Stéfani Bays
As flores poderiam significar um ato desesperado, poderia existir até uma má interpretação, mas eu não pensava assim, eu queria que ela soubesse que eu não a odiava por desistir de nós.
Se houve resposta? Não.
Se eu estava surpresa por não haver resposta? Também não.
Honestamente eu não esperava que ela fosse responder. Mas pra mim não havia nada que machucava mais que o seu silêncio.
- No que está pensando minha filha? - A voz de minha mãe soou assim que se sentou em minha sala. Me virei para olhá-la, dona Viviane sempre fora uma mãe maravilhosa e ela parecia me ler.
- Eu estava te esperando. - Respondi com um sorriso. Iríamos almoçar juntas.
- Já te disseram que desde que você parece ainda mais bonita do que antes?
- Não... - Sorri. - Na verdade eu acho que isso se chama amor de mãe... - Impliquei e ela riu.
- Não... você sempre foi uma mulher bonita. Mas agora o seu olhar é diferente, as suas roupas, sua elegância continuam a mesma, mas quando eu a olho vejo o meu bebê, a menina que se esconde atrás da fachada da advogada importante sabe? E há muito tempo eu não a via mais assim.
- Sim. - Assentiu suspirando. - Surpreendentemente eu parei de me preocupar com as coisas que não são fundamentais, eu priorizo outras coisas agora mãe!
- Isso se chama crescer! - Minha mãe se aproximou me dando um beijo na testa. - O que aconteceu com você meu amor?
- Nada com o que se preocupar mamãe, eu só estou um pouco estressada. Cancelando os preparativos do casamento, os últimos movimentos do escritório, mesmo Rebecca e Lipe me ajudando ao máximo, tem coisas que preciso fazer sozinha. - Eu não queria falar sobre meus sentimentos, então falar sobre os trabalhos parecia uma saída melhor.
- Relaxa um pouco meu amor. - Pediu chegando até mim. - Sua mãe está velha, mas pode te ajudar em algumas coisas, principalmente em fazer ligações para cancelar os preparativos.
- Eu agradeço muito! Mas você me conhece mãe, eu gosto de ter as coisas sob controle.
- Eu sei perfeitamente disso. Como o Rodrigo reagiu?
- Nada bem! Ele tem me procurado, mas não vou voltar atrás. Não posso me casar.
- Hum, e Mirella? - A mais velha perguntou.
- O término não tem nada a ver com ela! - Falei chateada.
-Eu sei meu amor, mas as vezes na vida acontecem coisas que mudam nossos desejos, nossos sonhos... experiências que nos fazem perceber quem realmente é importante. - Senti meus olhos se encherem de lágrimas. - Não tenha medo do amor filha.
- Eu não tenho, só estou cansada de lutar guerras impossíveis de serem ganhas. Há algo que sempre nos afasta, eu não posso lidar com isso. - Falei triste.
- Eu não entendo é porque vocês estão lutando. Sendo que tudo seria bem mais simples com uma conversa franca sobre seus sentimentos. Não costumava ser tão difícil anos atrás. Vocês sempre se resolviam e ela é uma ótima menina.
- Mulher mãe! Ótima mulher mãe e mulherão viu?! - Impliquei e ela riu.
- Vocês não crescem na nossa cabeça e falando assim fica impossível te defender filha. - Ri do comentário da minha mãe.
Estava começando a anoitecer quando recebi um convite de Bianca para sair pra beber. Eu não estava em posição de recusar, porque eu queria muito tirar algumas coisas da mente.
- Nossa, amei esse lugar. - Falei olhando ao redor, parecia um pub. Confortável, sem muita movimentação.
- Aqui abriu a pouco tempo, conheço os donos e alguns amigos vão tocar aqui hoje!
- Cadê a Any?
- Ta viajando essa semana. Daí fico usando vocês para me tirarem do tédio. - Eu ri com sua resposta.
