-ooOoo-
Rafael estávamos um do lado do outro em uma pequena sala. Ele estava apertando minha mão de uma maneira desnecessária e meus dedos estavam se fundindo um ao outro.
— Sabe que eu estou com medo?
— Por quê? Por causa das crianças?
— Não... A reação do Noah...
— Quem liga para a reação do Noah, eu estou mais preocupado em não achar uma criança normal aqui nesse lugar.
— Nós vamos encontrar a criança certa...
— Vamos mesmo, nem que eu tenha que ir em uma vidente para saber como vai ser o nosso futuro. Eu não quero passar o que eu passei com o seu filho. Eu quase morri três vezes.
— Agora ele é meu filho? Pensei que era nosso.
— Seu pênis, vagina da Africa, esperma do Rafael resto de placenta do Noah... Não existe meus genes ali. Se existisse ele seria fabuloso... É isso que eu vou fazer, vou transformar essa criança em uma entidade fabulosa que vai mudar a vida de todos que a cercarem...
— Já vi tudo... — Rafael disse negando com a cabeça e massageando suas têmporas.
Logo a porta da pequena sala foi aberta e uma menina bem bizarra entrou acompanhada da Vacaiola. Ela estava vestida toda de preto e segurando uma pequena boneca vodu. A encarnação do mal se sentou na nossa frente.
— O-oi... — Rafael disse gaguejando.
— Oi!
Ela disse com uma voz um tanto quanto assustadora.
— Como se chama?
— Cléo.
— Que nome lindo...
— Eu odeio o meu nome.
— E o que gosta de fazer? — ele perguntou com medo da resposta. Até eu estava.
— Eu gosto de perseguir gatos, cachorros, gosto de bater nas meninas, e bater nos meninos também... Gosto de cortar coisas com as tesouras e gosto de...
— Isso aqui é uma criança ou é a órfã disfarçada? — eu perguntei para a Vacaiola que arregalou os olhos.
— Eu sou órfã... — ela disse me olhando.
— Meu Deus... — quando eu fui pedir desculpas a Vaca disse que tinha acabado o tempo e tirou a menina da sala o mais rápido possível.
Ela voltou e se pôs na minha frente com uma cara nada boa, não que a cara de cavalo dela já é boa quando está normal, mas eu... Só queria deixar claro mesmo, ela tem cara de atriz porno e para aqueles que perguntam que atriz porno tem cara... Tem sim, e elas se parecem com a Vacaiola.
— Tem como segurar a língua?
— Tem como trazer crianças normais?
— Diego! — Rafael disse de cara feia.
— Está defendendo sua amante?
Ele fez bico e me ignorou.
Logo a segunda criança entrou na sala.
— Oi... — ele disse todo tímido... Achei super fofo.
Embrulha pra presente por que eu vou levar.
— Oi meu amor... Como você se chama?
— Uriel...
Meus olhos brilharam.
— Nome de anjo — eu disse puxando os pelos do braço esquerdo do Rafael. — Ele tem nome de anjo, imagina como deve ser ter uma criança com nome de anjo na família... Meu irmão iria ficar com inveja por que minha mãe vai todo domingo na igreja e ela com certeza deve adorar anjos.
Rafael sorriu e balançou a cabeça freneticamente.
— Então Uriel... O que você mais gosta de fazer? Eu gosto muito de jogar futebol e o Diego gosta muito de cozinhar — eu concordei sorrindo.
— Eu adoro jogar futebol... — nem tudo é perfeito, mas a gente ainda pode salvar. — Mas tem o filho da puta do Josh que sempre rouba minha bola, eu já mandei aquele menino filho da puta tomar no cu mas...
Eu tampei a boca dele horrorizado.
— Eu já vi esse filme uma vez... E foi quando o Noah falou palavrão pela primeira vez... Depois disso se tornou o que é hoje. Não, não, e não.
Ele empurrou minha mão com cara feia.
— Sai tio vai se foder.
— Sangue de Cristo — eu tampei meus ouvidos horrorizados, não sabia que palavras assim saim da boca de criança.
Vacaiola pegou o menino pela mão e o arrastou para fora da sala.
Rafael que até então estava com os olhos arregalados se acabou de dar risada. Eu fiquei olhando feio para ele.
— O menino tem nome de anjo. NOME DE ANJO...
Logo Vacaiola voltou com uma menina que parecia gente. Pelo menos por fora, agora vamos saber como ela é por dentro. Por favor que ela seja normal. Por favor que ela seja normal. Por favor que ela seja...
— Oi — eu disse sorrindo.
— Senhora Vaiola, onde está a mulher?
— Ele são um casal homoafetivo.
— Mas a inspetora Dora disse que eles vão queimar no mármore do inferno.
— O quê? — Vacaiola perguntou com a sobrancelha erguida.
— Isso mesmo, ela disse que eles ficam cometendo promiscuidades e que não tem um lugar garantido no céu. E eu não quero ir para o inferno... Quero ser adotada por uma família que seja tradicional.
Vacaiola colocou as mãos na cintura e ficou olhando para menina.
— Família tradicional? — Rafael perguntou chocado.
— Como essa criatura aprendeu a falar promiscuidade? Quantos anos ela tem? 4? Sabe com quantos anos eu aprendi a falar isso? Com 15... Isso mesmo, podem me julgar. Menos você Chucky disfarçada de mini freira.
— Eu tenho 8!
— Entendi... Com 8 anos as crianças já entendem um pouco do meu dialeto... Então, passa fora Grinch.
Ela apenas empinou o nariz e saiu da pequena sala seguida por Vacaiola.
Rafael passou a mão em seus cabelos com um semblante derrotado.
— Será que isso é para nós?
— Como assim?
— Não acha que estamos escolhendo de mais? Elas são crianças que não receberem o amor de uma mãe... Por isso são assim dessa maneira. Talvez com o nosso amor podemos concertar as coisas.
— Você tem razão... Mas eu não vou lidar com aquela coisa que acabou de sair daqui. Nem com a órfã disfarçada. Sabe que eu quero ter um filho para nós educarmos com muito amor e carinho, mas não tem como dar amor para aquelas duas coisas.
— Kendra deu muito amor a Jade.
— E olha como ela é hoje!
Ele apenas concordou com a cabeça.
— Temos mais uma criança. Querem vê-lo?
— Claro... — Rafael e eu dissemos juntos.
Logo ele entrou na sala. Seus cabelos pretos estavam meio bagunçado e estava com uma carinha inchada de sono. Ele se sentou na nossa frente e abriu um pequeno sorriso banguelo.
— Meus Deus... É um pequeno majin boonzinho.
Ele estava com suas bochechas coradas.
— Como se chama?
— Bernardo.
— Que nome bonito.
— É brasileiro.
— E quantos anos você tem?
— Vou fazer 6.
E o resto da tarde passamos conversando com o Bernardo. Ele era um amor de pessoa pequena e perguntou se Rafael e eu eramos um casal e aceitou tudo muito bem, não foi como a pequena beata que me deixou um pouco enraivecido.
Depois do nosso primeiro encontro voltamos mais um vez para uma visita e depois mais algumas vezes para levá-lo para passeios e coisas do tipo. Foram acho que cinco meses até conseguimos alguma resposta definitiva.
***
Estava sentando com Rafael na sala de espera para falar com aquela maldita assistente social que não ia com a minha linda cara de anjo. Rafael estava do meu lado segurando a minha mão e apertando com uma certa força, MAIS UMA VEZ.
— Se continuar apertando minha mão desse jeito, pode ter certeza que eu vou fazer igual com as suas bolas — eu disse para ele que parou de me apertar e deu um beijo na minha mão.
— Desculpa amor, é que eu estou nervoso poxa. E também não sei como o Noah vai lidar quando descobrir.
Mais uma vez esse assunto?
— Primeiro, ele não tem que lidar com nada, ele mora naquela faculdade e vem para a casa uma vez ou outra. Se aquela coisa macabra chegar aqui tentando falar alguma coisa, eu vou pegar aqueles lindos cabelos loiros e arrancar da cabeça dele com a mão.
— Diego pelo amor de Deus, se a mulher ouvir você falando assim...
Quando ele ia terminar de falar a porta é aberta e aquela bruxa de cabelos vermelhos coloca a cara no sol. Vocês devem estar se perguntando porque tanto ódio, porque ela disse que eu sou um perigo para a humanidade. Pode uma coisa dessa?
— Diego e Rafael, venham comigo por favor.
— É agora meu amor.
— É agora sim. E se essa mulher vir falar alguma coisa pode ter certeza que ela sai daqui sem a sobrancelha.
— Não vai estragar nossas chances mais uma vez. Só falta isso para pegarmos o Bernardo — ele disse fazendo um gesto com a mão.
Eu apenas andei na frente e entrei na sala da mulher que me olhava por cima dos óculos.
— Vejo que estão aqui mais uma vez.
— Pois é... De novo.
— Fico muito feliz que não tenham desistido do Bernardo, fui essa semana no orfanato e vi que ele está mais feliz pelo fato das visitas que vocês estão fazendo.
— Pois é, mas não é graças...
Antes que eu pudesse terminar de falar Rafael deu um tapa na minha perna. Um tapa tão forte que eu pensei que iria ficar aleijado.
— Pode continuar Vaiola, dessa vez Diego vai ficar de boca fechada.
— Fico muito feliz que você conseguiu domar a fera.
Quando eu ia falar mais alguma coisa eu percebi uma troca de olhares, uma tensão sexual rolando no ar e aquela vadia olhando para o meu homem como se fosse um animal pronto para atacar. Meu Deus, Rafael e a Vacaiola estão mesmo tendo um caso.
— Não me segura — eu disse me levantando e os dois levaram um susto.
— O que está fazendo Diego?
Rafael perguntou me puxando de volta para a cadeira.
Eu pensei bem e não poderia estragar tudo mais uma vez.
Tive uma boa ideia.
Vou ficar quieto, e quando conseguirmos o Bernardo, eu vou pedir a separação e vou pegar pensão com o Rafael enquanto choro as amarguras nesses programas de Tv onde as pessoas vão para causar e brigar em rede nacional.
Se a Kendra não teve a capacidade de acabar com o Samuel, eu vou ter a capacidade de acabar com o Rafael.
— Diego... A assistente está falando com você.
"Claro, a sua amate".
— Pois não, querida.
— Eu disse que você fez muito bem ao Bernardo Diego, mesmo sendo meio esquentado você sabe lidar com as crianças. Sinceramente quando eu te ouvi chamando o Bernardo de Majin Boo eu fiquei chocada, mas vendo agora... Consigo ver que você vai ser um pai maravilhoso.
— Obrigado vac... Vaiola, de verdade.
Eu disse fingindo um engasgo, não poderia chama-lá de Vacaiola, poderia botar tudo a perder.
— E você Rafael. Com toda a sua calma vejo que consegue ser o pilar desse lar sempre acalmando o seu marido e dando de tudo para o seu filho Noah, soube dos problemas que tiveram no ano passado, mas vendo hoje parece que tudo mudou. Seu filho está na Universidade e vai se tornar um fotografo muito renomado.
"Como sabe amor? Virou mãe Dina?"
— Acho que vocês estão preparados.
"Claro que estamos coração. Desde o dia que a África do Sul bateu na minha porta com o Gremlin".
— Vou providenciar os documentos.
— Obrigado Vaiola.
— Vão receber minha ligação quando Bernardo estiver pronto.
Eu apenas sorri e fiquei olhando os dois conversando.
Se Rafael acha que é muito esperto essa porra está totalmente enganada. Eu sou Diego meu amor, ninguém atravessa meu caminho e sai impune andando como se nada tivesse acontecido. Eu sou uma vadia muito, mas muito vingativa.
Quando saímos do escritório Rafael fez um barulho e uma cara de desgosto.
— Vadia... Você viu ela dando em cima de mim? Graças a Deus não ficou fazendo cena, na hora que se levantou pedindo para não ser segurado, eu pensei que nossa chance de adotar o nosso gordinho tinha ido para o espaço. Mas fico feliz que não se descontrolou.
— Então... você não está me traindo?
Perguntei claramente emcoionado.
— O quê? Por favor né Diego, sabe muito bem o que eu acho sobre traição. E aquela mulher parece mais uma atriz pornô.
— Eu sei. Até o nome dela... Vaiola.
Rafael sorriu e me deu um abraço apertado.
— É o começo de uma nova jornada meu amor.
— Dois quarentões cuidado de uma criança. Claro que eu tenho uma pele perfeita, parece que ainda tenho 19 anos. Um dia desses no shopping quando eu estava com o Noah, um homem muito educado me parou perguntando se eramos irmãos.
_ E você disse...
_ Eu concordei é claro... As coisas só ficaram um pouco estranha depois quando o homem me chamou para sair e o Noah colocou ele para correr. Que situação desagradável.
Rafael gargalhou e me deu um beijo logo seguido de um abraço apertado. Depois entramos no carro e seguimos para a casa do King Kong gordo. A Kendra para os mais íntimos.
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