agradeço aos céus por não ter algum código. Corro os olhos pelos contatos procurando o número de Ian. Quando o acho, desesperadamente inicio a chamada e coloco o celular na orelha. Eu quero ligar para Alyson e dizer que estou com medo, mas não posso.
- Owen? O que...
- Ian! É a Alyce, ele... O Owen... - o baque alto me assusta e eu olho para o homem convulsionando na cama. Ele acabou de bater a cabeça no criado-mudo com força o suficiente para fazer um corte feio que dispara a sangrar.
Solto o celular no chão e me arrasto até o seu lado outra vez. Ele novamente se vira para cima e eu tenho que usar toda a força dos meus braços cansados para virá-lo outra vez. É muito, muito sangue. Eu sinto vontade de chamar por ele, pedir para que volte, mas sei que isso não mudará nada.
Essa não é você, Alyce. Pense.
- Sendo alguém tão preocupado com o irmão, você deve ter algo para momentos como esses, né? - não espero que ele me responda, mas que eu me convença de que posso procurar algo para cuidar do corte na sua cabeça e deixar ele sozinho por alguns segundos.
Depois que o arrasto para o meio da cama, corro para o banheiro. Por um segundo, eu olho para o chuveiro e me lembro que horas atrás nós nos beijamos embaixo dele, mas não tenho tempo para pensar em como eu não esperava por nada disso. Não há nada em nenhum dos armários e nem em nenhum canto, então eu saio o mais rápido possível e confiro se aconteceu algo de pior com Owen. Ele ainda se encontra no mesmo lugar e posição em que eu o deixei.
Atravesso o corredor até chegar no outro quarto, mas lá também não encontro nada que possa me ajudar. Vou às pressas até a sala, depois sala de jantar e, por fim, cozinha. Nada.
De repente, ouço a porta ser empurrada com pressa. Eu olho para a sala e lá está Ian, ao lado de uma mulher negra, de cabelos trançados e bagunçados, além da maquiagem borrada e cara de sono, veste uma blusa masculina grande e Ian está apenas com uma bermuda vermelha,
Essa não é a minha irmã.
- Onde ele está?
- No quarto. Ele... - Ian corre, desesperado, para onde indiquei. De lá, ele grita.
- Asha, chame uma ambulância!
Uma ambulância. Eu devia ter pensado nisso. Como não pensei?
- Como não pensei nisso? - engulo em seco e largo o copo de água na pia, coisa que nem sei por qual motivo peguei- Hemorragia, rompimento de meninges, traumatismo craniano... morte.
Eu começo a listar o que o corte na cabeça pode ocasionar, se for muito fundo, e considerando a força com a qual Owen estava se contorcendo, é provável que sim. Paro quando penso na pior possibilidade.
- Eu nem olhei a profundidade do corte.
O meu peito parece tão apertado que eu não resisto à vontade de apertá-lo, é como se fosse esmagar o meu coração. De repente, eu sinto falta de ar, parece que há alguém apertando a minha garganta e eu não consigo encher o meu pulmão o suficiente, mas não existe ninguém aqui além de mim, Asha correu para ajudar Ian com Owen.
Eu olho para a janela, procurando me acalmar, mas o céu lá fora não está rosa. As coisas parecem passar de forma extremamente lenta, mas ao mesmo tempo rápida- se alguém me dissesse isso, eu me incomodaria com a falta de lógica e provavelmente não acreditaria ou duvidaria.
O problema é que talvez aconteça com Owen o pior, e a culpa será minha. Qualquer atitude contrária à que eu tomei, mudaria o que está acontecendo agora.
Eu me lembro dos primeiros socorros que aprendemos a fazer no grupo de apoio caso alguém tivesse uma crise, e isso incluía convulsão. Eu sempre pensei que em momentos como esse, era óbvio o que eu deveria fazer, era simples. Agora, eu não sei o que aconteceu comigo.
Pela cozinha toda, ecoa o barulho das gotas que saem da torneira e batem na pia. É como se esse som entrasse pelos meus ouvidos até a minha mente, para se misturarem com as várias sequências da minha voz. Fecho os meus olhos.
As minhas pernas parecem ter se tornado gelatina, assim como as minhas mãos, eu deixo que o meu corpo deslize até me sentar no chão e me encolho, colocando a cabeça entre os meus joelhos. Aperto a minha cabeça com as mãos, não suportando o barulho que a torneira faz.
- Eu sou burra. Eu devia ser inteligente.
É insuportável o calor que vem da claridade do sol e rasteja dos meus braços até as minhas mãos, eu tento tirar essa ardência de mim com as minhas unhas, deixando arranhões feios nos meus braços.
A falta de ar volta e junto dela chega um formigamento incontrolável que faz com que eu me mexa embaixo dos meus novos machucados. Então, outra vez, a porta bate com força. O som alto e agudo faz com que os meus ouvidos doam mil vezes mais do que antes. Aperto os olhos com mais força ao mesmo tempo em que uma mão áspera passa pelos meus braços.
- Alyce.- é Alan. Só quando a sua mão desliza pelos meus braços, eu percebo que todo o meu corpo está balançando, tremendo. Sua voz está suave, calma, diferente do seu toque.
- O Owen pode morrer. Um corte pode causar hemorragia, rompimento de...
- Você pode olhar para mim?
Eu ergo os meus olhos para o seu rosto e no exato momento em que fixo o meu olhar no seu, a sirene de uma ambulância faz com que eu me encolha mais e volte a arranhar os meus braços ao mesmo tempo em que aperto a minha cabeça entre os meus joelhos.
Alan suspira e se senta do meu lado.
- Eu sou burra, Alan, eu não consegui ajudá-lo.
- Você é a pessoa mais inteligente que eu conheço. Se você não pôde impedir seja lá o que tenha acontecido, ninguém poderia.
Mais uma vez, é como se o ar estivesse sendo retirado dos meus pulmões. Eu tento respirar, mas o barulho dos passos daqueles que entram e saem pelo apartamento confunde os meus pensamentos.
Alan me puxa para o lado e me aperta num abraço. Eu quero pedir para que se afaste, quero dizer que o contato físico me incomoda, mas lembro de quando Owen me manteve firme no seu peito e me acalmou.
Eu me autossaboto, porque sempre que fico sozinha, sempre que fico sem algo ou alguém a quem eu possa me agarrar e pedir ajuda, perguntar o que devo fazer, não aguento ficar dentro da minha própria mente.
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não sei se a cena ficou como eu queria e se foi bem descrita, mas eu espero que vocês gostem <3 ignorem os erros de formatação, o wattpad tá meio impossível pra mim hoje.
pra quem lê A Fera: eu comecei a repostar e já está com 3 capítulos, viu?
pra quem lê Harry: logo logo posto o capítulo, tem que ser escrito de forma delicada e eu esqueci o caderno onde escrevia na minha cidade (tô em Fortaleza)