Preocupado

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Perfeito, murmurei para mim mesmo. Verdadeiramente perfeito. 

Dean estava se aproximando para almoçar comigo, um grande sorriso estampado em
seu rosto. Tentando me animar... mais uma vez. 

Acho que você anda exagerando no sarcasmo ultimamente, disse Gabriel. 

--Não vou me esquecer disso.  

Eu não tinha tido muitas notícias dele na última semana. Nenhum de nós era boa 
companhia naquele momento. Era melhor evitar a interação social, mesmo de um com
o outro. 

— Oi, Cas — cumprimentou Dean, ajeitando-se ao meu lado na bancada. Ele tinha
uma tigela de sopa de tomate, ainda fumegante, em uma das mãos. A minha tigela
estava ao meu lado, fria e cheia pela metade. Eu estava brincando com um naco de pão,
partindo-o em pedacinhos. 

Não respondi. 

— Ah, deixe disso. — Ele pôs a mão no meu joelho. A reação zangada de Gabriel
foi letárgica. Ele estava suficientemente habituado a esse tipo de coisa para conseguir
continuar fingindo que estava tudo certo. — Eles vão voltar hoje. Antes do pôr do sol,
sem nenhuma dúvida. 

— Você disse isso três dias atrás, e dois dias atrás, e de novo ontem — lembrei-lhe. 

— Estou com um bom pressentimento quanto ao dia de hoje. Não fique triste...
isso é muito humano — provocou ele. 

— Não estou triste. — E não estava. Estava era tão preocupado, que mal conseguia
pensar direito. Não sobrava nada de energia para qualquer outra coisa.  

— Esta não é a primeira incursão de Jack. 

— Isso faz como que eu me sinta muitíssimo melhor. — Outra vez o sarcasmo. 

Gabriel tinha razão, eu estava mesmo exagerando. 

— Ele está com Sam, Uriel e Anna. E Adam está aqui. — Dean riu. — Ora, não
há nenhuma maneira de eles arranjarem qualquer problema. 

— Eu não quero falar sobre isso. 

— Tudo bem. 

Ele voltou sua atenção para a comida e me deixou com meus botões. Dean era
bondoso a esse ponto — sempre tentava dar o que eu queria, mesmo quando o que eu
queria não estava claro para nenhum de nós. As suas tentativas insistentes de me
distrair da presente ansiedade não se encaixavam, é claro. Ele sabia que eu não queria
isso. Eu queria ficar preocupado; era a única coisa que eu podia fazer. 

Já havia um mês que eu tinha me mudado para o quarto de Jack e Sam. Por três
semanas dessa vez, nós quatro havíamos vivido juntos. Sam dormia num colchão
apertado acima da cabeceira da cama onde Jack e eu dormíamos.
Eu tinha me habituado àquilo — a essa parte do sono, pelo menos; estava sendo
difícil dormir no quarto vazio agora. Eu sentia falta do ruído de dois outros corpos
respirando.
Eu não tinha me habituado a acordar todas as manhãs com Sam presente. Ainda
levava um segundo a mais para eu responder à sua saudação de bom dia. Ele não estava
à vontade, tampouco, mas era sempre educado. Nós éramos ambos muito educados.
A coisa já estava quase roteirizada àquela altura. 

— Bom-dia,Cas, dormiu bem? 

— Dormi, sim, obrigada, e você? 

— Bem, obrigado. E... Gabe? 

— Ela está bem, também, obrigado. 

O estado constante de euforia de Jack e a sua tagarelice feliz evitavam que as coisas
ficassem tensas demais. Ele falava sobre — e com — Gabriel com frequência, até o
nome dele não ser mais a fonte de desgaste que outrora tinha sido, quando Sam estava
presente. A cada dia, a coisa ficava um pouquinho mais confortável, o contorno de
minha vida ali um pouquinho mais agradável. 

A Hospedeira/DestielWhere stories live. Discover now