—> MÚSICA DO CAPÍTULO: TOO GOOD AT GOODBYES, Sam Smith.
{"Você deve pensar que sou estúpido, você deve pensar que eu sou um tolo, você deve pensar que sou novo nisso, mas eu já vi isso tudo antes. Eu sou bom até demais em despedidas. Eu sei que você está pensando que eu não tenho coração, eu sei que você está pensando que eu sou frio. Eu estou apenas protegendo minha inocência, estou apenas protegendo minha alma."}
Um ano e cinco meses antes.
(aproximadamente)
Londres, Reino Unido. - 14h30min. Terça-feira, 26 de setembro de 2017.
Eu definitivamente não sou o tipo de pessoa que agrada a muitos, porém, eu não tenho sequer um porcento de vontade de mudar isso. Creio que a vida quis de alguma forma me ensinar a ser assim, afinal nem mesmo as pessoas que deviam se importar comigo estão aqui. Minha mãe preferiu tirar a própria vida, e meu pai nem mesmo deve saber qual o meu segundo nome.
Toda essa merda de namorar e casar pra mim não passa de história de contos de fada. Pobres garotas que já crescem se iludindo, achando que um dia vão encontrar o amor de suas vidas! Bom, eu só sei que se é que existe mesmo isso de "feitos um para o outro", "amor a primeira vista", ou "o amor de nossas vidas", eu estou sem dúvidas excluído deste mundo, estou entre a mínima porcentagem de pessoas que não se adequam, não se encaixam nesse mundo de amores e ilusões. Sim, eu acredito que seja um mundo de ilusões, acho que no fundo as pessoas sabem que isso de "pessoa certa" e "amor certo" é uma mentira. Acredito que seja algo parecido com quando somos crianças e acreditamos em Papai Noel: no fundo, as crianças sabem que ele não existe e os pais sabem que em pouco tempo terão de contar isso para seus filhos, porém acreditar que existe um cara gordo e barbudo, que veste uma roupa vermelha e um gorro ridículo, é o que faz as crianças felizes, por isso as pessoas meio que mandam a verdadeira história ir pastar, pois preferem ser felizes com uma ilusão, preferem se trancar em seu mundo de mentiras.
Provavelmente sua opinião sobre mim já baixou alguns níveis. Deve me achar rude, estúpido, um estraga prazeres do pior tipo. Bom, eu prefiro dizer que sou realista. Se ainda não me odeia, acredito que seja apenas uma questão de tempo, mas desde já deixo claro que a vida não nos dá escolhas, e a vida que me trouxe até aqui me ensinou a ser assim: amargo e um completo idiota.
— Sr. Styles? - a voz da minha secretária soa atrás da porta após duas batidas.
— Entre.
— A Srta. Johnson chegou.
— Srta. Johnson?
— Uma das garotas que marcaram entrevista para o novo cargo de secretária.
— Mande-a entrar.
E bastam dois minutos para uma garota morena, de estatura baixa e uma roupa completamente informal entrar na minha sala. Quem é que vai para uma entrevista numa empresa desse porte de jeans e camiseta, pelo amor de Deus?
— Com licença. - a garota diz e eu arqueio as sobrancelhas.
— Sente-se. - ela tira uma... mochila das costas, e então se senta, me encarando. Encaro a garota de olhar inocente de volta.
— Seu nome?
— Elizabeth Johnson, Sr.
— Então você acha que tem porte para trabalhar na Advocacy Company Colin Wright?
— Sim. - ela responde em um murmúrio e eu já sorrio debochado.
— Sabe que essa é uma das mais renomadas e conhecidas empresas de advocacia do país, certo?
— Sei sim.
— O.k., vamos acabar logo com isso. Por que quer o emprego, Srta. Johnson?
— Porque eu preciso de dinheiro. - pelo menos a garota é direta.
— Não acha essa uma resposta muito medíocre para quem está competindo com mais algumas dezenas de pessoas para conseguir um cargo?
— Pode ser medíocre, mas é a verdade. Afinal se não fosse por precisarmos de dinheiro, por quê mais todos nós trabalharíamos?
— Justo. Por que então eu devo dar o cargo à você e não à outra pessoa?
— Eu realmente preciso do dinheiro para ajudar a minha família. Nós acabamos de nos mudar pra cá e minha mãe tem que cuidar dos meus irmãos, meu pai não dá conta de sustentar a casa sozinho, até porque ele ainda não conseguiu um emprego concreto, apesar de estar dando seu máximo. Eu realmente preciso do emprego, por isso... por favor! - a sinceridade em seus olhos é claramente visível.
— Trouxe seu currículo?
— Sim, apesar de não ter muita coisa. - ela parece agora envergonhada e então me entrega o papel.
— Só é formada em administração?
— Sim. Mas eu aprendo rápido e se precisar que eu concilie outros cursos ou até alguma faculdade com o trabalho, eu posso tentar assim que eu conseguir dinheiro pra isso. Eu...
— Vamos com calma, Srta. Johnson. O cargo é para ser minha secretária, acha que está apta para isso sabendo que eu sou o subchefe da empresa e que você trabalhará feito uma locomotiva, provavelmente três vezes mais que seus colegas?
— Minha família é minha motivação, sendo assim estou apta para qualquer que seja a função pela qual me encarregue. - tudo bem, admito, foi uma boa resposta. - Por favor, Sr., me dê pelo menos uma chance. Por favor. - encaro a garota por alguns instantes e por mais que minha razão e instinto de ser desprezível implore para que eu não o faça, acredito que se eu quero ao menos ir para o céu quando morrer, devo estar disposto a fazer algumas – poucas – boas ações.
— Você começa amanhã. Quero você aqui as 8h em ponto. Está dispensada por agora.
— Muito obrigada, de verdade. Eu não vou te decepcionar! - ela se levanta, colocando a mochila nas costas e eu faço uma careta.
— Comece por comprar uma roupa social. Devia saber que secretárias não se vestem informalmente desta forma, principalmente em uma empresa deste porte e com tamanho reconhecimento.
— Sim, Sr.
— Já pode sair. - digo quando a vejo parada, olhando pra minha cara.
— Ah... sim... com licença.
Digamos que terei alguns dias... interessantes a partir de amanhã. É óbvio que essa garota não vai aguentar a pressão. Tá certo que eu não deveria estar considerando ter que demitir ela em no máximo duas semanas por incompetência se eu quero mesmo ir para o céu, mas poxa, é bom se divertir um pouco, e eu tenho a sensação que essa garota vai ser o centro da minha diversão nos próximos dias. Até me sinto de volta à época do colégio. Bons tempos!
— MAMÃE? - grito, correndo pela casa até encontrar minha mãe nos fundos, estendendo roupa. - Eu consegui, consegui o emprego, mamãe!
— Graças a Deus! - ela solta um suspiro pesado e eu a puxo para um abraço.
— Vai dar tudo certo. Vamos ficar bem, mãe. - a abraço forte, mas logo saio do seu abraço - O.k., chega disso. Deixa eu te ajudar com essas roupas. - começo a ajudá-la a estender aquele monte de roupas e ela sorri em agradecimento.
— Onde está o papai?
— Ainda não voltou do trabalho, querida.
— Emilly?
— Dormindo com a Emanuelle.
— Eliott?
— Assistindo TV.
— Elouisa?
— No celular que ela ganhou, como sempre.
— Acabamos aqui? - pergunto quando não vejo mais roupas dentro do cesto.
— Sim. Obrigada pela ajuda, filha.
— Agora a senhora trata de ir descansar um pouco que eu vou preparar o jantar.
— Não sei se isso é uma boa ideia. - minha querida mãe debocha e eu abro a boca em um 'o'.
— Mamãe!
— Convenhamos, você não é nenhuma maravilha na cozinha.
— Que mãe mal agradecida eu fui arrumar, meu Deus!
— Querida, eu te amo e não reclamo. - rimos juntas enquanto entramos em casa.
Anabella. Este é o nome da guerreira heroína que costumo chamar de mãe. Somos em cinco irmãos, sendo Emanuelle e Emilly as gêmeas e caçulas com dois anos, Eliott com seis e Elouisa com treze sendo os do meio, e eu a mais velha com vinte e três. David Johnson sempre foi um homem bom, apesar de muitos dizerem o contrário. Meu pai nunca fez mal nenhum para nós ou qualquer outra pessoa, pelo contrário, ele sempre foi um pai muito presente e carinhoso dentro do que lhe é possível devido a sua criação, talvez seu jeito superprotetor exceda ao limite, mas conseguimos controlar ele, "botar ele na linha", como Elouisa costuma dizer.
O ponto é: tivemos de nos mudar mesmo sem condições de realmente fazer isso. O motivo? Nossa família não é lá muito agradável. A família por parte do papai até que é legal, mas eles não têm uma condição de vida muito melhor que a nossa; e a família por parte da mamãe meio que deserdou ela, a fizeram escolher entre o papai ou eles e bem, já devem saber qual foi a escolha. Meu pai sempre cuidou dela, tal como sempre cuidou também de nós desde que viemos à existência, sem nunca reclamar. Porém as coisas ficaram difíceis em Santa Monica nos últimos meses. Meu pai perdeu o emprego devido a boatos que começaram a inventar com respeito a sua dignidade; ninguém mais aceitava o contratar e por falta de dinheiro, consequentemente, perdemos nossa casa.
Sem alternativas, nos mudamos para Londres. Meu pai tem um tio aqui que nos ofereceu uma de suas casas como moradia, entretanto ainda temos as contas para pagar, contas essas que não ficam nada baratas quando se trata de sustentar sete pessoas dentro de uma mesma casa. Por isso eu tenho que usar a chance que me foi dada da melhor maneira possível. Minha família precisa de mim, e eu não pretendo de forma alguma decepciona-los.
Hey, anjos! ♡
Aqui está o primeiro capítulo de IHTILY. Espero de coração que tenham gostado.
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