A Origem de Gênesis

By maryabade

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Gênesis tinha vários objetivos para o seu ensino médio, bem organizados em uma to do list. Só que alguns, em... More

Nota sobre a não-binariedade de Jacques
Rádio Submersa: Nova Atlântida
Entrevista com: "A salva-vidas"
Entrevista com: "A cheerleader"
Bem-vindos a Nova Atlântida
Primeiro Ato
1 - Políticas Invisíveis
2 - Garotas Prodígios
3 - Salva-vidas Caninos
4 - Animais de doce
5 - Apostas de corrida
6 - Pedidos de Desculpas
7 - Frases de efeito
#1 - Rádio Submersa: Pangen? Nathan é gay?
Segundo Ato
8 - Caçadores de Medos
9 - Melhores Violinistas (e ciúmes)
10 - Malditas coincidências
11 - Últimas Opções
12 - Capivaras Domésticas (#DiaDoOrgulhoLésbico)
13 - Boca a boca (#VitoriaDay, rs)
14 - Garotas de toalha
15 - Restaurantes Franceses
16 - Políticas Visíveis
17 - Palavras não ditas
18 - Patos de Borracha
Entrevista com: "A (ou o) locutora"
#2 - Rádio Submersa: Jacques é uma mal amada
19 - Palavrões
20 - Anéis de Brinquedo
21 - Sáficas
#3 - Rádio Submersa: Rapidinho, tem mais.
Terceiro Ato
22 - Maré Baixa
23 - Parentesco #JulinhaDay
24 - Colares da Amizade
25 - Presentes natalinos
26 - Lar
27 - Encontros Românticos
28 - Pansexual
29 - Espuma
30 - Pangen
31 - Péssimas Amigas
32 - Famílias Minúsculas
33 - Violinos (e vínculos) quebrados
34 - Coberturas (e garotas) lésbicas
35 - Atos de Amor (e Atlantis, de novo!)
36 - Caixas de Panetone
Rádio Submersa: Eu, Gênesis Salvador
38 - Unanimidade
39 - Família Grande
40 - Gênesis
Bônus: A Origem de Primeiros Beijos

37 - Dia de São Nunca

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By maryabade

Hoje é o dia mais esperado do ano.

Eu mal acordei e vi alguém dando cambalhota, provavelmente se encaixando no crime de atentado ao pudor, na porta de casa. É o dia que a rádio menos está ativa, tocando cantigas de louvor — Jacques realmente acha que isso é a maneira correta de idosos ficarem em casa sem ficar reclamando de "no meu tempo não era assim". Jacques provavelmente está liderando a baderna, mesmo que ela negue.

E são nove da manhã.

Nove da manhã. Eu acho que acordei com um carro de som. Sim, um carro. De som. Alguém provavelmente pegou na internet e está rodando um mix de áudios de vendedores anunciando coisas. Isso é muito esquisito pra desejar fazer no dia de São Nunca. Precisei colocar algumas folhas a mais para conseguir fazer uma nova e deixei secando pra entregar uma para Pandora, mesmo que agora o objetivo seja outro.

O que será que ela vai fazer no dia de São Nunca?

Eu tenho uma agenda um pouco apertada. Acompanhar Nathan e Rebecca em qualquer ato que eles vão fazer. Becca marcou às 10 horas, mas duvido que ela tenha conseguido dormir mais que isso se esse carro estiver circulando pela ilha. Queria que incluísse Isaac também, mas percebi que ele não vai me responder. É muito tempo sem uma resposta. Não é como se eu soubesse o lugar para esbarrar com ele também.

E essa programação está ignorando o que meu subconsciente está pensando.

— É tipo uma noite do crime daquele filme lá? — Morgana pergunta, lambendo um picolé.

— Se você matar alguém vai presa — aviso.

Nós três estamos na calçada. Eu, esperando uma confirmação da Becca. Eos e Morgana estão tentando entender o motivo do dia.

Certo. E ninguém faz nada?

