Capítulo 13

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Aviso: Essa obra de ficção contém cenas incômodas envolvendo abuso psicológico e gaslighting parental. Este capítulo menciona internação forçada e homofobia.

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— Nunca conseguirei falar com Marianne... — Gaspard lamentou, bebendo mais um gole de xerez.

— Se você continuar nesse ritmo, com certeza não vai conseguir falar — Teresa comentou num tom compreensivo. — Coma mais um pouco de gratar.

Apesar de manter a feição de desespero, ele obedeceu e pegou outra porção de carne com batata. Felizmente, a única fonte de luz do camp era da fogueira ao centro. A iluminação não denunciaria sua expressão, e como quase todas as pessoas dançavam ao som das músicas tocadas pelo grupo da caravana, ninguém notaria o Beau que estava à beira de um ataque de nervos.

— Essa viagem foi um fracasso... — Gaspard disse pela enésima vez desde que se sentaram para comer. — Eu vou embora! — E tentou se levantar.

Apenas para cair sentado novamente, com o mundo girando ao seu redor.

— Ah, pronto! Agora não sei mais nem andar!

Teresa, que até então se mantivera amigável e respeitosa, não conseguiu segurar a gargalhada. Aquele era realmente o mesmo homem altivo que avistara no festival da primavera e que depois viera atrás dela, cheio de determinação? Como era curioso que, por trás da carapaça de nobre Beau, existisse um menino que sentia tanta falta da irmã.

Horas antes de aceitar todos os tragos de xerez e bere que apareceram à sua frente, os dois deram uma rápida volta pelo camp. E como se o destino tivesse armado para eles, acabaram encontrando Tamara, a irmã mais velha de Teresa, e Marianne levando baldes de batatas e cenouras ao local onde o gratar de boas-vindas estava sendo preparado. A primeira reação de Gaspard foi se posicionar um tanto atrás de Teresa, da mesma forma que uma criança faria ao se sentir intimidada.

— Quem é esse aí? — Tamara perguntou enquanto analisava o Beau dos pés à cabeça.

— Ah, é uma longa história... — Teresa respondeu com a feição serena, sentindo a mão de Gaspard tremendo embaixo da sua. — Não quero tomar o tempo de vocês! Voltem aos seus afazeres. Amanhã botaremos todos os assuntos em dia!

— Vou cobrar, viu?!

Tamara aceitou a resposta da irmã e continuou seu caminho. Marianne, entretanto, não seguiu como a esposa, preferindo se aproximar do casal.

— Seja bem-vindo! — exclamou com um sorriso caloroso. — Sei que escolher largar tudo e se juntar aos Romaines é uma decisão difícil mas, por experiência própria, posso garantir que você não se arrependerá!

Teresa não precisava de bola de cristal para entender que Gaspard não conseguiria atuar nem formular uma frase que fosse diante da irmã que não via há quinze anos. Todos os seus gestos demonstravam o nervosismo que ele claramente sentia.

— Tamara já está te chamando — Teresa mentiu, mas não tinha dúvida que o chamado logo aconteceria.

— Sempre apressada... — Marianne comentou entre risos — Nos falamos amanhã, então!

Teresa e Gaspard ficaram em silêncio por alguns segundos. Cada passo que Marianne dava, distanciando-se deles, evidenciava ainda mais a ansiedade de Gaspard. A respiração que antes ela mal ouvira, parecia retornar de pouco a pouco. Seria engraçado se não fosse trágico.

— Você está bem? — perguntou por perguntar, sabendo que ele não estava.

— Ela não me reconheceu... — A voz de Gaspard era uma mistura de incredulidade e dor.

As Incertezas da FortunaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora