Ele gostou de visitar Londres novamente. Fazia tempo que não vinha para aquela região, mas seria impossível recusar um convite tão bem elaborado.
— As 5, mesmo lugar de sempre, estarei de vermelho...
Desde que a visitara na PB, não tinha mais falado com ela e tinha uma sensação de que algo bom sairia daquele encontro, mas estava redondamente enganado.
Assim que entrou no café da Warren Street, avistou Agatha sentada no mesmo local de sempre, junto a janela. Ela estava sem chapéu, com o cabelo mais curto, usando um modelito completo da cor da paixão.
Imaginou que se ela quisesse passar despercebida, estava fazendo um péssimo trabalho.
— Que bom que veio... — disse a Srta. King quando ele sentou no lugar vago a sua frente.
— Faz um bom tempo que não nos encontramos aqui.
— Creio que da última vez Emilly estava comigo...
— Sim! Em 2010... Depois disso tantos furacões passaram por nossas vidas...
— O senhor nunca me disse de verdade, mas chegou mesmo a amá-la? Naquela época em que se aproximaram na MES?
Derick ficou imaginando aonde ela queria chegar com aquela conversa e suspeitou de uma armadilha, mas adorava jogar com Agatha, então entrou simplesmente em seu joguinho.
— Quer a verdade ou prefere que eu continue atuando o meu papel, como o fiz desde que foi presa e eu testemunhei no seu julgamento?
A Srta. King absorveu aquelas informações e rapidamente continuou.
— Do que está falando, Sr. Mitchell? Não existe mais nenhuma encenação, pare de brincar com essas coisas...
— Não estou brincando, Agatha! A vida toda é um grande palco e as cortinas ainda não baixaram para mim...
— Pois para mim este espetáculo já se encerrou — interrompeu ela bruscamente — Se veio aqui somente para me fazer perder tempo, nem precisava ter se dado ao trabalho...
Derick sorriu divertido e a encarou por alguns segundos.
— Quanta ira leva dentro do seu coração...
A Srta. King respirou fundo e o olhou.
— É verdade, me desculpe, não tenho porque tratá-lo assim, afinal eu sempre soube que o senhor era um imbecil mesmo...
Desta vez Derick gargalhou, mas depois se conteve, pois estavam chamando atenção demais dos outros frequentadores.
— A senhorita é formidável, por isso eu... Digo, ah... Eu vi a sua entrevista, quando deixou a prisão, arrasou com todos eles!
— Só disse o que a imprensa queria ouvir — disse ela séria.
— É impressão ou a senhorita está muito diferente daquela Agatha que eu conheci?
— Experimente passar umas férias na prisão e verá o quanto isso pode mudar o seu modo de enxergar o mundo...
Agora foi a vez de Derick interrompê-la, sério.
— Então que besteira foi essa de me perguntar sobre um amor que eu sentia ou não, por alguém que já nem existe mais?
Uma lágrima rolou pela face dela e ela nem a disfarçou.
— Eu só queria falar de coisas simples, relembrar o passado, quebrar o gelo, sei lá! Quem sabe talvez esquecer um pouco de tudo o que aconteceu...
— E além do mais — continuou Agatha — o senhor sabe que acabou de dizer uma grande besteira, não é mesmo?
Ele concordou com um aceno.
— Eu sei!
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Ficaram um tempo em silêncio apreciando o apetitoso café servido naquele local, até que ela voltou a falar.
— Ainda sonha com ela?
— Quase todas as noites!
— E como são esses sonhos?
— Na realidade são pesadelos e Emilly me pede que eu a vá encontrar na escola...
— Comigo os sonhos são diferentes...
— Está sonhando com ela também, Agatha?
— Sim! Começaram pouco antes de eu sair da PB e agora povoam minhas noites...
— E como são?
— Em geral estou caminhando fatigada e ela me aparece e cada vez me fala algo novo. Foi Emilly que me inspirou a querer encontrá-lo.
— Como assim?
— Ah, ela me disse para ir vê-lo.
— Ela disse isso com todas as letras: vá ver o belo Sr. Mitchell?
Derick finalmente conseguiu lhe arrancar um sorriso e ficou encantado.
— Ela disse assim: Vá ver aquele idiota metido a sabe-tudo...
Os dois riram muito e Agatha continuou.
— Não! Emilly segurou em meu braço e disse "Vá vê-lo!" e eu senti que ela falava do senhor.
— Será realmente um sinal? Ou esses sonhos não tem nada a ver?
— Eu não sei, mas são bem assustadores mesmo. Por isso lhe perguntei sobre o que sentia por ela naquela época na MES. Queria falar sobre Emilly também...
— E eu repito a pergunta: quer que eu fale a verdade, não importa qual seja?
— Quero! Preciso saber... O senhor sempre foi muito evasivo quanto a isso...
— Eu era um rapaz em busca de diversão e a senhorita sabe muito bem. Faz quanto tempo que nos conhecemos?
— Estudamos juntos deste o início do Key Stage 4...
— E quantas vezes a senhorita me viu levando alguma garota a sério?
— Pensando bem, nenhuma vez mesmo!
— É claro que com a Emilly foi diferente, ela era especial, e tinha aquela coisa americanizada nela, aquele senso de liberdade diferenciado, algo que ela nunca perdeu. Mas...
— Mas?
— Sinto muito em lhe dizer, e não tenho nenhum orgulho nisso, mas estava com Emilly somente pela aventura e por mais um motivo que a senhorita já sabe, pois lhe contei naquela primeira vez em que lhe visitei na prisão.
— Aquela história de que me amava?
— E que ainda amo...
— Não estava namorando até esses dias atrás com uma garota. Foi o que me disse, não lembra, aquela com um nome diferente...
— Está falando da Nanna...
— Sim, ela. Não estavam namorando?
— Ela era somente mais uma aventura, tal como foi com a Emilly...
— Mas se recorda de que no julgamento testemunhou que estava apaixonado por Emilly? Ou mentiu?
— Não menti totalmente, mas nunca cheguei a amá-la. E quanto a Nanna, assim que a senhorita ganhou a liberdade, eu terminei com ela.
— Nossa! Eu estou emocionada! — disse Agatha de forma sarcástica — E agora podemos viver felizes para sempre?
— Se a senhorita quiser...
A Srta. King permaneceu um tempo em silêncio, meditando, depois pegou as mãos dele e partiu seu coração.
— Olha Derick, eu não quero que tenha esperanças quanto a nós dois. Já senti algo muito forte pelo senhor, mas a decepção que me causou quando testemunhou contra mim no tribunal, mesmo alegando publicamente me amar, foi algo ainda mais forte...
— Agatha, tente compreender, assim como os demais, eu também fui enganado pelo professor Green e pelo caso que ele teve com aquele seu amigo...
— E por causa disso a sua confiança em mim simplesmente deu lugar a dúvida?
— Eu... Eu não sei o que dizer, somente que sinto muito!
— Eu também! — disse ela retirando as mãos das dele, que permaneceu olhando cabisbaixo para suas próprias mãos, ainda quentes após o contato com ela.
Agatha se levantou e disse um adeus sussurrado o qual ele não respondeu, depois se retirou, atraindo olhares de outros homens que se encontravam no local.
Ela é realmente linda — pensou Derick enquanto Agatha chegava na calçada e desaparecia entre os transeuntes — Mas também é uma pessoa muito má! — concluiu ele em pensamento, ainda sem tirar os olhos de suas mãos.