Os investigadores enviaram os produtos em pó e os líquidos para o laboratório de criminalística, depois eles se dividiram.
Turner ficou encarregado de retornar a Universidade para falar com o reitor Brown enquanto Thompson rumou até um hotel três estrelas, localizado próximo ao Wardown Park, onde Gerard trabalhava no museu.
Falou desse fato para o diretor Ward, citando como se isso seria uma nova coincidência, mas ele lhe afirmou que o professor Green mantinha esse quarto no hotel sempre ao seu dispor, quando desejava permanecer na cidade, afinal, concluiu o diretor, no dormitório escolar você não tinha privacidade.
Quando chegou ao hotel, descobriu com a recepcionista que o Sr. Green não permanecera por lá nos últimos dias e que informou na recepção que precisava resolver alguns assuntos em Londres.
Thompson teve acesso ao seu quarto com nova ordem judicial em mãos e novamente vasculhou tudo em busca de provas, mas aparentemente nada existia ali para colaborar com a investigação.
Retornou a recepção e questionou a funcionária quanto aos hábitos do professor, se ele saia muito a noite quando por ali se encontrava ou se trazia outras pessoas.
A mulher virou a tela do monitor que ficava a sua frente para Thompson poder observar que o hotel tinha um sistema eletrônico sofisticado de entrada e saída dos hóspedes.
Pediu que ela fizesse uma consulta e descobriu todos os dias nos últimos dois meses que o professor visitou o seu quarto do hotel e após a recepcionista refinar a consulta, chegou nos dias em que ele viera acompanhado.
Não havia registro dos dados dos acompanhantes, mas existia uma câmera de vídeo nos corredores com filmagens destes períodos.
Adoro tecnologia — pensou Thompson, enquanto ela o conduzia para uma sala com diversos monitores, onde viu os vídeos que lhe interessava e pediu que as cópias fossem remetidas para a central de polícia aos seus cuidados.
Deu alguns telefonemas para seus contatos na Scotland Yard e pediu apoio para localizar o professor e menos de uma hora depois já estava na London Rd a caminho da capital.
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Tuner teve mais sorte que seu parceiro, pois o reitor Brown, com exceção dos domingos, estava sempre na Universidade.
— Hoje não tomarei muito do seu tempo reitor — iniciou o investigador ao vê-lo — Quero somente sanar algumas dúvidas em relação a um grupo de trabalho artístico, com alunos daqui e da MES.
Turner comentou com o Sr. Brown os detalhes que colocavam Gerard, o professor Green, a Srta. King e Emilly numa só tarefa como mencionado pelo diretor Ward e imediatamente o reitor pediu licença para ligar seu laptop.
Nele apresentou uma planilha com os diversos trabalhos realizados pela Universidade nos últimos anos e rapidamente encontrou um que ocorreu na semana da arte contemporânea de 2010.
Tinha o nome dos quatro participantes, inclusive vídeos e imagens de todas as etapas do trabalho e da sua concretização.
— Eles realizaram uma exposição de arte por uma semana que foi um sucesso, cobrando um valor simbólico para aquisição do ingresso, onde o valor arrecadado foi revertido para uma casa assistencial de Luton.
— O senhor teve alguma participação na organização deste evento? — questionou Turner.
— Não, o professor Green foi o responsável por tudo. Ele tem ampla experiência no assunto, muita dela adquirida em museus de Londres. Realizou com maestria a condução deste trabalho.
— E sabe dizer se houve algum problema dentro do grupo, brigas, necessidade de intervenções externas?
— Muito pelo contrário — disse o Sr. Brown sorridente — Veja você mesmo pelos vídeos, fotos e pelo relatório final do professor Green. Tudo correu na mais perfeita harmonia.
— Entendo! O senhor pode remeter esse material para o meu escritório?
O reitor fez uma afirmação positiva com a cabeça. Turner agradeceu e foi embora. No caminho para a central recebeu uma ligação de seu parceiro com as novidades.
— Tudo começa a fazer sentido — disse-lhe Thompson antes de desligar.
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Em Londres, Thompson se reuniu com dois investigadores veteranos da Scotland Yard, conhecidos da época em que ele passou por treinamento na capital.
— Ele está na casa de uma tia, a Sra. Luana Green Zummach — disse o mais velho deles.
— Viúva de Lorde Zummach — completou o outro.
Foram para o local, uma linda propriedade antiga a quinze minutos do centro, cercada por um majestoso jardim.
No portão de acesso mostraram as credenciais para o segurança e acessarem o local, sendo conduzidos por um empregado para uma varanda, onde a Sra. Zummach tomava o chá das cinco com o sobrinho.
— Charles, providencie mais três xícaras para os cavalheiros. Sentem-se por favor — pediu ela educadamente.
Thompson reparou que Adam Green jamais seria tomado por um professor secundarista naquela mesa elegante, lembrava mais um lorde inglês de meia-idade.
— A que devemos a honra de suas presenças? — perguntou ele calmo como a leve brisa refrescante que soprava entre eles.
Thompson não perdeu tempo com cerimônias.
— Estive hoje no seu apartamento de Luton e ontem vasculhamos seu quarto na MES.
O professor não esboçou nenhuma reação.
— E encontraram o que foram buscar? — disse de forma branda.
— Para lhe falar a verdade sim, só falta uma confirmação...
O celular do investigador tocou, ele pediu licença e atendeu imediatamente.
Thompson retornou a mesa com um sorriso triunfante no rosto.
— Como eu dizia Sr. Green, só faltava um detalhe e ele acabou de ser solucionado...
— Sra. Zummach — continuou o investigador — Infelizmente teremos que marcar o chá para outra oportunidade. Sr. Green — disse ele se virando para o professor e se levantando novamente — Vai precisar nos acompanhar...
— Por qual motivo? — perguntou ele de forma teatral.
— Suspeita de assassinato.
Enquanto os investigadores londrinos conduziam o professor Green, Thompson se desculpou com a anfitriã.
— Verdadeiramente eu sinto muito senhora.
— Não se preocupe, tenho certeza de que tudo não passa de um mal entendido...
— Por que acha isso?
— Meu sobrinho não tem coragem de matar um inseto, sempre teve o coração mole — disse ela esboçando um sorriso bem cuidado — Eu o criei aqui e o conheço melhor até do que meus próprios filhos...
— E por cortesia a esta velha dama, o senhor poderia me contar de que forma acham que Adam está envolvido? Eu estive presente na apresentação da peça...
Thompson não viu problema em revelar para a Sra. Zummach o resultado obtido do laboratório de criminalística de Luton e a ligação com a morte de Gerard.
Ela o escutou atentamente enquanto bebericava um pouco mais de chá.
Se preparava para partir quando a senhora se manifestou.
— Tudo isso é muito interessante, mas eu creio que sei de algo que vai lhe interessar e talvez lhe dê até uma nova perspectiva quanto a sua investigação...
— Com todo o respeito Sra. Zummach, acho isso muito improvável...
— Bom, se aceitar agora aquela xícara de chá eu creio mesmo que mudará de opinião...
Thompson se sentou e aceitou a gentileza. No fim das contas ela conseguiu surpreendê-lo.