Oi, você já chegou? Não achei que estava na hora ainda. Desculpa! Perdi a noção do tempo. Sabe, é que as vezes eu esqueço, e acho que esse momento vai ser meio isso, a gente perdendo a noção do tempo, pois está sendo insuportável, tão insuportável que deixamos de contar, pra ver se passa mais rápido... Não sei.
A gente ainda está numa crise... a gente quem né? Porque tem gente que está vivendo como se nada tivesse acontecendo. Já cansei de pensar que não consigo entender, agora só saio de perto mesmo, não preciso ficar perto de todo mundo, ainda mais nesse momento, não mesmo!
Achei que ia fazer muito mais coisas, que ia aproveitar muito mais, só que quando começo a pensar, em momentos como esse que estou agora, lembro que esse pensamento vem de uma falsa perspectiva, essa mesma na qual a gente esquece da crise e pensamos que tem que estar tudo bem, mas bem pra quem né?!
Tudo está caminhando, acontecendo no seu tempo, na medida do que é possível agora, e tem coisas que eu nem quero nesse momento mesmo, então está tudo certo. Preciso meio que ficar repetindo isso pra mim mesmo porque tem um mundo cobrando o absurdo de nós. Chegou em um ponto em que essa cobrança virou alienação, já era antes, mas é que agora parece meio inconcebível se alienar de tudo. É violento.
Enfim, perco a noção do que estava fazendo, mas ao mesmo tempo estou apreciando tudo o que estou fazendo, até procrastinar. Tenho vários projetos dançando nas gavetas, de vez em quando algum sai, e chega até a ser engraçado, porque normalmente sai algo que eu não estava esperando, e aquilo que achei que ia sair está lá ainda, marinando. Acho que o que importa agora é que o coração está tranquilo, na medida do possível, sabe aquela correnteza do mar profundo, que ninguém vê, que parece tranquilidade, mas na verdade é movimento intenso? É assim que estou no momento.
Vi mais uma borboleta amarela hoje.
Você já vai? Nossa! Nem tinha visto a hora. Até depois.