As Incertezas da Fortuna

By Noveletter_

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Autora: Marina Orli "Mylène Dupain e Gaspard Orléans estão noivos!" E em meio à nobreza de Chambeaux, os dois... More

Conheça os Personagens!
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19 - Fim da Temporada
Disponível em E-book!

Capítulo 13

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By Noveletter_

Aviso: Essa obra de ficção contém cenas incômodas envolvendo abuso psicológico e gaslighting parental. Este capítulo menciona internação forçada e homofobia.

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— Nunca conseguirei falar com Marianne... — Gaspard lamentou, bebendo mais um gole de xerez.

— Se você continuar nesse ritmo, com certeza não vai conseguir falar — Teresa comentou num tom compreensivo. — Coma mais um pouco de gratar.

Apesar de manter a feição de desespero, ele obedeceu e pegou outra porção de carne com batata. Felizmente, a única fonte de luz do camp era da fogueira ao centro. A iluminação não denunciaria sua expressão, e como quase todas as pessoas dançavam ao som das músicas tocadas pelo grupo da caravana, ninguém notaria o Beau que estava à beira de um ataque de nervos.

— Essa viagem foi um fracasso... — Gaspard disse pela enésima vez desde que se sentaram para comer. — Eu vou embora! — E tentou se levantar.

Apenas para cair sentado novamente, com o mundo girando ao seu redor.

— Ah, pronto! Agora não sei mais nem andar!

Teresa, que até então se mantivera amigável e respeitosa, não conseguiu segurar a gargalhada. Aquele era realmente o mesmo homem altivo que avistara no festival da primavera e que depois viera atrás dela, cheio de determinação? Como era curioso que, por trás da carapaça de nobre Beau, existisse um menino que sentia tanta falta da irmã.

Horas antes de aceitar todos os tragos de xerez e bere que apareceram à sua frente, os dois deram uma rápida volta pelo camp. E como se o destino tivesse armado para eles, acabaram encontrando Tamara, a irmã mais velha de Teresa, e Marianne levando baldes de batatas e cenouras ao local onde o gratar de boas-vindas estava sendo preparado. A primeira reação de Gaspard foi se posicionar um tanto atrás de Teresa, da mesma forma que uma criança faria ao se sentir intimidada.

— Quem é esse aí? — Tamara perguntou enquanto analisava o Beau dos pés à cabeça.

— Ah, é uma longa história... — Teresa respondeu com a feição serena, sentindo a mão de Gaspard tremendo embaixo da sua. — Não quero tomar o tempo de vocês! Voltem aos seus afazeres. Amanhã botaremos todos os assuntos em dia!

— Vou cobrar, viu?!

Tamara aceitou a resposta da irmã e continuou seu caminho. Marianne, entretanto, não seguiu como a esposa, preferindo se aproximar do casal.

— Seja bem-vindo! — exclamou com um sorriso caloroso. — Sei que escolher largar tudo e se juntar aos Romaines é uma decisão difícil mas, por experiência própria, posso garantir que você não se arrependerá!

Teresa não precisava de bola de cristal para entender que Gaspard não conseguiria atuar nem formular uma frase que fosse diante da irmã que não via há quinze anos. Todos os seus gestos demonstravam o nervosismo que ele claramente sentia.

— Tamara já está te chamando — Teresa mentiu, mas não tinha dúvida que o chamado logo aconteceria.

— Sempre apressada... — Marianne comentou entre risos — Nos falamos amanhã, então!

Teresa e Gaspard ficaram em silêncio por alguns segundos. Cada passo que Marianne dava, distanciando-se deles, evidenciava ainda mais a ansiedade de Gaspard. A respiração que antes ela mal ouvira, parecia retornar de pouco a pouco. Seria engraçado se não fosse trágico.

— Você está bem? — perguntou por perguntar, sabendo que ele não estava.

— Ela não me reconheceu... — A voz de Gaspard era uma mistura de incredulidade e dor.

— Como te reconheceria? Você ainda está usando os brincos.