Começamos a conversar trivialidades distraídas, bebendo e comendo uns petiscos. Quando eu avistei a dona dos meus pensamentos mais puros e impuros, ela falava ao telefone. Quando Bia a viu também me olhou.
- Você sabia que ela estaria aqui? - Falei após vê-la. Eu não estava pronta para estar no mesmo ambiente que ela depois de tudo novamente.
- Não! Mas se eu soubesse era aqui mesmo que viríamos mesmo assim. - Quis rir de sua resposta, mas neguei com a cabeça. Ela nos avistou, travou por um momento e após poucos segundo veio até nós. Óbvio que iria vir até uma de suas melhores amigas né?!
Mirella abraçou Bia e em seguida me olhou, ela parecia um pouco apática naquela noite.
- Bays! - Inferno de mulher.
- Mirella! - Respondi tentando firmar minha voz.
- Está tudo bem? - Bia perguntou apontando para o celular da baixinha.
- Oh, está sim! Só trabalho! - Respondeu sem demonstrar muita empolgação.
- Vocês andam se divertindo sem mim? É isso mesmo? - Bia acusou e agora ela deu um sorriso.
- Eu fui chamada de última hora e achamos que você tinha viajado com a Any. - Bia então concordou. - Vocês querem se juntar a nós? Estou com as meninas lá na mesa de fora. - Perguntou e Bia concordou olhando pra mim, eu neguei pensando em uma desculpa.
- Bom! Eu acho que vou deixar vocês se divertirem, preciso descansar para amanhã!
- Fica com a gente!- Mirella pediu e eu fiquei muito tentada, mas não podia lidar com ela naquele momento. Além do mais parecia mais por educação do que por querer mesmo.
- Eu preciso mesmo ir. - Respondi tentando me conter.
- Poxa amiga! Estávamos nos divertindo, fica mais um pouco.
- Eu não posso Bia, eu tenho uma audiência amanhã cedo, precisa dar uma lida nos processos. - Mirella negou com a cabeça, me deixando confusa e então se despediu de mim saindo dali.
- Não quer ficar por causa dela né?!
- Eu não posso lidar em ficar no mesmo local que ela a noite toda. Não sei lidar com sua indiferença, não quando tudo o que eu sinto por ela mexe com cada pedacinho meu.
- Rodrigo a procurou. - Bia entregou fechando os olhos depois.
- Espera, o que? - Falei brava.
- Ele pediu a ela para se afastar de você e falou outras coisas que mexeria com qualquer pessoa que ama outra pessoa. Achei que devia saber.
- Ela te contou?
- Eu cheguei um dia na empresa para buscá-la e ele estava saindo de lá. Depois disso notei o distanciamento dela contigo. Só liguei as coisas e então fui conversar com a Mirella...
- Que porra! - Falei chateada. Me levantei e comecei a caminhar em direção a mesa das garotas com Bia no meu encalço. Parei quando eu a vi sorrindo com Ana enquanto elas conversavam alguma coisa. Me senti estúpida mais uma vez naqueles dias. Me virei para Bianca que me olhava com curiosidade. - Não dá, eu vou embora. - Falei e ela me deu um abraço carinhoso.
- Conversem com calma depois. - Neguei com a cabeça, Bia parecia saber mais do que ela estava me contando. Naquele momento eu estava chateada demais pra querer pensar em uma futura conversa com Mirella.
- Se cuida tá? A gente se fala depois. - Ela concordou e então saí dali, com uma mistura de raiva e ciúmes que nem cabiam direito em mim.
Dirigi até minha casa devagar, eu não estava acreditando que Rodrigo havia feito aquilo e nem que Mirella havia tomado aquela decisão por mim.
Peguei o processo que eu tinha para tentar distrair minha mente, me servi de um vinho e me joguei no sofá, mesmo que eu já tivesse bebido um pouco antes, consegui me concentrar tranquilamente. Passou um tempo até que minha campanhia tocou.
- Eu te amo. - O sussurro da sua voz, o som dessas palavras.
Meu corpo estava paralisado e meu coração batendo em um ritmo forte.
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