Capítulo 15

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Aviso: Essa obra de ficção contém cenas incômodas envolvendo abuso psicológico e gaslighting parental.

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— Deu tudo errado, Mylène... — A resposta de Theo veio enfim.

Na verdade, o resgate dos irmãos havia sido bem sucedido. Sem entrar em detalhes sobre como conseguiram entrar na prisão, Theo explicou que ele e parte do bando haviam conseguido entrar e sair com os gêmeos antes que o exército se desse conta, conforme o planejado, mas por uma infelicidade do destino, os guardas deram falta dos prisioneiros antes do previsto.

— Com o alerta, praticamente todos os soldados da prisão estavam atrás de Arturo e Ariana. Ainda assim, tentamos sair da forma que entramos, mas ficou impossível. Então fomos obrigados a usar o plano B: explodir uma das paredes e escapar em meio ao caos — Theo narrava desesperado quase sem parar para respirar, passando as mãos nos cabelos freneticamente. — Talvez a gente não tenha comprado o material correto, não sei! Não é como se soubéssemos como usar bombas!

Silêncio.

Enquanto o rapaz parecia reorganizar os detalhes na sua cabeça, Mylène tentava entender o que Theo acabara de falar. Eles já não tinham usado esse artifício na invasão à casa da moeda? Como o homem à sua frente agora afirmava que não tinham experiência com isso? Theo errara no desespero? Mylène se sentia confusa.

— Até aí, tudo bem. Mas quando a gente foi colocar os explosivos... — Theo voltou a falar, abraçando-se como se quisesse se proteger do que havia vivido. — A bomba simplesmente explodiu. Como eu estava vigiando no corredor, não fui atingido. Os outros do bando não tiveram a mesma sorte... E Havoc, ele...

A julgar pela expressão de pesar que Theo esboçava, Mylène concluiu que Havoc não havia escapado com vida. Com os olhos marejados, ele segurou o choro que nunca veio. Sem dizer mais nada, apenas se afastou e começou a vigiar a janela. Perder um membro da família era sempre algo difícil, ela sabia bem. Imagine não poder fazer nada por ele? Nem mesmo poder recuperar o corpo porque estavam no meio de uma fuga?

— Mylène — Henri a chamou. — Poderia vir aqui? Tenho uma paciente para você.

— Claro... — ela respondeu, apertando o passo até onde o líder rebelde se encontrava. — Theo me contou rapidamente o que houve. Eu... Eu sinto muito pela perda de vocês.

— Obrigado — Henri agradeceu e uma expressão de dor passou por seus olhos. — Quando tudo isso acabar, honraremos a memória do nosso companheiro da forma que ele merece... Mas para que isso aconteça, precisamos sair daqui o mais rápido possível. — Virou-se para a garota que abraçava e disse — Ariana, essa é a minha médica. Garanto que o tratamento vai ser de primeira.

"Sair o mais rápido possível...?"

Tudo estava acontecendo tão rápido que nem pensara em como as companheiras estavam lidando com a situação. Conhecendo Heloise e Tanya, as duas provavelmente estavam desesperadas não apenas pela possibilidade do Refúgio ser descoberto, como também de serem acusadas de cúmplices de criminosos. Ainda assim, nunca hesitariam em assistir pessoas feridas. O Refúgio os presenteou com esse tipo de poder, de não ter medo de ajudar quem precisava da gente. A prova estava ali.

— Ele está exagerando, mas com certeza darei o meu melhor para cuidar de você. — Mylène respondeu com um sorriso, na tentativa de acalmar Ariana. — Vamos?

Ariana apenas balançou a cabeça e Henri a guiou até a maca. Nesse momento, Mylène notou que ela mancava, percebendo uma queimadura do mesmo diâmetro que a do rebelde, só que no tornozelo direito. Felizmente, ao analisá-la com cuidado, concluiu que o ferimento era menos grave, ainda que precisasse passar pelo mesmo processo de limpeza, seguido pela aplicação do bálsamo.

As Incertezas da FortunaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora