SWEET ARROW {SHAWMILA}

By camilizers_kell

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"- É esquisito, não - disse ele. - O quê? - respondi com uma pergunta, a voz baixa demais. - Esses momentos e... More

Leiam
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capitulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capitulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
"BÔNUS"

Capítulo 24

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By camilizers_kell

Eai, voltei! Espero que gostem do capítulo!
Eu simplesmente amei esse capítulo! A forma que a magia é vista!

Boa leitura!!
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CAMILA

ASSIM QUE CHEGAMOS À BOCA DO INFERNO, FUI CONDUZIDA por Karen, Aaliyah, Madson, Nash e Lydia — éramos como uma tropa que seguia em direção à costureira.

— Não a mantenham lá por muito tempo. — Shawn havia gritado depois que nos afastamos, com uma expressão exasperada obscurecendo o rosto.

Era óbvio que isso não fazia parte de seu plano, mas, aparentemente, a mãe e as irmãs de um Patrei podiam passar por cima dele em algumas questões.

Karen disse que seria melhor fazermos essa visita à costureira logo, para que ela tivesse tempo de fazer algumas modificações nas roupas. Ela achava necessário que eu tivesse minhas próprias roupas para usar durante a estadia na Boca do Inferno, e não apenas peças emprestadas.

Eu tive de concordar, principalmente em relação às roupas de baixo. Prometi pagar por isso, mas ela dispensou minha oferta, dizendo que era o mínimo que podia fazer depois de eu ter ajudado seu filho a escapar dos caçadores de mão de obra.

A culpa me despedaçava. Ela não fazia a mínima ideia de que eu havia sido forçada a ajudá-lo e que minha intenção era usá-lo para os meus propósitos pessoais.

Minhas metas e minha lealdade não haviam mudado. Desde que a rainha me pedira para encontrar o fugitivo, eu imaginava o grande momento em que eu lhe entregaria o traidor evasivo.

Você pode consertar algumas coisas.

O momento havia se fixado nos meus pensamentos. Tornou-se uma espécie de cor reluzente atrás dos meus olhos, uma cicatriz prateada sobre uma ferida que havia ficado aberta tempo demais, ou uma pedra dourada em um muro alto que poderia finalmente apagar os meus erros. Eu precisava acreditar que talvez até mesmo uma reles pessoa como eu era capaz de fazer qualquer diferença que importasse neste mundo. Isso se tornou uma necessidade profunda e eu fiquei preocupada...

E se o capitão da Vigília tivesse desaparecido? E se ele não estivesse aqui no fim das contas? Às vezes as pessoas desapareciam e não importava o quanto se quisesse encontrá-las, elas nunca seriam vistas de novo.

Era perturbador ser atraída para o círculo familiar deles. Certamente eu era boa o bastante nas conversas — essa era uma das minhas ferramentas de trabalho. Quando eu era forçada a travar conversa com um mercador em vez de simplesmente sair de fininho com as mercadorias roubadas, eu tinha de redirecionar os pensamentos deles, fazer com que ficassem tão hipnotizados com alguma coisa a ponto de não perceber mais nada, como o caçador de mão de obra, tão empenhado em responder à charada cuja resposta eu segurava que acabou se esquecendo de que levava as chaves presas ao lado do corpo.

Mas isso era diferente. Era, de longe, bem mais íntimo — as conversas deles, suas risadas, os toques e os cutucões.

Não parecia certo que eu estivesse ali no meio e, ainda assim, isso me intrigava tanto quanto ouvir uma língua estrangeira, tentando entender as nuances por trás de suas palavras. Elas seguravam o tecido junto ao meu rosto e me perguntavam o que eu achava dele. Eu não sabia o que achar. Deixei que elas decidissem.

A costureira tirou minhas medidas rapidamente e os tecidos foram escolhidos. A única vez que haviam tirado as minhas medidas para fazer roupas foi quando me tornei uma soldada Rahtan.

Nós não tínhamos uniformes. Escolhíamos nossas próprias roupas, e eu escolhi as minhas com cuidado.

Eu sentia falta das minhas botas e da camisa que eu tinha sido forçada a retalhar para cruzar o Canal dos Ossos, mas, acima de tudo, sentia falta do colete de couro que os caçadores tinham tirado de mim enquanto eu estava inconsciente. Ele não era exatamente como o anel de Shawn, mas simbolizava algo — a reverenciada thannis de Venda estava graciosamente estampada no couro acobreado. Tinha sido a mais bela peça que eu já possuíra na vida.

Quando criança, só tinha conhecido camadas e mais camadas de trapos que cobriam as minhas costas, e eu era sortuda por tê-los.

Karen falava baixinho com a costureira enquanto eu, usando seus dedais, entretinha Lydia e Nash com o jogo das tampinhas.

Dentro de pouco tempo, como prometido, fui conduzida até Shawn e nosso passeio pela Boca do Inferno prosseguiu.

Ele caminhava bem perto de mim, ao meu lado, com seu ombro ocasionalmente roçando o meu, e sua mão às vezes tocava a parte inferior das minhas costas, direcionando-me por uma avenida ou outra. Sua proximidade era orquestrada, um sinal sutil para todos que nos observavam e uma confirmação de que os rumores eram verdadeiros. Todo mundo via claramente que esta era, afinal de contas, a soldada Rahtan de Venda que havia sido rendida... pelo charme do Patrei.

Notei a facilidade com que Shawn falava com as pessoas da cidade, como ele sabia dos detalhes de suas vidas e de como elas conheciam os detalhes da vida dele, como uma velha dona de loja beliscava o queixo de Shawn por ele ser um dos indomáveis meninos dos Mendes que ela havia perseguido e repreendido tantas vezes.

— Então você também era encrenqueiro quando criança? — perguntei.

— Provavelmente menos encrenqueiro do que você.

Não admiti que ele possivelmente estava certo. Mas, apesar do beliscão no queixo, o brincalhão balançar de um dedo, ou o afago em seus cabelos — para os quais ele estava velho demais, mas que suportava com um sorriso tenso —, havia ali uma inegável consideração por sua posição.

Patrei, que bom vê-lo. Patrei, experimente meu potente srynka. Patrei, conheça meu novo filho, e um bebê era empurrado para os braços de Shawn.

Ele era um novato nessa parte de seu papel e segurava sem jeito a criança que gritava, fazendo seu dever de lhe beijar a testa e então devolvê-la. Fiquei sabendo que, segundo a tradição local, o Patrei jurava proteção e cuidado a todas as crianças da cidade — da mesma forma como fizera o líder dos Mendes.

Eu tinha visto os mercadores e os cidadãos na Cidade do Sanctum bajulando, nervosos, o Komizar, quando ele caminhava pelas estreitas ruas de Venda. O que eu via aqui não era medo — exceto quando eles falavam sobre os últimos problemas.

Depois de mencionar a recente e grande onda de incêndios, um funcionário de uma loja disse ter ouvido rumores de ataques a caravanas e se perguntava sobre o fluxo de suprimentos para a cidade. Shawn lhe garantiu que eram apenas relatos falsos e nada além disso. Tudo corria bem e sob controle.

Eu examinava atentamente todas as avenidas pelas quais passávamos por uma questão de hábito. Nunca se sabe quando uma delas poderá se tornar uma rota de fuga. Meu olhar também percorria as sombras, em busca de Hailey e Ariana.

— Você poderia tentar sorrir de vez em quando. — disse Shawn, assentindo em resposta a alguém por quem tínhamos acabado de passar.

— Claro que sim. — respondi. — Mas receio que isso terá um preço para você, Shawn Mendes. Tudo na vida tem um preço, sabia? Seria bom se o assentamento vendano tivesse mais alguns shorthorn. Ou talvez uma adega de raiz? Você gosta de escavar, Patrei?

— Receio que no fim do dia você estará me custando bem mais do que uma adega de raiz.

Abri um sorriso largo e deliberado.

— Pode contar com isso. Você vai ter de pôr a mão no bolso, porque eu tenho mais desses sorrisos para lançar por aí.

Ele colocou a mão em volta da minha cintura, me puxando para perto, e minha pulsação acelerou em uma batida irregular quando os lábios dele roçaram a minha orelha.

— Tome cuidado, — ele sussurrou, — eu também posso acabar lhe custando alguma coisa.

Minha respiração se deteve em meu peito.

Você já me custou. Mais do que imagina.

A verdade é que era fácil sorrir, e dava mais trabalho não fazê-lo. Eu absorvia os cheiros, as imagens e os sons da cidade como se me tivesse sido oferecido um doce néctar. Se a rápida cavalgada me fizera sentir viva e nas nuvens, as ruas daqui faziam com que eu me sentisse segura, com os pés no chão. Eram cheias e me passavam uma sensação de familiaridade.

Shawn me contou a história das tembris, as grandes árvores que diferiam de todas as outras que eu já tinha visto na vida.

Reza a lenda que elas brotaram de uma estrela que se estilhaçara e despencara na terra durante a devastação. As estrelas portavam magia de um outro mundo, motivo pelo qual os galhos das árvores se estiravam em direção aos céus.

Essa era mais uma das histórias exageradas dos Mendes em que eu quase conseguia acreditar, e eu adorava o fato de que as árvores gigantescas criavam um labirinto cheio de sombras, fazendo a cidade cintilar com sua magia.

Todas as esquinas ganhavam vida, sempre transformadas e revigoradas, e eu memorizava todos os detalhes. Prestar atenção em cada detalhe era também uma espécie de magia. Esse costume havia me ajudado a sobreviver nas ruas de Venda e, conforme eu caminhava, ouvia um fantasma que me era familiar e me guiava:

Observe, minha chiadrah.

Minha amada.

Meu tudo.

Chiadrah, o apelido carinhoso pelo qual ela me chamava quase com tanta frequência quanto Camila.

Eu tinha sido o mundo dela.

Observe e você encontrará a magia.

Esse tinha sido seu ensinamento para mim depois que eu ouvira outras crianças falando sobre o grande dom de lady Venda.

"Eles disseram que a visão mágica que ela possuía, e que havia ajudado os primeiros vendanos, vinha de um tempo remoto. Eles disseram que os deuses nos haviam abandonado e que agora a magia estava morta.

Minha mãe balançara a cabeça furiosamente em negativa.

Existe magia em tudo, mas você precisa estar atenta para vê-la. Ela não vem de encantamentos, nem de poções, nem do céu, nem mesmo por meio de uma entrega especial dos deuses. Ela está em todos os lugares, ao seu redor.

Ela pegara minhas mãos, que tremiam, entrelaçando-as nas suas.

Você deve encontrar a magia que aquece sua pele no inverno, a magia que percebe aquilo que não pode ser visto, a magia que se agita em seu âmago com um poder feroz e que não deixará que você desista, não importa quão longos ou frios sejam os dias.

Ela me levara até a jehendra, dizendo que eu observasse atentamente.

Ouça a linguagem que não é dita, Camila, as respirações, as pausas, os punhos cerrados, os olhares fixos, porém vazios, os espasmos e as lágrimas, pois todo mundo é capaz de ouvir as palavras que são faladas, mas poucos conseguem ouvir o coração que bate por trás delas."

Assim como os talos de dente-de-leão, minha mãe não permitiria que eu parasse de acreditar em magia — e na esperança que ela continha.

Foi a minha mãe quem me ensinou a discernir, num vislumbre, um perigo ou uma oportunidade que não estivesse imediatamente no meu caminho, mas bem além dele. Quase se tornou um jogo.

Onde está a raiva?

Você sente o ar?

Quem está vindo?

Todos os dias ela me fazia ver as coisas de um jeito mais profundo, como se soubesse que um dia ela não estaria mais ali comigo, como se ela soubesse que algo tão precioso quanto o seu amor por mim não fosse passar despercebido pelos deuses, e que eles o arrancariam e o levariam embora, como um mercador invejoso.

Faça um desejo para amanhã, para o dia seguinte e para o próximo. Um deles sempre haverá de se tornar realidade.

Porque, se eu conseguisse acreditar no amanhã ou no dia seguinte, talvez a magia tivesse tempo para se realizar. Ou, melhor ainda: talvez, quando chegasse amanhã ou o dia seguinte, eu nem mesmo precisaria de magia alguma.

— Por aqui. — disse Shawn, guiando-me por uma outra avenida.

Eu vi quando ele olhou para alguns homens que estavam na extremidade mais afastada da rua. Seu comportamento mudou e a velocidade de seus passos diminuiu. Perguntei-lhe quem eram aqueles homens.

— Truko e Rybart, líderes de outras ligas.

