Capítulo 12

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Aviso: Essa obra de ficção contém cenas incômodas envolvendo abuso psicológico e gaslighting parental. Este capítulo menciona internação forçada e homofobia.

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— Estamos chegando? — Gaspard perguntou pela milésima vez, observando as últimas cores do pôr do sol na paisagem campestre.

— De novo, Gaspard? Por que a pergunta? — Teresa questionou com um tom divertido, sem mover a cabeça dos ombros dele, ainda segurando a sua mão. — Minha companhia é tão ruim assim?

— Não é isso! — Gaspard exclamou, sentindo suas orelhas ficarem quentes. — É só que o caminho está sendo mais longo do que eu antecipei.

O que pareciam séculos para Gaspard dentro daquela mesma carroça não eram mais do que algumas horas de viagem, pouco menos de um dia. Porém, a cada quilômetro que andavam, seu peito se apertava mais.

"Marianne..."

Depois de tanto tempo, já havia perdido qualquer esperança de revê-la, mas ele estava ali, mais próximo do momento que achou que nunca chegaria. Gaspard se perguntou se sua irmã o reconheceria mesmo depois de tanto tempo, se ela gostaria de vê-lo. O pior cenário se desenhou em sua mente: ele atravessaria o país e Marianne se recusaria a encontrá-lo. Não saberia o que fazer se isso acontecesse.

Teresa apertou a mão de Gaspard para confortá-lo, como se estivesse sentindo a ansiedade que ele parecia emanar. Se não fosse por ela, já teria surtado. Sua presença era reconfortante, embora ainda achasse escandaloso o que estavam fazendo. Algumas vezes ele sequer achava que era fingimento, como naquele momento, em que ela passava sua outra mão em seu cabelo, como se ele fosse um cavalo assustado.

— Ainda temos um pouco de chão para percorrer — Teresa falou com um sorriso na voz. — Agora se acalme. Ficar perguntando não vai nos fazer ir mais rápido.

— Eu só estava curioso... — Ele respondeu sem jeito, encolhendo-se um pouco, sentindo-se como uma criança.

Por que ele inventou de fazer aquilo? O que estava pensando? Será que estava num delírio induzido pelo derrame que Mylène achava que ele tivera? Será que acordaria e estaria em sua cama, com a noiva ao seu lado, e descobriria que tudo isso não era mais que um sonho?

Parecia um sonho. A risada de Teresa soava como um sonho, as suas provocações e a forma como ele havia perdido toda a compostura que tinha nas últimas horas pareciam saídos de um sonho. Toda a jornada até ali parecia surreal.

— Eu estava brincando, Gaspard! — ela sorriu, colocando o cabelo atrás da orelha. A luz do sol fazia com que o castanho do cabelo de Teresa ficasse da cor das madeira característica daquela região. — Você é realmente sempre tão sério assim?

— Mylène me fez a mesma pergunta quando nos conhecemos. — Gaspard deu um meio sorriso, desviando o olhar.

O que Mylène estaria aprontando na sua ausência? Conhecendo a noiva, provavelmente estaria confabulando algum novo plano para salvar a mãe ou estudando medicina secretamente ou os dois, como sempre.

— Já gosto dela. Aposto que nos daríamos bem!

— Ah, com certeza. — Ele deu uma risada curta. — Você parece ser tão impulsiva quanto ela.

— Ah? — Teresa falou com falso ultraje. — Eu sou impulsiva? Não fui eu que decidi sair com uma caravana romani do nada para ir atrás da própria irmã na calada da noite.

Como diria a classe média da capital, touché.

Com um sorriso vitorioso nos lábios, Teresa voltou a alojar a cabeça no ombro direito de Gaspard. Os dois ficaram em silêncio por alguns momentos. Então, um questionamento sobre a mulher ao seu lado retornou aos seus pensamentos, um que havia surgido antes dos dois começarem a jornada até o camp:

As Incertezas da FortunaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora