Fui pra Caxias exatamente no lugar que o Ramon tinha me passado e me explicado, era um beco e por lá naquele bairro tinha muitos caras fumando, usando, passando droga e vendendo também, fui e fiquei na minha sem encarar ninguém, ninguém ali iria mecher comigo mas eu tava numa área que não era a "minha" e eu não podia dar vacilo nenhum.
Fiquei alguns minutos esperando os caras que Ramon disse que vinha pegar a droga comigo mas nada deles, peguei meu celular e resolvi ligar pro Ramon pra saber se tinha rolado alguma coisa ou se eles tinham desistido.
Ligação on
Ramon: Iai, entregou?
Rian: Até agora não vieram até mim não pô, será que não desistiram? Te avisaram nada não?
Ramon: Não pô, até o momento o momento o trato tá de pé, espera mais um pouco aí, tô levando minha mãe pra casa já, daqui a pouco eu colo aí contigo
Rian: Beleza
Ligação of
Esperei mais uns 5 minutos e nada de ninguém aparecer na porra do beco, me estressei e resolvi ir embora, quando tava saindo dali pra ir até meu carro reparei uma movimentação diferente na rua, tinha vários policiais, quando ia dar um jeito de sair dali sem chamar atenção ouvi passos atrás de mim, imaginei que fosse os caras mas eles não seriam tão idiotas de aparecer aqui agora.
Polícial 1: Encosta aí vagabundo, bora - Um dos policiais chegou já me empurrando e me colocando de frente pra parede, meu coração disparou sabendo que eu ia me fuder bonito ali.
Polícial 2: Tira a mochila dele - Falou e um outro policial puxou a mochila com força enquanto o outro segurava meu ombro
Polícial 1: Bota a mão na cabeça e não olha pra trás não porra - Falou alto e eu coloquei as mãos na cabeça me rendendo, ouvi o zíper da mochila ser aberto e tentei não transparecer o nervosismo que eu tava
Polícial 3: Olha só o que temos aqui - Ouvi sua risada
- Hoje é nosso dia de sorte, esse daí é peixinho grande - Gargalhou e o policial que tava me segurando começou a me revistar
Polícial 1: Portando arma ilegalmente, é esse aqui não é traficantezinho de esquina não, parece que a gente se deu bem - Falou puxando a arma da minha cintura e entregando pro outro
Polícial 2: Iai, vamos dar um rolê de viatura? Testar o réu primário? - Falou sorrindo, puxou meus braços bruscamente e me algemou.
Chegamos na delegacia e um dos policiais me levou até a sala do delegado, o mesmo me observou da cabeça ao pé e fez sinal pra que eu sentasse na cadeira de frente pra ele.
Polícial 1: Pegamos esse aqui em Caxias doutor Almeida, o resto o senhor já saber
Dr. Almeida: Sim, já estou sabendo, pode deixar ele aqui comigo - Falou me encarando e eu me mantive de cabeça baixa
Polícial 1: Qualquer coisa só chamar - Ele saiu e me deixou frente a frente com o delegado
Dr. Almeida: Começou o ano muito bem né - Debochou
-Vamos fazer uma rápida avaliação aqui... Deixa eu ver... Porte ilegal de armas, grande quantidade de droga, já tô sabendo que você é da Rocinha, bom, vamos lá, você faz parte da quadrilha de vagabundo de lá não é? Peixe pequeno você não é, pelo que jeito no mínimo diretamente pro chefe de lá você "trabalha" certo? - Fez aspas com os dedos e eu continuei sem encarar ele e não respondi, eu tava com medo de falar qualquer coisa e me ferrar mais ainda.
- Olha só, você já tá muito encrencado, se não quiser piorar as coisas pro seu lado é melhor você me responder - Do mesmo jeito que eu tava fiquei
- Levanta a cabeça, quero ver direito a tua fuça, anda moleque - Falou nervoso e eu levantei a cabeça encarando ele
- 23 anos, um futuro com tudo aí pela frente, mas não, tinha que se meter com o que não presta, olha aí onde veio parar - Falou anotando alguma coisa em um papel
- Então, Rian, vai abrir o bico ou como é que vai ser?