— Ninguém faz nada absurdo. Só andam nus, picham o muro da casa do prefeito, fazem declarações toscas nas rádios e coisas do tipo. Normalmente são coisas pequenas e pessoais. É claro que — começo a aumentar tem um tom de voz — tem sempre um idiota que coloca o som no máximo para importunar as pessoas!! Idiota.

— Isso me soa uma espécie de Dia da Reivindicação de baderneiros. O que tu vai fazer?

— Becca vai raspar o cabelo. Nathan provavelmente vai ajudar Jacques pichando o muro do prefeito e eu vou assisti-los. Não tenho nenhum desejo que esse dia me motive a fazer.

— Agora que eu tô a par da situação depois da minha namorada contar, eu sugeriria uma declaração. Faz uma declaração pra aquela gatinha.

Não — nego, incrédula. — Não vou entrar pras estatísticas de quem se declara hoje e leva um fora.

— Se declare como se estivesse bêbada. Se ela te der um fora, amanhã tu finge que teve amnésia alcoólica.

— Igual você fez uma vez? — Eos retruca e Morgana morde os lábios para conter a risada nervosa.

— E vocês, vão aproveitar?

— Nós vamos conhecer outras coisas.

— E Pandora a chamou para passarem uma tarde juntas — Morgana completa. — Eu acho que vou segurar vela.

Vai nada. Vou pegar a mochila e a câmera e a gente vai — diz, entrando pra dentro onde deixou a mochila há pouco menos de trinta minutos. — Se divirta, Gênesis.

Não acho que seja exatamente se divertir, mas agradeço, observando as duas se afastarem. Se eu uso muito preto de uma vez, Eos é mais. Nada colorido. A sorte dela é que ela usa regatas e coisas mais frescas ou morreria de calor assim como acontece comigo, às vezes. As duas formam um casal legal, mas Morgana emana uma energia parecida com o do Jacques enquanto Eos é quase eu, sem as burradas e um pouco mais legal. Não é o casal mais combinante, mas é engraçado vê-la de mãos dadas e trocando beijos.

Meu celular vibra enquanto vejo alguém passar com uma mochila que a cada passo balança os sprays.

[Isaac: Pessoalmente? Recebida às 9h10.]

[É. Você pode? Enviada às 9h12.]

[Isaac: Olha, Gênesis, não precisa explicar nada, não. Nem precisa perder tempo com isso. Recebida às 9h13.]

[Eu quero conversar com você. E precisa, por favor. Enviada às 9h14.]

Ele vê a mensagem, mas não responde. Suspiro.

Em seguida, Rebecca envia uma mensagem resmungando sobre o carro de anúncios passar e avisa que vai fazer logo antes que ela perca a coragem por medo e que encontra a gente no lugar marcado — que é a casa de Nathan. Nate, por sua vez, envia algo em código que significa algo como "Gênesis, você já pode vir se quiser" escrito com a cabeça batendo na tela do celular. Eu acato, observando minha mãe comemorar o final do semestre na universidade antes de me afastar.

Bem, talvez seja essa a emoção do dia de São Nunca para os professores. O fim do último semestre do ano.

É um pensamento que é confirmado quando chego em casa e a mãe de Nathan está feliz da vida, com música tocando e cantarolando na cozinha. Acho que esse foi o carro de som aqui. Ele e a irmã estão sentados no sofá em uma discussão sobre o canal de televisão como se realmente tivessem preocupados — principalmente Nathan, que vai sair em breve. Acho que eles fazem apenas pelo esporte de ficarem se provocando. Quem ainda assiste os canais abertos de televisão? Provavelmente nenhum dos dois.

— Cadê sua prima metida a bad girl e a Yennefer de Vengerberg de cabelo cacheado? — Nathan pergunta, fechando a porta atrás de si.

— Saíram juntas. Gostou da companhia?

— Sua prima parece você. A outra é animada, cheia de vida, do lado de dois defuntos estilosos meio alternativos.

— Amo sua companhia também, Nate. O que você tá trazendo na mochila? — indago.

— Nada muito importante. É bem difícil cometer um crime quando você mora em uma ilha que todo mundo conhece todo mundo. Já decidiu o que vai fazer?

— Já disse. Acompanhar vocês. Soando sério, eu não tenho nada pra fazer hoje. Nenhum pensamento diabólico.

Nenhum.

— Daqui pro final do dia tem uma declaração.

Não. Eu não vou me declarar pra Pandora. A gente conversou sobre isso. Por que você acha?

— É a vibe do dia. Declarações, sabe? Você disse que tiveram um dia bom quando desenterram a coisa lá.

— Nate, eu não vou me humilhar. Ela disse que quer continuar sendo minha melhor amiga.

— Tá bem. Sem declarações. Você não quer fazer nada?

— Queria que Isaac me respondesse e eu pudesse conversar com ele. Ele acha que entendeu tudo, mas não. Não entendeu nada.

— Ah, isso não é algo lá muito interessante para o grandioso São Nunca. Já que não vai namorar, experimenta sua primeira noite beijando garotas.

— Não me parece uma boa também.

Ele ri. Provavelmente está me achando maluca por, depois de ser tão imprudente, não pensar em nada para o dia de São Nunca. Mas é que respirar um pouco depois de passar por uma etapa ruim está me fazendo não me envolver em mais nenhuma confusão. Vou só assistir a dos outros. Nós dois estamos caminhando tão devagar que já vai ter sido tempo o bastante pra Becca ter raspado o cabelo três vezes.

— Quer ir na festa?

Não.

— Quer ir se foder, Gênesis Salvador? — pergunta, quase irritado. — Aposto como essa cabecinha está cheia de coisas pra fazer. Vamos lá, se tu e Pandora não vão dar certo, acho que você precisa dar uma bizoiada nas coisas. Gênesis, por favor.

— Eu tô feliz. Juro. Tô parecendo moribunda ainda pra você estar implorando pra eu fazer besteira? Além disso, você não tem nada pra fazer também.

— Claro, sou corajoso pra fazer qualquer coisa em qualquer dia. Aí não sobra muita coisa, né?

Antes de chegarmos na porta da casa de Rebecca, ela sai de moletom e capuz. Muito dramático e eu faço uma careta cogitando que ela odiou. Acho que Nathan também pensa a mesma coisa antes de Becca dar uma risada.

Suspense. Estão preparados?

Manda — Nathan diz, cruzando os braços.

Preparados?

— Rebecca.

— Eu faria um suspense maior se não estivesse queimando aqui dentro — diz, abaixando o capuz.

Becca sorri de canto. Ela raspou mais que Pandora. Eu não tenho vontade de raspar o cabelo, mas tenho absoluta certeza absoluta que não combinaria nem um pouco como está combinando em Rebecca. Ela puxa o moletom pra cima, como se só tivesse colocado para um suspense de poucos segundos antes de voltar pra dentro, demorando dois minutos pra retornar.

— E aí, onde é hoje?

— Tá linda, Becca — digo, não conseguindo evitar sorrir.

Digo o mesmo.

— O que a gente vai fazer hoje? — diz antes de rir, envergonhada.

— Gênesis sugeriu que a gente andasse nu.

Idiota.

Apesar da brincadeira de Nathan e o quão comum esse ato é, não consigo entender o que faz alguém possuir coragem ou vontade de andar nu pela cidade. Tipo, é o pesadelo de alguém sair andando pelado. Não é lá um sonho muito interessante — mesmo que cogite que isso se trate de apostas ou pagamento de promessas. É óbvio que é Jacques que está com a parte de cima de um biquíni, uma camisa de manga curta aberta e dois sprays na mão. Eu acho que o prefeito já calcula seu orçamento no mês de dezembro sabendo que vai precisar pintar o muro todo. Sempre.

Eu pego um spray amarelo só pra não ficar assistindo, mesmo que não tenha nenhuma ofensa diferente da deles pra fazer.

Nate desenha uma espécie de crânio. Não é uma ameaça, já que alguém — que provavelmente não conhece — desenha flores ao redor. Jacques e Rebecca estão o xingando. Uma embaixo da outra. Eu estou apenas fazendo círculos com o spray.

— Você não é a menina do pato gigante?

Merda. O garoto ri. Desenhando um X ao meu lado.

— Não.

Claro que é. Meu sonho é descobrir o que deu em você naquele dia. Pensei que tivesse pego trauma do dia de São Nunca.

— Não sei do que você tá falando — digo, continuando a fazer círculos e torcendo pra ele realmente acreditar que não sou eu.

— Você estava correndo, sem prestar atenção, deu de cara com nosso pato flutuante e começou a chorar? — diz, rindo. — Eu tenho certeza que é você.

— Tá me vendo de costas, nem viu meu rosto.

— Alguém te chamou de Gênesis ali. A mesma forma que a sua amiga te chamou no dia. Vai lá. Eu tinha o vídeo, mas a dona Jô me fez apagar na época. O que deu em você?

— Nem lembro mais. Faz tanto tempo. Por que você ainda lembra disso?

— Não leve a mal o que vou perguntar, tudo bem? — Arqueio as sobrancelhas. — Eu e meu amigo.

— Na hora que a gente terminar, tu me chama assim. Agora me faz o favor — o garoto retruca, atrás dele.

De braços cruzados e cara de quem está com um pouco de vergonha do que é que o garoto esteja querendo falar comigo.

— Estou desacostumado. Eu e meu namorado apostamos assim, só por curiosidade, se vocês acabariam namorando ou não. Eu apostei que não, ele que sim.

Vocês quem?

Ah.

— Por quê?

— Não tente entender a mente dele. Será que seria incômodo responder?

— Ah, a gente não namora.

Perdeu — diz, se virando para o garoto.

— Perdeu nada. Ninguém morreu, elas ainda podem namorar. Não disse quando — diz, em uma desculpa esfarrapada que me faz rir.

— Apelão. Você perdeu.

Os dois se afastam. Eu observo um pouco. Faço outro círculo, ignorando meu pensamento que se não fosse tudo, a preocupação da gente seria confundir namorada com melhor amiga — mesmo que eu duvide que eu vá confundir.

— Jacques, tu vai na festa?

— Vou, mas tenho que sair cedo — suspira. — Preciso fazer o encerramento do dia de São Nunca ou vai criar uma fenda no mundo em que o dia não terá fim. Se for mais que um dia, perde o sentido.

— Não que o dia de São Nunca tenha muito sentido, né?

— Gênesis, cale a boca. Algum palhaço está lotando as mensagens da rádio fazendo declarações pra mim. Só pra me irritar. — Jacques resmunga. — Hoje eu prometi pra mim mesma que não vou me submeter a isso. No dia seguinte tá lá pedindo pra eu apagar a gravação e me dando 20 reais?

— Se cinco se declaram, dá cem. Isso me soa dinheiro fácil — Nathan retruca.

— Não sou um guru amoroso e minha rádio não é pra ficar falando da vida dos outros.

— Jacques, você é a maior fofoqueira que conheço.

— Nate, faça silêncio, faça.

[Isaac: Claro. Vou jogar um pouco de vôlei. Quer conversar naquele ponto? Recebida às 11h15.]

Eu, Jacques, Rebecca e Nate almoçamos juntos. A gente não fez nada por bons trinta minutos antes de eu decidir que era hora adequada para falar com Isaac. Os três ficaram juntos, mesmo que, além do tal beijo, eles não fossem tão amigos assim de Jacques. Estou pensando seriamente em enviar uma mensagem para Pandora e pedir que a gente faça a carta em resposta hoje, apenas para ter alguma coisa pra fazer no dia de diferente. Só que é óbvio que meu medo fala mais alto porque...

Evitar que falem tanto que se torne verdade e eu passe a maior vergonha da minha vida.

Então sim, hoje vou passar longe de Pandora para evitar soar como uma idiota. Algo que eu fizer hoje será lembrado por muito tempo, então melhor não.

Quando chego na praia, os garotos estão guardando a rede e se preparando pra ir embora. Quero tentar evitar de pensar que eles estavam jogando embaixo do horário com o sol mais prejudicial de todos, mas evito pensar sobre. Isaac está ensopado de calor enquanto bebe água. Estou esperando ter certeza que todos já estão afastados para conversar, mesmo que esteja nervosa.

