Tem Alguém Ai? - Volume 3

By SOFGDS

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[Oi! Bem, se você está aqui e não leu os primeiros livros, aconselho muito que você leia antes, para melhor e... More

Dedicatórias
Coisas boas vs Coisas ruins - Capítulo um
Bruxaria
Ainda há tempo
Acorde!
Teclas de piano
Satisfação*
Inferno
Sensitivo
Provas
Descubra
Um passo por vez
Eu era
Igual a você
Entrevistas? Sim!
Respostas
Perdão...?
Vida
Tempo certo
Padre
ALOOO
Promessa
Dormiu bem?
Irei rezar por você, mais tarde
Ok, como vocês pediram:
Cegos e calados
Frágil
Férias
Irreconhecível
Bons modos
Arrogância
Não há saídas
Lado forte
Distúrbio
Agindo bem?
Grupo
Vazio
Proteção
Possível?
Procura-se um corpo
Alerta
Á esquerda de nós
Viagem de uma última hora
Última chance
Ok, ok
Em alta madrugada, assassinatos e injustiças são as principais atrações do circo
Unicamente, feliz
Vida no necrotério
• Wait for it •
Tempo
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Até mais!
Eu?
No name
É isso aí, gente

Sem saída

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By SOFGDS

• Arya •

Obviamente não se consegue dormir quando você está ansioso, nervoso ou seja lá como preferir chamar.

Miguel permanecia deitado do meu lado, com as mãozinhas fortemente fechadas ao redor de minha camisa. Estava acordado, porém com os olhos fechados e a cabeça voltada para mim.

Suspirava, o olhando. Talvez fosse verdade o fato de nossos pensamentos desatarem ao calar da madrugada pois, ao encarar meu pequeno irmão, era quase impossível não pensar em seu futuro. O que faria? Como reagiria com todos os acontecimentos? Entenderia que perdera a mãe tão cedo?

Acariciei sua bochecha de leve. Ele tem tanto pela frente. Eu também. Todos ali. Mas ele faz parte da sociedade futura. A geração salvadora ou procrastinadora. Eu só queria fugir de todas os horrores memoráveis por minha mente e poupar novos deles. Passamos a vida em uma prisão interna e externa e talvez, se tivermos sorte, teremos boas lembranças para levar conosco.

Abro a boca para falar-lhe, mas o tranco da porta da frente me faz pular e calar minha fala seguinte.

Miguel abre os olhos assustado, os erguendo para mim e ameaçador chorar. A porta da sala continua em trancos pequenos; talvez agora o suficiente para acordar quem quer que fosse ali dentro.

Me levanto rapidamente. Em um impasse de ir para a porta ou voltar para pegar Miguel, escuro o choro do mesmo começar e a porta do quarto de meu pai se abrir, em seguida seus passos apressados pelo corredor.

**
• Sam •

- Porra! - Sussurro alto, tentando trancar a porta inutilmente. Puxo o ar, deixando a chave cair e fazendo força contra a porta com meu próprio corpo, cerrando os dentes, ouvindo passos atrás de mim.

- O que é? S... Sam? - Carlos cambaleia ao descer das escadas, correndo até a porta, ainda sonolento.

- Carlos! Me ajuda! Rápid... - A porta ameaça abrir com um tranco lá fora. Jack.

- O que está acontecendo?! Quem está lá fora?! - Grita, tentando olhar pela janela.

- Carlos, só me ajude! - Devolvo no mesmo tom, gritando quando a porta recebe outro empurrão, dessa vez mais forte.

- O que está acontecendo?! - Arya grita, atrás de mim no momento que Carlos passa a me dar apoio na porta. Tento virar o rosto, soluçando pelos trancos na porta, conseguindo olhar nos olhos dela. Não sei se ela entende; provavelmente sim, mas visivelmente não quer acreditar. Noto que está com Miguel no colo, e permanece em conflito interno entre a porta e o bebê em seus braços.

- Não seja ridícula, Samantha - Ouço lá fora uma voz se desenrolar. Eu sei que é Alyce. Há muita coisa passando em minha cabeça agora e sinceramente, não sei como me defender dessa vez. Talvez eu nunca soube.

- Você acha mesmo que eu viria atrás de você apenas para tentar empurrar a porta da casa? - Ela estava calma. Talvez zombeteira. Droga, eu não sei o que fazer.

As batidas param.
Eu sei que não é bom sinal.

Ouço Arya praguejar atrás de mim. Meu coração dispara com o som de passos lentos zanzando em algum lugar do corredor de cima. Um arrepio me persegue quando penso na família do caseiro. Olho para Carlos, que respira com dificuldades.

Então eu consigo me virar lentamente. Minha preocupação já não era mais a porta ou quem entraria por ela. Qualquer um poderia. Porque estávamos cercados ali.

Henri desce os degraus da escada, olhando de Arya para Miguel, em seguida para mim e Carlos. Logo, sorri.

Fecho os olhos, soltando um palavrão mentalmente. Meu coração bate muito rápido e parece dessa vez tomar conta do meu corpo. Acho que nunca senti que meu cérebro havia desligado tanto de mim.

Ouço palmas. Henri chega à sala, Melissa está com Suzan no colo, mas o homem e garotinha batem palmas.

- Incrível - Henri diz, sorrindo, continuando as palmas - É ótimo quando tudo sai como planejado. - Suspira - Espero que tenham gostado da viagem - Da de ombros. Seu sotaque forte continua, apesar de tudo - Foram o único dia que conseguiram se desviar dessa ladainha - Revirou os olhos - Agora chegou a hora de ir ao ponto - Debocha.

- Quem são vocês? - Arya sussurra, apertando Miguel levemente contra si.

Melissa suspira, do mesmo modo dócil que tinha antes, afastando uma mecha do cabelo da filha para trás da orelha da mesma.

- Meu nome é Melissa e ele é meu marido, Henri - Sorri - Essa é minha filha Suzan e meu filho... deve estar por aí - Ela fala aquilo de uma forma tão... tão insinuante que faz o ar pesar em meus pulmões.

- Agora saiam de minha porta, por favor - Continua - Ou se quiserem terminar de destruí-la, por mim tanto faz, mas não importa, vocês estão cercados de qualquer jeito. - Põe o braço livre na cintura.

Carlos me olha. Está tenso, como todos. Mas sai da porta. Não há nada para nós; estamos só. Estamos fracos, totalmente despreparados. Maldita! Esperou nossa guarda abaixar. Talvez sempre esteve baixa. Mas dessa vez não há meu irmão aqui. Não há ninguém!

A maçaneta gira ao meu lado.
Sinto a porta me empurrar. É fraco, mas eu não tenho força alguma para permanecer no lugar. Sinto meus olhos arderem. Mas acho que é um choro de ódio. Minha respiração está descompassada e minha visão não me permite ver quem entra pela porta com clareza, mas sei quem é.

O borrão sorri para mim com os lábios muito vermelhos.

- Nós vencemos, meu amor - Ela diz. Me sinto soluçar. Eu penso em tudo; eu penso no vazio que sinto, no ar acolhedor dos cemitérios, no tempo inexistente, em minha vida moldada por um destino não natural. Em como eu me sentia uma boneca, um puppet sendo controlado desde o início. E eu odiava tudo aquilo.

- Por que está chorando? Pensei que fosse ficar feliz - Fez cara de triste. As lágrimas caem, dano acesso à visão. Ela está vestida com toda a classe de uma mulher em luto. Vestido preto, mãos em luvas longas e cinzas. Segura uma agulha em seus dedos...

Jack está atrás dela. Sorri para mim. Parecem meus pais anos atrás depois de um dia cansativo de trabalho e estudos e, em seus desfechos, me perguntam como foi meu desempenho escolar na hora da janta.

- Por que? - É tudo que consigo sussurrar.

Alyce faz cara de espanto. Pisca.

- Por que?... - Sorri - Por que mandei matar seus pais? Por que acabei com sua vida em um piscar de olhos? Ah, Sam - Ela suspira, chegando mais perto. Sinto que não tenho mais espaço pela mesa atrás de mim.

Alyce para em minha frente, levando o dedo indicador à minha bochecha.

- Menina, pense positivo - Riu - Pelo menos você teve uma vida infeliz da qual nunca se esquecerá - Fez bico triste - Eu sou gananciosa, minha querida mãe deve ter contado a você - Ironizou - Então eu não vou parar com o que comecei. Uma coisa leva a outra, você é minha desde que nasceu. Você e... - Ela se virou bruscamente - Esse palhaço - Fechou a expressão aos poucos. - Ele é meu! Meu servo! Ele é um demônio! - Rosnou alto.

- Não! - Arya passou a negar, apertando Miguel contra si - Ele é meu irmão! É só um bebê! - Gritou de volta.

- Você que pensa, garota! Ele nasceu para me seguir! - Apontou a agulha para ele, enfatizando.

A luz estalou em um início de zunido, falhando. Eu senti o ar de violência em mim. Aquela tensão que parece te puxar para a terra, se apertando ao redor de sua cabeça.

Alyce parou, voltando o rosto para o teto, abrindo um sorriso maior.

Começou um riso calmo e lento.

- Ah, querido pianista... você demorou - Sorria largamente, levando o dedo indicador até o queixo, como se pensasse.

Não se ouve barulho algum. Nem mesmo o do mar. Por um segundo, me pareceu que o tempo estava parado. E então as luzes desligaram complemente e o grito de Arya soou pela casa.

Então aquilo era um jogo. Mais um de seus odiosos jogos.

Meu coração parece queimar e só então percebo que eu corro às escuras. Eu não faço ideia de onde estou indo. Mas eu corro para dentro da casa, sem pensar. E é aí que eu descubro que tudo está perdido.

**
                         • Logan •

A dor que sinto vem de meu estômago e sobe até meus pulmões. Eu não tenho coragem de olhar. Na verdade no momento eu não tenho coragem de olhar nem para frente nem parar trás. Nem para o futuro nem para o passado. Estou com os olhos perdidos no vidro embaçado do carro e Sam correu. Ela correu... e eu não posso fazer nada para ajudar ninguém ali. Eu me sinto um inútil. Eu me sinto morrer, de verdade.

O barulho final do motor e uma tosse são o suficiente para o ferro que me atravessa, de remexer entre meu estômago.

"Porra!" - Penso. Abaixo a cabeça, mas não olho para o que me causa dor. Talvez a dor mais nauseante da minha vida. Eu não vejo meu sangue, mas o sinto empapar minha camisa. Minha cabeça gira enquanto ouço os gritos na casa de praia que fomos passar as férias. Sinto que desmaiarei em alguns segundos mais dentro da dor que sinto. Eu não me mexo, embora eu queira e muito. Então era ali que eu morreria. Quantas vezes eu já não imaginei essa cena mesmo sem conhecê-la?

**

                       • Agatha •

- Samantha, eu te avisei! Eu te disse para não vir para essa merda de viagem! Eu te mostrei!! - Pianista grita. Estamos dentro do quarto de Arya.

- Eu não ouvi! Júnior, eu nunca mais te vi! - Ela sussurra nervosamente em resposta.

- É minha culpa. - Digo. Sei que minha voz provoca mais raiva em Júnior. O olho.

- Agatha?! - Sam exclama.

Suspiro e olho para a porta.

- Não irei conseguir segurar por muito mais tempo. - Digo, remotamente.

- Samantha, você tem ideia do que está acontecendo aqui? Esse pode ser seu último dia de vida, como é o do Logan. - Pianista fala. Ele está nervoso; está irado, porque não se preocupa em falar que Logan está à beira da morte lá em baixo.

Samantha arregala os olhos.

- Logan... - Sussurra. Parece estar em uma confusão interna muito maior para prestar atenção em mim.

- Você tem duas escolhas, Samantha. Ou você morre, ou o Logan. - Júnior continua, cerrando as mãos. As pupilas de seus olhos cinzentos estão dilatadas e ele parece emanar uma energia feroz de ódio. - Eu não tenho tempo!  - Grita, e dessa vez faz algo cair em algum lugar - Agatha também não! Então você sabe o que tem que fazer. Fuja! Dessa vez eu não consigo proteger todos. - Então ele some no meio do quarto escuro.

- Samantha - Chamo. Ela me olha com os olhos arregalados. - Você ainda tem muito o que saber. Uma dessas coisas é que eu estou morta. - Digo.

- ...O que? Você também?! - Devolve.

- Você viu. Eu mostrei à vocês. No viaduto. Eu não contei minha história totalmente. A verdade é que depois de tudo, eu não aguentei ficar sozinha. Eu estava horrorizada com tudo, eu não conseguiria, ninguém conseguiria. Naquele viaduto, há alguns anos atrás, eu me matei. Em minha morte, cai em um capô e depois fui para o chão. - Levei a mão a cabeça - Morte cerebral. - Conto.

Ela está negando com a cabeça.

  Não pode ser... - Sussurra, perdida, indo para trás. Parece perder o ar várias vezes, olhando para os lados como se tudo a confundisse. Eu não tiro sua razão.

- Samantha, eu não posso mais segurar os demônios lá fora. A porta abrirá e você tem que correr. Você tem que sair da casa, entendeu?!

- E Arya?! - Ela pergunta, ainda em choque.

- Saia da casa! - Grito.

**
                           • Sam •

Minha visão já se acostuma com o escuro. Sinto várias vezes que meu coração vai explodir junto com meus pulmões, mas algo me dizia que mesmo estando naquilo, eu ainda não fazia ideia do que era estar de cara com a morte.

Paro no fim do corredor. Uma lágrima quente e cheia desce por minha bochecha. A casa está em silêncio, acho que Arya foi mais esperta em sair da casa.

Então eu ouço barulhos na escada.

Aperto os olhos, puxando minhas pernas para perto de mim, sentindo mais lágrimas me marcarem a face. Eu tento fazer o máximo de silêncio, mas acho que a cada passo dado nos degraus, mais meu coração parece bater mais forte. Apenas uma meia luz bate no chão à frente da escada, e eu vejo a sombra de quem sobe chegar cada vez mais.

Então ela surge. Pende apenas a cabeça na passagem, olhando primeiro um lado do corredor. Então ela gira a cabeça para meu lado. Percebo que sorri. Fica uns segundos a mais olhando para o lado do corredor que estou agachada. Eu estou com os olhos quase fechados, como se eu quisesse sumir. E realmente, era verdade.

Eu sei que é Helena. Seus cabelos acompanham o movimento de sua cabeça. Sei que está morta. Sei que é um demônio totalmente controlado, criado para me matar.

Ela vai sumindo. Por algum motivo isso não é bom. Temo que ela ouça o quanto meu coração bate. Um minuto silencioso.

E então ela termina as escadas correndo em minha direção.

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