Xx: Almeida precisamos conversar e não pode passar de ago... - Ouvi a voz da mulher que entrou praticamente invadindo a sala, fiquei extasiado quando ouvi a voz e vi a mulher me encarando branca feito um papel tendo a certeza que era ela, ela me encarou e eu virei o rosto e encarei o chão
Dr. Almeida: Você tá maluca Cíntia, eu estou trabalhando, com um meliante na minha sala e você entra aqui desse jeito, já falei com você sobre isso, por favor se retire, em casa conversamos - Levantou visivelmente estressado e falou alto
Cíntia: Espero você aqui na frente - Falou baixo e saiu da sala e meu coração quase saiu pela boca, eu não tava acreditando que depois de tantos anos o destino fez essa palhaçada comigo, e justamente aqui, justamente hoje
Dr. Almeida: Como eu estava dizendo, é melhor você responder as minhas perguntas, ou a coisa vai ficar feia pra você, sua situação aqui é muito pior do que você imagina - Falou encarando um papel
Rian: Como assim? - Falei saindo do meu transe
Dr. Almeida: Bom, como eu já disse já tinha mandado puxar seu "histórico" assim que soube que iríamos nos encontrar - Falou com irônia
- Ja sei que você é da Rocinha, que alguns colegas já estavam de olho em você e a duas semanas atrás você deve saber que teve um assalto a um banco aqui perto, e de acordo com nossas investigações tudo indica que os bandidos são da Rocinha, um dos reféns veio depôr e deu algumas características de um dos bandidos que o fez refém, e as características batem muito com o seu físico - Olhei pra ele com a sombrancelha arqueada
- Segundo a testemunha o meliante tinha os braços e uma das mãos tatuadas, disse que que houve um momento em que ele conseguiu levantar um pouco o capuz e disse que ele tinha bigode, cavanhaque assim, muito parecido com o seu, e sinceramente eu não tô achando que foi conhecidencia - Debochou
Rian: Olha só, tem muitos envolvidos por aí com tatuagem, cavanhaque e bigode, bota o pé lá na favela pra ver - Provoque e ele mudou de expressão
Dr. Almeida: Pra brincar você sabe abrir a boca né? Pois bem, fiquei você sabendo que se eu constar aqui na sua bela ficha um crime no artigo 157 dificilmente você vai conseguir se safar com seu réu primeiro entendeu? É daqui direto pro julgamento e do julgamento direto pro presídio, eu sei que você tem associação ao tráfico da Rocinha e só isso já é o suficiente pra te mandar pro presídio
Rian: A é? Idai? Como o senhor mesmo disse eu já tô ferrado mesmo - Dei de ombros
Dr. Almeida: Você tá me fazendo perder a paciência moleque
Rian: Jura? É recíproco, manda me levar pra cela logo, tô cansado
Dr. Almeida: Já chega - Bateu na mesa nervoso e eu relaxei meu corpo na cadeira
- Eu tô tentando aliviar sua situação mas já que você não quer colaborar... Vou ter que colocar aqui você como suspeito no crime de artigo 157, vou mandar abrir uma investigação e se você realmente foi um dos participantes daquele assalto eu vou descobrir mais cedo ou mais tarde e você vai se dar muito mal do mesmo jeito, e pode apostar que vou descobrir isso ainda antes de você ser julgado
Rian: Aliviar minha situação? A perai né, sou palhaço não
Dr. Almeida: Caso você não saiba, se você confessar seus crimes e ser condenado podemos reduzir sua pena - Deu de ombros e eu fiquei calado.
- Certo, já que vai ser assim, melhor você ir ali e fazer uma ligação pra alguém porque você vai precisar de um excelente advogado - Debochou e chamou com a mão o policial que tava lá fora do outro lado do vidro.
- Leva ele pra ele fazer uma ligação, no máximo três tentativas, nenhuma a mais - O polícial assentiu e puxou meu braço com força fazendo com que machucasse por causa das algemas.