Imediatamente, Gaspard levou as mãos aos objetos mágicos, como se quisesse confirmar que eles ainda estavam em suas orelhas. Ao senti-los, soltou um suspiro de alívio. Por um momento, Teresa achou que ele tivesse recuperado o controle, da mesma forma que fizera mais cedo na carroça. Entretanto, quando Gaspard aceitou e virou dois copos de bere que lhe ofereceram, um atrás do outro, percebeu que estava completamente enganada.

Ah, a velha tática de beber para esquecer os problemas. "Quem nunca a utilizou na vida, que atirasse a primeira pedra", a Romaine pensou.

Abafar os sentimentos com álcool nem sempre terminava bem, mas Teresa acreditava que Gaspard talvez precisasse daquilo. Apesar de ainda ser um desconhecido, aquele um dia de convívio deixara claro que o homem tinha muitos conflitos guardados dentro de si. E se a bebida o fizesse falar, tirando um pouco do peso do seu peito? Talvez também lhe desse mais coragem para falar com Marianne?

Agora, porém, ao vê-lo reclamando por não saber mais andar, ela soube que a hora de mudar de tática havia chegado.

— Bom, acho que já nos divertimos e comemos suficientemente bem — Teresa falou, enquanto começava a se levantar. — Vamos para o meu cort?

— Que tal uma última dose de xerez? — Gaspard a segurou pelo braço, impedindo-a de se levantar completamente. — Ele é mágico que nem o meu brinco e com certeza pode me fazer voltar a andar. Provavelmente. Ainda não deu certo, mas tenho fé.

Teresa deu uma gargalhada e se desvencilhou dele.

— Acho que ele não é tão mágico assim, não! Vamos, apoie-se em mim. Vou te ajudar a levantar — ofereceu com a mão estendida.

Obedecer ordens.

Finalmente algo que ele conseguiria fazer, mesmo inebriado.

O Beau apenas concordou com a cabeça, aceitando a mão de Teresa, e depois de levantar, ele simplesmente jogou os braços ao redor de seus ombros. Devagar, ela começou a guiá-lo em direção aos corturi, parando apenas para encher uma garrafa de água no poço. O Beau precisaria dela mais cedo ou mais tarde.

— Você está me levando para o seu quarto?

— É, digamos que sim — Teresa respondeu, rindo da suposição inusitada.

— Isso é escandaloso... — Gaspard comentou e voltou a se calar.

Não demorou muito para que eles parassem em frente a uma cabana alta, mas cuja entrada batia no queixo de Gaspard. Para que não se machucasse, ela abaixou a cabeça do rapaz e os dois entraram no cort. Depois de acomodá-lo numa cadeira, Teresa riscou um fósforo e acendeu a lamparina que sempre ficava em cima de uma mesinha.

— Consegue tirar os sapatos sozinho? Nunca entramos calçados nos nossos corturi, mas hoje estou abrindo uma exceção para você.

— Obrigado... Desculpe-me por isso, não sabia — respondeu, tentando se inclinar em direção aos pés. — Teresa, acho que eu não consigo...

— Sem problemas — disse bem-humorada, retirando os sapatos de Gaspard e, em seguida, os seus para alocá-los do lado de fora do cort. — Está confortável assim? Quer tirar o colete?

— Pode ser... — respondeu, esforçando-se para tirar a peça. Com um pouco de dificuldade, ele conseguira, enfim, fazer algo sozinho.

Lembrou-se dos brincos, sentindo o frescor usual da magia descer até seu pescoço ao removê-los. A sensação mágica também o deixara um pouco mais sóbrio. Pela primeira vez desde que entrara no cort, ele reparou onde estava.

As lonas de cor vinho faziam com que a luz reluzisse mais aconchegante. Além do colchão, havia mais almofadas em cima do tapete que ficava à sua frente. No teto, um móbile de estrelas balançava com a brisa da madrugada. Sentada à mesa onde a lamparina jazia, Teresa tirava o adereço de cabelo e as joias em frente a um pequeno espelho.

— Finalmente é você — ela comentou sem se virar, apenas o encarando a partir do reflexo. — Não aguentava mais ficar te olhando e imaginando seu rosto de verdade.

— Gostaria de experimentar os brincos agora? — perguntou, lembrando-se da única moeda de troca que havia entre eles.

— Não, prefiro estar bem disposta para aproveitar o máximo da magia — Teresa respondeu e apontou para a garrafa no chão, perto da cadeira em que ele se encontrava. — Você precisa beber mais água. Poderia fazê-lo olhando para a porta? Dessa forma, poderei me trocar com privacidade.

Sem questionar, Gaspard pegou a garrafa e ficou de costas, respeitando a vontade da Romaine. Agora que havia parado, era fácil lembrar porque ele evitava beber, principalmente quando precisava de toda sua força de vontade para não se virar e confirmar o que sua imaginação havia conjurado em sua mente. Nervoso e com as mãos trêmulas, virou o conteúdo da garrafa quase que de uma vez.

— Ei! Deixa um pouco para mim! — Teresa exclamou, tomando a garrafa da mão dele e bebendo o pouco de água que havia sobrado.

— Perdão... — Gaspard pediu, sem olhar para Teresa, envergonhado pelos pensamentos que estava tendo há poucos segundos.

— Tudo bem — disse sorrindo.

Cometendo o erro de levantar os olhos, Gaspard percebeu que Teresa agora trajava apenas uma camisola branca. Era impossível disfarçar o rubor imediato que cobrira seu rosto e suas orelhas.

— Vou fingir que você está assim por conta do calor da fronteira com Sálaga — Teresa comentou, segurando o riso.

— Ah... então realmente estamos perto Sálaga. — Gaspard retrucou, ainda evitando encará-la. — Imaginei que estivéssemos, pelo clima e pela vegetação.

Teresa sentiu um arrepio correr por sua espinha. Não deveria ter feito aquele comentário. Mesmo que estivesse disposta a confiar em Gaspard, não gostava da ideia de um membro do exército saber da região em que o seu camp se encontrava no momento. Buscando mudar de assunto, ela disse:

— A primavera por aqui é realmente quente. Se ainda estiver com calor, pode tirar a camisa. Prometo não ficar vermelha como você!

— Não, obrigado — ele murmurou desconcertado.

— Respeito a sua decisão — Teresa sorriu em meio a um bocejo. — Vamos dormir? Amanhã você vai encontrar Marianne com o seu verdadeiro rosto, precisa estar minimamente apresentável.

— Eu... eu não sei. Talvez seja melhor que ela não veja, afinal.

Depois de tudo que ele passara para chegar até Marianne, Teresa não imaginava que ouviria aquela afirmação vinda da boca do próprio Gaspard.

— Por que diz isso? — perguntou com cuidado.

— Não ouviu o que ela falou mais cedo? Sobre o quanto largar tudo foi difícil, mas que ela não se arrependia?

Lá estava o pequeno Gaspard, no corpo de um homem, falando de novo. Encolhendo-se tanto na cadeira que parecia até que ele tinha alguns centímetros a menos. Naquele instante, Teresa teve a certeza que, se ele não se resolvesse com a irmã logo, seria assombrado pelo resto de sua vida.

— Aquela era Marianne acolhendo um desconhecido que ela pensou ter tomado a mesma decisão que um dia tomou, Gaspard. Não leve tão a sério...

— Mas e se ainda for verdade?

— Se for verdade, amanhã você vai descobrir — Teresa disse, aproximando-se dele mais uma vez. — Vai, vamos dormir. Precisa de ajuda para chegar até o meu colchão?

— Não, já consigo me levantar... — recusou para logo se dar conta de que havia concordado em se deitar no mesmo local que Teresa. — E e-eu posso dormir no tapete.

Teresa se segurou para não rir em descrença com o comentário de Gaspard. Como se os dois já não tivessem passado um dia inteiro colados um no outro, trocando carícias e até alguns beijos. Os Beaus realmente eram muito pudicos.

— Certo, faça o que achar melhor — a moça preferiu não insistir. A situação já era desconfortável demais e em cima do tapete ele teria algumas almofadas para confortá-lo.

***

O corpo de Gaspard estava exausto, mas ao deitar a cabeça numa das almofadas, sua mente estava mais desperta do que nunca. Ainda assim, forçou-se a ficar de olhos fechados, concentrando-se nos sons a sua volta, algo que costumava fazer quando a insônia o deixava acordado por vários dias seguidos na sua adolescência. Ele podia ouvir a música ainda tocando ao fundo, alguns animais noturnos e o som da respiração de Teresa. Se fosse um dia comum de trabalho, ele logo adormeceria.

Todavia aquele definitivamente não era um dia normal. A jornada em si tinha sido fácil. A parte difícil era lidar com a quantidade de sentimentos que ele nem sabia existir dentro de si. As pontadas no peito ainda não haviam cessado e começava a se preocupar, talvez fosse alguma doença?

Mas a maior preocupação dele era com Marianne. Finalmente se encontrara com sua irmã. Claro que ela não havia o reconhecido por conta dos brincos, mas ainda assim aquilo lhe causava dor. Qual seria sua reação se soubesse o tipo de pessoa que ele havia se tornado? Apesar de ter compreendido e começado a enxergar o que havia acontecido tantos anos atrás, Gaspard ainda era a perfeita representação de uma sociedade que quase enfiara sua irmã mais velha num hospício.

Um ódio profundo de si mesmo percorria seu ser, um que parecia aumentar só de pensar na possibilidade de Marianne o rechaçar.

Gaspard estava apavorado.

A última vez que sentira tanto medo assim, ele também tentava dormir perto de uma trincheira durante a Guerra do Leste. Era o seu turno de descanso, e obviamente precisava descansar. Entretanto, cada centímetro de si estava em estado de alerta. Na época, o segundo-tenente Orléans costumava cuidar de tarefas mais simples, ele não era um soldado da linha de frente e seus companheiros o respeitavam como se sua patente fosse a de agora.

Quando parte do seu batalhão fora massacrado, assumiu uma posição que não era a sua. E para manter a moral em alta, precisava ser um bom exemplo, sempre sereno e destemido. Só que estava cada vez mais difícil fingir ser algo que, naquela situação, definitivamente não era. Num ato de desespero, após três noites em claro, Gaspard desenterrou todas as piores memórias de sua vida. Lembrou-se do dia em que irmã fugiu, do desespero de seus pais e, por fim, do dia em que soube que eles haviam morrido. Depois vieram dias tenebrosos, de solidão e tristeza. Gaspard sentiu que mesmo sem estar numa guerra antes dos vinte e quatro anos, ele já havia lutado em várias outras. Chorando em silêncio, finalmente, o esgotamento emocional alcançara sua exaustão física.

Anos se passaram. Pensava que nunca mais precisaria recorrer àquela tática novamente, mas como naquela noite de quatro anos antes, não hesitou em utilizá-la. Reviver cada lembrança ruim fez com que lágrimas brotassem nos seus olhos. No escuro da barraca, também não evitou que elas rolassem por suas bochechas.

Vencido pelo cansaço, adormeceu.

E essa era a última coisa de que recordava antes de apagar e acordar novamente no tapete de Teresa, já com o sol de pé. Sem pressa, sentou-se e alongou os braços e as pernas. A ressaca estava presente, mas ao menos não havia sinal de dor de cabeça. Será que Teresa enchera a garrafa com mais água no meio da noite?

— Por Kali... É realmente você — uma voz feminina soou em seus ouvidos. Apesar de ainda estar um pouco grogue, ele soube que não pertencia à Teresa.

Era de Marianne.

Ao virar a cabeça, encontrou a irmã mais velha na mesma cadeira que ele ocupara durante a madrugada. Agora com a claridade do dia, era possível enxergar todos os seus traços. Suas feições naturalmente gentis não mudaram em nada, tornaram-se apenas mais maduras. Entretanto, diferente das suas memórias, os olhos cinzentos já não eram tão calorosos. Naquele momento, pareciam desesperados.

Será que estavam assim por que ele, Gaspard, estava diante dela?

— Sim, sou eu — foi a única resposta coerente que conseguiu formular.

— Essa voz grossa! — Marianne exclamou incrédula. — Mas o que eu estava esperando, não é? Que o homem com o rosto do meu irmão mais novo ainda falasse como aquela criança que vi pela última vez há quinze anos? — Dessa vez ela falou mais para si do que para Gaspard.

"Não precisava ter sido todo esse tempo se você não tivesse me abandonado."

— Pois é... — respondeu.

Um silêncio desconfortável pairou entre eles. Não gostava daquele clima, mas ficar calado fora a única forma de acalmar a raiva que estava sentido. Raiva de Marianne, de si mesmo e do mundo. Sentiu um pequeno alívio e uma certa felicidade de poder falar com a irmã novamente, mas ao mesmo tempo, também se afogava num mar de rancor.

Sim, ela estava prestes a ser enviada para um hospício. Mas quem havia lhe dado o direito de deixá-lo só? Sem amigos? Sem pais?

— Eu queria... — ela voltou a falar. — Será que você poderia ficar de pé para que eu possa te ver por completo?

A vontade de Gaspard era responder com um bom e sonoro "não". Porém, seu corpo se moveu sozinho e, quando se deu conta, já estava de pé. Marianne se levantou da cadeira e se aproximou devagar, parando a pouco menos de um metro de seu irmão.

— Quem diria... Você agora é mais alto do que eu.

— É...

— O que aconteceu nesses anos? Você não era assim tão monossilábico.

— E você não sabe mais nada de mim! — Gaspard vociferou, não conseguindo mais se segurar.

Um segundo depois, ele se arrependeu de sua atitude.

Aquele deveria ser um momento de celebração. O reencontro entre irmãos separados há quinze anos. Os dois deveriam estar se abraçando, conversando sobre a vida um do outro, tentando recuperar todo o tempo perdido. Entretanto, tudo o que Gaspard conseguia sentir era raiva e aquela dor no peito que ainda o incomodava parecia possuí-lo.

— Eu... — Marianne queria falar, mas as palavras falharam na sua boca. — Eu... eu preciso... ir agora. Mais tarde a gente conversa, tá bem?

Com medo de expressar toda a ira e rancor mais uma vez, ele apenas concordou com a cabeça. Marianne forçou um sorriso e deixou o cort sem olhar para trás.

***

Quando Marianne apareceu com os olhos e o rosto inchados no cort que dividia com Tamara, Teresa entendeu que sua ideia de dar um empurrãozinho para que os irmãos Beaus se falassem dera errado. Felizmente, Tamara estava tão preocupada em acolher a esposa, que nem se lembrou de repreendê-la. Afinal, quando contou o seu plano para a irmã, ela fora a primeira a dizer que seria um fracasso.

Só que Teresa não podia simplesmente ficar parada. Não depois de ver com os próprios olhos as lágrimas silenciosas de Gaspard durante a madrugada. Por isso que, ao acordar, foi correndo falar com Marianne. Tinha esperança de que, assim que se vissem, os dois se esquecessem do passado, superando imediatamente todos os obstáculos ou algo do tipo. Pelo visto, isso era algo que só acontecia nos romances que lia durante algumas viagens com a caravana.

Mesmo com a melhor das intenções, ela talvez tivesse forçado algo que nem Marianne nem Gaspard estavam preparados para encarar. No fim das contas, talvez não devesse ter levado o Beau para o camp. Como ele dissera tantas vezes, talvez durante a festa de boas-vindas, aquela viagem realmente tivesse sido um fracasso.

No intuito de ajudar, ela havia causado mais sofrimento.

Respirou fundo, controlando a culpa que queria puxá-la para o fundo do poço. Não tinha obrigação nenhuma de ir atrás de Gaspard, mas o faria porque se sentia responsável por todo o mal-entendido. Começava a desconfiar que aquilo que tinha chamado de intuição, na verdade era empatia por ele desde o início.

Sem que Tamara ou Marianne notassem, ela deixou o cort delas em rumo ao seu. Ao passar pela entrada, encontrou Gaspard de pé olhando para frente, sem realmente focar em nada e sem sequer notar que não estava mais sozinho.

— Gaspard? — chamou.

Devagar, sua cabeça se virou para onde ela estava. No mesmo ritmo, a expressão vazia se transmutou em uma de dor imensa.

— Teresa... — Sua voz saiu abafada. — Eu sou um idiota.

— É sim... Mas não somos todos?

Continua...

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CRÉDITOS
Autora: Marina Oliveira
Edição e Preparação: Bárbara Morais e Val Alves
Revisão: Mareska Cruz
Diagramação: Val Alves
Ilustração: Fernanda Nia

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