Entediado

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Passei o resto do dia, com uma breve exceção, em silêncio total.
Esta exceção ocorreu quando Bob trouxe comida para Sam e para mim várias horas depois. Quando pôs a bandeja ao lado da entrada da pequenina caverna, ele sorriu para
mim como quem se desculpa.

- Obrigada - sussurrei.

- De nada - disse-me ele.

Ouvi Sam resmungar, irritado com o pequeno intercâmbio.
Foi o único som que ele emitiu o dia inteiro. Eu tinha certeza de que ele estava lá fora, mas em momento algum houve mais que uma respiração audível para confirmar essa convicção.
Foi um dia muito longo - cheio de cãibras e muito insípido. Tentei todas as posições que pude imaginar, mas não consegui um jeito de esticar-me inteiro
confortavelmente de uma só vez. A base das minhas costas começou a latejar constantemente.
Gabriel e eu pensamos um bocado sobre Jack. Estávamos principalmente
preocupados de tê-lo prejudicado por termos vindo até aqui, de o estarmos
machucando agora. O que era o cumprimento de uma promessa em comparação com isto?
O tempo perdeu o significado. Podia ser o pôr do sol, podia ser o alvorecer - eu não tinha referências aqui, enfiada na terra. Gabriel e eu esgotamos nossos tópicos de discussão. Folheamos rápida e apaticamente nossas memórias conjuntas, como se mudássemos canais de televisão sem assistir a nada em particular. Tirei uma soneca uma
vez, mas não consegui pegar no sono de verdade por estar muito desconfortável.
Quando Bob finalmente voltou, eu poderia ter beijado seu rosto curtido. Ele se inclinou em minha cela com um sorriso a lhe esticar as faces.

- Tá na hora de um outro passeio? - perguntou-me ele.

Concordei ansiosamente.

- Deixe que eu levo - rosnou Jared. - Dê-me a arma.

Hesitei, desajeitadamente agachada na entrada da minha caverna, até Bob acenar com a cabeça para mim.

- Vá em frente - disse-me ele.
Subi para sair, rija e oscilante, e peguei a mão que Bob ofereceu para me equilibrar.
Sam fez um ruído de revolta e virou o rosto. Estava segurando a arma bem firme, os nós dos dedos esbranquiçados sobre o cano. Não gostei de vê-la nas mãos dele.
Incomodou-me mais do que incomodava com Bob.
Sam não foi condescendente comigo como Bob tinha sido. Ele saiu a passos largos pelo túnel escuro sem esperar que eu o alcançasse.
Foi difícil - ele não fazia muito barulho e não me guiou, de modo que tive de andar com uma das mãos na frente do rosto e outra na parede, tentando não ir de encontro à
pedra. Caí duas vezes no chão irregular. Embora não tenha me ajudado, ele esperou até ouvir que eu estava novamente de pé para continuar. Uma vez, andando rápido por
uma parte mais reta do tubo, cheguei perto demais e minha mão estendida tocou nas costas dele, tateando a extensão de seus ombros antes de eu compreender que não tinha
chegado a outra parede. Ele saltou adiante, reclamando sob meus dedos com um sibilo zangado.

- Desculpe-me - sussurrei, sentindo minhas faces avivarem-se no escuro.
Ele não respondeu, mas apressou o passo de tal modo que ficou ainda mais difícil segui-lo.

Fiquei confuso quando, finalmente, apareceu uma luz diante de mim. Tomamos um caminho diferente? Não era o brilho branco da caverna maior. Era menos intenso, pálido e prateado. Mas a fissura estreita por onde tínhamos de passar parecia a mesma.
Só quando estávamos dentro do espaço gigantesco e ecoante, compreendi o que estava causando a diferença.
Era de noite; a luz que brilhava debilmente vinda de cima imitava a luz da lua em vez de a luz do sol. Aproveitei a luz menos ofuscante para examinar o teto, tentando
esquadrinhar seu segredo. Alto, muito, muito alto acima de mim, uma centena de minúsculas luas emitiam sua luz diluída ao chão distante, baço. As pequenas luas estavam espalhadas em agrupamentos sem critério, algumas mais distantes que outras.
Balancei a cabeça. Mesmo podendo olhar diretamente para a luz agora, eu ainda não compreendia.

A Hospedeira/DestielUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum