Capítulo 3.
In the beginning, I tried to warn you
You play with fire it's gonna burn you
I'm thinking of a way that I can make an escape
It got me caught up in a web and my hearts the prey
Good Charlotte – Victims of Love
Capítulo 3.
In the beginning, I tried to warn you
You play with fire it's gonna burn you
I'm thinking of a way that I can make an escape
It got me caught up in a web and my hearts the prey
Good Charlotte – Victims of Love
Sentia o meu coração a bater fortemente, o sangue a correr nas minhas veias e o meu corpo começava a latejar devido à dor. A respiração ofegante era impossível controlar, enquanto corria desesperadamente, mas tudo o que via eram apenas árvores, folhas, galhos espalhados no chão. Não havia um ponto de referência, uma saída. O pânico começava a apoderar-se da minha mente e apesar do cansaço físico, era o psicológico que me estava a abrandar.
Não pares Charlotte, não pares, aguenta por favor.
Guardei os meus pensamentos para mim enquanto corria, cada vez mais devagar devido ao facto de os meus músculos estarem quase a desistir. Porém, quando ouvi alguém a pisar os ramos caídos no chão, senti a adrenalina percorrer o meu corpo e comecei a correr cada vez mais com a força que me restava. Afastava ramos e cortava-me constantemente nas mãos e braços, porém, se eu queria sobreviver não podia parar.
Estava uma manhã gelada e sentia o meu peito a latejar, o meu corpo a implorar por descanso. E foi então que ouvi aquela voz grave, a voz desconhecida que me aterrorizava e subitamente, senti algo a perfurar a minha pele. Apesar do meu corpo latejar, a pontada foi forte demais para não distinguir onde fora. O som que ecoara por todo o lado fora de uma arma a disparar e a bala atingira-me diretamente nas costas. Caí no chão lamacento e molhado repleto de folhas e galhos por todo o lado, sentindo-me impotente. Queria gritar de dor, mas o som encontrava-se reprimido no meu peito.
Comecei a sentir dificuldade em respirar e subitamente, senti algo a fazer força no local do ferimento. Então a voz desconhecida soou novamente, soltando um riso repleto de malícia.
- Adeus, Lottie...
Acordei subitamente com a roupa colada ao corpo e a respiração ofegante. Soltei um guincho de desespero e olhei em volta para ver que me encontrava na minha cama. Lágrimas correram involuntariamente pelo meu rosto e limpei-as com a mão, tentando controlar a minha respiração. O quarto estava escuro, tudo se encontrava no devido local e quando olhei para o pequeno relógio, o mesmo marcava as sete da manhã. Levantei-me da cama, peguei em roupa fresca para tomar um duche e deixar que este pesadelo fosse pelo ralo abaixo.
Hoje era Sábado. A semana na escola correra bem, a relação que mantinha com o Evan crescia de dia para dia e a minha relação com Lyn tencionava a melhorar. Zayn, não voltara a falar comigo desde aquele dia, apenas sorria sarcasticamente e lançava olhares cujos eu considerava duvidosos.
Despi-me e enfiei-me dentro da banheira, sentido a água quente escorrer pelo meu corpo abaixo e pensei no significado por detrás daquele pesadelo. Nunca antes sonhara com algo tão macabro, ou que me alguém me queria matar. Tentei esquecer por alguns minutos que fosse e lembrei-me que a festa de Zayn estava marcada para hoje à noite. Evan não referira uma única palavra sobre o assunto durante a semana inteira e guardei o facto de Zayn de me ter convidado – ou praticamente obrigado -, a ir e saí do duche secando-me e vestindo-me.
Liguei o secador, tratei de secar o cabelo e depois prendi-o num rabo-de-cavalo como fazia habitualmente. Ao olhar lá para fora e ver o céu um pouco cinzento, porém com o sol a tentar espreitar por entre as nuvens, a súbita vontade de ir correr atingiu-me e vesti apenas uma camisola da manga cabeada branca, uns calções pretos, umas meias atléticas e umas sapatilhas de corrida. Desci em direção à cozinha e surpreendi-me ao ver que Lyn já se encontrava sentada na mesa a tomar o pequeno-almoço tradicional Inglês.
- Bom dia querida. – Ela ofereceu-me um sorriso. - Vais fazer jogging?
- Sim. – Sorri e peguei numa maçã, dando uma pequena chinca.