Rian: Perai porra, tá machucando - Falei estressado e ele me puxou
Dr. Almeida: Olha a boca moleque - Falou acompanhando eu e o polícial, ele tirou as algemas e eu tentei lembrar do número da Débora, liguei e deu caixa postal, tentei de novo e nada, só tinha mais uma tentativa então tentei pro Ricardo e deu que o celular tava desligado, eu sou um filho da puta mesmo.
- Já deu, amanhã se ninguém aparecer aqui atrás de você eu deixo tentar mas uma vez, mas só porque eu sei que você só vai abrir o bico na frente de um advogado, pode levar ele pra cela, aah sim, já ia me esquecendo, tem um tenente aí, um colega nosso que tá doido pra conhecer você - Senti um frio percorrer minha espinha quando imaginei que seria o tenente corno.
O guarda andava comigo pelos corredores praticamente me arrastando pela gola da minha camisa, passamos por alguns corredores e ouvi alguém vir correndo na nossa direção e ouvi novamente a voz daquela mulher.
Cíntia: Guarda por favor, eu preciso falar com esse rapaz - Olhei pra ela com a sombrancelha arqueada
Xx: Me desculpe dona Cíntia mas eu não posso permitir
Cíntia: Vai ser rápido, por favor faça o que estou pedindo
Rian: Não não, quero falar com ninguém não, me leva pra cela, bora
Cíntia: Por favor - Falou com o guarda ignorando o que eu disse
Xx: De jeito nenhum senhora, pode ser perigoso e o doutor Almeida... - Ela interrompeu ele
Cíntia: Com o Almeida eu me resolvo depois, por favor, leve ele pra sala de visitas - O guarda assentiu e me puxou entrando em outro corredor
Rian: Que isso porra, me leva pra cela, tenho nada pra falar com essa mulher não
Xx: Fica quieto pra não dar ruim nem pra mim nem pra você vagabundo - Ele abriu uma porta e me colocou lá dentro fechando a mesma, sentei em uma cadeira e senti meus pulsos arderem por causa das algemas, logo a porta foi aberta novamente e a desgraçada entrou fechando a mesma.
Cíntia: Então foi isso que você se tornou - Sorriu com os olhos marejados e ficou em pé na minha frente me encarando, ela não tinha mudado quase nada, só tava mais velha, mas nem aparentava ter a idade que tinha, com certeza achou algum palhaço pra bancar os luxos e as regalias dela, no caso o trouxa do delegado.
Rian: Pois é, mamãe, virei bandido, ta feliz? - Falei com irônia e ela deixou uma lágrima cair negando com a cabeça
- A faz favor né Cíntia, me poupa do teu showzinho - Falei vendo ela derramar as lágrimas de crocodilo dela
Cíntia: Eu sei que você tem motivos pra não acreditar em uma palavra que eu digo e tem motivos de sobra pra me odiar, mas do fundo do meu coração, tudo que eu não queria era te reencontrar numa cadeia
Rian: Jura? Mas você não achou que eu fosse estudar, fazer uma faculdade e virar doutor não né? - Debochei
- Quem é tu pra me julgar Cíntia? Tu me abandonou porra, eu era uma criança tá entendendo? Uma criança, que só tinha você como família, mesmo que fosse uma péssima mãe ainda era a única família que eu tinha, tu meteu o pé no mundo aí atrás de macho e me deixou sozinho naquele lugar, se eu virei traficante e estraguei a minha vida fica ciente que tu tem uma grande parcela de culpa nisso - Ela colocou as mãos na cabeça e sentou na cadeira chorando, tu acreditava naquela cena? Nem eu
Cíntia: Eu sei que eu errei com você desde o dia que você nasceu, descontei em você tudo de ruim que acontecia na minha vida por minha própria culpa, você não sabe como eu me arrependo Rian, você não sabe como doía lembrar de você e não saber se você tava bem, se tava vivo, o que tinha acontecido com você, você não sabe como eu sofri até hoje - Sorri negando com a cabeça cansado daquela palhaçada dela.
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Votem por favor.
Iai, acham que o arrependimento da mãe do Rian é real?