Shawn disse que eles controlavam o comércio em cidades menores de regiões distantes e que adorariam, acima de qualquer outra coisa, tomar o controle da Boca do Inferno. Todos eles queriam uma porção maior do poder dos Mendes — se não todo o poder deles —, o que os tornava suspeitos dos incêndios e do surgimento dos caçadores de mão de obra. Mas eles também traziam negócios para a arena, e isso, por sua vez, criava um senso instável de parceria — contanto que todo mundo se lembrasse de sua respectiva posição.

— Como Zayn? O que foi que aconteceu entre o lado dele da família e o seu? —  Ele soltou o ar com repulsa.

— Desentendimentos demais, a perder de vista.

Ele me explicou que tudo começara três gerações atrás. O controle da Boca do Inferno tinha saído das mãos dos Mendes várias vezes ao longo de sua história, mas nunca por muito tempo. A mais recente delas foi quando o bisavô de Zayn, bêbado, havia vendido o controle por um punhado de moedas em um jogo de cartas com um fazendeiro de Parsuss que estava hospedado na estalagem. Acabou que o fazendeiro era o rei da Eislândia.

A Boca do Inferno era isolada e pequena, e o rei não tinha nenhum interesse no lugar, além da coleta de impostos. Os limites do reino foram refeitos e ampliados, de modo a incluir a Boca do Inferno, o que explicava o estranho reino em forma de lágrima. Todas as ofertas para tornar a comprar a Boca do Inferno foram rejeitadas, embora ainda coubesse aos Mendes a manutenção da ordem. Depois disso, o bisavô de Shawn assumiu o controle da torre da Vigília de Tor e baniu seu irmão mais velho, o que havia perdido a cidade em um jogo de azar. O irmão foi para o sul, recuperou a sobriedade e, desde então, sua prole armava esquemas para recuperar o controle da torre da Vigília de Tor.

— Então Niall ou Titus poderiam tirar você do poder?

— Se eu fizesse algo estúpido o bastante. Ou Aaliyah, ou Madson. Até mesmo Nash ou Lydia, a propósito. E é assim mesmo que as coisas devem ser. Não se trata apenas de um único Patrei, mas de toda a família e daqueles a quem devemos lealdade. Quando se jura proteção, não se pode sair apostando tudo por mais uma rodada de bebidas.

— Vocês, Mendes, guardam rancores por muito tempo. Vocês nunca perdoam?

— Na mesma medida em que os deuses. Uma vez. Faça-nos de bobos uma segunda vez e você pagará por isso.

Pagar. Eu não achava que ele estava se referindo a uma multa.

— E quanto à arena que você mencionou? Ela faz parte da Eislândia também?

— Não. — foi sua resposta enfática.

Ele disse que a arena ficava abrigada embaixo da torre da Vigília de Tor, a oeste.

A arena tivera início séculos atrás, nas ruínas de um imenso complexo onde os Antigos costumavam fazer eventos esportivos.

A família a havia restaurado e expandido com o passar dos anos, e mais ainda desde o estabelecimento dos novos tratados e o crescimento do comércio. O que costumava ser um lugar reservado aos fazendeiros era agora o principal ponto comercial de mercadorias de todos os tipos e também o local onde negociações e futuros acordos eram feitos. Salas luxuosas eram providas aos embaixadores, aos fazendeiros abastados e a qualquer um que pudesse pagar o preço. Quatro dos Reinos Menores tinham aposentos permanentes ali, e havia outros que também mostravam interesse.

— E aqueles dois? — perguntei, assentindo na direção de Truko e Rybart, que se aproximavam.

— Não possuem aposentos, mas contam com um espaço no chão da arena, como os outros mercadores.

Os dois homens nos lançaram um breve olhar quando passaram por nós. Enquanto outros líderes de ligas que havíamos encontrado ofereciam condolências ao Patrei, eles apenas assentiram, de maneira rígida, porém respeitosa, e continuaram seguindo seu caminho.

Viramos outra esquina, que nos levou à ampla praça no centro da cidade. Apesar de todos os cumprimentos, sorrisos e do caminhar lento e descontraído de Shawn, a tensão que tomava conta da cidade era bastante notável aqui. Carroças eram paradas e inspecionadas sem aviso prévio, suas lonas de proteção arrancadas. Talvez os cidadãos achassem que algo havia sido roubado porque as notícias dos caçadores de mão de obra pareciam ter sido efetivamente suprimidas.

Até onde eu sabia, nenhuma das carroças tinha revelado nada de suspeito, mas eu via como os olhos de Shawn ficavam aguçados toda vez que uma delas passava, com seu movimentar pesado e desajeitado, como se ele estivesse memorizando todos os rostos que não lhe eram familiares.

Além dos straza, que caminhavam à frente e atrás de nós, alguns guardas mantinham a vigília nos passadiços elevados que conectavam as tembris. Outros guardas permaneciam parados nos cantos. Não havia nada que os distinguisse de qualquer outra pessoa na cidade, mas eu via os olhares de relance e cheios de subentendidos trocados entre eles e Shawn quando passamos. Eles estavam esperando o irromper de uma guerra — ou talvez esse fosse o seu modo de garantir que a guerra não viesse a acontecer.

Estávamos quase chegando ao templo quando Shawn soltou um murmúrio descontente, baixinho. Zayn estava se aproximando de nós. Vários homens grandes e bem armados caminhavam atrás dele. Shawn também estava armado hoje. Com uma adaga de um lado e a espada do outro. Eu não o tinha visto usar nenhuma dessas armas ainda — apenas seu punho cerrado na garganta do caçador, o que havia se provado mortal — e me perguntava sobre suas habilidades com elas.

Eu levava apenas a pequena faca na minha bota, mas, como Selena havia me ensinado, uma faca pequena e bem lançada era tão letal para um coração quanto uma faca grande, e muito mais fácil de esconder.

O ar se transformou em alguma coisa mais letal quando os olhares dos primos se encontraram. Inspecionei os homens que estavam atrás de Zayn, já escolhendo qual deles eu derrubaria primeiro se as circunstâncias piorassem.

— Que bom vê-lo andando por aqui, primo. — disse Zayn.

— Você ainda está na cidade? — foi a réplica de Shawn, como se tivesse avistado alguma coisa fedida embaixo de sua bota, algo de que ele não conseguia se livrar.

Zayn parou na nossa frente e, embora hoje suas roupas fossem mais casuais, ele ainda estava impecavelmente arrumado, com uma camisa branca e uma calça cor de canela sem vincos, o rosto radiante e a barba rente.

— Estou com uma caravana a caminho da arena. — disse ele. — Achei que talvez pudesse ficar e resolver umas coisas por mim mesmo.

— Então quer dizer que você não confia no seu mascate?

— Contratei um novo. Estou treinando-o. E os tempos mudaram.

— Não tanto quanto você pensa, primo.

Zayn voltou sua atenção para mim.

— É um prazer vê-la novamente. Perdoe-me, mas receio que não tenha ouvido o seu nome ontem.

Com os rumores voando pela cidade, eu tinha certeza de que ele sabia qual era o meu nome, mas entrei em seu jogo mesmo assim, na esperança de que ele logo seguisse em frente. Eu havia acabado de avistar algo que me interessava bem mais do que o primo grosseiro de Shawn — algo que eu vinha procurando a manhã inteira.

Hailey e Ariana.

Elas esperavam à sombra da tembris do outro lado da praça. As roupas de Rahtan haviam sido trocadas por outras com um aspecto mais local, e grandes chapéus lançavam sombras sobre seus rostos.

— Camila de Brightmist. — respondi.

Zayn esticou a mão para me cumprimentar, e Shawn e todos os straza se moveram de forma imperceptível, aproximando um pouco as mãos de suas armas, o que me levou mais uma vez a imaginar coisas sobre o relacionamento hostil entre os Mendes e o lado de Zayn da família. Não era algo relacionado apenas a um ressentimento antigo.

O que seriam aqueles desentendimentos que Shawn havia mencionado? Era de se espantar que eles ainda se sentissem compelidos a fazer negócios juntos, mas eu supunha que muito podia ser tolerado em nome do lucro. Zayn apertou meus dedos e deu um beijo no dorso da minha mão, o que eu achei um costume para lá de familiar. Puxei a mão.

— Seja bem-vinda à família. — disse ele, voltando a olhar para Shawn. — Ela é bem adorável. Lamento ter perdido o casamento. Eu...

— Não houve nenhum casamento. — eu o corrigi.

— O quê? Nada de casamento ainda? Ontem eu tive a impressão de que... — Ele dispensou esse pensamento com um aceno de mão e depois perguntou: — O que vocês dois estão esperando? O templo fica logo ali.

Suas atitudes teatrais eram irritantes e eu gostaria que ele simplesmente fosse direto ao ponto, mas eu não sabia ao certo se ele tinha um. Talvez seu objetivo fosse simplesmente incomodar Shawn.

— Ah... É a rainha, não é? Esperando pela chegada dela?

— Sim. — respondi. — A rainha é minha soberana. Eu sou uma soldada do exército dela e preciso de sua bênção.

Zayn abriu um largo sorriso, seus olhos passando deliberadamente por mim.

— Pelo seu bem, Shawn, espero que a rainha venha logo... ou alguém poderia simplesmente roubar o seu prêmio.

Do jeito como falou, eu logo percebi que ele considerava uma soldada vendana qualquer coisa menos um prêmio, e isso levou a paciência de Shawn ao limite.

— Vá andando. — ordenou Shawn. — Acabamos por aqui.

Os ânimos mudaram em um instante, e a atitude desdenhosa de Zayn desapareceu. Essa não era uma ordem de um primo para o outro, mas do Patrei para um subordinado, e cortou o ar tão ameaçadoramente quanto uma espada. Não havia dúvida, mais uma palavra de Zayn e Shawn faria algo desagradável. Zayn se retesou, com seu orgulho de Mendes evidente, mas ele não era idiota. Em silêncio, partiu sem dizer adeus, com seu bando logo atrás de si.

Shawn permaneceu com os olhos fixos neles enquanto saíam andando, uma veia se erguendo fervorosamente em sua têmpora.

— Não existe nada que você não roube, Shawn Mendes?

Ele olhou para mim, confuso.

— Vá andando? — eu disse, tentando atiçar a memória dele. — A frase que eu usei com você? Pelo menos você não ameaçou cortar o belo pescoço dele. Ou talvez você só tenha dito isso porque foi invadido por um momento nostálgico?

Um brilho iluminou os olhos dele, a calidez substituindo a fúria que estivera ali segundos antes.

— Acho que suas palavras me servem bem. Tomá-las emprestadas vão me custar alguma outra coisa?

O olhar dele assentou em mim, contemplando-me, tocando-me intimamente. Eu precisava voltar a erguer a muralha entre nós, mas, em vez disso, o sangue correu mais quente em minhas veias. Inspirei o ar, trêmula.

— Não desta vez. — foi a minha resposta. — Considere isso um presente.

Ele mal tinha aberto os lábios na iminência de uma resposta e sua atenção foi desviada por Aaliyah e Brian, que gritavam o nome dele enquanto riam e vinham andando tranquilamente em nossa direção. Falavam sobre já ter passado do meio-dia, sobre o sol estar quente, uma taverna fresquinha, uma cerveja ale gelada, carne de cervo assada e... eu não ouvi o resto. O momento certo é tudo, e aquele momento criado por eles foi perfeito. Os ruídos aumentavam, as sombras giravam, nuvens salpicadas de sol se moviam com a brisa, e os braços da cidade se estendiam para me levar para longe.

E até mesmo os olhos que nos observavam silenciosamente a distância ficaram desnorteados quando desapareci.

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Hailey deveria ter ficado com raiva. Eu vi isso nos olhos dela, mas, assim que estávamos longe de todo mundo, em uma pequena e silenciosa viela, ela soltou o ar, ferozmente aliviada, e me deu um abraço. Abraços eram coisas raras quando vinham de Hailey. Para falar a verdade, que eu me lembre, a única vez que recebi um abraço dela foi após a morte de sua família.

— Pelos deuses, por onde você andou? — ela me perguntou, em um tom exigente e com o rosto ruborizado pelo calor.

— Você não perdeu a fé em mim, perdeu?

Ariana estreitou os olhos sob a sombra de seu chapéu, olhos frios e cintilantes, um sorriso travesso curvando sua boca.

— Quem se importa com os lugares pelos quais ela passou? Quero saber o que ela andou fazendo. Conte-nos tudo.

Contei-lhes sobre os caçadores de mão de obra e nossa fuga, e sobre a corrente que nos manteve juntos. Pulei as partes da jornada que eu sabia serem do interesse de Ariana.

— Mas a melhor parte é que agora estou dentro da torre da Vigília de Tor e tenho um motivo para ficar lá por um tempinho. — Expliquei-lhes sobre a carta à rainha e sobre as condições que eu tinha estabelecido. — O acordo que fiz com o Patrei não apenas me dará acesso e tempo para realizar uma busca no complexo, mas também proverá reparações aos assentadores. Eles vão ter de volta tudo o que perderam.

Elas ficaram me encarando e não pareciam tão satisfeitas quanto eu esperava.

— As coisas realmente não poderiam ter se saído melhores. — eu acrescentei. — Algum sinal de Selena?

— Espera só um minuto. — relutou Ariana. — Você acha que vamos permitir que você passe por cima do item principal do cardápio? Ele. Vocês dois estavam querendo tirar sangue um do outro ainda há pouco, mas, agora mesmo, as centelhas que eu vi entre vocês poderiam até ter queimado o meu cabelo. O que está acontecendo?

Olhei para Hailey, buscando ajuda. Ela deu de ombros.

— É melhor nos contar. Você sabe que ela não vai parar até que você fale.

Confessei que tivemos um momento ou outro quando estávamos nos descampados, mas que agora estava tudo acabado. Ariana bufou.

— Tão acabado quanto o ressentimento de um velho. Vocês fizeram? Sabe, aquilo?

— Não!

— Não seja tão sensível, Camila. O que quer que vocês tenham feito para ocupar o tempo... tudo bem por mim. Ele é todo arrumadinho. O amigo dele também. Aquele alto, moreno e bonito. Como é o nome dele?

Olhei para ela, incrédula com o que ouvia.

— Estou só brincando com você. — disse ela, empurrando meu ombro. — Mais ou menos.

Ela encostou na parede da loja atrás da qual estávamos nos escondendo e cruzou os braços, pronta para falar de negócios.

— Nenhum sinal de Selena nem de Justin ainda. Ficamos de olho para ver se eles estavam na cidade. Nada.

Isso era preocupante. Não era típico de Selena estar atrasada, mas nosso plano tinha alternativas para o caso de qualquer imprevisto, como tempo ruim ou problemas com os cavalos. Discutimos as possibilidades — incluindo bandidos na estrada —, mas, entre Justin e Selena, nós tínhamos certeza de que os bandidos seriam sempre o lado mais fraco.

Justin tinha sido treinado para ser o próximo Assassino de Venda, porém, depois da guerra, essa posição fora eliminada. A rainha não aprovava assassinos furtivos, especialmente considerando o fato de que ela mesma mal escapara de um deles. No entanto, as habilidades de Justin ainda estavam lá. Sua maestria com uma faca na mão era de causar assombro.

— Nós sabemos que eles vão aparecer. — disse Hailey. — Eles só estão atrasados, e deve ser por um bom motivo. Assim teremos bastante tempo para nos camuflar, como ela ordenou.

— E para você sugar tanto quanto conseguir dos Mendes, para o assentamento. — disse ainda Ariana.

Sorri.

— Sim, tem isso.

Hailey ergueu a sobrancelha, cética.

— Você realmente acha que eles vão manter a palavra deles?

Shawn odiava essa ideia. Seus irmãos estavam furiosos. Mas, sim, eu realmente acreditava que eles manteriam a palavra — aquele orgulho altivo dos Mendes. E era uma transação de negócios com a qual eles tinham concordado.

— Não somente eles vão manter a palavra, como eles mesmos vão fazer o trabalho. Tudo isso foi parte do nosso acordo. Os Mendes vão cavar os buracos para as estacas das cercas.

Hailey abriu um largo sorriso.

— Você é má. — disse ela. — Você seria capaz de roubar o nariz do rosto de um homem e ele não perceberia nada até ter se passado uma semana.

— Foi genial, eu reconheço. — disse Ariana. — Até mesmo Selena faria um esforço para abrir um sorriso de satisfação diante disso. Algum sinal do nosso homem?

Nosso homem. O motivo pelo qual estávamos aqui. Percebi a tensão na voz dela.

Balancei a cabeça em negativa e expliquei que o complexo era grande e se espalhava pelas cercanias, com vários lares e escritórios tão grandes quanto palácios.

— E há um túnel também, embora eu não saiba ao certo se leva a qualquer lugar relevante. Vai demorar um tempinho para fazer uma busca por tudo aquilo e, além do mais, há muitas pessoas que trabalham lá que eu...

— E cachorros! — disse Hailey. — Eles têm cachorros ensandecidos! Você sabia disso? Dezenas deles!

Dezenas? Eu só tinha visto dois. Ficar amiga de tantos cachorros assim poderia ser mais desafiador do que eu tinha pensado. Hailey disse que os esforços delas para me procurar dentro das muralhas da torre da Vigília de Tor haviam sido frustrados pelas desgostosas feras.

— Algumas flechas teriam bastado para derrubá-los. — foi a réplica de Ariana. Hailey franziu o cenho.

— Uma dúzia de cachorros mortos poderia despertar a suspeita dos guardas. — Ariana deu de ombros.

— Poderíamos tê-los derrubado também.

— E matar todo mundo que estivesse à vista poderia ir contra as ordens da rainha. — eu disse, lembrando-a.

Ariana sabia disso. Havíamos recebido ordens para não matar qualquer um enquanto avançávamos em nosso jogo, a menos que nossas vidas estivessem ameaçadas. Ainda havia um pouco de desconfiança quando o assunto era Venda — nós não deveríamos piorar as coisas para os vendanos que estavam tentando se estabelecer em novas áreas. Peguem-no e caiam fora. Essa era a nossa tarefa e ponto. Era como tirar uma maçã podre de um caixote.

Eu disse a elas que também não havíamos tido sorte quando fomos catapultadas para o meio de uma guerra de poder trazida à tona com a morte de Manuel Mendes. Outras facções queriam o controle da Boca do Inferno e suas riquezas.

— E foram essas outras facções que enviaram os caçadores de mão de obra. Eles os pagaram antecipadamente, sem nenhuma outra expectativa além de assustar os cidadãos e criar uma série de motins ou algo do tipo para obter controle. Inclusive, podem ter sido eles que atacaram e queimaram o assentamento vendano.

— Não. — argumentou Hailey. — Caemus disse...

— Caemus disse que os Mendes pegaram um shorthorn como pagamento. Só isso.

— Já é o bastante. Ainda assim, é roubo.

— Não discordo, mas estava escuro demais para ver quem atacou e pilhou o assentamento naquela noite. Talvez um outro alguém esteja tentando atiçar a fúria da rainha de Venda. Shawn nega que tenham sido eles.

— E você acredita nele?

Dei de ombros.

— É possível.

Hailey e Ariana trocaram um longo olhar, repleto de malícia.

— Eu sei o que vocês estão pensando, mas...

— Ele enganou você, Mila. — gemeu Hailey. — De todas as pessoas, você... Não consigo acreditar que você esteja caidinha por...

— Eu não caí em nada, nem por ninguém, Hailey. Só quero que você saiba que existem outros riscos aqui além dos Mendes e que nós temos de tomar cuidado. Alguém também tem causado incêndios por aqui. Foram seis até agora. Vocês viram alguma coisa?

— Um deles fomos nós que causamos. — foi a resposta de Hailey.

— Talvez dois. — completou Ariana.

— Vocês o quê?

— Eu não tive escolha! — disse ela. — Era de noite e estávamos nos escondendo a cada esquina, tentando sair da cidade. Disparei uma flecha em chamas em uma lamparina a óleo, e uma outra em uma pilha de madeira. Tive de criar uma distração para que pudéssemos tirar os nossos cavalos do estábulo. Você sabia que aquele miserável do dono do estábulo roubou nossas selas e equipamentos de montaria?

Pelos deuses! Se Shawn ficar sabendo que elas causaram até mesmo um único daqueles incêndios...

— Vocês queimaram uma casa? —  perguntei, com medo de ouvir a resposta.

— Uma pilha de madeira, Camila. E uma carroça de feno. Por que você está tão nervosa?

— Porque os Mendes estão nervosos e determinados a descobrir quem está atacando a cidade. Não quero que vocês se misturem a essa batalha. —  Pensei nas orelhas cortadas. — Eles não entenderiam e as coisas poderiam ficar feias.

— Ninguém sabe que estamos aqui.

Ainda. Shawn memorizava detalhes. As novas roupas e os chapéus não as esconderiam por muito tempo. Elas precisavam de alguma coisa mais definitiva para protegê-las. Elas precisavam da palavra de Shawn.

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E então, oq acharam? Oq acham que vem aí?

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