- Acho muito bem quereres fazer exercício. – Ela incentivou. – Só te faz bem. E isto – ela apontou para o seu prato com bacon, tostas e ovo -, é apenas aos fins-de-semana. Talvez possa acompanhar-te na corrida.
- Se não te importas, eu gostava de ir sozinha... - Exibi um trejeito e ela demonstrou uma expressão ligeiramente desapontada.
- Oh, desculpa querida. - Levou um pouco de uma tosta à boca e depois bebericou um pouco do seu sumo de laranja. – Entendo que queiras ir sozinha. – Sorri em modo de agradecimento e levei a maçã comigo, saindo porta fora para evitar a continuação desta conversa.
O frio arrepiou-me até aos ossos, mas mal começasse isso passaria com certeza. Fiz alguns alongamentos ainda à entrada de casa e depois comecei a correr. Sentir o ar fresco a bater-me no rosto enquanto corria fez-me estremecer, assim como todo o meu corpo, mas não parei. Levava os fones nos ouvidos, a música a tocar e após alguns minutos senti-me completamente livre.
Continuei embalada pela melodia que tocava agora e quando olhei em volta senti-me um tanto perdida. Retirei um fone e olhei em volta. Ao olhar para o lado oposto vi uma entrada para um parque que nem sequer entrada para carros tinha. Abrandei o passo e caminhei até lá, atravessando a rua. Parecia-se exatamente como o pesadelo que tivera e o receio começava a querer instalar-se no meu peito, mas a curiosidade falou mais alto e continuei a andar. Com um fone posto e o outro pendurado, apenas se ouviam alguns pássaros a chilrearem. Não haviam sons de carros ou de pessoas, apenas os sons da Natureza. Continuei a andar e subitamente, foi como se a imagem que se encontrava à minha frente retornasse a mim como o pesadelo que tivera naquela noite. Quis recuar e voltar a correr para casa, parecia que já tinha passado quase meia hora e não estava a gostar propriamente de estar sozinha neste local, que apesar de belo me dava arrepios.
Porém continuei a andar e ouvi o som de galhos a estalarem. Olhei em volta e senti-me como uma presa na toca do predador. Aquele som soou de novo enquanto sentia um arrepio percorrer a minha espinha. Como se as minhas pernas estivessem presas ali, não me mexi devido ao receio que estava a sentir e as memórias daquele pesadelo estavam a regressar. Voltei a ouvir aquele som e quis perguntar se estaria ali alguém, ou se seria apenas um animal, porém mantive o silêncio e caminhei lentamente na direção oposta para poder sair. O meu coração acelerou, as minhas pernas fraquejaram e quando me virei, senti umas mãos fortes a prender os meus ombros e soltei um grito, tentando libertar-me. Esmurrei e pontapeei quem era até que a sua voz soou e me soou um tanto familiar.
- Calma! – Ele pediu com o típico sorriso sarcástico. O meu corpo estava tenso e senti que o sangue havia congelado nas minhas veias. – Sabes defender-te, boa. – Ele acusou sarcasticamente enquanto acendia um cigarro.
- O que estás aqui a fazer? – Questionei com a mão no peito a tentar recuperar o meu fôlego.
- A questão é o que é tu estás a fazer aqui. Esta é a minha zona, portanto posso andar por aqui à vontade. – Zayn declarou sarcasticamente expelindo o fumo do cigarro. – Não devias vir para aqui. – O seu sorriso sarcástico desvaneceu e lançou-me um olhar. A vontade de ir embora era simplesmente o que mais desejava no momento, mas não me acobardaria.
- Vim apenas correr. – Respondi com um pouco de receio na minha voz. Queria enfrentá-lo e dizer-lhe que não podia dizer-me por onde eu poderia andar ou não, mas contive as palavras quando ele voltou a expelir o fumo do cigarro lentamente. Uma das mãos encontrava-se no bolso das calças e ele estava apenas encostado a uma árvore a fumar o seu cigarro, como se ali contivesse todo o prazer do Mundo.
- Tens de escolher outras zonas para fazeres isso. Não perigosas de preferência. – Ele advertiu e atirou o seu cigarro para o chão, pisando-o seguidamente.
- Bradford é uma cidade livre. – Ele parou o que estava a fazer e olhou-me seriamente. Desejei que aquelas palavras nunca tivessem saído dos meus lábios. Ele aproximou-se lentamente. Os seus olhos castanhos encontravam-se completamente opacos e colocou-se apenas a escassos centímetros de mim, tal como acontecera na escola. Encostei-me a uma árvore e ele sorriu sarcasticamente.
- Bradford não é uma cidade livre. – Ele olhou-me diretamente nos olhos e estremeci. Que segredos escondiam aqueles olhos escuros? – Estou a avisar-te, Charlotte. Não penses que por aqui somos todos felizes e temos vidas de sonho. Não funciona assim.
- Como funciona então? – Senti que estava prestes a pisar campo minado, mas ele não se afastou. Os seus lábios encontravam-se tão pertos dos meus que consegui sentir o hálito do tabaco perto e contive a vontade de tossir. A curiosidade espelhava-se nos seus olhos e ele afastou-se.
- Volta para casa e afasta-te daqui. – Ele advertiu novamente, caminhando para longe e deixando-me sozinha.
- Eu não tenho medo. – Falei alto para ele me ouvir. Ele parou, no entanto não se virou. – Vidas de sonho não existem... - Afirmei e ele virou-se lentamente. – Achei que devias saber que não penso assim. – Foi a minha vez de virar costas e caminhar na direção oposta até que ele me intercetou o caminho e elevou a sua mão lentamente, delineando o meu rosto sem me tocar.
- Espero por ti na minha festa logo à noite.
O seu sorriso cheio de charme causou com que um nó se formasse no meu estômago e como se apercebesse, ele soltou uma pequena risada calorosa. Ele baixou a sua mão e comprimiu os seus lábios, afastando-se depois. Senti que podia voltar a respirar normalmente e comecei a correr de volta a casa.
***
- Vocês vão a uma festa é? – Lyn, questionou com um sorriso curioso e as sobrancelhas unidas.
- Sim. – Foi a vez de Evan responder. – Da Melody Carter. – Lyn lançou um olhar desconfiado. – A rapariga que eu, bem, mais ou menos gosto. - O meu olhar focou-se automaticamente no rosto corado de Evan e contive a vontade de me sorrir, pois ele também o estava a fazer. – Não tem de se preocupar Senhora Morrissey, ela vai estar apenas comigo e com a Melody, é uma festa de aniversário apenas.
- É verdade. – Concluí. Senti-me mal por mentir, mas ela nunca me deixaria ir se soubesse que tipo de festa seria. Para ser honesta, nem eu sabia e receava por isso.
- Está bem. – Ela concordou. – Se precisarem que vos vá buscar, Charlotte, liga-me e eu vou.
- Obrigada, Lyn. – Sorri e abracei-a. Vi o seu olhar surpreso, mas imediatamente exibiu um sorriso caloroso, acenando para Evan. Assim que saímos, ele sorriu vitorioso.
- Foi por pouco. – Ele riu-se.
- Não gostei de lhe mentir. – Afirmei com um trejeito.
- Charlotte, se não fosses possivelmente a tua vida seria um inferno na escola. É só uma noite, apenas uma festa normal onde vamos estar sempre juntos, sem álcool à mistura e os miúdos populares. – Estremeci ao lembrar-me da conversa que tive com Zayn naquela tarde. – Aproveito para dizer que hoje estás lindíssima. – Ele sorriu e fez-me dar uma pequena voltinha, causando um sorriso nos meus lábios.
- É apenas um vestido preto simples...
- Que te assenta muitíssimo bem. – Ele concluiu com aquele sorriso carismático.
- Obrigado então, tu não estás tão mau. – Foi a sua vez de me sorrir e continuamos a nossa caminhada até à paragem.
*
Não sabia propriamente que local era aquele visto que o exterior da casa não era propriamente apelativo. Evan continuou a andar e dançou um pouco ao som da música alta que provinha do interior. Apenas agora reparara como ele realmente viera. Ele envergava um colete de ganga, uma t-shirt preta, jeans claros e all star pretas. Começava a achar que talvez me vestira demasiado bem para uma festa onde não pretendia passar muito tempo, ou atrair atenções.
- Que se passa? – Ele questionou quando se apercebeu que ficara para trás com um sobrolho arqueado.
- Começo a achar que não é boa ideia. – Pensei em retirar-me e caminhar até casa, talvez até correr. Não gostava de multidões e pelo aspeto do exterior, o interior da casa não devia ser propriamente convidativo. Em todos os cantos havia alguém a beijar-se, ou a abraçar-se.
- Charlotte... vá lá. – Ele esticou o seu braço e afagou o meu. – Vamos divertir-nos. Quando quiseres ir embora, só tens de me dizer e vamos.
- Eu quero ir embora. – Ele riu-se ironicamente e puxou-me para dentro.
- Vais gostar. – Ele riu-se e acariciou-me o queixo, o que me provocou um sorriso.
Entramos e senti o cheiro do tabaco a preencher a sala devido ao facto de ser um paço mediano e encontrar-se completamente fechado. Lá fora não fazia propriamente calor, mas aqui dentro tive de tirar o meu casaco porque havia simplesmente imensa gente. Rapazes e raparigas a dançarem todos juntos ao som da música alta, cuja batida era sempre a mesma. Evan, entrelaçou os seus dedos nos meus e continuou a puxar-me, até chegarmos a uma parte da casa onde tinha um minibar e um homem que aparentava ser muito mais velho, do que todas as pessoas que se encontravam ali.
- Quero uma cerveja. – Ele anunciou ao homem careca de manga cabeada preta. Os seus braços demonstravam o quão facilmente ele poderia lidar com problemas em festas deste género. Ele pousou a cerveja em cima do pequeno balcão e Evan pagou. – Queres alguma coisa? – Ele questionou pegando na cerveja.
- Não, obrigada. Estou bem. - Ele pagou e virou-se para mim. - Para quem disse que não ia haver álcool... - Ele exibiu um sorriso culpado.
- Desculpa por isso. - Sorri e afaguei-lhe o ombro. Voltamos a caminhar e encostamo-nos a um canto onde se situavam algumas cadeiras livre. Sentei-me enquanto Evan, por sua vez, manteve-se em pé. Ele espreitava constantemente e levantei-me para me posicionar ao seu lado.
- Estás à procura de alguém? – Questionei enquanto ele bebeu mais um pouco da cerveja. O seu olhar encontrou o meu e ele hesitou em responder. – Oh, vá lá.
- Está bem... - Ele suspirou. – Lembraste de dizer à tua tia que vínhamos à festa de aniversário da Melody Carter? – Assenti. – Bem, eu queria encontrá-la. – Sorri com o seu ar desespero e afaguei-lhe o ombro.
- Então não estavas a mentir em relação a gostares dela. – Não pude distinguir devido às luzes coloridas a passarem pelo seu rosto, mas pareceu-me que o vi corar. – Eu acho querido que estejas à procura dela.
- A sério? – A sua expressão demonstrava surpresa.
- Bem, eu não a conheço, mas se tu gostas dela ela deve ser boa pessoa com certeza. – A música mudou e cada vez os corpos se movimentavam mais, chegavam mais pessoas e precisavam de mais espaço. Ele sorriu novamente até que subitamente me agarrou o ombro. – Ali está ela. – Segurou-me o rosto e direcionou-me para uma rapariga de cabelos castanhos, olhos claros e um batom vermelho carregado. Ela envergava um vestido azul-escuro simples que lhe dava acima dos joelhos e uns sapatos de salto alto pretos. Usava também uma mala preta pequena demais para caber algo mais para além de maquilhagem. Ela encontrava-se com duas amigas louras e com os lábios revestidos de vermelho também. Ambas usavam vestidos, mas mais curtos e decotados que o de Melody.
- De que estás à espera para ires falar com ela? – Evan olhou-me ainda com a cerveja na mão.
- Não te vou deixar sozinha. – Ele ripostou e encostou-se à parede novamente.
- Evan... vai. Não me vou sentir bem comigo mesma se não fores devido a mim.
- Mas não quero...
- Evan, por favor. Faz isso por mim. Não existe nada mais queira do que te ver feliz, por isso vai. – O sorriso que se formou nos seus lábios, demonstrava o quão entusiasmado ele se encontrava. Pousando a cerveja no balcão, ele dirigiu-se então à rapariga.
- Não saias daqui. Ou se saíres fica atenta ao teu telemóvel.
- Não te preocupes.
Tivemos quase de gritar devido ao som da música e ele sorriu, caminhando por entre a multidão deixando-me sozinha. Sentia-me vulnerável no meio de tanta gente desconhecida, mas Evan encontrava-se apenas a alguns metros de distância e se fosse realmente necessário, ele estaria sempre com o seu telemóvel por perto.
Surgiu a vontade de ir à casa de banho, talvez devido ao nervosismo das multidões e de todas as pessoas que passavam por mim e me olhavam de cima abaixo. A música ribombava e como não me sentiria confortável perguntar a alguém onde era a divisão, decidi caminhar pelo corredor e subir as escadas de pedra e descobrir sozinha.
Começava a sentir uma brisa mais fresca que não sentia na divisão anterior devido à multidão que lá se encontrava. Pelo caminho encontrei casais a beijarem-se, sentados nas escadas, encostados à parede e quando subitamente ouvi gritos vindos do nada, ouvi também uma garrafa a quebrar e dois rapazes envolveram-se numa luta. Apressei-me a entrar para a primeira porta que encontrei e fechei-a com força. Ao olhar em volta apercebi-me que era um quarto e que apesar do odor pestilento, ainda restavam uns quadros em cima da mesa-de-cabeceira. Aproximei-me para os ver e a fotografia consistia basicamente numa família que aparentava ser feliz. A cama encontrava-se feita, os brinquedos arrumados e parecia ser um quarto de criança. Porquê uma casa abandonada para lançar uma festa?
Subitamente a porta abriu-se e levei a mão ao peito, tentando controlar-me devido ao susto que acabara de apanhar. O rapaz que entrara no quarto envergava um boné vermelho e branco, um varsity branco, uns jeans escuros e umas sapatilhas brancas cujos cordões se encontravam desapertados. Olhei-o sem realmente saber o que fazer e quando ele me olhou, um pequeno sorriso formou-se nos seus lábios.
- Olá. – O seu tom de voz arrepiou-me e mantive-me quieta no meu canto. – Desculpa se te assustei, mas aquilo ali fora está uma confusão. - Continuei sem me mexer e ele aproximou-se lentamente. Os seus cabelos castanhos estavam cobertos pelo boné e os seus olhos verdes indicavam que não era confiável. – O que está uma rapariga tão bonita como tu a fazer numa festa destas? – Ele aproximou-se cada vez mais, expelindo o hálito a bebidas alcoólicas e senti o meu estômago a contorcer-se. – Sabes que não é seguro não sabes? – Não pude recuar mais e encostei-me à parede, virando a cara para o lado enquanto ele me afagava o braço e sorria bem perto do meu rosto. – Isto vai ser demasiado fácil.
Cerrei os olhos com força, quase desejando que ele desaparecesse e apercebi-me que as suas mãos já não se encontravam em mim. Esbugalhei os olhos quando o vi a contorcer-se no chão, o som de objetos a partirem-se a soarem pela divisão inteira. O candeeiro partira-se juntamente com alguns retratos que se encontravam ali e os seus queixumes devido à dor eram agudos. Não me apercebi de quem se encontrava a esmurrá-lo, até que me tentei aproximar e vi Zayn. Levei as mãos aos lábios devido ao choque e ao facto de ele se encontrar com sangue nos nós dos dedos.
Quando ele se levantou e me olhou, os remorsos não se encontravam espelhados nos seus olhos foi como se ele tivesse gostado. Estremeci e saí para fora do quarto, correndo para o piso inferior e passei pela multidão sem me preocupar com quem poderia olhar para mim e tentar entender o que se passara. Não me parecia que alguém reparasse visto que estavam apenas concentrados nos seus parceiros, na música e nas bebidas. Corri até sentir a minha respiração ofegante, até sair daquela casa e afastar-me da mesma.
Tentei lembrar-me do caminho que fizera na vinda para Evan, mas sentia o meu coração a ribombar dentro do meu peito e olhei em volta. Sentia-me perdida, confusa enquanto as lágrimas começavam a toldar-me os olhos e tudo não passou de um desfoque.
Embora as limpasse, elas continuavam a cair livremente. Comecei a andar rapidamente sem rumo na esperança de me tentar lembrar do caminho de volta até à paragem e desejei que Evan estivesse comigo. Peguei na minha mala e tentei marcar o seu número de telemóvel, mas o mesmo ficou sem bateria e amaldiçoei-me por vir a esta festa em primeiro lugar.