Oi.

— Oi, Gênesis.

— A gente pode conversar?

É um jeito de idiota de começar porque não sei como começar. Ele se senta na pedra e eu faço o mesmo. Sexta eu e Pandora estivemos aqui perto para desenterrar a cápsula do tempo e agora estou voltando para resolver algo que também já deveria ter sido resolvido.

— Lembra quando eu contei pra você da lista de desejos que fiz?

— O que tem?

— E você falou que eu coloquei "garoto popular" ou algo do tipo? — assente, sem entender. — Eu tinha colocado você. Eu te achava bonito e você tinha todos os adjetivos incríveis. Era perfeito. Tão perfeito que fabriquei na minha mente que estava apaixonada por ti. Sustentei por muito tempo. E aí... você apareceu e era tudo o que eu imaginei, não consegui desprender. Bem, Isaac. Eu sou lésbica. Eu espero que você não leia isso como "te usei pra confirmar" porque nunca faria isso. Demorei pra entender isso e demorei ainda pra aceitar por me sentir culpada por não gostar de você.

— Gênesis, tu não tem que se sentir culpada por não gostar de mim.

— Mas eu senti porque... Isaac, você é incrível e é tudo o que imaginei para um garoto, o problema é que quando imaginei isso, não percebi que era lésbica. E lésbica soou um problema na hora porque era errado não retribuir esse sentimento por você. Bem, não é errado. Esse não é o problema, mas devo desculpas a você. Não pela minha lesbianidade, mas porque no caminho pra me entender, mesmo sem querer, te magoei.

— Você é gentil demais pedindo desculpas por algo que não tem culpa — ri, desviando o olhar. — Não é a minha primeira desilusão que vou sofrer, Gênesis. Você não gostar de mim não te faz menos legal.

— É, mas... preciso falar sobre Pandora também.

— Eu já deveria ter percebido que ela gostava de você. Ela falava demais. Ninguém que não esteja apaixonado sabe tanto assim de um jeito romântico.

Engulo em seco. A menção me faz sair do objetivo um pouco, sendo bombardeada pelo pensamento de Pandora falando demais sobre mim.

— Ela não é tão culpada quanto parece. Ela não sabia que eu gostava dela, assim como eu. Ela ficou falando de mim porque também achava que eu gostava de você e pensou que conseguiria formar a gente. Fui eu que, no fundo, sabia que não e evitava. Pandora errou um pouco, mas pego a responsabilidade pra mim também. Ela não te contou porque eu estava com tanto medo que pensou que não seria adequado te contar sobre. Pandora não é tão ruim quanto pareceu, isso não apaga que você tá magoado e eu já estive na sua posição.

— Eu sei que fui um idiota.

Sabe?

Claro que sei. Eu estava tão puto que quis atingir o ponto fraco dela, mesmo sabendo que ela se sentia uma péssima amiga. Não fui bom também. Só tô orgulhoso demais pra pedir desculpas.

Uma péssima amiga. Acho que alimentei isso também

— Olha, eu tô aqui pra dizer que tá me fazendo bem resolver as coisas.

— E eu não queria que você tivesse escutado aquilo. Meu objetivo nunca foi sair destruindo tudo. Como ela foi no teste?

— Não sei, espero que tenha ido bem.

— Vocês estão namorando?

Não.

— Por quê?

— Fiz burrada também e ela acha melhor ficar como está.

— Talvez ela só esteja com medo.

É o ponto mais claro.

— Mas também não sei tirar esse medo dela. Tô com um pouco também.

— Espero que tudo dê certo. Não esquente, não posso te entender, mas não tenho raiva de ti. Boa sorte.

O dia de São Nunca acabou mais cedo pra mim. Enquanto Nathan e Rebecca foram pra festa, eu voltei pra casa. Eos e Morgana não passaram novamente aqui e acho que mamãe e Alexandre saíram. São dez da noite, eu já fiz tudo, incluindo escovei os dentes e tomei banho. Não vou dormir exatamente. Nem estou com sono, pra falar a verdade. Acho que está caindo a ficha que eu me livrei do ensino médio e de todos os problemas que criei. A confusão na minha mente é bem menor do que quando cheguei.

E se está menor agora significa que com o tempo vai diminuir mais ainda.

Eu espero.

Meu celular vibra pela primeira vez com um e-mail importante.

Pandora Verona ()

"Ei, tá aí?"

Às vezes eu esqueço que lá fora não existe um dia de São Nunca kkkk. Eu tô passando só pra te falar que... olhei o e-mail hoje a noite. Ele me mandou algo. Algo como "acho que você tem potencial" e "quando eu era da sua idade, meu objetivo era subir pra ajudar pessoas como eu" e... "a bolsa é sua". Não desse jeito exatamente, mas céus... Gênesis, eu vou poder ir embora!!!!! Tá cada vez mais palpável. Obrigada, Gen. Precisei te contar porque você já aguentou demais eu falando sobre meu sonho e precisa saber que ele está mais próximo do que pensei.

Só preciso de um violino novo, mas hoje meu coração tá saltando pela boca e não vou pensar nisso. Nem consigo dormir, mas sei que quando conseguir vou dormir em paz.

Ela conseguiu. Eu não tinha dúvidas, mas é esquisito absorver essa mensagem agora. Pam vai embora. Depois de tudo.

Gênesis Efron ()

Re: "Ei, tá aí?"

pam, você acha que vai se esquecer de mim? depois de todo o atrito?

Soa patético, mas envio.

Pandora Verona ()

Re: Re: "Ei, tá aí?"

Impossível.

Amo tu, boa noite.

Uma ótima noite. Droga. Esse talvez tenha sido o maior dos problemas do meu ensino médio e o único que não tenho uma resolução. No fundo, eu pediria uma chance de novo. Usaria a desculpa que Nate tanto sugeriu e me declararia como uma idiota. Mas não há absolutamente nada que diga que isso é o certo a se fazer. Nada. Nenhum aviso divino. Nenhum recado. Eu não sei como ela se sente sobre uma nova tentativa e se seria justo.

Eu queria mandar uma mensagem perguntando o que ela acharia, só por curiosidade. Na verdade, queria que ela falasse sobre nossa relação novamente só pra eu poder me basear nisso e procurar uma solução coerente.

Não vou me declarar de novo porque Pandora pediu pra continuarmos sendo melhores amigas. Estarei indo contra ela e ignorando suas vontades em algo que não é uma escolha só minha.

Odeio o universo como se não fosse culpa das minhas próprias atitudes.

E dele também.

Mas, pelo menos, preciso entregar o violino. Não vou fazer nada com ele e seria uma grande estupidez não entregar por medo de soar uma idiota. Não é como se fosse esperar me relacionar com alguém pra dar um presente que era especialmente pra outra pessoa.

Suspiro.

Espero que esse dia termine logo e eu não invente de fazer nenhuma besteira.

A falta de sono me impede de dormir e o barulho próximo me faz sair e ficar na calçada, observando o movimento pequeno de pessoas indo em direções específicas, como uma festa em alguma casa por perto. Minha mãe e Alexandre chegam, observando minha melancolia da dúvida, mas não questionam. Se questionasse, não saberia o que dizer.

Avaliando os prós, eu posso tentar. Receber um não não vai ser novidade. Mas talvez seja mais que um não. Céus, nessa altura do campeonato e eu estou pensando em declarar para uma garota. De novo. Se bem que a última vez não foi uma declaração.

Tem alguém me observando?

Levanto o olhar para todos os lugares antes de notar um bicho na esquina. Um rato gigante ou uma capivara. Ela estar parada me assusta, mas acho que não vai passar enquanto eu estiver aqui. Como se eu fosse correr atrás dela.

Eu. Correr atrás de uma capivara.

— Vocês têm todas a mesma cara. Mas talvez tenha sido você que viu Pandora se declarando pra mim, acha que eu devo tentar? Você não fala e tudo mais, mas se a resposta for sim, tu continua. Se não, corre. — Sim, pra completar. Eu preciso passar por esse vexame.

E é óbvio que ela sai. Como se eu estivesse a ameaçando e ela não fosse um animal dócil.

Ou talvez seja o universo me impedindo de finalizar o dia cometendo idiotice. Amanhã eu escrevo uma carta, entrego e saio correndo.

Acho que já sei qual vai ser o meu ato do dia de São Nunca.

Prometi que não leria por esperar sair da sua boca, mas ela já disse. Não vai ter nada de novo na carta, que rasguei em partes e coloquei em uma das gavetas. Meu retorno é rápido para o quarto, desamassando todas as partes e formando como uma quebra-cabeça em cima da cômoda. Eu só quero entender como ela pensou antes de tudo em me pedir desculpas. Ler a carta vai me tirar alguns minutos e impedir que eu tome atitudes precipitadas.

Não é errado porque tudo que está na carta eu já sei.

"Gênesis,

Tu é a melhor amiga que eu posso ter, mas preciso confessar que não sou a melhor que tu pode ter.

Pra confessar, não sei quando virei uma péssima melhor amiga. Não sei. Eu sei que não conseguia agir como uma melhor amiga. Não conseguia ser uma. É que tu é a garota mais bonita que já conheci. Eu já sabia que tu era bonita, mas de um minuto para o outro meu cérebro distorceu tudo. Gen, eu já beijei outras garotas depois de ti, mas teu beijo ainda está em mim tal como esteve a cada segundo que estivemos juntas naquele armário. Já tentei tirar. Já tentei apagar. Não rola. Se ainda está assim agora, imagina enquanto tudo rolava? Gênesis, fui uma péssima melhor amiga porque enquanto tu era a mesma de sempre, eu cogitava te chamar pra sair e ser tua garota tal como quando nós fantasiamos garotos perfeitos. Cogitava beijar você todos os dias e não ser sua melhor amiga.

Isso não era pra ser uma declaração, mas é que se é pra ser sincera, preciso falar sobre gostar tanto de ti, mas não como uma melhor amiga. Confundir as coisas me afastou. Eu me afastei porque pensei que estando longe, em algum momento eu pararia de sentir isso e impediria o fim da nossa amizade pra sempre. Preciso dizer que não parei de sentir ainda porque você está cada vez mais bonita e eu ainda fico nervosa quando te vejo. Não sei o que vou fazer ou quando isso vai parar, mas estou te pedindo desculpas por ser uma péssima amiga e, provavelmente, uma péssima apaixonada.

E que se eu soubesse que a gente se afastaria de qualquer forma, teria ido ao cinema e te pedido em namoro. Pelo menos seria mais corajosa que agora, que estou escrevendo uma carta sem a mínima pretensão de enviar e observando a situação cada vez mais irreversível.

(É uma merda de uma declaração. Peço desculpas por isso também.)

Com amor (e não é pouco),

Pam."

— Jacques.

As luzes estão todas ligadas.

Estou torcendo pra ela estar aqui e ninguém sair fumaçando de raiva. Meu braço está pesando pela caixa que seguro e eu estou evitando bater na porta novamente quando Sullivan abre, assustado pelo horário. Meu coração está batendo ansioso pelo quão rápido eu caminhei para chegar aqui antes do horário e pelo que estou prestes a fazer. E ainda bem que o irmão de Jacques me deixa entrar sem questionamentos, diminuindo o tempo gasto, e eu deixo a caixa de lado antes de bater na porta do quarto. A resposta é um pouquinho demorada.

— O que aconteceu?

— Preciso da sua rádio.

— Gênesis, não.

— É importante.

— Não vai ter declaração romântica hoje, independente de pra quem seja.

Não é uma declaração romântica. Eu nunca me submeteria a isso.

Respiro fundo.

— Agora, por favor, me deixe entrar e usar sua rádio. Eu prometo que hoje não tem declaração.

Feliz aniversário!!!!! (É iobinha ou lobinha?kkkkkkkk)

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