Continuei a andar e começava a sentir-me tonta devido ao frio que se entranhava nos meus ossos. Enquanto caminhava senti que uma luz se aproximava e acelerei o passo, receei que mais alguém me tentasse magoar naquela noite. Ouvi um carro a parar e hesitei em olhar para trás, mas quando ouvi o meu nome e aquela voz familiar, só quis andar mais depressa, mas era fisicamente impossível. As minhas pernas estavam demasiado cansadas e geladas para conseguir continuar.
- Charlotte! – Zayn clamou e tentei continuar a andar, mas ele chegou rapidamente até mim e segurou-me os braços com força.
- Afasta-te de mim! – Gritei e tentei libertar-me das suas mãos fortes enquanto ele me tentava acalmar. – Solta-me!
- Só te largo quando estiveres mais calma. – Ele afirmou com calma e senti o que restava das minhas energias a desvanecer. As lágrimas continuavam a escorrer involuntariamente pelo meu rosto e Zayn despiu o seu casaco, colocando-o em torno dos meus ombros. Ele suportou o meu peso e envolveu-me num abraço. – Estás gelada. – Murmurando enquanto colocava o carapuço do seu casaco na minha cabeça, ele acabou por me encostar contra o seu peito. – Vou levar-te para casa.
- Eu não preciso que me leves a casa. – Empurrei-o. – Não posso confiar em ti. – Ele abriu os lábios para falar, mas as palavras ficaram retidas.
- Lamento, mas não te vou deixar aqui sozinha.
Ele pegou em mim ao colo enquanto me ripostava e sentou-me no lugar de pendura no seu carro, apertando o cinto de segurança. Ele entrou e trancou a porta, seguidamente iniciando o motor e arrancando. Ainda sentia os meus olhos repletos de lágrimas que queria conter e simplesmente não conseguia. Só conseguia ouvir a respiração pesada de Zayn e a chuva que começava a cair no seu para-brisas. Virei-me para o lado oposto e enquanto a chuva caía, o mesmo acontecia com as minhas lágrimas.
*
Demoramos cerca de vinte minutos a chegar e não me preocupei com o facto de Zayn saber onde eu morava. Certamente diria que tinha as suas fontes. Tentei destrancar a porta, mas senti a sua mão quente no meu braço gelado.
- Charlotte... – A sua voz soou rouca e senti um arrepio percorrer-me a espinha devido ao seu toque.
- Deixa-me sair, Zayn. – Murmurei quase silenciosamente. Não me sentia com forças, para mais nada naquela noite. Queria apenas deitar-me na minha cama e deixar que o sono me embalasse.
- Deixa-me ao menos explicar.
- Por favor, Zayn deixa-me sair. Eu não quero ouvir seja o que for.
Pedi olhando-o. Os seus lábios encontravam-se entreabertos e as palavras que proferiria, mantiveram-se no silêncio. Ele virou-se e destrancou a porta do carro. A sua expressão manteve-se inerte quando saí do carro e caminhei rapidamente até casa. Os médios do seu carro ainda estavam acesos e apenas quando rodei a chave e abri a porta, entrando em casa é que ele começou a fazer marcha atrás. Fechei a porta lentamente para o ver a partir e senti uma pontada de culpa.
A casa encontrava-se completamente silenciosa, não estava propriamente a par das horas e as luzes também se encontravam todas apagadas. Descalcei os sapatos pretos que me começavam a magoar os pés e subi as escadas lentamente, sentindo-me completamente sem forças. Procurei pelo carregador do meu telemóvel após ele dar o sinal que se encontrava a carregar, apressei-me a ligá-lo.
O facto de ter saído da festa sem avisar Evan, fez-me sentir como se fosse uma má pessoa e assim que coloquei o pin começaram a cair mensagens. Deixei-o receber todas e apercebi-me que recebera cinco dele. Levei a mão aos cabelos, puxando-os para trás e escrevi-lhe uma mensagem a dizer que estava tudo bem e que tinha vindo para casa por me sentir maldisposta. Senti novamente que estava a ser uma má amiga sobretudo, mas Evan nunca compreenderia, visto que eu também não. A chuva caía fortemente lá fora contra a janela e o telemóvel tocou.
Abri outra mensagem de um número desconhecido.
"Quis apenas proteger-te."
Estremeci e enrosquei-me nos lençóis, esperando que as más memórias daquela noite desaparecessem.
Editado: 10.01.2020